“Uma parceria inédita vai dar a 17 cidades do Vale do Itajaí um plano completo que trará caminhos para enfrentar os impactos das mudanças climáticas na região. O investimento de R$ 2,6 milhões subsidiará a criação de documentos e de uma plataforma que vai indicar as medidas necessárias para tornar as cidades mais resilientes diante dos extremos que estão cada vez mais recorrentes”, foi a introdução da matéria publicada no sítio eletrônico da NSC TV.
Não há dúvida de que todos nós em todas as instâncias, governamentais, setor privado e mesmo nas nossas ações individuais, precisamos estar preparados para o que vem pela frente, em termos de mudanças climáticas. Não tem sido por falta de aviso. Desde a famosa Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, em Estocolmo, em 1972 o mundo inteiro está sendo alertado dos perigos que rondam a humanidade e o planeta, por conta dos desmandos dessa própria humanidade.
Desde 1972 para cá muitos avanços aconteceram, mas, estes avanços não têm sido suficientes para salvar nossa pele e a “pele” de todos os demais seres vivos com os quais partilhamos a única biosfera que se conhece no universo. Basta ver tudo o que está acontecendo.
Cinquenta e três anos estão se passando desde Estocolmo e o mundo continua cheio de líderes públicos e outros que pouco estão se lixando para a realidade que aí está: mudanças climáticas já em curso com seus eventos cada vez mais frequentes e violentos, brutal perda da biodiversidade, do equilíbrio ecológico e muitos, muitos, muitos etc. além disso.
Voltando para a nossa realidade regional, não há a menor dúvida de que todas as iniciativas visando deixar as comunidades preparadas para o que vem por aí, como a parceria inédita supra-mencionada, envolvendo o Consórcio Intermunicipal do Vale do Itajaí – Cimvi, Associação dos Municípios do Vale Europeu – Amve e BRDE são, em princípio, bem-vindas.
Com os vastos conhecimentos já acumulados em Blumenau e no Vale do Itajaí, tanto pela prefeitura, quanto, principalmente pela FURB (Projeto Crise, criado há mais de 40 anos, depois Instituto Ambiental, depois Instituto FURB), espera-se que não se reinvente a roda neste assunto, que vai envolver recursos da ordem de 18 milhões de reais.
“O problema não é a falta de diagnóstico – todo mundo já sabe que as cidades do Vale do Itajaí são vulneráveis a enchentes, deslizamentos e eventos extremos” – comentou-me uma pesquisadora. “O que falta é ação real. Esses estudos podem até ter sua importância, mas sem compromisso de implementação, viram só um ciclo infinito de planejamento sem execução. Os governos já poderiam estar investindo em tudo aquilo que falamos, evento após evento: drenagem urbana eficiente, preservação de florestas nativas, reflorestamento de áreas críticas, melhorias no sistema de alerta e ordenamento urbano para evitar ocupação de risco. E a população? No fim, sempre acaba arcando com as consequências, seja reconstruindo casas destruídas, seja pagando a conta dos prejuízos econômicos. O que me preocupa é que esses planos muitas vezes são usados como justificativa para adiar ações concretas”.
Pesquisadores da FURB ainda lembram que foram feitos vários planos com outros títulos com praticamente o mesmo conteúdo e tudo isso precisa ser buscado e considerado, “evitando duplicidade de esforços e gasto desnecessário de recursos. Essa memória e resgate de tudo o que já foi feito é fundamental na implementação do anunciado Plano Regional de Ação Climática. Para isso, há que se chamar e serem ouvidos quem tem o conhecimento empírico e de pesquisa de anos e anos como tantos que ainda estão atuando em pesquisa e mesmo buscar a espetacular experiência de quem já está aposentado”.
“Será que vão resgatar os estudos anteriores e decidir fazer algo concreto considerando as especificidades regionais? Essa é a grande contradição: há décadas de conhecimento acumulado, tanto de quem vive na região e sente os impactos diretos quanto de pesquisadores que já mapearam os riscos e soluções possíveis. Não tem sentido criar novos diagnósticos e plataformas como se estivéssemos começando do zero”.
Resumindo, replico aqui algumas propostas aventadas, com as quais este colunista concorda plenamente: “1) resgatar os estudos anteriores e atualizar o que for necessário (sem reinventar a roda); 2) ouvir quem tem conhecimento real – pesquisadores locais, engenheiros, técnicos da Defesa Civil e, principalmente, a população que enfrenta os problemas na pele como aconteceu em várias cidades afetadas nos últimos dias e semanas; 3) executar ações concretas agora, como infraestrutura resiliente, preservação de florestas nativas existentes e recuperação de florestas onde são necessárias e não existem mais, gestão eficiente do solo e prevenção ativa de desastres”.
Baú ambiental invertido – o regresso ao passado
Faz uns 40 anos, o diretor do então DNOS, engenheiro José Bessa, dizia que os planejadores tinham que lembrar que, debaixo de uma ponte não passa apenas água. Numa grande enxurrada passam também árvores e bambuzais inteiros, além de toda sorte de outros objetos, naturais ou manufaturados pelo homem. Cidades como Blumenau, Brusque e tantas outras, pagaram muito caro por não considerar esse conselho. Só no Reino do Garcia, que conheço bem, foram vários os casos de reconstrução, no mesmo lugar, de duas e mesmo três pontes, em substituição às anteriores, quase todas devido aos problemas causados por pilares e braços franceses que serviam como aparador de entulhos que represavam as águas, causando violento agravamento das enxurradas e mais sofrimento a milhares de pessoas atingidas, até que, finalmente, depois de muito dinheiro público jogado fora, fizeram a coisa certa, ou seja, pontes sem pilares no meio de rios menores. A novíssima ponte desta foto, ainda nem inaugurada, junto à Praça do Estudante, data vênia, dá a impressão de que os gestores públicos voltaram a reinventar a roda, pior, a roda quadrada. Foto Lauro E. Bacca, em 04/02/2025.
Leia também:
1. Luto: velório de jovem morto em acidente em Pomerode tem data marcada
2. URGENTE – Polícia Civil prende em Itajaí suspeito de matar e ocultar cadáver de adolescente de 14 anos
3. TriVale Cap: apostas de Blumenau ganham prêmios de R$ 50 mil e R$ 10 mil neste domingo
4. Idoso é picado na cabeça por cobra em Indaial
5. Homem morre afogado após cair de deck em Rio dos Cedros
Veja agora mesmo!
Primeira maternidade de Blumenau, Casa Johannastift ficou abandonada após enchentes: