“O que mais ouço é que o vírus acabou com a vida deles”, conta enfermeira de Centro Pós-Covid de Blumenau
Atendimento psicológico foi a principal demanda nesse primeiro mês de atendimento
Nesse primeiro mês, o Ambulatório Referência para Casos Pós-Covid-19 de Blumenau atendeu 58 pacientes. Dentre as principais queixas já esperadas, como perda de olfato e paladar, fadiga e dores, uma demanda chamou atenção dos profissionais: acompanhamento psicológico.
Pacientes e familiares dos considerados “recuperados” chegam para o atendimento debilitados. Muitos nem sequer compreendem que sintomas com os quais vêm sofrendo nos últimos meses se devem ao coronavírus.
“O que eu mais ouço aqui é a frase ‘o vírus acabou com a minha vida‘. Os pacientes chegam em sua maioria bastante debilitados, com necessidade de auxílio de familiares e amigos para atividades como se vestir, arrumar a casa, cozinhar. O maior objetivo deles pessoas é poder retomar a vida”, conta Tatiana Caetano, enfermeira do Ambulatório.
Ela é uma das profissionais de saúde que realiza o primeiro contato com os pacientes para definir quais áreas ele têm necessidade. Além dos médicos, dentre os especialistas há fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, biomédicos, farmacêuticos e dentistas.
“Já imaginávamos uma grande demanda por fisioterapia, o que se confirmou. Especialmente problemas com fraqueza, até mesmo de pacientes que não tiveram Covid grave. O que não esperávamos era a demanda para área de saúde mental”, detalha.
Muitos desses pacientes sofrem com as sequelas desde 2020 e buscavam serviços separados, que não tinham um olhar geral dos efeitos da síndrome pós-covid neles. Até porque muitos dos problemas não aparecem em exames tradicionais.
“Alguns pacientes que estiveram na UTI dizem ‘o vírus não me matou, mas a pessoa que eu era antes morreu‘. Eles não conseguem mais fazer o que faziam antes. O raciocínio e a destreza não são mais os mesmos. eles sofrem muito com isso e a família acaba sofrendo junto. Eles veem o serviço como a grande tabua de salvação”, desabafa Tatiana.
Quem pode se consultar
Entre 26 de agosto e 23 de setembro, 77 pacientes agendaram consulta. Porém, apenas 58 compareceram. O número fica dentro da expectativa e limitação do espaço, que é de 65 atendimentos por mês.
Entretanto, a preocupação das enfermeiras é que a agenda está livre a partir dessa semana. Apesar da alta procura logo após a inauguração, a busca por atendimento se limitou a esses primeiros pacientes.
Estudos apontam que cerca de 10% dos pacientes que sobrevivem ao vírus apresentam sequelas. Com os 65.181 reabilitados em Blumenau, esse número pode ultrapassar 6,5 mil pessoas.
Tatiana acredita que o motivo pode ser a crença dos pacientes de que só devem buscar atendimento se estiverem sofrendo com sequelas graves da Covid-19. Entretanto, mesmo quem nunca foi hospitalizado tem direito ao atendimento.
“As principais queixas são: perda ou alteração de olfato e paladar, dores generalizadas, fadiga, perda de memória e/ou dificuldade de raciocínio, ansiedade e/ou depressão e dor de cabeça”, relata a enfermeira.
O Centro Regional Interprofissional Especializado Pós-Covid atende pacientes dos 14 municípios da Associação de Municípios do Vale Europeu (Amve). A solicitação para acompanhamento deverá ser feita na unidade de saúde de referência do usuário.
Para tentar reforçar o encaminhamento, as unidades de saúde serão alertadas sobre sintomas que podem ser sinal de síndrome pós-covid. Muitos deles os próprios pacientes não conectam à doença como a queda de cabelo e certas dores.
“Estudos já mostram que a Covid também dispara alguns sintomas de ansiedade e depressão. Mesmo quem tem sintomas leves está sendo muito afetado. Seja dificuldade de dormir, ansiedade para sair de casa, varias coisinhas que vão se somando”, conclui Tatiana.