“O voluntariado me tirou da depressão”; conheça mulheres que encontraram um propósito no trabalho voluntário em Blumenau

Voluntárias de diferentes ONGs e associações de Blumenau relatam como é participar do voluntariado na cidade

Blumenau conta com muitas mulheres que prestam trabalho voluntário e lideram ações sociais na cidade. No entanto, apesar de impactarem na realidade do município e serem responsáveis por melhorar a qualidade de vida da população blumenauense, elas são desconhecidas do grande público.

Neste Dia das Mulheres, o jornal O Município Blumenau decidiu contar a história de algumas das diversas voluntárias que fazem a diferença na cidade. O intuito é prestar um singelo agradecimento pelos trabalhos que realizam em prol das pessoas  que necessitam, e fazer com que suas ações sejam reconhecidas.

Fazendo a diferença na comunidade

Sirlei Gomes, conhecida como dona Sila, tem 57 anos, é natural de Caçador, no Meio-Oeste de Santa Catarina, e chegou em Blumenau com 13 anos para trabalhar de empregada doméstica. Ela é responsável por fazer ações sociais em prol do loteamento Dona Edith, localizado no bairro Velha Grande.

De acordo com dona Sila, o voluntariado chegou na sua vida há três anos. Ela conta que teve que se afastar do trabalho por conta de uma doença, e ficou de receber uma carta do INSS, porém, não havia serviço de correio no local.

Devido a isso, decidiu abrir um edital para se candidatar como representante da comunidade, com o intuito de buscar para o loteamento os serviços básicos, que até então não havia. “Eu queria fazer a nossa comunidade existir, porque não existia antes. Então eu fui em busca de coisas que fossem contribuir”, comenta.

Dona Sirlei em trabalho social em prol do Natal na Associação de Moradores Loteamento Dona Edith. Foto: Arquivo Pessoal

O início de tudo

Segundo Sirlei, um tempo depois veio a pandemia e o desemprego atingiu muitos moradores do loteamento. Ela relata que um dia estava assistindo TV e veio uma mãe pedir leite para o filho na porta dela. Dona Sila afirma ter pegado o último leite que tinha na geladeira e doado para a mulher. A partir desse dia, ela nunca mais parou com o trabalho voluntário.

“Eu fui zeladora, então tinha contato com gente que possui mais dinheiro. A partir daquele dia comecei a ir atrás dessas pessoas para pedir doações de roupas, comidas e calçados para o pessoal da minha comunidade”, relata.

Dona Sila alega que não há dinheiro no mundo que pague a sensação de poder ajudar o próximo. “Ver as mães saindo com uma cesta básica sabendo que têm o que dar para os filhos comerem, ou as crianças recebendo um brinquedo no Nnatal e perceber o brilho no olhar deles, não tem dinheiro no mundo que pague”.

No começo ela não tinha um espaço físico onde pudesse trabalhar, então comprou uma barraca e armou na frente de casa para montar e distribuir cestas básicas e marmitas para os moradores.

Um futuro melhor

Atualmente, com ajuda dos apoiadores, dona Sila tem um espaço alugado onde consegue prestar o trabalho voluntário. Após muita luta, ela conseguiu dar início a um objetivo antigo que tinha: oferecer cursos profissionalizantes para a comunidade.

Na associação, um engenheiro eletricista e professor da Furb está oferecendo curso gratuito de eletricista profissional para moradores com mais de 18 anos. As aulas acontecem todos os sábados. O intuito é que ainda no mês de março, inicie um curso de inglês gratuito no local.

De acordo com Sirlei, por conta do voluntariado, ela conseguiu vencer a depressão. “No interior a gente passou muita fome, miséria e humilhação. Hoje sinto que posso fazer por eles o que não fizeram por mim lá atrás. Eu me sinto viva, útil, realizada, e até da depressão eu saí”.

Dona Sirlei em trabalho social em prol do Natal na Associação de Moradores Loteamento Dona Edith. Foto: Arquivo Pessoal

O espaço

Dona Sila afirma que um dos maiores empecilhos para promover mais ações sociais é a falta de espaço e de coisas básicas, como ventiladores, por exemplo, na associação.

“O espaço físico da Associação de Moradores é pequeno, consigo trabalhar, mas gostaria muito de ter um espaço maior. Queria poder oferecer mais vagas nos cursos, fazer um trabalho com as crianças que saem da escola e não têm para aonde ir enquanto os pais trabalham, realizar um clube de mães etc, mas não temos espaço suficiente, a comunidade é grande”, desabafa.

No momento, dona Sila afirma estar tentando conseguir a doação de um terreno com a Prefeitura de Blumenau, para não ser mais necessário pagar o aluguel do atual imóvel, porém, ainda iria precisar de ajuda dos apoiadores para a construção.

“Essa é a parte de não ter um lugar seu para trabalhar é a mais difícil. Mas eu tenho muita esperança com os empresários, que eles vão se comover e levantar uma construção para a associação”, comenta Sirlei.

Como ajudar o loteamento Dona Edith

Quem quiser contribuir com doações, valores podem ser doados através da chave pix, CPF: 775.946.499-15. Para doar roupas, calçados, cestas básicas, eletrodomésticos, roupas de cama, móveis e outras necessidades, é possível entrar em contato com a dona Sirlei através do telefone (47) 9180-3281.

Gerindo uma ONG

Silvana Silva Schmitt tem 53 anos e é uma das colaboradoras para a fundação da ONG  Sorrir Para Down, com sede no bairro Água Verde. A voluntária conta que o que a impulsionou para o trabalho foi o nascimento do filho Douglas, portador de Síndrome de Down. Ela percebeu a necessidade que a cidade tinha de possuir um espaço de acolhida para essas pessoas.

Há 18 anos no voluntariado, Silvana compartilha o significado que o trabalho possui para ela: “O voluntariado é doação, é servir sem olhar a quem e sem esperar nada em troca. E, para mim, é também uma válvula de escape. É o dia que eu saio de casa, da minha rotina e problemas e venho aqui me entregar por completo”.

Voluntária Silvana com seu filho Douglas na Sorrir para Down. Foto: Arquivo pessoal.

Renata Marzani Dal Moro, tem 33 anos e é atualmente a presidente da Sorrir para Down. Ela conta que conheceu a ONG por conta do Samuel, seu filho de 11 anos, que também é associado. Renata está há nove anos no voluntariado, e, para ela, a palavra que define o trabalho é persistência.

“Quando eu tive o Samuel, eu conhecia a Síndrome de Down, mas fiquei completamente perdida porque não sabia o que fazer, como cuidar, para aonde ir. Aqui na Sorrir temos uma rede de apoio, quem já passou pela mesma situação, consegue acolher quem está chegando agora”, explica Renata.

Voluntária Renata e seu filho Samuel. Foto: Arquivo Pessoal.

Sobre a Sorrir Para Down

A Sorrir Para Down foi fundada em 2003, em Blumenau, por um grupo de pais e familiares de pessoas com Síndrome de Down e com o apoio de um pediatra da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB).

De acordo com as voluntárias, tudo que existe na ONG vem de doações e voluntariado. Apenas a assistente social é contratada, e duas fonoaudiólogas são prestadoras de serviço. Para o restante das atividades, elas contam com o apoio da comunidade que se voluntaria.

Voluntárias da Sorrir para Down. Foto: Kamile Bernardes/O Município Blumenau

Segundo Renata e Silvana, uma vez que não é cobrado nenhum tipo de mensalidade dos associados, a maior fonte de renda da Sorrir é o que é arrecadado nos pedágios e feijoadas que realizam. O bazar que funciona na sede da ONG também ajuda.

“Para mim, eu nunca peço nada, mas para a Sorrir eu sou uma verdadeira pedinte. Às vezes se estamos precisando de algo aqui eu saio de porta em porta nos vizinhos para pedir, na minha rua eu nunca faço isso”, brinca Silvana.

Silvana ajudando na montagem de kits para o pedágio da Sorrir para Down. Foto: Kamile Bernardes/O Município Blumenau

Como ajudar a Sorrir

Além de continuar os serviços de fonoaudiologia, acolhimento e triagem com a assistente social e as doações para as famílias, futuramente, a meta é ampliar os atendimentos. O intuito da ONG é proporcionar aos associados um acompanhamento com psicólogo, psicopedagogo, oferecer palestras aos familiares, além de iniciar o projeto “Culinária Down”, que tem o intuito de ensina-los o básico na cozinha.

Para realizar esses objetivos, a ONG precisa da ajuda da população. É possível realizar doações através da chave pix, CNPJ: 06.311.465/0001-40.

Sede Associação Sorrir Para Down. Foto: Kamile Bernardes/O Município Blumenau.

Doar tempo

Mariusa Alves tem 46 anos, é natural de Laranjeiras do Sul, no Paraná, porém mora em Blumenau há 29 anos. Atualmente ela trabalha como cuidadora de pessoas enfermas e atua como voluntária na Casa de Acolhida São Felipe Néri, situada no bairro Velha Grande.

De acordo com Mariusa, a essência de ajudar o outro é algo que herdou de famíia. “Meus pais sempre me ensinaram que estamos nesse mundo para ajudar uns aos outros. E quando falo em ajudar, eu não me refiro à questão financeira, mas sim à doação do que temos de mais sagrado e importante nessa vida, que é o nosso tempo”, afirma.

Ela presta trabalho voluntário desde 1996, quando começou a atuar na Pastoral da Pessoa Idosa. Posteriormente, Mariusa também foi voluntária na Pastoral da Criança e na Pastoral Carcerária.

Mariusa Alves em ações voluntárias na Casa de Acolhida São Felipe Néri. Foto: Arquivo Pessoal.

No ano de 2000, ela engravidou de Yuri Reiter, que está em memória, e em 2009, deu a luz à Clara Reiter. De acordo com Mariusa, junto à maternidade surgiram outros desafios relacionados ao trabalho voluntário, então ela começou a participar de conselhos de Escola, de Centros de Educação Infantil, de segurança, saúde e conferências.

“Nessa minha caminhada eu tive a oportunidade de conhecer vários lugares e entidades que contribuem para o fortalecimento da vida humana em todos sentidos. Hoje confesso que não sei se conseguiria deixar de lado meu trabalho como voluntária”, comenta.

De acordo com Mariusa, o trabalho voluntário também é apto a ajudar na formação profissional dos indivíduos.

“Esse tipo de trabalho é capaz de tornar uma pessoa mais tolerante, empática, e, mais do que tudo, um excelente profissional. O voluntariado é o principal pilar do chamado “terceiro setor”, que tanto colabora para o desenvolvimento da coletividade. A atuação do voluntária constitui uma das formas de realização de uma cidadania ativa e participativa, materializando solidariedade “.

Mariusa Alves com outros voluntários na Casa de Acolhida São Felipe Néri. Foto: Arquivo Pessoal.

História na São Felipe Néri

A história de Mariusa na Casa de Acolhida São Felipe Néri começou em 2016, quando começou a ajudar em eventos com intuito de arrecadar fundos para manter o local funcionando. De acordo com ela, era uma voluntária de “bastidores” na casa, prestando trabalho voluntário em pedágios e feiras.

Porém, Mariusa afirma sempre ter sentido a vontade de estar junto das crianças e adolescentes da casa no dia a dia. Em setembro de 2018, ela recebeu o convite da fundadora Gisele Cunha, para atuar na cozinha da Casa, na preparação dos alimentos.

Mariusa Alves na Casa de Acolhida São Felipe Néri. Foto: Arquivo Pessoal.

Como ajudar a Casa

A Casa de Acolhida São Felipe Néri tem o objetivo de acolher crianças e adolescentes, para que tenham um local para ficar e praticar atividades no contraturno escolar. Atualmente a Casa abriga 181 jovens, sendo 104 crianças na unidade 1, e 77 adolescentes na unidade 2.

Valores podem ser doados através da chave pix, CNPJ: 22.528.347/0001-44. Para doação de outras coisas, como alimentos e roupas, é possível entrar em contato através dos telefones (47) 3325-5783 e (47) 99216-2425.


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