“PT trocou o militante orgânico pelo carisma e messianismo dos dirigentes”
Colunista analisa legados e escândalos dos 39 anos do Partido dos Trabalhadores
39 anos do Partido dos Trabalhadores
No último sábado, 10, o Partido dos Trabalhadores completou 39 anos. Por mais que esteja em crise, o partido é portador de um legado que se confunde com a história da democracia nacional.
Fundado em 1980 no Colégio Sion, em São Paulo, o PT é resultado de um mosaico de movimentos sociais, sindicais, movimentos religiosos e de intelectuais que, na esteira da redemocratização, construíram um partido de trabalhadores. A ideia de um partido político que representasse os trabalhadores vinha sendo construído desde janeiro de 1979.
Porém, a maior invenção do PT não foi a defesa dos direitos dos trabalhadores, pois isto, outros partidos de esquerda já faziam. Duas bandeiras são marcantes na fundação do partido: a democracia interna e a não complacência com a corrupção.
Como partido de massa que pretendia ser, o PT carregava consigo uma lógica própria e inovadora no cenário partidário brasileiro. O princípio que a vida partidária não deve resumir-se aos momentos das eleições, mas ao dia a dia de todos os trabalhadores, junto às organizações de base da sociedade e cujas decisões deveriam ser tomadas pela maioria. Mecanismos como convenções, consultas internas e candidaturas definidas pelo voto dos militantes sempre foram princípios defendidos.
Como consequência desta ética democrática e comunitária, o Partido dos Trabalhadores carregava uma prática de combate à corrupção. Foi protagonista do impeachment de Fernando Collor de Mello e de inúmeras CPIs no Congresso Nacional.
Quando começou a assumir prefeituras, as gestões petistas destacaram-se não somente pelas inúmeras políticas públicas que desenvolveram, mas pelas práticas de democracia participativa. A crença que o orçamento municipal deveria ser resultado de consulta a toda a população deu às administrações petistas não só legitimidade nas decisões, como também educava a população a exercer cidadania.
Não são poucos os políticos, inclusive em Blumenau, muitos deles em partidos de direita, que iniciaram suas carreiras como delegados do Orçamento Participativo.
Porém, nessa trajetória, o PT comunitaríssimo e a militância foram trocados pelas técnicas de marketing e pelo profissionalismo político. O militante orgânico, pelo carisma e messianismo dos dirigentes. A burocracia partidária sufocou a militância fazendo confundir o partido com todos os outros. Sem o controle interno e longe do controle social, parte de sua liderança sucumbiu à corrupção.
O discurso de intolerante à corrupção voltou-se contra o partido. Injustamente, ganhou o adjetivo de ser o partido mais corrupto da história e fonte de toda a corrupção brasileira. O afastamento das ruas e dos movimentos socais prejudicou o partido na hora do impeachment de Dilma Rousseff.
Em Blumenau, cidade que já governou por duas vezes, e que mesmo para seus críticos, deixou legado até hoje, não vive seus melhores dias. O Partido dos Trabalhadores já contou com cinco representantes na Câmara Municipal, no auge do governo Décio Lima. Hoje tem apenas um e que vive às turras com o partido. Permanecendo o cenário atual, corre o risco de ficar sem representação.
Porém, equivoca-se quem resume a história do PT aos escândalos de corrupção. É o maior partido de esquerda da América Latina. Contribuiu não somente para a efetivação da democracia no Brasil, como também proporcionou o maior ciclo de inclusão social de nossa história. Porém, precisa reencontrar-se.
Não só com as ruas, mas também com sua história. Voltar às bases comunitárias, ouvir as críticas e reoxigenar-se. A recomposição do campo popular passa pela recomposição e defesa do legado do Partido dos Trabalhadores.