“Para os postos, é a pior situação que já vi em 60 anos”, diz presidente de sindicato
Júlio César Zimmermann acredita que preços dos combustíveis não vão cair tão cedo
Abastecer o tanque de combustível virou dor de cabeça para proprietários de veículos da região. Os constantes aumentos de preços autorizados pela Petrobras se refletiram em instabilidade ao consumidor.
O valor cobrado pela manhã já mudou à tarde, e encontrar preços abaixo de R$ 4 se tornou tarefa quase impossível. Nesta terça-feira, 22, a Petrobras anunciou um recuo de 2% nos valores a partir de quarta, mas a diferença pouco será sentida nas bombas.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sinpeb), Júlio César Zimmermann, os postos da região absorveram parte dos aumentos autorizados nos últimos dias. Ele é pessimista sobre as próximas semanas e lamenta a redução no consumo.
O Município Blumenau – O consumo caiu por causa da alta dos preços?
Júlio César Zimmermann – Realmente, a tendência de preço é aumentar cada vez mais, pelo o que eu estou observando. Semana passada aumentou todos os dias. Agora, o Pedro Parente (presidente da Petrobras) está acompanhando o preço internacional do barril de petróleo e a oscilação do dólar.
Então, nós estávamos com o barril de petróleo há um tempo atrás a 37 dólares um barril, hoje chegou a 90 dólares o barril. O problema também está sendo o dólar, que vai subindo. Isso a gasolina e o diesel vão acompanhar. E o consumo evidentemente vai cair.
O problema é o seguinte: os postos também têm que ter um capital de giro maior. Quantos já estão fechados em Blumenau? Na rua Sete (de Setembro) quase todos, né?
Não está mais alta a gasolina porque os postos absorveram tudo, entende? Mas os postos absorveram e não pensaram neles, estão fechando porque não conseguem. O custo operacional de um posto de gasolina custa em média R$ 0,35 centavos por litro, eles estão trabalhando por R$ 0,25, R$ 0,28. Então não há quem aguente.
Com a redução anunciada, quanto tempo demora para haver impacto em Blumenau?
Mas tu achas que vai fazer diferença R$ 0,02? Porque é o preço da refinaria, não é o preço da bomba. Se são os 2% do preço que eu estou vendendo, tudo bem, mas são 2% sem os impostos. Semana passada subiu R$ 0,11 a gasolina. Escutei a entrevista do Pedro Parente, e diz que o dólar caiu um pouco, é por causa disso, mas na ponta final…
Então é algo que não vai interferir no preço da gasolina?
O impacto vai ser quase nada. Não vai refletir em nada porque o que ele fala é no preço da refinaria. A carga tributária que mata. Esse é o grande problema do combustível. Cada vez que sobe, os governos estaduais, o federal, ganham. O estadual recebe o ICMS, o federal recebe PIS e Cofins, sobre o valor que está. Se tiver R$ 4 ele cobra R$ 1 a 25% de imposto.
Como se comporta o mercado com essa oscilação?
Na semana passada, cinco dias subiu (o preço), eu não vi posto nenhum subir cinco dias a fio. Então eles estão assim, naquela de “vamos esperar para ver”, mas não tem, tem que repassar o que a Petrobras passa. Eles não repassam pensando que vai ter uma diminuição, e a diminuição não vem.
A tendência é que os postos continuem aumentando?
Se na quinta o dólar aumentar, volta de novo, né? Então é um problema seríssimo. No início do ano vendendo a gasolina a R$ 3,69, agora está R$ 4,20, vê quanto é que deu. É difícil, a economia toda, o transporte, o diesel está subindo mais que a gasolina, e toda a economia é transportada por diesel. Então isso é repassado nos preços.
Os blumenauenses reclamaram muito na última semana?
Na nossa cidade hoje temos a gasolina mais barata do Brasil. No nosso estado, na nossa região. É uma das gasolinas mais baratas do país. O consumo está caindo, esse é o grande problema. E os postos fechando. Todo mundo pensa que o dono do posto ganha R$ 1 por litro e fica nessa situação, mas a cadeia toda que aumenta e nós somos os últimos da ponta. Não é o posto que aumentou, é o governo que comanda tudo isso. Cai tudo nas costas do revendedor, que não tem nada a ver com isso.
Para os revendedores, é a pior situação que eu já vi em 60 anos, tá? Meu pai abriu um posto de gasolina em 1953, então já são 65 anos. Eu já estou há quase 50 anos no mercado, nunca vi uma situação tão difícil para todas as redes de postos.