Por trás do microfone: conheça blumenauenses que produzem podcasts para todo o Brasil

Escola de Blumenau também entrou na tendência e os próprios alunos criam conteúdo para internet

Uma frase foi muito repetida no ano que passou: “2019 foi o ano dos podcasts”. Mesmo se você não tem o hábito de ouvir os programas de áudio, o sucesso deste tipo de conteúdo é inegável. De acordo com o Deezer, uma das plataformas de áudio que faz sucesso no Brasil, o consumo nacional cresceu 67% apenas até outubro.

Já o Spotify, outra plataforma que tem investido em podcasts, divulgou que desde janeiro de 2018 o consumo do modelo de conteúdo no Brasil cresceu 21% ao mês. A onda não atingiu apenas os grandes centros. Ela veio também para Blumenau.

Os temas de cada um dos produtores de conteúdo são os mais variados possíveis, passando desde o empreendedorismo feminino até moda masculina. Conheça alguns dos principais podcasts produzidos em Blumenau.

Empreendedorismo sem glamour

As empresárias Marina Melz e Larissa Guerra, ambas com 31 anos, se conheceram na faculdade de Jornalismo. Marina, que mora em Blumenau, abriu uma empresa de assessoria de imprensa. Já Larissa, que hoje está em Pomerode, é comunicadora da rádio Atlântida e tem um restaurante no Salto do Norte.

A ideia de lançar o Donas da P@#$% Toda, podcast sobre empreendedorismo feminino, surgiu quando Larissa resolveu pedir ajudar à amiga para abrir uma empresa. Todos os áudios que elas trocaram conversando sobre a solidão, o medo e a vontade de desistir viraram episódios.

“Percebemos que os dilemas que vivemos no nosso dia a dia são muito comuns em mulheres empreendedoras, mas isso não estava nas revistas. Lá só vemos a história da mulher que conquistou o primeiro milhão, sem o lado B”, conta Larissa.

Larissa (à esquerda) e Marina (à direita) são amigas desde a faculdade. Foto: Apneia Filmes

Para a dupla, a produção do podcast é um momento de prazer. É isso que encoraja elas a acordar cedo aos domingos para gravar os episódios. “Não queremos que vire mais um trabalho, pois já temos muitos”, brinca Larissa. O equipamento veio do namorado de Marina, que é músico e também ajuda na edição do programa.

Entretanto, elas admitem que o formato dá mais trabalho do que elas imaginavam. Toda a preparação, pesquisa, entrevistas, gravação e edição tomam tempo, mas são o hobby das jornalistas. “E tem todo o pós, divulgando e respondendo o público, mas essa troca é o que mais vale a pena”, complementa Marina.

Sucesso até no Japão

O primeiro episódio do Donas da P@#$% Toda saiu em 20 de maio e já são 29 programas publicados. Eles vão ao ar toda terça-feira, em plataformas como Spotify, Deezer e Google Podcasts. Desde então, foram mais de 18 mil plays em 23 países.

“Geralmente os conteúdos de podcast são do eixo Rio-São Paulo e retratam a realidade desses lugares. Nós trazemos uma versão não tão metropolitana, onde conseguimos ter até três atividades dentro de um dia. Mulheres de outras regiões sentem falta deste empreendedorismo sem glamour”, conta Marina.

As gravações ao vivo também são um complemento do conteúdo. Em três ocasiões a dupla gravou o programa frente a frente com os ouvintes, que puderam acompanhar o processo. Em contrapartida, Marina e Larissa puderam ver na hora a reação do público.

Uma das gravações ao vivo foi no TEDxBlumenauWomen.

“Ver as cabecinhas balançando e as pessoas rindo das piadas é muito bom. Uma amiga nossa que ouve os episódios diz que conversa com a gente, mas a gente não consegue ouvir. Ao vivo é outra experiência”, relata Larissa.

Ao todo, já foram mais de 60 depoimentos de mulheres. Seja trazendo suas histórias ou dando opinião como especialistas no assunto abordado. Em dois episódios, Larissa e Marina estiveram longe dos microfones. Ao abordarem o empreendedorismo negro e a maternidade dentro deste meio, elas deixaram o espaço para mulheres que vivenciam isso.

Moda local com sustentabilidade

O produtor de conteúdo Lucca Koch, de 35 anos, sempre teve uma vida movimentada. Nascido na capital paulista, ele cresceu em Blumenau. Após dez anos morando no Rio de Janeiro, resolveu voltar para o Vale do Itajaí, onde se estabeleceu há quatro anos.

Entretanto, foi há mais de uma década que o jornalista começou um site de moda masculina que acabou se desdobrando para dar origem ao podcast Pense Moda. Lançado em outubro de 2019, o programa mensal busca trazer a moda local ao foco.

Lucca Koch trabalha com moda há 12 anos. Foto: Arquivo Pessoal

Além de moda masculina, o Pense Moda trata sobre o impacto social e ambiental da indústria. “No nosso estado temos muitas marcas com propósito crescendo. Um exemplo disso é a Enxame”, comentou Lucca ao mencionar a loja de comércio colaborativo que já foi tema de outra reportagem de O Município Blumenau.

Após um período de férias, o podcast volta em fevereiro com mais marcas regionais. Para ele, jornalistas, comunicadores e formadores de opinião devem ajudar as empresas locais a se colocarem no mercado. “A ideia é trazer a visão deles da moda, que vem mudando muito nos últimos anos”, declara.

Focando não só na produção catarinense, Lucca também se preocupa em mostrar que a sustentabilidade deixou de ser apenas uma bandeira e se tornou uma necessidade. “As pessoas pensam muito no macro, em mudar o mundo. Mas se esquecem que podem mudar pequenas coisas que modificam nosso impacto ambiental. O retorno que eu espero pode não ser agora, e sim daqui a dez anos. Mas deixei essa semente”.

Podcast na escola

O mais recente lançamento de um podcast blumenauense, publicado no início de dezembro, veio de uma atividade dos alunos da escola municipal Paulina Wagner, no Badenfurt. A ideia surgiu da professora de língua portuguesa Michelli Oss-Emer, que desenvolveu a atividade para a dissertação de mestrado.

O processo foi de descoberta para ela, que não era ouvinte de podcasts, e para os alunos. “Por serem mais ligados na tecnologia do que eu, achei que eles conhecessem. Pesquisando vi que o público alvo é mais velho. Mas apresentei para eles e começamos o trabalho”, explica a docente.

Apesar do susto inicial, ela se surpreendeu em como os estudantes abraçaram o projeto. As duas turmas do oitavo ano, entre 13 e 14 anos, foram responsáveis pela produção, pesquisa, gravação e edição dos programas. No total, 48 alunos participaram.

“O tema era livre. Eles também escolhiam se fariam individual, em dupla ou em grupo. Eu só ajudei eles a escolher assunto que pudessem ser abordados em programas curtos, por conta da limitação do tempo”, conta.

Um trio de alunas ficou tão animado com o programa de edição que chegou na aula com o episódio pronto. Elas então ajudaram a professora a acompanhar o processo de edição dos outros estudantes.

Os alunos fizeram toda produção e edição do podcast. Foto: Michelli Oss-Emer

“Eu não esperava que eles se engajassem tanto. Alguns estão até gravando episódios durante as férias porque não querem deixar o perfil parado. A arte da capa foi uma aluna quem fez também. Foi tudo eles”, comemora.

O plano é que, em 2020, o projeto se torne voluntário, para que todos possam participar sem atrapalhar o andamento das aulas. Ele funcionará como um informativo para a comunidade escolar, divulgando projetos, eventos, trabalhos dos alunos e até mesmo entrevistando professores e ex-alunos.

O PW Cast (que pode ser ouvido em diversas plataformas, como Spotify, Deezer, Apple e Google Podcast) também foi uma forma de trabalhar a oralidade na disciplina. “A língua portuguesa normalmente está muito focada na escrita, mas a fala também é muito importante. Eu via que eles tinham muita dificuldade em falar. No podcast, até mesmo os alunos extremamente tímidos se soltaram”, relata Michelli.

As criadoras do podcast Donas da P@#$% Toda visitaram a turma para dar uma palestra. Foto: Michelli Oss-Emer

Ficou com vontade de lançar um podcast?

A dica de todos os entrevistados se resume em uma ideia: faça! Para eles, a facilidade da tecnologia em produzir conteúdo usando apenas um smartphone possibilita que qualquer um entre na onda e comece a publicar podcasts.

“Hoje em dias temos aplicativos gratuitos para tudo. Pode não ficar do jeito que você imaginou, mas produzindo um conteúdo bacana você já impacta outras pessoas. Às vezes queremos tanto a perfeição que acabamos não produzindo nada”, aconselha Lucca.

Já as criadoras do Donas da P@#$% Toda lembram que, apesar de parecer fácil, dá muito trabalho. “É bom começar de uma forma que você saber que vai conseguir cumprir. E precisa ser divertido, não pode ser um suplício gravar”, comenta Marina.

A jornalista também acredita que é importante encontrar um recorte único. Afinal, existe podcasts para vários públicos, momentos e temáticas diferentes. “Não tenha medo de fazer e ir descobrindo no caminho”, diz Larissa.

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