Capa: O local – o teatro já estava construído, pois foi inaugurado em 1939 e ainda não havia sido aterrado na sua lateral esquerda. Há foto. A Ponte Ferroviária Aldo Pereira de Andrade estava sem as cabeceiras nesta foto e foi inaugurada somente em 1954. Não havia teatro nem aterro. A Rua 7 de Setembro, que na foto não existia, começou a ser construída em 1921, sendo o Morro dos Padres removido em 1924. As evidências apontam que os túneis foram construídos no período da Segunda Guerra Mundial.

Para aqueles que desconhecem o assunto dos “túneis” de Blumenau, este artigo se reporta a um dos temas amplamente debatidos na sociedade blumenauense há muito tempo. Assunto esse menosprezado por alguns, como sendo o conceito de mais uma das lendas urbanas de Blumenau. E enquanto não surgissem evidências concretas sobre sua existência, poder-se-ia continuar tratando do assunto como “bicho papão”, “Papai Noel” e/ou “lendas urbanas” da cidade.

Mas…

Em janeiro de 2015, foi registrado um buraco na rua John Kennedy, pelo qual foi possível ver parte dos “túneis” que, até então, eram tidos como lenda urbana.
Surgiu o desejo de entender melhor o assunto.

Rua John Kennedy, local das obras, em 2010.

Janeiro de 2015

Em pleno período de férias do ano de 2015, na cidade de Blumenau, a Prefeitura Municipal, na gestão do ex-prefeito Napoleão Bernardes (PSDB), dava oportunidade a que se efetuassem obras de saneamento na área central – rua John Kennedy -, que tiveram início em dezembro de 2014.

O “buraco” na Rua John Kennedy constava de uma de suas obras de janeiro de 2015. Ao “rasgar” a rua, foi encontrada parte dos túneis subterrâneos – até então existentes e presentes somente em falas repassadas de uma geração para outra e de boca em boca, sem comprovação de sua existência. Ao longo dos anos, o assunto rendeu reportagens e matérias jornalísticas – mas sempre como lenda.

O que é lenda?

Lenda (Dicionário Aurélio):

    • Tradição escrita ou oral de coisas muito duvidosas ou inverossímeis;
    • Mentira.

Muitas deveriam ser as perguntas. Deveria haver um trabalho específico, a cargo de uma equipe interdisciplinar qualificada e munida de profissionais, por exemplo, da arqueologia e de outras áreas da ciência, para evitar a destruição de fontes importantes de informação histórica da cidade de Blumenau.

Local onde foi encontrada parte dos túneis.
O registro de um momento histórico da paisagem, e do local onde está o túnel encontrado e seu entorno imediato, passível de estudos e conferência de datas.

A existência dos túneis sempre foi oficialmente negada por alguns historiadores e autoridades locais. A seguir, fato registrado e publicado na reportagem da RBS TV, em vídeo de 2010.

Por que negavam?

Por que a ausência de pesquisas para averiguar a veracidade ou não da lenda?
Muitas perguntas. Neste momento, poderia-se ter uma resposta para o “mistério”, termo usado pelo repórter da entrevista.

Parte do túnel descoberto, nas obras na rua John Kennedy, ao lado do Teatro Carlos Gomes, deveria ter sido uma motivação para se iniciar uma pesquisa ampla sobre esta ex- “lenda urbana” blumenauense.

Ano 1959 – carro Ford 1929 dirigido por Willy Steenbock – no banco detrás – Fritz e Mariane Russ – Missionários alemães que moraram em Blumenau de 1959 a 1969 – frente do terreno ao lado do Teatro Carlos Gomes – Foto : Grupo Antigamente em Blumenau – postado por Marcus Kellermann – Acervo Friedrich Russ.

Que este tema não venha a fazer parte da “caixa-preta” da História de Blumenau – denominação usada por alguns pesquisadores locais, quando apontam um tema polêmico e que deva ser mantido à sombra do esquecimento.

História ignorada
O diretor Operacional da Odebrecht, Cleber da Silva, diz que o túnel segue no mesmo sentido da rua. Segundo ele, tem cerca de 1,5 metro de altura por pouco mais de 50 centímetros de largura. A estrutura não está nos registros da prefeitura, usados para orientar o trabalho da Odebrecht.
No Samae, não houve interesse em investigar o achado. As fotos chegaram às mãos do assessor jurídico da autarquia. Como não interferia no trabalho do esgoto, foi orientado para que a obra continuasse normalmente. Blog do Fresard – Clic RBS – 9 de janeiro de 2015.

Reportagem sobre os túneis – RBS TV – 23 de maio de 2010.

Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau

Comentário: quando mencionam o Colégio Pedro II na matéria do vídeo abaixo, na verdade trata-se do ginástico – Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau fundada em 5 de outubro de 1873, com estatuto oficiado em 1º de agosto de 1904. Espaço para as práticas esportivas, atividades sociais e culturais (geralmente era um ambiente multiuso), existia em todas as cidades que receberam contribuição da cultura dos imigrantes alemães, no Brasil, como também, na Alemanha.

Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, Acesso aos túneis.

Em 1917, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau adquiriu da Neu Deutsche Schule, “um chão”, o que gera a confusão e se imagina que se trata da escola.
A pedra fundamental da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau foi lançada em 15 de outubro de 1922, com grande festa ao dia e à noite e um um baile no Theater Frohsinn. Foi inaugurada em 3 de agosto de 1924.
Estivemos no local e fotografamos o acesso aos túneis, dentro do prédio histórico do ginástico, construído antes da Segunda Guerra Mundial, e quando ainda não existia Teatro Carlos Gomes.

  • Os túneis (ao menos, ao lado do Carlos Gomes) não existiam até a data de inauguração  do Teatro, 1939.  Também se de fato existem, não poderiam ser considerados algo como “lenda urbana”.
  • Galerias fluviais não poderiam ser construídas com paredes sem revestimento, estas estão somente com o corte no barro.

 

[…]”eu nasci em Itajaí. Minha mãe é filha de Blumenau. Meu avô foi para Itajaí quando terminou a Segunda Guerra Mundial. Eu não sabia aonde ficava Blumenau, mas escutava meu avô falar desses túneis e de uma sala secreta que eles tinham no Teatro Carlos Gomes ondes eles faziam as reuniões do Partido Comunista. Não vou citar nomes, mas eram pessoas de poder que meu avô era amigo deles. Desde que meu avô partiu para Itajaí, nunca mais veio a Blumenau. Quando nós viemos morar em Blumenau, em 1972, meu avô já era falecido. Eu parava em frente do teatro e ficava pensando aonde ficava essa sala secreta e o túnel. Na Casa Moellmann também tem um túnel e uma sala de reunião com saída para o rio. Se isso é lenda como o meu avô ia contar essas coisas para nós? Ele nunca imaginou que um dia nós viríamos morar em Blumenau. Se alguém quiser saber nomes é só me chamar que eu conto. Meu avô se chamava Paulo Bernardino Borba.” Bernadete Santos. Fonte: Facebook

Novo contato com Bernadete – janeiro de 2022 – Entrevista informal – on line.

Paulo Bernardino Borba nasceu em 25 de janeiro de 1912 e faleceu em 28 de fevereiro de 1972. De acordo com Bernadete, seu avô, também ajudou a “afundar” o porto fluvial de Blumenau.

Entrevista com Bernadete em 6 de janeiro de 2021 – Para confirmar dados sobre os túneis e sobre seu avô

O meu vô morou na rua São José, bem na frente do cemitério em uma casa de tijolo à vista. Esta casa existiu até pouco tempo. Depois morou na Alameda – esquina com a rua da linguiça ou rua XV de novembro. Ele tinha lá um banco. A mãe falou que ela nasceu em uma casa mais nos fundos e depois foram morar na rua das cabras, hoje, rua Pedro Krause, onde o vô era dono de quase todas as terras. Saiu fugindo e nunca voltou, pois teve um AVC e perdeu a fala. Bernadete Santos

Residência de Paulo Bernardino Borba. A primeira, Imagem do Google Maps, a segunda, nosso registro.

Depoimento do Prefeito de Blumenau, na época, Napoleão Bernardes:

“Lendas e boatos a respeito de túneis marcaram a infância e a juventude de muitas gerações de blumenauenses, inclusive a minha.

Livros, contos e as mais diversas histórias tiveram a narrativa inspirada na, talvez, mais característica e emblemática lenda urbana da nossa cidade.

Pois agora, através das obras de saneamento na região central, uma passagem subterrânea foi descoberta. Algo inusitado e que certamente desperta a todos muita curiosidade.

Em virtude de todos os relevantes aspectos históricos e culturais potencialmente envolvidos, solicitei à Fundação Cultural de Blumenau, interessada pelo tema, uma ampla pesquisa e investigação sobre a passagem encontrada.

A partir de amanhã, o presidente da Fundação, Sylvio Zimmermann, vai iniciar este trabalho, formando uma equipe multidisciplinar para analisar esta questão. A ideia é envolver profissionais das mais diversas áreas e experiências para elucidar o tema e trazer uma resposta conclusiva à comunidade.

Vai ser um trabalho muito interessante, seguramente!” Napoleão Bernardes – 10 de janeiro de 2015 – Perfil das Redes Sociais do Prefeito

Imagens do túnel descoberto

De acordo com o Diretor Operacional da Odebrecht, responsável pela obra, Cleber da Silva, o túnel segue no mesmo sentido da rua. Segundo ele, tem cerca de 1,5 metro de altura por pouco mais de 50 centímetros de largura. A estrutura não está nos registros da prefeitura, usados para orientar o trabalho da Odebrecht.

No Samae, não houve interesse em investigar o achado.

Para dimensionar o que víamos, utilizamos as medidas dos tijolos fotografados no teto. Túneis com paredes de barro. As cloacas feitas pelos romanos, seis séculos antes de Cristo, já eram feitos com pedras nas galerias de esgoto subterrâneo, principalmente as paredes.

Cloacas em Roma – seis séculos Antes de Cristo – construídas com pedras

https://www.youtube.com/watch?v=CdEI2uptAsE&feature=youtu.be

Passado presente
A diretora do Arquivo Histórico da cidade, Sueli Petry, diz que provavelmente trata-se de um curso d’água canalizado no início do século passado. Ela conta que a Rua XV de Novembro tinha vários pontilhões, o que comprova a existência de pequenos ribeirões que chegavam ao rio Itajaí-Açu.
– Mereceria investigação. Faz parte da história – comenta.
O historiador e colunista do Santa Viegas Fernandes da Costa também diz que a estrutura deveria ser estudada. Para ele, já é tempo de a cidade ter um arqueólogo especializado em arqueologia histórica que estudasse esses casos. Viegas não acredita ser um túnel para a passagem de pessoas:
– Toda grande cidade tem lendas sobre passagens subterrâneas.
Que abram novamente a vala. Não deveríamos perder a chance de conhecer melhor nosso passado.” Postado por Pancho, às 21:48

Postagem publicada na página do Facebook da Prefeitura Municipal de Blumenau – 12 de janeiro de 2015

Em tom de brincadeira, uma publicação sobre os túneis foi posta na página do Facebook da Prefeitura Municipal de Blumenau. O ideal seria ter seriedade sobre o assunto e também foco na busca do esclarecimento sobre os fatos que o cercam há mais de oito décadas. É algo que envolve e faz parte de um período histórico de Blumenau.

Toda cidade tem suas lendas, seus causos e suas histórias. Com Blumenau não poderia ser diferente.” Facebook da Prefeitura Municipal de Blumenau – em 12 de janeiro de 2015

Seria uma boa oportunidade para se efetuar um estudo com base nas evidências e esclarecer a “lenda”. Antes do achado, as pessoas negavam, afirmando que não havia comprovação da existência desse tipo de construção no subsolo das ruas de Blumenau. Encontrados tais túneis, é a oportunidade de se chancelar de vez o tema.

Fotografia da postagem Facebook PMB.

Prefeitura de Blumenau

Toda cidade tem suas lendas, seus causos e suas histórias. Com Blumenau não poderia ser diferente. Há muito tempo existe a lenda dos TÚNEIS DE BLUMENAU, caminhos subterrâneos que ligam diversos pontos por baixo da cidade, longe da vista de todos. A criatividade voa longe quando o assunto é o motivo da existência destes túneis: – seria uma ligação secreta para pessoas se encontrarem no silêncio da noite?- seria uma rota de fuga para nazistas em Blumenau?- seria apenas um caminho para cursos de água desembocarem no rio? Durante as obras da rede de esgoto na cidade na última semana, um destes túneis – ali perto do Teatro Carlos Gomes – foi descoberto e reacendeu as lendas urbanas. O prefeito ordenou uma investigação histórica de uma equipe de técnicos, engenheiros e historiadores. A primeira reunião acontece esta tarde, e você vai saber, aqui pela nossa página no Facebook, tudo sobre este grande mistério de Blumenau. E você?
O que acha que é a verdade por trás dos TÚNEIS DE BLUMENAU?
Fonte: Facebook – Prefeitura Municipal de Blumenau

Presidente da Fundação Cultural de Blumenau fala sobre investigação que irá esclarecer túnel em Blumenau
Confira uma entrevista com o presidente da Fundação Cultural de Blumenau, Silvio Zimmermann, sobre a pesquisa que será feita a respeito do túnel encontrado pelos operários da Odebrecht Ambiental na Rua Presidente John Kennedy, ao lado do Teatro Carlos Gomes, no Centro de Blumenau, e que intrigou a população:
Como foi o encontro com o prefeito Napoleão Bernardes? Quais os próximos passos? 
Conversamos bastante. Eu sou um conhecer da história de Blumenau e há muitos anos pesquiso diversos fatos sobre a cidade. Vou reunir algumas pessoas que poderão nos orientar nessa pesquisa para que possamos entender melhor o valor histórico agregado, afinal, isso faz parte da lenda urbana de Blumenau. Será uma equipe multidisciplinar com engenheiros, historiadores. De forma geral é consenso que essa etapa já está vencida há muitos anos. Não é a primeira vez que se acha algum túnel ou galeria. Quem é mais novo pode não lembrar, mas há alguns anos encontraram uma galeria semelhante na casa Royal. A topografia daquela região é bem diferente do que é hoje. Onde é o teatro hoje, antes era uma colina, nos fundos, onde é o Neumarkt Shopping, era um lugar alagado. Mas de qualquer forma nós iremos atrás das informações para entender por todos os aspectos, sejam eles históricos ou de engenharia. 
Por que não há registro deste túnel? 
Eu vi algumas pessoas comentando sobre isso nas redes sociais, questionando porquê que a prefeitura não tem planta disso. Em 1958 o arquivo histórico da cidade pegou fogo. Então grande parte das plantas anteriores a 1958 foram perdidas. Isso justifica o porquê do túnel não estar mapeado. Outra coisa, aquela construção tem mais de 100 anos, naquela época nem existia secretaria de Planejamento mas, mesmo que tivesse algum registro, em 1958 se perdeu muita coisa. 
Quais os nomes que vão formar essa equipe? 
Não tenho os nomes definidos ainda, mas o Fernando Henrique Becker, que é conselheiro e coordenador da Comissão da Cultura da OAB de Blumenau, é um dos possíveis nomes. Ele escreveu um livro sobre os túneis de Blumenau, tem algum conhecimento sobre o assunto e se dispôs a ajudar. Vou conversar com o secretario de Planejamento e pedir que indique um engenheiro. Vou falar com a Samae para que seja indiciado algum servidor que tenha memória disso. 
Com base no que foi encontrado na construção da casa Royal, você acredita que a passagem encontrada hoje é um túnel que foi usado por pessoas ou era uma galeria pluvial? 
Tudo indica que é uma galeria pluvial. Teoricamente não dá para passar ninguém lá dentro tendo em vista a altura e a dimensão, mas mesmo assim nós vamos investigar para ver se existem ramificações. Conversamos com os responsáveis pelo teatro para saber se existe alguma ligação dessa galeria com o prédio, mas foi dito que não existe ligação nenhuma. A galeria passa ao lado do teatro em direção ao rio. 
Quanto tempo deve durar esse estudo? 
Não trabalhamos com prazo. Vamos ouvir o que as pessoas tem a dizer, fazer todas as visitas técnicas necessárias e se precisar seguraremos as obras. Pretendo montar a equipe entre segunda e terça-feira e, a partir daí, daremos uma resposta para a população.
Fonte: Jornal O Santa –  12 janeiro de 2015, 07h04   

Artigo – Santa – Dia 19 de Janeiro

Paredes de barro feitas com picareta. Foto do jornal O Santa.

Matéria do jornal O Santa, confirma que as paredes laterais das galerias são de barro. Tecnicamente, desde Roma antiga, galerias para escoamento de águas, não funcionam. O jornal O Santa fez filmagens entrando com muita tranquilidade no ambiente supostamente “estreito” e com destino desconhecido. Também, possível trabalho arqueológico deve ter critérios para ser executado. Não deveria ser um trabalho que deva ser feito somente com engenheiros, propagado na imprensa da época. Os buracos estão sendo abertos com pás de tratores.

Ontem não houve quem passasse pela rua do Teatro Carlos Gomes e não esticasse o pescoço em direção ao buraco com mais ou menos três metros de profundidade. Ele foi aberto no fim de semana para que a comissão criada para investigar o tal túnel encontrado na rua durante a obra de implantação de esgoto possa documentar o local. Ontem, os operários que trabalhavam no buraco de vez em quando eram interpelados por algum transeunte.
Nem o calor e o sol forte foram suficientes coibir a curiosidade de quem via as duas entradas do túnel – uma aberta e outra meio encoberta pelo barro. Quem teve de enfrentar a lentidão no trânsito que tomou conta do Centro ontem aproveitou para dar uma olhada de dentro do carro.
Assista ao vídeo feito pelo fotojornalista Patrick Rodrigues dentro do túnel:
Nesta terça-feira, às 9h, uma reunião aberta no Teatro Carlos Gomes vai definir os próximos passos da comissão formada para investigar o túnel. O presidente da Fundação Cultural de Blumenau, Sylvio João Zimmermann Neto, levará uma proposta de trabalho que, entre outros passos, inclui pesquisa de imagens antigas da área, visitação e entrevista com moradores antigos da região.
A comissão é formada por 16 pessoas, entre elas representantes da Secretaria de Planejamento, Crea, OAB, Furb, Teatro Carlos Gomes, moradores da área e historiadores. A próxima reunião, em que já se deve ter boa parte dos resultados, será em 29 de janeiro. O relatório final deve sair até o começo de fevereiro.
– Vamos investigar, mas tudo indica que é realmente uma canalização de água. Mas mesmo que o relatório aponte isto, as lendas não vão acabar. Elas sempre existirão – acredita Zimmermann.
* O titular do blog, o Pancho, que fez a primeira publicação sobre a descoberta dos túneis, estava em férias e retornou somente em 10 de fevereiro. Daniela Matthes, Blog Francisco Fresard – 19 de janeiro de 2015 – 19h21.

“Eu morei na casa onde fica uma pizzaria que não lembro o nome, esquina da Paulo Zimmermann com 7 de Setembro, nessa casa tinha um alçapão no chão e uma moradora mais antiga falou que dava nos tuneis.” Pedro F. Branco – Facebook – 20 de janeiro de 2015.

Imagem do vídeo publicado no Santa. Há um acesso para o lado direito.

As imagens comunicam – 20 de janeiro de 2015

“Área” de pesquisa “Arqueológica” por parte da equipe que estou o túnel descoberto em Blumenau – Este, até bem pouco tempo, considerados “lenda urbana” por historiadores e lideranças locais.

O ideal seria que este “achado” histórico não fosse desprezado ou destruído. Parte do local foi danificado por ações inadequadas em sua abertura.

Acesso de uma das entradas danificada através do uso de máquinas.
Localização do “buraco” aberto ao acaso, na Rua John Kennedy.

Análise técnica – sobre a fotografia publicada no blog do Jaime

O Diretor da Odebrecht citou uma altura de 1,50metro. Fotografia do Blog do Jaime.

Os construtores da antiguidade dispunham de limitações materiais para fazer suas construções – como a madeira, pedra e tijolo, na ausência da pedra. A madeira, pela sua pequena resistência e também pouca resistência à umidade, não era o material mais adequado. As pedras, apesar da dificuldade de remoção, apresentavam grande resistência a compressão e grande durabilidade, como ainda apresentam. Os tijolos, quando não existiam pedras por perto, se bem utilizados tecnicamente, apresentavam o mesmo resultado. Muito usados no norte da Alemanha – em construções belamente decoradas e sem receber reboco, como a Prefeitura de Berlin.
Foram desenvolvidas, então, técnicas para melhor se aproveitar essas características da pedra e do tijolo. Os etruscos iniciaram e depois os romanos aperfeiçoaram a construção de arcos e os usaram também em seus túneis de escoamento de águas séculos antes de Cristo, com a diferença de que suas paredes também eram revestidas com pedras.

Cloacas romanas, construídas séculos antes de Cristo.

Neste caso dos túneis de Blumenau, deste, em específico, que foi fotografado, foi executado com muito pouco uso de materiais, uma vez que as paredes laterais permaneceram sem revestimentos, apresentam sinais do uso de picaretas (e deve ter dado muito trabalho) e foram usados tijolos maciços somente no teto, para a confecção deste em forma de arco utilizado já como estrutura de distribuição de cargas a partir de seu apoio em uma reentrância nas paredes de barro, com cuidado com a inclinação na recepção das forças oriundas da carga sobre este teto.

Trabalho magnífico, negado por tantas décadas; os tijolos voltaram ao subsolo, pois foram novamente enterrados, relegando o estudo sobre a sua técnica construtiva, de sua história e função a um outro momento no futuro, talvez.

Não estamos de acordo com a versão apresentada pela equipe de estudos, de que os túneis foram usados para canalização de águas pluviais, exatamente pelas características das paredes laterais – barro.

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Imaginem em barro?

Também lamentamos os danos provocados ao patrimônio estudado, durante o “trabalho” nele. Observamos também a ausência de registro dessas obras (cuja extensão ainda é desconhecida), por parte da Prefeitura de Blumenau.

Manchete Jornal O Jornal de Santa Catarina Blog – dia 20 de janeiro de 2015.

A região onde está hoje o Teatro Carlos Gomes, parte do Neumarkt Shopping e quase até o cruzamento com a Rua Dr. Amadeu da Luz era uma área de banhado, lembra-se uma moradora do Bom Retiro que sempre viveu naquela região. Hoje com 84 anos, acha graça das lendas sobre os túneis.

Ela, que prefere permanecer no anonimato, conta que na época das comemorações do centenário de Blumenau tudo aquilo foi aterrado, oferecendo mais espaço “habitável” no Centro. Tanto que, recorda, a festa aconteceu na área recém aterrada. Os veios d’água que brotavam na região foram canalizados para viabilizar a obra e as posteriores construções, acredita.

Perseguições e lendas

A moradora do Bom Retiro supõe como surgiram os boatos sobre os túneis. Ela lembra que a Rua 7 de Setembro era estreita, escura e sinuosa. Volta e meio algum padre era chamado de madrugada para dar a extrema-unção a algum paciente em leito de morte no Hospital Santa Isabel. Daí já teriam surgido boatos sobre o que os clérigos faziam nas úmidas noites de Blumenau.

Outro fator, supõe ela, foi a repressão às culturas de imigrantes nas décadas de 1930 e 1940, período do Estado Novo. Muitos de fato foram presos apenas por ter em casa livros em alemão ou conversar na língua estrangeira. Desde então, lembra, muitos boatos e histórias surgiram.

Verdade ou não, vale acompanhar o trabalho da comissão. Sendo um túnel de encontros amorosos, de fuga ou uma simples canalização, certamente ganharemos ao (re)descobrir a nossa própria história. Daniela Matthes – 19h31 – Blog do Fresard.

* O titular do blog, o Pancho, estava em férias até 10 de fevereiro. Ele foi que apresentou o “furo” dias antes.

Setor de Cartas JSC – 21 de janeiro de 2015.
O local foi isolado das pessoas em 19 de janeiro de 2015.

Em 23 de janeiro de 2015, dois escoteiros que acompanhavam o debate na cidade e com objetivo de fazer imagens e colocá-las à disposição da comunidade, resolveram entrar no túnel à noite. Um terceiro ficou fora do buraco para dar suporte mediante eventuais acidentes na aventura. Dois, desceram ao túnel por volta das 23h00. Também, esse grupo logo definiu, de maneira superficial, o que era o túnel, pelo título colocado ao filme sem muito estudo e critério. Compartilhamos, pelas imagens feitas por eles, que podem ser útil a um possível estudo, no futuro.

Descobriram um caminho recentemente bloqueado com pedras. Tiraram-nas e perceberam que o túnel aumenta para uma largura superior a um metro. Também observaram que há água empossada, em função do bloqueio, e esta não flui em direção ao rio Itajaí-Açu, mas sim, em direção ao morro. A água parada pode comprometer o objeto de estudo, já agredido em procedimentos anteriores.

Se os túneis não têm ligação com o Teatro Carlos Gomes e, de acordo com algumas teorias, que defendem terem sido construídos como galeria pluvial antes da edificação do teatro – o que as fotos e a data de inauguração do teatro não confere. Por que este tem um trecho, conforme vídeo de Eduardo, um dos jovens que adentrou o túnel, se amplia sob o teatro?

Lembrando que algumas pessoas, antes da descoberta do túnel ocasionada pelo acaso, defendiam tratar-se de lenda urbana.
E agora?
O que é?

Vídeo feito por Eduardo

Estudo das imagens feitas pelo grupo de escoteiros:

Algumas conclusões

Investigação

“Comissão avança nas pesquisas históricas sobre o túnel no Centro de Blumenau – Grupo de historiadores está pesquisando documentos e reunindo fotografias históricas da área.
Altura do túnel varia entre 1,50m e 1,70m, com largura entre 50 e 60 centímetros
A comissão formada pela prefeitura de Blumenau para estudar a história do túnel encontrado ao lado do Teatro Carlos Gomes, no Centro da cidade, reuniu-se novamente no Arquivo Histórico nesta quinta-feira. O grupo de oito pessoas, entre historiadores, pesquisadores e moradores, avançou nas pesquisas documentais através de relatórios escritos pelos antigos prefeitos do município e fotos históricas da área. Todos os materiais estão sendo reunidos no relatório que a comissão deve divulgar em duas semanas.
Uma nova visita ao túnel também foi realizada na última terça-feira. Com o apoio do subcomandante do Corpo de Bombeiros, major Luciano Mombelli da Luz, o presidente da Fundação Cultural de Blumenau, Sylvio Zimmermann, caminhou pelo local acompanhado do membro da comissão pesquisadora, Rodrigo Dal Molin, e pelo fotógrafo Marcelo Martins. Segundo Zimmermann, o túnel de aproximadamente 32 metros de comprimento segue em direção à Rua Sete de Setembro, com altura que varia entre 1,50 metro e 1,70 metro. A largura é de 50 a 60 centímetros. O túnel segue em linha reta, sem ramificações para os lados.  Os bombeiros fizeram uma inspeção e apontaram onde era seguro entrar. Após essa visita, já fizemos uma solicitação ao Samae para que mantenha o túnel aberto, com um posto de inspeção para que a comissão possa continuar os estudos no local – acrescentou Zimmermann.
O próximo passo da comissão de historiadores é buscar informações da época em jornais da região publicados entre o final da década de 30 e meados da década de 50, além de continuar colhendo depoimentos de ex-moradores da região.” JSC – 30 de janeiro de 2015, 14h06.

A equipe já havia concluído alguma coisa, mesmo antes de findados os estudos, investigações e  conclusão, uma galeria de águas pluviais. Também observamos que o túnel “aumentou” de tamanho após esta expedição, mas ainda não tanto como ilustra a imagem feita pelo fotógrafo Marcelo Martins que os acompanhou ao seu interior.
Foto: Marcelo Martins – Clic RBS.
Análise através das dimensões do tijolo maciço.
Após toda essa movimentação, a empresa Odebrecht prosseguiu naturalmente com seus trabalhos no local, nas obras da instalação do sistema de esgoto na área central de Blumenau.
O local de acesso foi isolado.
Parte da equipe de pesquisadores e técnicos que efetuaram estudos e pesquisaram parte dos túneis de Blumenau ou, como se denominaria – Comissão Multidisciplinar constituída para investigar o canal/túnel da Rua Presidente John Kennedy, são os especialistas Sueli Petry, M. Roeck Röck, Sylvio Zimmermann Neto, Hilda Melchioretto, Darlan Jevaer Schmitt,  Bárbara Ginger e Wieland Lickfeld.
Comissão que pesquisou os túneis de Blumenau, na Rua John Kennedy, formado pela Prefeitura de Blumenau e concluiu ser galeria de águas pluviais. Foto de Bárbara Ginger.
Em 4 de fevereiro de 2015 foi publicado no G1 – Santa Catarina o parecer da equipe técnica da Prefeitura de Blumenau sobre os túneis, e a conclusão: É uma galeria fluvial.
Matéria da G1 SC apresentando as conclusões da equipe de pesquisadores – 21 de janeiro de 2015 – texto completo: segue abaixo.

Túnel encontrado no Centro de Blumenau era uma galeria fluvial

Pesquisadores afirmam que local servia para o escoamento de água.
Analistas contaram com ajuda de bisneto de antigo morador da região.
A antiga lenda dos túneis secretos de Blumenau, no Vale do Itajaí, reacendeu nos últimos dias, após a descoberta de uma passagem subterrânea na rua do Teatro Carlos Gomes. Na semana passada, a comissão criada para desvendar o mistério do túnel, deu início às investigações, e já trouxe algumas respostas.
Por quase 100 anos, os blumenauenses se perguntaram para que serviam, de onde vinham e para onde iam. Seriam os túneis uma rota de fuga do ditador alemão Adolf Hitler? Ou um local secreto de encontro de padres e freiras? As respostas para a curiosidade dos moradores do município vieram junto através do trabalho conjunto de historiadores e engenheiros.
O túnel, encontrado pela empresa que realiza as obras de esgoto na cidade, no dia 2 de janeiro, tem cerca de 40 metros de comprimento, 1,5 metros de altura e 50 centímetros de largura. Localizado a quatro metros abaixo da Rua Presidente John Kennedy, a passagem está obstruída dos dois lados. Barro e água fazem parte do espaço, que é suficiente apenas para uma pessoa pequena.
Segundo os pesquisadores, todos os indícios levam a acreditar que o local não passou de uma galeria antiga criada para o escoamento da água da chuva. “Esse túnel não tem ligação nenhuma com o Teatro Carlos Gomes. Ele é reto, com aproximadamente 40 a 60 metros de comprimento, construído na década de 1930”, conta o Presidente da Fundação Cultural, Sylvio Zimmermann.
Bisneto de antigo morador ajudou pesquisadores com desenho de croqui da antiga propriedade da família (Foto: RBSTV/Reprodução)
A comissão de analistas buscou informações do túnel com antigos proprietários de imóveis da Rua John Kennedy, e encontrou um bisneto de um morador da região. O rapaz fez um croqui de como era a casa do bisavô nas décadas de 1940 e 1950. Onde era a rua, existia o quintal da família.
A diretora do arquivo histórico do município reafirma a tese dos pesquisadores de que o local era uma rede de escoamento pluvial: “Realmente essa é uma das várias galerias que nós temos na nossa cidade. Não é a única, mas as lendas continuarão”, comenta Sueli Petry. G1 – Santa Catarina, 21 de janeiro de 2015.

Teatro Carlos Gomes foi inaugurado em 1939.

Decidiu-se pelo fechamento deste elemento histórico que mostrou que existe; portanto, não é mais considerado uma lenda urbana. Mas que no futuro, poderá ser seriamente estudado por uma equipe interdisciplinar e tiradas conclusões históricas. Nós retornamos ao local, em 5 de fevereiro de 2015, e o fotografamos, como registro passível de contribuir com esses estudos futuramente.

Local com obras de “fechamento” do local efetuado pela Odebrecht.

Um registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)

Leituras Complementares – Clicar sobre o título escolhido:

Referências

  • BLUMENAU. Blumenau em Cadernos. O Canal Bom Retiro. Blumenau: Tomo I, n. 1, nov. 1957. p. 19-20.
  • BLUMENAU. Blumenau em Cadernos. Entre o mito e a realidade: uma curiosidade coletiva. Blumenau: Tomo 56, n. 2, mar./abr. 2015. p. 25-41.
  • CLICRBS-SC. Encontrado túnel ao lado do Teatro Carlos Gomes. Blumenau, 09/01/2015. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2015.
  • CLICRBS-SC. Estudante de História vai pesquisar túneis da cidade. Blumenau, 22/04/2015. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2015.
  • CLICRBS-SC. Estudo conclui que túnel era para drenagem. Blumenau, 22/04/2015. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2015.
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