Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

Por que os sinos dobram: uma reflexão sobre aglomeração em shopping de Blumenau

Colunista Josué de Souza comenta vídeo que viralizou na internet

“A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.  Esta frase é parte de um poema de John Donnepoeta inglês do século 17, mas que é famosa porque é citada em um romance do escritor americano Ernest Hemingway. O livro chama-se Por quem os sinos dobram. Lembrei do poema quando assisti pela primeira vez o vídeo da reabertura do Neumarkt Shopping, no Centro de Blumenau 

A obra de Hemingway é ambientada na guerra civil espanhola e na luta contra o fascismo. É considerada não só uma das obras mais importantes do autor como um dos mais importantes livros da literatura mundial. É presença obrigatória naquelas listas de “livros que você têm que ler antes de morrer.” Nele, o autor americano mostra que nenhum indivíduo é uma ilha, e que há uma conexão consequente entre minha ação e a ação do outro.  

Para quem não assistiu à cena de abertura do Shopping Neumarkt a gravação mostra um aglomero de pessoas, na maioria idosas, entrando no centro comercial, desfilando em um tapete vermelho, sob aplausos de funcionários e ao som de um saxofonista. Muitas pessoas estavam sem máscaras O vídeo viralizou nas redes sociais e chamou a atenção da imprensa nacional.  

No mesmo dia, o novo ministro da saúde concedeu a primeira entrevista coletiva e informou que o governo anunciará um plano de flexibilização do isolamento social. Na entrevista, Nelson Theich afirmou que se haver erro de cálculo e as mortes subirem, o governo recuará na medida. Na quinta-feira, 23 de abril, o Brasil atingiu o índice de 3.343 mortes por Covid-19, 407 só nas últimas 24 horas.  

Por quem os sinos dobram influenciou artistas e intelectuais no mundo inteiro. Aqui no Brasil foi inspiração para uma música de Raul Seixas com o mesmo nome. Nela, nosso maluco beleza lembra que “nunca se vence uma guerra lutando sozinho, o eco de suas palavras não repercutem em nadaé sempre mais fácil achar que a culpa é do outro, evita o aperto de mão de um possível aliado, convence as paredes do quarto e dorme tranquilo, sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo. Não há nada mais atual. 

Na abertura do Shopping Neumarkt, o saxofonista tocava Have You Ever Seen the Rain. (Você já viu a chuva alguma vez?). Nela há uma frase que diz “Há uma calma antes da tempestade. Tomara que não seja uma premonição.  

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