Preços em supermercados de Blumenau caem quase 12% em abril segundo pesquisa
Dado é de pesquisa realizada por professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) de Gaspar
Os blumenauenses tiveram diminuição nos preços em supermercados da cidade neste mês de abril. Comparado a março, o preço dos produtos sofreu deflação de cerca de 11,98%.
Este dado é fruto de uma pesquisa realizada pelo professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) de Gaspar, Edmundo Pozes. Acostumado com estudos de economia, ele realiza mensalmente uma comparação de preços em três supermercados da cidade, de modo a verificar como está variação dos preços nos produtos.
Como funciona a pesquisa
No dia 12 de cada mês, Edmundo vai nos supermercados Koch, Bistek e Giassi e avalia 37 produtos. Ele ressalta que não escolhe por marcas, mas sim por aquele que está com o preço mais barato.
A partir disso, o pesquisador faz uma média (soma e depois divide por três) do preço dos produtos nos três supermercados. Depois, ele soma o resultado da média de todos os produtos e verifica qual foi o valor total da “compra”. Com este dado, ele faz a comparação com os meses anteriores e descobre qual foi a variação registrada.
Todo mês ele apresenta tabelas e gráficos, atualizando as informações. Em Blumenau, ele realiza o estudo desde janeiro de 2022. “Verifico se vem subindo ou crescendo, para ver a sazonalidade, em que trimestre sobe o preço, quando desce”, acrescenta.
Confira a variação de alguns produtos pesquisados:
Diminuição nos preços
Conforme o gráfico acima, é possível perceber que neste mês de abril, os preços baixaram consideravelmente. O preço, em geral, dos 37 produtos pesquisados diminuiu 11,98%.
Segundo Edmundo, este é um evento comum neste período do ano e como argumento, cita a sazonalidade da economia: “essa sazonalidade é completamente normal dentro da economia. A economia sobe e desce o tempo todo”.
No entanto, o professor compartilha sua visão sobre o que pode ter causado essa queda nos preços.
“Esse dado é bem alarmante. (…) Se você olhar no ano passado, acontece também, num período próximo a esse, uma diminuição radical. A impressão que eu tenho é que os empresários vão subindo os preços e de repente sentem uma diminuição no ticket de venda e dão uma reduzida, fazem promoções, e no mês seguinte voltam a subir”.
Variação de preço mês a mês na cidade
Maiores variações entre 2022 e 2023
Entre janeiro de 2022 e abril de 2023, os produtos que mais aumentaram de valor foram o quilo da farinha de mandioca (127,67%), a dúzia de ovos (79,31%), o litro de leite integral (68,85%), o pacote com 16 absorventes (65,89%) e um pacote de palha de aço (43,02%).
Enquanto isso, no mesmo período, os produtos que tiveram a maior queda de preço foram os quilos de coxão mole (-23,10%), da banana (17,49%), da margarina (-16,67%), 900ml de óleo de soja (-16,57%) e o quilo da laranja (11,70%).
Blumenau X IPCA
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), é considerada a estatística oficial de preços do país. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), este índice mede a variação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias.
O IPCA acumulado desde o início da pesquisa, em janeiro de 2022, é de 7,3%. Para os alimentos pesquisados em Blumenau, a inflação registrada neste período foi de 10,9%.
Já nos últimos 12 meses, de abril de 2022 a março de 2023, o IPCA foi 4,65% e a inflação dos alimentos registrada em Blumenau foi de 12,2%.
Contar a história de uma cidade
O professor reforça que o objetivo da pesquisa é informar a população acerca dos preços e que não possui nenhum objetivo comercial com isso, já que o material é todo gratuito. Ele diz que faz este trabalho, pois acredita que uma pesquisa de preços é capaz de contar a história de uma cidade e de uma região.
“Eu estou pegando produtos simples, básicos, que a população mais humilde vai consumir. Para verificar o que isso afeta a renda do trabalhador, até quando isso afeta, quanto afeta também. Então assim, é mais um serviço que estou prestando para a comunidade, para mostrar para eles o que está acontecendo dentro dos supermercados”, compartilha.
Tendência de estabilização
Contudo, Edmundo menciona a redução nos preços e menciona outras possíveis causas para isso estar acontecendo. Ele fala sobre a diminuição do dólar e os valores da bolsa, que têm permanecido razoavelmente estáveis. Ele enxerga que a inflação está diminuindo, de forma geral, no mundo, e afirma acreditar em uma tendência de estabilização dos preços neste ano.
“Se essa reforma tributária der certo, há uma tendência ainda de o dólar diminuir e dar uma estabilidade. Toda essa estabilidade depende da política, não importa quem está no governo, o que importa é que se façam fatos que consigam segurar a ganância”, defende.
A inflação e suas causas
Por fim, o professor explica que a inflação é uma desvalorização contínua e persistente da moeda: “ela vai fazer com que a moeda perca o valor diante dos bens. Quanto mais inflação houver, menos vai valer o dinheiro perante o seu poder de compra”.
Oferta e procura
Edmundo cita que são muitas as causas da inflação. Primeiro, ele menciona a lei da oferta e da procura, que consiste em quanto mais as pessoas buscarem por um serviço, maior será o preço cobrado por ele.
“Aumenta de preço porque a produção é finita e o nosso desejo é infinito, então quanto mais a gente procurar, mais ele sobe”, diz.
Inflação inercial
O segundo motivo é a inflação inercial, causada pelo medo que os comerciantes tem de que a inflação aumente, Ou seja, eles aumentam o valor de venda do produto, com receio de que o preço de compra fique mais caro. Segundo Edmundo, essa é a causa mais comum de inflação.
“Vamos fazer de conta que eu venda arroz para um supermercado que está revendendo a R$ 5. Eu sou o fornecedor e chego lá para vender também por R$ 5, então ele já põe o preço para R$ 6 ou R$ 7. Cada vez que eu chego lá com um aumento, ele coloca mais aumento. Para se precaver do inesperado, ele começa a aumentar o preço, pensando que ele vai aumentar mais ainda”.
Inflação estrutural
Outro desafio que o Brasil enfrenta em relação à inflação é causado pelo tamanho do próprio país. Por ser muito grande, não dispõe de recursos suficientes para ao transporte dos produtos.
“Não temos estrada de ferro, barcos suficientes (…) O Brasil sofre por isso, porque ele é muito grande e a falta de estrutura causa inflação”, explica Edmundo.
Excesso de moeda
Por fim, existe a inflação causada pelo excesso de moeda no mercado. Ou seja, quanto mais dinheiro estiver circulando, mais os preços dos produtos sobem.
“Tem uma escola de Chicago, chamada de teoria monetarista, que diz isso: tem que se controlar a quantidade de dinheiro circulando, disponível, porque quanto mais tiver, mais inflação terá, porque vai ter mais dinheiro do que produtos ou serviços.”