Perseguição a mulheres em Blumenau: casos são frequentes, mas faltam denúncias

Diversas situações foram relatadas nas redes sociais, mas polícia não tem registro

Na sexta-feira do dia 4 de outubro, a jornalista e colunista de O Município Blumenau, Danubia de Souza, publicou um relato na coluna e nas redes sociais contando sobre momentos de aflição que passou em uma madrugada em Blumenau. Ela foi perseguida por um homem em um carro, por diversos quilômetros, e só conseguiu se livrar dele após acionar a Guarda Municipal de Trânsito e a Polícia Militar. Neste caso, o homem acabou detido, pois estava embriagado e cometendo diversos delitos.

Mas a publicação desses fatos trouxe à tona outros vários relatos de mulheres em Blumenau que já passaram pela mesma situação, ou caso semelhante. Confira alguns dos desabados feitos nas redes sociais após a publicação de Danubia.

Sueli Gonçalves: Já passei por isso no Bairro da Velha também, e eu ainda estava com minha filha de 12 anos no carro. Fiquei apavorada e temi muito por minha filha.

Mônica Maria: Aconteceu comigo também, mas o cara parou no meio da rua e deu ré em cima do meu carro, não saí e ele continuou me ameaçando no caminho. Liguei pra guarda também, eles me orientaram, mas não foram ao meu encontro. Ainda bem que não precisou. Acredito que isso deva acontecer com muitas mulheres. Já coloquei insulfilme escuro no carro por esse motivo.

Franciane Souza de Albuquerque: Passei por essa mesma situação alguns anos atrás, sorte que a porta do carro estava trancada. Mas o desespero é gigante, você não sabe pra onde vai, mas ainda bem que entrei no estacionamento do Hotel Himmelblau.

Leonice Braz: Vivenciei algo assim…era umas 23h e estava indo pra casa e também fui perseguida por um sujeito. Precisei descer para abrir o portão da garagem, porém gritei por socorro e vizinhos me auxiliaram e o sujeito fugiu. Horrível.

Andréa Juliana Schmitt: Passei por uma situação muito constrangedora também a uma semana, também registrei BO, e não temos que ter medo, temos que perante a lei tentar colocar esses monstros em seu devido lugar!

Thays Salino: Também já passei por isso há uns dois anos. No meu caso o cara me ultrapassou e parou na minha frente bem em cima de uma curva pra me obrigar a parar, mas eu desviei pela contra mão mesmo e consegui fugir. Acelerei tudo que deu, na hora eu só pensava que eu preferia morrer do que passar pelo trauma de ser estuprada e torturada. É horrível essa sensação de não poder se defender!

Andressa Cunha:  Já aconteceu comigo. Dirigi em direção ao um posto da polícia. Mas ele desistiu quando eu estava próximo ao um posto de polícia. A gente fica incrédula mesmo da maldade humana. Se tem oportunidade faz B.O mesmo. No meu caso o carro era uma Montana branca me seguindo. Também fez sinal pra eu parar. A gente não pode ser trouxe nessas horas.

Lind Guimar Machado: Não ando sozinha a noite. Já tive esse tipo de experiência, é horrível. No meu caso tinham mais pessoas junto, mas mesmo assim foi ruim.

Esses são alguns relatos feitos por mulheres em Blumenau na publicação do O Município Blumenau ou da própria Danubia de Souza no Facebook. A dona do primeiro comentário, Sueli Gonçalves, contou que estava indo buscar o marido, juntamente com a filha pequena, quando começou a ser perseguida e recebeu várias cortadas do veículo.

Ela tentou deixa-lo passar, pois achou que era alguém apressado, mas ele não a queria ultrapassar. Depois de diversas tentativas de entender o porquê isso estava acontecendo, ela acabou dando um jeito de fugir do outro motorista. Mesmo com todo o terror vivido, ela preferiu não registrar boletim de ocorrência.

“Fiquei tão nervosa e com tanto medo que não peguei a placa, nem modelo do carro. Acabei não fazendo B.O. Até fiquei um tempo sem dirigir a noite de tanto medo” destaca ela.

A não realização de boletins de ocorrência por medo aparenta ser algo comum, assim como em casos de violência ou assédio contra mulher que ainda demoram ao chegar na polícia. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha e solicitada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no início de 2019 apontou que 52% das mulheres que sofreram algum tipo de agressão em 2018 ficaram caladas. Apenas 22% das entrevistadas procuraram a delegacia ou órgão oficial.

O tenente da Polícia Militar Nicolas Vasconcelos chama atenção pra esse fato relacionado a perseguições aqui em Blumenau, e destaca a importância da procura por ajuda.

“A PM não tem registro de ocorrências dessa natureza. Essa ausência, todavia, não significa que os referidos comentários são inverídicos. Contudo, a falta de denúncia à Polícia Militar resta por dificultar o desenvolvimento de ações policiais direcionadas a desencorajar ou reprimir tal comportamento delituoso”.

Orientações:

O Município Blumenau pediu ao Tenente Nicolas que desse uma série de orientações para mulheres que passam por situações de perseguição, confira:

– Orientamos a vítima fazer contato imediato com a Polícia Militar, repassando em tempo real sua localização e as características do agressor, para que as viaturas possam realizar o cerco e a abordagem

– Enquanto isso, orientamos que a mulher perseguida não pare o veículo e continue o deslocamento, preferencialmente por vias iluminadas e movimentadas.

– Durante o deslocamento, ligar a pisca alerta e emitir sinais sonoros com a buzina, tanto para que o agressor perceba que já foi notado, pois geralmente nesse momento ele desiste de prosseguir, como para que populares possam observar que a condutora está precisando de ajuda.

– Se o agressor ainda assim persistir na perseguição, uma outra alternativa é procurar um local seguro para pedir ajuda, como, por exemplo, ir em direção a uma base da Polícia Militar, órgãos públicos abertos ou até à um posto de gasolina.

– O boletim de ocorrência pode ser confeccionado no momento do fato, pela Polícia Militar, ou em outro momento mais oportuno, em uma Delegacia da Polícia Civil. O mais importante é registrar, para que as autoridades policiais tomem conhecimento do fato e possam desenvolver ações para identificar o agressor e impedir outros crimes.

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