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Com fama de vilões, postos de combustíveis de Blumenau vivem crise e quebradeira

Revendedores de gasolina nunca lucraram tão pouco

Poucas categorias empresariais enfrentam críticas com tanta frequência como os donos de postos de combustíveis de Blumenau. Os motoristas sentem no bolso a volatilidade dos preços da gasolina e do diesel e não raro elegem os revendedores como culpados.

Num mercado em que a política de preços está centralizada em uma única empresa, a Petrobras, oscilações diárias geram questionamentos na ponta da cadeia de distribuição e, durante greve dos caminhoneiros, até protestos.

Porém, aqueles que frequentemente são vistos como vilões estão entre os principais perdedores do mercado de combustíveis. Ao menos de três anos para cá, a margem de lucro das revendas desabou.

Preço da gasolina

A reportagem do Município Blumenau levantou dados dos últimos cinco anos junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Eles mostram que encolheu a diferença entre o valor pago às distribuidoras e o preço cobrado pelo litro da gasolina na bomba.

Entre 2013 e 2015, a margem média praticada em Blumenau superava 14% com facilidade. Ao longo dos primeiros seis meses de 2018, o percentual raramente passou de um dígito. Entre abril e maio, antes da greve dos caminhoneiros, despencou a 6% (confira detalhes no gráfico que está no topo da página).

Postos fecharam as portas na rua Sete de Setembro. Foto: Evandro de Assis

Os números refletem a preocupação do presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Blumenau (Sinpeb), Júlio Zimmermann. Dono de cinco postos na região, ele pensa em vender os negócios:

“Há dois anos eu não sei o que é ter lucro e eu não sei o que acontece”, lamenta.

Só na rua Sete de Setembro, em pleno Centro, num espaço de três quarteirões há três revendedores que fecharam as portas recentemente. Ficaram apenas as estruturas vazias, sem marca, sem frentistas e sem clientes.

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Economia estagnada

O economista Nazareno Schmoeller, que coordena o Sistema de Informações Gerenciais e de Apoio à Decisão (Sigad) da Furb, explica que o consumo estagnou no país, e os combustíveis não ficaram de fora. Os preços nas distribuidoras subiram e os custos dos postos também, mas os donos não conseguiram repassar a diferença ao consumidor:

“Se o dono do posto quiser diminuir a margem de lucro (baixar o preço para aumentar a venda), ele não consegue, porque as vendas estão caindo e a economia estagnada”, detalha.

Postos sem bandeira

Mauro Martini, dono de sete postos, conta que, para tentar minimizar os efeitos da queda no consumo, as grandes companhias petrolíferas também diminuíram margens. Assim, os postos poderiam comprar combustíveis mais baratos e melhorar a lucratividade. Mesmo assim, os dois últimos anos têm sido difíceis, agravados pela presença da concorrência “sem bandeira”:

“Sobre o preço que compramos das companhias, tradicionalmente se colocava 12% na bomba. Só que hoje, se colocarmos essa margem, vamos ficar fora do mercado. Os bandeira branca criaram uma dificuldade. Nós temos o compromisso de comprar de determinada bandeira. Eles compram de quem quiser. No fundo, há uma prostituição de mercado”, lamenta.

Porém, mesmo os postos sem bandeira estão diminuindo a margem de lucro e confirmam a crise que vive o setor de revenda. Demissões e cortes de custos são comuns, não importa o tipo de posto.

“Se eu não estivesse nesse ramo, não entrava mais. Eu tenho que colocar dinheiro todo mês no meu negócio. Quem tem capital de giro consegue ir segurando, agora, quem está menos capitalizado, não”, lamenta Martini.

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