Opinião: “Não compartilhar algo duvidoso é um ato de sobriedade”

Professor Moisés Cardoso analisa comportamento de blumenauenses na greve dos caminhoneiros

Moisés Cardoso
Professor, especialista em novas mídias

A vulnerabilidade compartilhada em estados de emergência

Os filmes da franquia “Mad Max” e a série “Fear The Walking Dead”, retratam um cenário de caos e desordem diante de catástrofes pontuais: a escassez de combustível e uma pandemia desconhecida. Elas desencadeiam o descontrole da população, que de forma egoísta, pensa apenas nas suas necessidades individuais.

Ambas são obras de ficção, porém nos últimos dias o que vimos nas ruas do país ficou próximo das obras literárias. Observamos um frenesi da população para estocar alimentos. Nos corredores dos supermercados restavam apenas as prateleiras vazias, sem produtos para repor. Já nos postos de combustíveis, filas de veículos e motoristas temerosos com falta de abastecimento.

Tal dinâmica de sociabilidade pode iniciar de forma individual e posteriormente afetar o coletivo. Ela decorre de eventos pontuais, como por exemplo, o estado de greve dos caminhoneiros; envolve sujeitos comuns e são mediadas por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).

Essa histeria coletiva não é novidade em Blumenau. A situação também ocorre durante os desastres ambientais, como as enchentes, que são cíclicas na região, esse fenômeno é conhecido e estudado por diferentes pesquisadores acadêmicos. Um comportamento replicado em diferentes localidades e que é maximizado pela conectividade digital, através dos smartphones que estão na palma da mão de todos os cidadãos.

A “vulnerabilidade compartilhada” orienta um determinado comportamento, é um sentimento suscetível a uma sensação de insegurança que decorre da falta de confiança nas defesas disponíveis. Ela faz parte das teorias do “Circuito de Ativação de Boatos em Estados de Emergência”, que este pesquisador investiga.

É um estado de suscetibilidade relacionado a danos causados pela exposição a estresses associados a: mudanças ambientais, sociais e à ausência de capacidade de adaptação diante dos acontecimentos.

Trazer à tona a existência dessas teorias cientificas significa enfrentar o problema de uma forma lógica e racional, em uma época na qual vivenciamos as constantes disseminações de boatos, nas redes sociais.

Usuários mal-intencionados se apropriam de espaços digitais, como páginas no Facebook, canais no YouTube e principalmente grupos de WhatsApp. A partir das aflições coletivas, e de uma rede de contatos, criam mensagens, das mais absurdas, que são pulverizadas e replicadas sistematicamente.

Algumas são envoltas de situações reais para dar um ar de credibilidade, outras adquirem grande visibilidade midiática, e repercutem diretamente nas ações dos usuários. Levando-os a cometerem atos de histeria, temerosos pela segurança do seu bem-estar e dos seus familiares.

Cada vez que compartilhamos algo depositamos a nossa chancela de credibilidade. Damos o aval de que aquele conteúdo tem relevância, e por sua vez, leva a nossa aprovação. Diferente do Facebook e outras redes sociais, o WhatsApp não é regido algoritmo ou filtros. Quem escolhe o que compartilhar são os próprios usuários, que repassam adiante mensagens sem acionar nenhum dos seus próprios filtros morais.

Diante de uma mensagem de caráter duvidoso, optar por não compartilhar é um ato de sobriedade, que adiará futuros apocalípticos como os retratados pelo cinema.

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