Por que Enola Holmes é um filme fundamental para garotas?
Na minha infância e adolescência, faltava-me, no geral, referências cinematográficas com representações femininas que fugiam da estereotipação. Preciso ser justa com alguns bons exemplos que marcaram toda minha geração, como o filme Matilda, ou a personagem Hermione, do universo de Harry Potter. Felizmente, essa realidade vem se alterando. Enola Holmes, que entrou recentemente para o […]
Na minha infância e adolescência, faltava-me, no geral, referências cinematográficas com representações femininas que fugiam da estereotipação. Preciso ser justa com alguns bons exemplos que marcaram toda minha geração, como o filme Matilda, ou a personagem Hermione, do universo de Harry Potter. Felizmente, essa realidade vem se alterando.
Enola Holmes, que entrou recentemente para o catálogo da Netflix, é um caso análogo. O ano é 1884, e Enola tem a missão de encontrar sua mãe, fugir dos seus irmãos (que insistem em transformá-la em uma dama), e viver sua vida à sua maneira.
Certa altura do filme, a própria mãe da personagem lhe diz: “Existem dois caminhos que você pode seguir. O seu ou o caminho que os outros escolheram para você”. Nem é preciso dizer qual caminho Enola escolheu.
Criada por sua mãe para ser independente, ela rejeita qualquer tentativa de condicionamento do seu espírito ao ambiente doméstico. Ela é sedenta por aventuras. O que esperar, afinal, de uma jovem que sabe atirar com arco e flecha, lutar jiu-jitsu, jogar tênis, subir em árvores, que já leu toda uma biblioteca e tem sensibilidade artística?
Ainda que seja irmã mais nova do famoso detetive Sherlock Holmes, por quem sente admiração, Enola percebe, entretanto, que não pode contar com ele para muita coisa.
Baseado na primeira de seis obras literárias da série Os Mistérios de Enola Holmes, a obra audiovisual ganha fôlego pela espontânea e divertida atuação de Millie Bobby Brown (a Eleven, de Stranger Things), que esbanja talento em cada cena.
A chance de o filme virar uma franquia é altíssima. A recepção tem sido positiva, e a crítica especializada tem elogiado. Penso que a obra não tem grandes deslizes: ainda que seja um pouco longa e o peso dado à narração em primeira pessoa seja demasiado, é divertida, leve, tem um ótimo ritmo, foi pensada para ser assistida em família, e cumpre bem com a função de engajar do seu público.
Sabemos como representação importa, como procurei exemplificar no início da coluna. Enola Holmes, além de apresentar, indiretamente, questões referentes ao movimento pelo sufrágio feminino na Inglaterra, fala de amadurecimento e autodescoberta, de ligações familiares e do risco que se corre em querer mudar o mundo. Recomendo, especialmente, para as meninas e adolescentes.