Em 1970 foi concluído o trecho Norte em pista única da BR-101 em Santa Catarina. Na altura do Morro do Boi, diante dos olhos deslumbrados dos turistas e viajantes destacava-se o esplendoroso mar, a charmosa pequena península da ponta da Faísca, a belíssima enseada de Porto Belo composta pelas praias de Itapema, Meia Praia e Perequê a ilha João da Cunha e morraria de Zimbros, entre os atuais municípios de Porto Belo e Bombinhas. Na ocasião ainda não existia este último município.

Revistas de turismo chegaram a qualificar essa paisagem como a mais bela do Brasil e até houve quem achasse que seria a mais bela do mundo. Exageros provincianos à parte, o fato é que o panorama ali sempre foi muito bonito, uma alegria e um alívio para os olhos cansados do viajante. Foi, não é mais.

Fazendo jus à nossa infinita capacidade de estragar o que é belo, aquela paisagem, recentemente, passou a ter um edifício espetado justo defronte à chamada “ilhota”, ou seja, a ponta da Faísca, para quem olha da BR-101.

Aquele único edifício, naquele local, causa mais estragos à paisagem do que dezenas de outros, edificados mais adiante, pelo menos no que diz respeito ao visual do Morro do Boi. Segundo informações, outros dois prédios também estarão sendo edificados no local, obstruindo de vez um dos detalhes mais bonitos daquele conjunto paisagístico.

Esses três prédios e talvez outros mais que venham a ser construidos, constituirão, para sempre, um verdadeiro monumento à estupidez e incapacidade de planejamento por parte de prefeituras como a de Itapema, cujos gestores não foram sensíveis para prever tal descalabro.

Se eu não fosse contrário aos “outdoors”, até sugeriria um painel desses, permanente, na descida do Morro do Boi, informando a todos: “paisagem danificada na gestão do prefeito A, vice-prefeito B, secretários C, D e E, vereadores F a N” como os políticos adoram fazer em placas de qualquer inauguração, por mais irrisória que sejam.

O monumento também serviria à insana fúria imobiliária que tomou conta do nosso litoral, onde o que vale, só e unicamente, são os negócios e o dinheiro. A paisagem e a harmonia visual não importam, dinheiro no bolso em primeiro lugar. Nada contra o “crescimento” (ou inchaço?) da nossa orla, mas, convenhamos, tudo tem limite.

Já em Blumenau, a paisagem urbana passa a ser brindada com uma verdadeira poluição visual causada por gigantescos painéis de propaganda, sendo o campeão dessa estupidez, data vênia, um edifício de 15 andares, localizado entre a rua XV e a Beira Rio, uns 300 metros antes da Prefeitura.

Pessoalmente, sou contra propagandas que invadem a paisagem. Porém, enquanto havia apenas um painel cobrindo a fachada do meio desse prédio, o choque visual talvez ainda pudesse ser tolerado, onde um não é pouco, dois não são nada bons e três, definitivamente, é demais.

A pergunta que não quer calar: como que, em pleno chamado “Vale Europeu” se permitem esses absurdos que não são vistos, via de regra, em toda a Europa? Vale Europeu para inglês ver?

Grandes cidades históricas europeias, como Londres e Paris possuem bairros ou quadras edificados com modernos e altos edifícios, porém, sendo mantido certo afastamento, preservando os pontos mais tradicionais e históricos.

“Outdoors” ao longo das rodovias não apenas poluem visualmente, mas, também, obstruem a visão. A poluição visual, como a dos painéis do Edifício Brasília em Blumenau, não obstaculiza a paisagem mais do que o próprio prédio, mas, definitivamente, enfeiam o Centro de Blumenau.

A paisagem observada do alto do Morro do Boi está prejudicada para sempre, a não ser que haja implosão daqueles novos edifícios que ali estão sendo construídos. Fica a sugestão para que mais cuidado seja tomado em situações semelhantes, pelo “Vale Europeu” afora, antes que sejamos mais ainda motivo de risadas e chacotas por parte dos europeus que nos visitam.

Poluição visual invade o Centro e outros bairros da capital do “Vale Europeu”. Foto: Leocarlos Sieves.


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