Há alguns dias, retornando de Florianópolis, depois de apreciar pela primeira vez em toda a sua extensão a importante obra que foi o contorno da BR101 ainda livre de painéis de propaganda, mais conhecidos como “out-doors”, fiz uns interessantes levantamentos sobre como estamos cuidando do riquíssimo patrimônio paisagístico da nossa Santa e Bela Catarina:
– logo após a ponte sobre o Rio Tijucas, em dez quilômetros, avistam-se 56 “out-doors”, contando somente os voltados para quem segue sentido Norte;
nos cinco quilômetros seguintes a concentração de “out-doors” mais que duplicou, são 64 desses monstrengos agressores de paisagem, da mesma forma, somente contando os voltados para quem segue para o Norte;
– Em outros cinco quilômetros de amostra, o tapa na cara da paisagem continuou alto, 62 painéis, em apenas cinco quilômetros de rodovia!
– entrando na rodovia Jorge Lacerda, seguindo o mesmo critério, obtivemos os seguintes resultados:
– entre a BR 101 e Ilhota são 132 painéis. Com licença, leitor, vou gritar: CENTO E TRINTA E DOIS PAINÉIS!!!!
– entre Ilhota e Gaspar o estupro da paisagem aliviou um pouco, mas, mesmo assim, ali estão instalados nada menos que 55 painéis de propaganda;
– entre Gaspar e Blumenau o estupro voltou a ser mais violento: rasos 100 painéis, o último a uns 80 metros do início da rua XV.
Aquele que se deslocar pela BR-470 para Navegantes, poderá contar a quantidade de painéis que a inépcia dos governantes e a insensibilidade das empresas de propaganda jogam na nossa cara, obliterando as mais belas paisagens de fundo. Desta feita somando a totalidade dos monstrengos, tanto os voltados para o sentido litoral quanto os voltados para o interior:
– entre o trevo antigo de Gaspar e a BR101, 160 painéis e, no curto trajeto entre a BR101 e Navegantes, nada menos que 70 desses conspurcadores de belos panoramas.
Quem contar todos os painéis apenas nesses trechos acima mencionados, chegará fàcilmente à quantia de mais de mil painéis a sujar a Santa e Bela Catarina. Por extensão, se forem somados todos os painéis de propaganda somente na super-turística faixa litorânea e dos vales, a chamada vertente Leste do Estado, poderá se chegar facilmente à assustadora quantia de uns dez mil painéis de propaganda dispersos numa paisagem que o turista terá dificuldade de fotografar!
É bem provável que muitos dos que anunciam seus produtos neste poluidor, agressivo e incontrolado formato de terceiro mundo, bem como muitos dos empresários que os instalam, fazem parte dos que retornam de viagem à Europa e outros lugares maravilhados e encantados com tudo o que viram, especialmente as paisagens, enquanto agem por aqui no sentido contrário, fazendo de nosso estado a Santa e Suja Catarina!
Começa agora a crescer o entendimento de que não será mais possível continuar as coisas assim como estão, muito menos na região dos Vales, pomposamente intitulados de Vale Europeu, que, do ponto de vista desse tipo de poluição visual, de europeu não tem absolutamente nada.
Resolver esta questão talvez nem seja tão difícil quanto possa parecer num primeiro momento e já temos um exemplo. Com uma canetada do bem, o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, limpou todo o maior e mais populoso município do país desse tipo de propaganda invasiva e, muitas vezes, agressiva.
Um bom início seria propiciar que o contorno de Florianópolis da BR-101, recém-inaugurado, fique livre desses ladrões de paisagens. Nesse sentido, também começa a crescer por aqui o número de pessoas e entidades que fazem esse pleito, algo digno da liderança nacional de Santa Catarina, tão notabilizada no país pelos seus números e indicadores sociais, econômicos e ambientais, como um dos, talvez, o melhor estado para se viver. Afinal, temos que fazer por merecer a charmosa alcunha de Santa e Bela Catarina.
Comecemos, pois, pelo contorno da Capital da BR-101, declarando-se-o livre de painéis de propaganda. Será então nosso estado, até onde se sabe, pioneiro no país a resolver essa questão, assim como foi pioneira, no âmbito municipal, a cidade de São Paulo!
Nesta foto de pouca luz e já desbotada pelo tempo a nativa Araucária vê-se confrontada com uma espécie estranha, desta feita uma árvore exótica pertencente ao gênero Pinus, que invade restingas, campos e florestas mais abertas, felizmente, não sendo tão invasor da Floresta Pluvial Tropical, tecnicamente mais conhecida como Floresta Ombrófila Densa, que ocorre serra abaixo em direção ao litoral. Foto Lauro E. Bacca, em Urubici-SC, em 30/12/1974.
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