Cidades no entorno do Parque Serra do Itajaí registram presença do javali-europeu
Animal "forasteiro" que devasta plantações no Oeste e na Serra catarinense foi visto na região
Os javalis-europeus (Sus scrofa) são animais que começam a trazer problemas para a agricultura da região, por serem animais extremamente agressivos, onívoros (comem carnes e vegetais) e serem transmissores de doenças. A espécie tem a capacidade de destruir plantações, é considerada praga e desde 2017 pode ser caçada, capturada e abatida de acordo com regulamentação estadual.
A espécie não é nativa e, portanto, não possui predadores no Brasil. Os javalis foram trazidos para criação entre os anos 80 e 90. Após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ter suspendido as importações de suínos exóticos e interrompido as permissões de criação, muitos javalis acabaram fugindo ou sendo soltos na natureza, causando um desequilíbrio ecológico.
No início de julho, uma palestra sobre o controle populacional de javalis foi ministrada em Brusque por profissionais experientes no assunto, vindos de municípios como Lages e Xanxerê. O organizador Luiz Andre Petermann conta que muitas pessoas da região de Brusque já buscam informações.
Ele afirma que uma propriedade rural de Botuverá chegou a ser invadida por alguns espécimes. “Quando falei com a pessoa que passou por esta situação, ela disse que não quer se expôr para não chamar a atenção de uma fiscalização mais rígida”, explica.
“Nossa região está começando a ficar rodeada pelo avanço da espécie, ainda é cedo para contabilizar números expressivos. Já é possível avistar sinais e até mesmo animais em praticamente todas as cidades que rodeiam o Parque Nacional da Serra do Itajaí, que possivelmente é o corredor de acesso destes animais às áreas agrícolas.”
O analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mário Oliveira, afirma que por enquanto os casos ainda são esporádicos. Em algumas situações, os animais são criados em cativeiro e acabam escapando na natureza.
“Ainda temos trabalhado pouco com isso. Aqui no parque os casos ainda têm sido mais raros, tivemos por enquanto duas situações evidentes, em uma delas o animal chegou a ser visto”, conta.
A médica veterinária da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) em Botuverá, Franciele Haag, não vê grandes riscos no município até o momento, uma vez que não registrou relatos oficiais sobre a presença de javalis ou outros suínos asselvajados nas propriedades dos produtores rurais.
“O que eventualmente há e pode ser que haja são os javalis criados em cativeiros”, comenta.
No entanto, além do risco de os animais fugirem, a criação é ilegal. Se houver denúncia ou fiscalização que detecte o encarceramento, o criador será advertido e o animal deverá ser abatido e consumido. A carne não pode ser vendida. A reincidência, de acordo com a veterinária, acarreta em multa.
“Muitos praticantes de caça e tiro da região acabam indo a outras cidades para encontrarem os javalis, principalmente na Serra”, acrescenta.
Além dos prejuízos ambientais causados pelos javalis, existem os impactos socioeconômicos, que ocorrem principalmente nos ataques a lavouras. Milho, soja e feijão são os principais alvos. O contato com suínos e bovinos domésticos pode causar doenças.
Problemas na Serra
Paulo Sapelli possui, desde 2013, uma propriedade rural no interior de São Joaquim, na Serra catarinense, onde cultiva milho, maçã e outros vegetais, além de criar gado. Ele relata que os vizinhos auxiliam na captura e no abate dos animais, que são extremamente problemáticos e agressivos.
“Eles atacam as plantações de milho, e já chegaram a matar novilhos, bezerrinhos mais novos. Dos vizinhos, chegaram a matar até cachorros que ajudam a guiar o gado. Só neste ano, foram três. E na última vez em que estive lá, há poucos dias, vi dois javalis.”
O proprietário rural pode realizar o abate de javalis-europeus. Para isto, é necessário obter a autorização junto a uma unidade da Polícia Militar Ambiental ou uma sede do Ibama. Os métodos mais comuns de captura são através de armadilhas.
O abate é realizado com balestras, arco e flecha e outras armas. As armas de fogo só podem ser utilizadas caso a pessoa interessada tenha sua situação toda regularizada junto às instituições que regulamentam o porte e uso, como o Exército e a Polícia Federal.
Em Santa Catarina, existe o aplicativo Ambiental SC, que se torna uma tentativa de desburocratizar a expedição das permissões para o abate de javalis no estado e fornecer dados de capturas, abates, danos e aparições dos animais.
Parece mas não é
Existem espécies suínas selvagens nativas que, ao contrário dos javalis “forasteiros”, são protegidas por lei e constam nas listas de espécies da fauna ameaçadas de extinção. A conservação dos queixadas e dos catetos conflita com o controle populacional de javalis, já que eles podem ser facilmente confundidos. Ou seja, é necessário que as pessoas que realizam captura e abate de javalis sejam capacitadas para que possam reconhecer essas diferenças e evitar as sanções previstas pela legislação ambiental sobre a caça de espécies nativas.
“Em 2017, recebemos fotos de queixadas que haviam sido mortos. É uma presa muito cobiçada pelos caçadores, eles têm se tornado raros. Existem caçadores que saem aqui da região e vão para Lages buscar estes animais”, relata Oliveira.
O javali europeu
Javali europeu (Sus scrofa scrofa): o animal adulto possui presas e pelos longos e de cor preta; já o jovem possui listras longitudinais marrom avermelhada com preto. Seu comprimento é de aproximadamente 1,3 m e pesa aproximadamente 80 kg, sendo que javaporcos (cruzamentos com porco doméstico) possuem maior porte e podem pesar até 250Kg.
Espécies cujo abate é criminalizado
Cateto (Pecari tajacu)
Queixada (Tayassu pecari)