X
X

Buscar

“Os aterros e as enchentes”

Uma das últimas obras feitas para controle das cheias no Vale do Itajaí foi a sobre-elevação das barragens Sul, em Ituporanga e Oeste, em Taió. Essa melhoria permitiu acrescentar alguns milhões de metros cúbicos a mais na capacidade de contenção de cheias nas duas barragens.

O que diria o leitor se nas bacias de acumulação dessas duas barragens fosse aterrado volume igual ou mesmo maior que os metros cúbicos que a sobre-elevação das barragens permitiu reter a mais, fazendo com que tudo ficasse na mesma? Não seria trocar, literalmente, seis por meia dúzia, de formas que o vultoso investimento do governo nessas obras fosse como jogar dinheiro fora?

Pois é exatamente isso que tem acontecido. Se não tanto dentro das bacias de acumulação das barragens, mas, principalmente fora delas, o que não faltam são baixadas alagáveis aterradas indiscriminadamente pelo Vale do Itajaí afora. Baixadas alagáveis que deveriam ser mantidas como sempre foram, devido a sua importância como acumuladoras de água, exercendo exatamente a mesma função das bacias de contenção das barragens.

Qualquer bom observador que percorre as regiões como Brusque, Guabiruba e adjacências, ou o baixo vale do rio Tijucas, só para citar exemplos próximos, vai notar que o que não falta por ali são gigantescas obras de terraplanagens e inúmeros e volumosos aterros em baixadas alagáveis.

Muitas das paisagens que hoje podemos achar que são naturais, na realidade eram áreas baixas e alagáveis que já foram aterradas no passado, desde os tempos da pá e enxada e da carroça puxada por cavalos até as poderosas máquinas e caminhões de hoje.

Tendo crescido e vivido quase sempre no “Reino do Garcia”, em Blumenau, conheço o suficiente para dizer que só ali, entre a foz do rio Garcia e a região da atual Coteminas, ao longo das décadas, pode ter sido depositado mais de meio milhão de metros cúbicos de aterros.

No vale do ribeirão da Velha, principalmente nas baixadas entre as ruas Marechal Deodoro e até próximo a sua foz no Itajaí Açu, incluindo a área do Fórum, Parque Ramiro Ruediger, Vila Germânica, Terminal Proeb e Corpo de Bombeiros, o volume de antigos aterros não é muito menor que no vale do Garcia.

Mais recentemente, imensas baixadas alagáveis da Itoupava Central tem recebido aterros. Um dos raros terrenos que ainda permanece sem aterros nesse vale é aquele onde havia a antena de transmissão da antiga Rádio Nereu Ramos de Blumenau na margem oeste da rua Pedro Zimmermann, pouco acima do trevo da Mafisa.

Extrapolando esses exemplos para todo o Vale do Itajaí, não seria exagero dizer que as obras de sobrelevação das barragens já estão de há muito neutralizadas pelos muitos milhões de metros cúbicos de aterros em baixadas alagáveis. É possível até que quase o volume inteiro de uma das barragens acima mencionadas, já esteja neutralizado.

No município de Blumenau até que existe uma inovadora e pioneira lei de controle de terraplanagens. Já o Plano Diretor da cidade, não obstante, coíbe aterros apenas abaixo da cota 10 de enchente, de resultados pífios para o controle das cheias.

A norma correta – e fica a sugestão aos deputados estaduais para proporem esta lei pioneiramente em Santa Catarina, deveria ser a proibição de aterros e bota-foras em qualquer margem de córrego ou rio ou baixada alagável, não importa se perto ou longe dos cursos d’água e ponto final. Isso já deveria ser lei há muito tempo, deveria quase que constar na Constituição Federal e nas Estaduais! O que fazer com esses terrenos alagadiços então e quais seriam as possíveis exceções? Existem muitas alternativas que poderemos comentar numa próxima coluna.

Os aterros em baixadas alagáveis são um dos fatores que agravam as enchentes, independente das mudanças climáticas. Beneficiam apenas o proprietário particular do terreno e prejudicam enormemente toda a sociedade.

Qualquer professor, em qualquer escola pode demonstrar isso aos alunos. Basta encher um recipiente com água, um copo, por exemplo e despejar nele uma ou mais colheradas de areia. Todos verão que a água do copo vai transbordar. Como tantos outros, o Vale do Itajaí é nosso grande copo de água que está transbordando cada vez mais, devido aos milhares de aterros nas suas baixadas alagáveis.

O terreno sobre o qual estão edificados os prédios do Conjunto Bavária, no km 1 da rua Amazonas em Blumenau é um dos muitos milhares que receberam grandes aterros sobre baixadas alagáveis, portanto, contribuindo para agravar as enchentes e enxurradas. Nesta imagem, os quatro primeiros dos nove blocos já estavam ali edificados e as obras de aterro aparecem em primeiro plano. Foto Lauro E. Bacca, em 13/11/1977.


Veja agora mesmo!

Clube de Caça e Tiro XV de Novembro nasceu das mãos dos moradores da rua Sarmento: