Capa: O molde do busto do Coronel Feddersen em gesso feito por Erwin Teichmann, o busto no “Largo Coronel Feddersen” e, a última imagem, quando o edifício histórico das Gaitas Hering já se encontrava em estado de ruinificação, ainda contava com  a presença do busto do Coronel Feddersen no local.

Fotografia de 20 de março de 2005 – de Gilfredo Ballod.

O prédio histórico da antiga Cia. Paul, que antes abrigava a 1ª sede da Cia. Salinger na localidade de Altona, atual bairro de Blumenau, Itoupava Seca, estava em processo de demolição quando o local foi fotografado com a presença do busto do Coronel Peter Christian Feddersen.

Localização do busto no cenário modificado no momento da revitalização da Praça das Gaitas.
Porto Fluvial de cargas.

O largo se transformou em “uma praça”, denominada “Praça das Gaitas”, que poderia ser denominada – “um grande canteiro” inserido no meio de vias de tráfego de passagem cruzando-se, desconsiderando trânsito local de pedestres, de bicicleta e até de automóveis, como era o local a partir de sua história nas primeiras décadas do século XX, e cuja velocidade era outra, mesmo com a presença de fábricas, escola, igreja, porto, comércio, hotéis …

Detalhes da fotografia anterior.

Quem passa pelo local, hoje, faz uma pergunta: Onde está o busto do Coronel Feddersen?

Aparentemente, o busto sumiu durante as obras de revitalização e criação da Praça das Gaitas, na administração do governo de João Paulo Kleinubing. O espaço em que o busto do Coronel Feddersen se localizava era chamado de “Largo Coronel Feddersen” – Itoupava Seca, antiga Altona – Blumenau.

Coronel Peter Christian Feddersen

Do livro – Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau/Max Humpl.

Coronel Peter Christian Feddersen é um dos nomes da história de Blumenau, regional e estadual. Foi tão importante que recebeu a homenagem do busto. Feddersen muito contribuiu para o desenvolvimento da comunidade Altona, de Blumenau e região. Naturalmente, recebeu essa homenagem dos municípios do Vale do Itajaí, entre outros reconhecimentos, através da instalação do busto em uma das centralidades do bairro Itoupava Seca, próximo do local de sua residência (local onde esta a igreja Martin Luther).

Peter Christian Feddersen nasceu no dia 5 de outubro de 1857, na cidade de Tondern – Schleswig-Holstein – atual Dinamarca. Na metade do século XIX, esta região estava sob o domínio dos alemães, e ainda não estava organizada como país – o que de fato somente ocorreu em 1871.

Peter Christian Feddersen. Fonte: Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.

Conforme o professor Max Humpl, autor do livro  organizado por Méri Frotscher Kramer e Johannes Kramer: Crônica do Vilarejo de Itoupava Seca  – Altona desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau, Feddersen chegou a Blumenau quando contava 22 anos de idade. Adquiriu um terreno já cultivado, localizado no Testo inferior, e investiu o resto das economias que trouxe consigo nos comércios Meyer e Sperling. Com a grande enchente de 1880, na qual perdeu muita coisa, desanimado, resolveu se mudar para São Paulo, onde constituiu família, casando-se com Ella Guthe. Seus negócios não fluíram como planejava e retornou para Blumenau, quando conheceu Gustav Salinger, com quem trabalhou e não demorou muito, foi contratado, como gerente da filial da firma de exportação em Altona, cuja matriz estava no Stadtplatz de Blumenau. Essa filial foi inaugurada exatamente em uma casa localizada ao lado das antigas Gaitas Hering. Até então era a Casa de Richard Stein, onde depois veio a funcionar a Casa Comercial R. Paul & Cia.

No local da Cia Paul, foi instalado a fábrica das Cristais Hering. Fotografia do acervo da Família Paul.

A empresa cresceu muito sob sua administração. Após adquirirem o terreno da viúva Thonsen, construiu a grande Casa Comercial, atualmente em estado de ruinificação. Tornou-se sócio de Salinger, agora não somente em comércio, mas também em indústria que produzia caixotes (embalagens), charutos, arame farpado, serraria, beneficiamento de arroz, entre outros. Foram abertas outras filiais no interior de Blumenau. Aproximou-se da atividade política com forte liderança e boas relações com o governo estadual republicano, ocasião em que muito contribuiu em relação a largos investimentos estaduais e federais em Blumenau. Elegeu-se deputado estadual.

O desenvolvimento da indústria, dos meios de transporte e do comércio, no final do século XIX e início do século XX, em Blumenau e em Altona, onde residia, está intimamente ligado às atividades de Peter Christian Feddersen.

Contribuiu para a implantação de ações e benfeitorias que aceleraram o desenvolvimento econômico e social de Altona, de Blumenau e da região, a saber:

  • viabilização da construção da Ferrovia EFSC na região, cujo primeiro trecho foi inaugurado em 1909;
  • construção da Hidrelétrica do Salto;
  • construção do clube social Teutônia;
  • foi sócio da Hertls Schule e mecenas da reforma da Escola Alemã de Altona, a Nova Escola Alemã de Altona, atual E.B.M. Machado de Assis;
  • foi membro da comunidade evangélica, na Igreja da Cruz, fez grandes contribuições para sua manutenção e para a construção de edifícios de apoio, como a escola;
  • promoveu a criação e muito contribuiu para a “Associação do Commercio Blumenauense” e, por meio dela, a construção para implantação do sistema de telefonia.

Peter Christian Feddersen que, como deputado estadual, como Conselheiro Municipal e como chefe político, foi sempre ardoroso incentivador do progresso de Blumenau, pondo-se à frente de iniciativas que trouxeram grandes benefícios à Comuna, pôs todo seu entusiasmo e o seu prestígio a serviço da solução de tão premente problema. (SILVA, 1969).

Do livro – Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau/Max Humpl.
Vista parcial da comunidade Altona.
Casa Salinger, construída pelo Coronel Feddersen – importante Casa Comercial e Industrial com dezenas de filiais na Colônia Blumenau, cujo patrimônio edificado faz parte do patrimônio da FURB, nos últimos em processo avançado de ruinificação.

De acordo com Niels Deeke, foi cognominado com a antonomásia de “O Mauá do Norte Catarinense”. Em 1946, já se especulava a colocação de seu busto no bairro Itoupava Seca.

Busto de Peter Christian Feddersen

Niels Deeke, pesquisador reconhecido nos espaços das grandes universidades do Sul e Sudeste do Brasil, compartilhou conosco, via correspondência eletrônica, informações valiosas sobre o busto do Coronel Feddersen.

Niels Deeke – registro nosso no momento que fomos pesquisar em visita à sua residência/acervo, em 2007. Foi publicada no livro Colônia Blumenau – No Sul do Brasil.

“O Busto foi inaugurado a 4 de setembro de 1950, às 16 h. Obra do escultor Erwin Teichmann. O monumento foi erigido no então chamado “Largo Coronel Feddersen”, no fim da rua São Paulo, entroncamentos com as ruas Bahia e rua Cel. Feddersen.

Local original do busto de Peter Christian Feddersen apontado por Deeke.

Denominação instituída através do Projeto de Lei de autoria do vereador Hercílio Deeke, datado de 21 de julho de 1948. Art. 1º Fica mudado para ‘Coronel Feddersen’ o nome da atual ‘Rua Acre’ e denominada ‘Largo Coronel Feddersen’ a praça formada pelo entroncamento da pré-citada rua com as ruas São Paulo, Bahia e Marcílio Dias. No centro do ‘Largo’ a se refere o artigo anterior, fica destinada uma área necessária à ereção de um monumento ou busto do falecido Coronel Peter Christian Feddersen, justa homenagem do povo de Blumenau e municípios vizinhos à memória daquele que foi um dos maiores fautores do progresso material do Vale do Itajaí – Sala das Sessões, 21 de julho de 1948 – Hercílio Deeke – vereador. (Vide Jornal de Santa Catarina de 31 de agosto de 1988- Caderno Econômico pág.3 in entrevista de Ernesto Stodieck jr. –’Feddersen anteviu o Futuro’ – trata-se de um muito interessante relato das atividades de Feddersen). O busto esculpido e fundido em bronze foi custeado por Ernesto Stodieck jr. através da Empresa Industrial Garcia SA. Grande parte dos livros da biblioteca de Peter Christian Feddersen, mormente os relativos a 1a. Grande Guerra, foram resgatados por Niels Deeke, após um de seus familiares se desfazer dos bens para mudar-se ao Rio de Janeiro, e atualmente integram suas coleções. Foi ‘Coronel’ da ‘Guarda Nacional’. Verbete: coronel.: Chefe político, em geral proprietário de terra, do interior do País. O Busto do Coronel Pedro Christian Feddersen foi inaugurado a 4 de setembro de 1950, às 16 horas, durante as comemorações do Centenário de Blumenau. O monumento foi erigido no então chamado ‘Largo Coronel Feddersen’, no fim da rua São Paulo, entroncamentos com as ruas Bahia e rua Cel. Feddersen, próximo as casas de Hertel, Paul, Pastor Andersen, – enfim defronte à Fábrica de Gaitas Alfredo Hering. A lista inicial para angariar numerário destinado ao custeio da Herma e do Busto de Feddersen, constando indicados os contribuintes e valores integra o TABULARIUM NIELS DEEKE. O dinheiro, entretanto, foi devolvido aos subscritores pois Ernesto Stodieck Jr. arcou, individualmente, com todos os encargos decorrentes e merece, por isto, o reconhecimento público.

Molde de gesso do busto de Peter Christian Feddersen fotografado no atelier/museu de Erwin Teichmann – Pomerode, em 20 de outubro de 2020.

Consta dos arquivos particulares de Hercílio Deeke, documento que atesta terem sido desenvolvidos os trabalhos de execução do Busto, como molde em gesso, modelo em cera, forma em gelatina e modelo em cera, novo modelo de Feddersen, 2º modelo cera e retoque, trabalho no bronze de Feddersen, retoque no busto de Feddersen e Busto Hering, Retoque cera busto Hering, e patinar os dois bustos de bronze, nas oficinas de modelagem e fundição da Empresa Industrial Garcia, com início dos trabalhos em 11 de outubro de 1949 e término em 16 de maio de 1950, cujos preços somados ao busto de Feddersen perfizeram Cr$ 13.000,00. Os subscritos da Lista de Contribuição para execução da “Herma e Busto” foram diversos e suas consignações, algumas significativas, outras denotando indiferença, encontram-se documentadas – in TABULARIUM NIELS DEEKE.Niels Deeke.

Fotografia do acervo da família Paul que, gentilmente, nos ofertou esta cópia – Bisneta de Paul – Hela.
Arquitetura original da Cia Paul foi alterada quando se tornou fábrica de Gaitas. Recebeu um adicional de área em sua mansarda, foi retirado os beirais do telhado e recebeu a anexação de mais aberturas na mansarda ou no sótão. O Dachgaube foi “engolido” pelo acréscimo de volume na cobertura.
Na fotografia da matéria do Jornal de Santa Catarina JSC de novembro de 1997, é visível a presença do ponto de táxi próximo ao “Largo Coronel Feddersen”, localizado à frente.
Palavras do fotógrafo, nosso professor, na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Dalvino Salvador, que gentilmente nos cedeu a imagem histórica: “Foto feita em 25 de outubro de 2003. Ruínas do prédio da empresa Gaitas Hering, que chegou a ser a maior fábrica de instrumentos musicais do Brasil, e que acabou falindo em 1990. Este prédio, bem como a pequena Praça Coronel Feddersen que ficava à sua frente, com o monumento ao coronel, que abrigava em sua base a RN 1400 C do IBGE, foram todos demolidos no ano de 2008 para a construção da Praça dos Músicos Alfredo Hering, inaugurada em 20 de setembro de 2008.”
Palavras do fotógrafo e pesquisador Gilfredo Ballod: “Nesta foto, tirada em 20 de março de 2005, época em que o prédio das gaitas foi demolido, o busto ainda estava lá. Isso aconteceu no primeiro ano do governo Kleinübing, ele deve saber o que aconteceu com o coronel.”
“Foto de setembro de 2007, já sem o busto do coronel. A demolição de todo o complexo começou em março de 2005, quando o busto ainda estava sobre seu apoio. Seria bom se fosse feita uma investigação sobre seu paradeiro.” Gilfredo Ballod.

O local citado por Deeke, por Salvador e Ballod, construído para homenagear o Coronel Peter Christian Feddersen, ponto focal dentro do bairro historicamente importante Itoupava Seca, antiga comunidade Altona, foi totalmente descaracterizado, assim como sua estruturação urbana, implodida e transformada em passagem.

Primeiro projeto da Lei Rouanet aprovado em Blumenau para sua recuperação. Fizemos parte da equipe do projeto. Demolido para criar lugar para automóveis, fazia parte da Escola Básica Municipal Machado de Assis – Antiga Escola Alemã Altona. Por quê? Porque o trânsito de fluxo rápido foi deslocado para a frente da escola, antes um lugar pacato para embarque e desembarque dos alunos.
Demolidas.

Para ler mais sobre as transformações na antiga comunidade de Altona, acessar: Um passeio pelo Bairro de Itoupava Seca e um pouco de sua História.

Onde está o busto do Coronel Peter Christian Feddersen, obra de Erwin Teichmann, presente dado à comunidade de Altona pelos municípios do Vale do Itajaí, na forma de homenagem a uma personalidade histórica de Blumenau, de Santa Catarina?

Um registro para a história.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)

Referências

• Arquivo Público do Estado de Santa Catarina. Item APESC_F2457 – Pedro Cristiano Feddersen (1857-1947) . Disponível em: https://acervo.arquivopublico.sc.gov.br/index.php/pedro-cristiano-feddersen-1857-1947. Acesso em 2 de março de 2024 – 12h45.

BAUMGARTEN, Christina. A engenharia do sonho: registro histórico dos oitenta anos da Electro Aço Altona S.A. Blumenau: HB Editora, [2003] – 175 p. :il.

• BRANDE. Altona: rumo aos 100 anos com muito orgulho! A empresa está comemorando 95 anos como uma das mais conhecidas globalmente no seu segmento. NSC +.08/03/2019 – 13h24 – Atualizada em: 11/03/2019 – 16h52. Disponível em:https://www.nsctotal.com.br/noticias/altona-rumo-aos-100-anos-com-muito-orgulho. Acesso em: 03 de julho de 2021 – 17:17h.

• GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no sul do Brasil. Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.

• HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau. 1.ed. Méri Frotschter Kramer e Johannes Kramer (organizadores). Escrito em 2018. Blumenau: Edifurb, 2015. 227 p.: il.

• KORMANN, Edith. Teatro de Blumenau III. Acadêmico jornal Catarinense de Cultura. FURB – agosto de 1978.

• MORETTI, Silvana Maria. Fábrica e Espaço Urbano: A influência da Industrialização na Formação dos Bairros e no Desenvolvimento da Vida Urbana em Blumenau. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Orientador: Prof. Msc. Luís Fugazzola Pimenta. Florianópolis/SC, janeiro de 2006.

• Revista Blumenau em Cadernos. Aconteceu em dezembro de 1980. Tomo XXII. Janeiro de 1981. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Página 29.

•  WITTMANN, Angelina. Entrevista com Arno Hercílio Teichmann, em 20 de outubro de 2021 – Pomerode-SC – às 14h. Publicado no Canal da Plataforma do YouTube de Angelina Wittmann, em 23 de outubro de 2021. Disponível em: https://youtu.be/Ud9oFrsnkOM . Acesso em: 20 de outubro de 2021 – 21h.

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