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Professor Erich Teichmann, irmão do escultor e filho do ex-maestro do coro Liederkranz em Braço do Trombudo

Capa: O professor Erich Teichmann, entre seus alunos, na Escola Alemã de Braço do Trombudo, Km 10, em 1933. As crianças são: Rubens Prochnow, Rolando Prochnow, Loreno Edgar Will, Wilson Stahnke, Leonor Schroeder, Winfried Fred Gerhards, Celso Schweitzer, Janio Antonio Burigo, João Scaff, Crista Prochnow, Arlindo Prochnow, Vera Lucia Concer Prochnow. Famílias pioneiras na região, com nucleações urbanas recém-desmembradas de Blumenau.

Blumenau do início do século XX apresentava seus caminhos “curtos”. Famílias se dividiam e iam residir em diversas regiões, que, mais tarde, definiriam as fronteiras de inúmeros municípios do Vale do Itajaí. Pena que, muitas vezes, estes desconsideram esta história pretérita. Uma família de professores fez história em Pomerode, Braço do Trombudo e em Blumenau.  Destaque para o professor Erich.

“Um belo relato, a minha família sempre fazia referencia ao Prof. Teichmann, mas meu pai estudou na Escola do Km 20 que ficava ao lado da Igreja Evangélica.” Leonor Schroeder

Erich Teichmann, nascido na Alemanha, foi filho de Joseph Teichmann, imigrante alemão, Professor em Blumenau, terceiro maestro na história do Coro Masculino Liederkranz e dirigente de grupo musical em Blumenau. Também foi irmão de Erwin Curt Teichmann, professor, escultor e designer em Pomerode. Sua família tocava instrumentos musicais e tinha estreitas relações com a música por incentivo do pai Joseph.

A imigração

Cidade de origem dos Teichmann.
Cais Rita Maria – Florianópolis.

Os pioneiros Joseph, Anna Teichmann e filhos migraram da cidade do Norte da Alemanha, Kiel, vieram para o Brasil, em 1913, antes de eclodir a Primeira Guerra Mundial. Desembarcaram na Ilha das Flores, Rio de Janeiro, de onde viajaram para o Porto de Itajaí com o Navio Hoepcke e depois, para Florianópolis. O navio foi construído no Estaleiro Hoepcke.
Depois de desembarcar em Florianópolis, a família ficou alojada no barracão dos imigrantes, na cidade de São João Batista. Para sobreviver, venderam parte de seus pertences, até o momento em que Joseph encontrou um trabalho em Blumenau. Era professor na Alemanha e também, entalhava madeira.

Empresa Industrial Garcia S.A. Acervo: Adalberto Day.

Em Blumenau, Joseph Teichmann foi trabalhar na Empresa Industrial Garcia S/A como Modelltischler – em português, é aquele que produz moldes de madeira. Na época de guerra, as fábricas tinham dificuldades em importar peças e máquinas, e então tinham um setor de manutenção e confecção de maquinários, setor no qual Joseph Teichmann foi trabalhar, na modelagem de peças. A sua família continuou a morar em São João Batista, cuja picada se dava pela estrada antiga, pela Rua da Glória, em Blumenau até Guabiruba e Brusque. Ele veio sozinho até arrumar lugar para a família morar, em Blumenau. Este era o antigo caminho usado para Brusque.

Figura 26 do livro “A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina” – Localização da picada que ligava Garcia a Brusque e de Brusque – na sequência, se chegava a São João Batista. Caminho que Anna Teichmann percorreu a pé.
Trajeto aproximado percorrido à pé por Anna Teichmann.

Joseph Teichman possuía formação acadêmica, cultura e tinha como hobby, a prática musical comum no Norte da Alemanha – o canto coral. Já residindo com toda a família em uma casa localizada no bairro de Blumenau, Itoupava Norte, que tinha forte ligação com a comunidade Altona, atual bairro de Itoupava Seca, formou um grupo de canto coral de quatro vozes, contando com os membros de sua própria família.

Nesta comunidade de Itoupava Norte, que ligava com Altona via balsa, mais ou menos no atual local da ponte Santa Catarina, Joseph começou a trabalhar como professor na Escola Alemã, a mesma do professor Max Humpl e que por certo devem ter-se conhecido. Esta Escola Alemã é a atual E.B.M. Machado de Assis.

Registro em Altona, comemoração de 25 anos da escola – na qual trabalhou Joseph Teichmann

Escola alemã de Altona, atual E.B. M. Machado de Assis. Na frente o Professor Max Humpl e seus alunos.

Nosso registro de 1995 – desfile no antigo Bairro Altona, comemorando 90 anos da escola – na qual trabalhou Joseph Teichmann

Imagem do livro “A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina” – Porto de Cargas de Itoupava Seca, aos fundos, a balsa que efetuava a ligação entre Itoupava Seca e Itoupava Norte, mais ou menos no local onde estava localizada a escultura “Soprador de cristal” de Teichmann, retirada do local em 2023.
Período do Nacionalismo – Os nomes alemães eram traduzidos para o Português, o que gerava muita confusão. O nome de Joseph Teichmann (grifado), como um dos 126 professores presentes nesta reunião de trabalho.      Reunião Educacional dos professores das Zonas Rurais – Iniciada pelo inspetor Federal da Escolas Suvencionadas, no Grupo Escolar Luiz Delfino, com presença de 126 professores de escolas subvencionadas, como também diretores e professores de grupos escolares de Brusque, Itajaí e Blumenau. Estiveram presentes: Frei Ernesto-Diretor do Colégio Santo Antônio, Frei Estanislau-Professor do Colégio Sto. Antonio, Frei Felippe Vigário da paróquia, Octaviano Ramos – Diretor da “A. Cidade”, Dr. Kurt Prayon – Redator do “Urwaldshote”, Carlos Techentin – Diretor da “Volkszeitung”, Dr. Breves Filho -Director da EFSC, Dr. Celso Salles – Ajudante do Diretor da EFSC , Hans Sättler – Diretor da Escola Nova e seus professores. E. Weidt, Gentil Lazaro, Bertha Girralai, Emri Isebam, G. Blohm, Maria Mendes Wanrosky, Maria Rilla Wiederkehr, Eugenia Pellizzetti, Edina Largura, Faustino Fiamoncini, Cantalicio Erico Flores, Frederico Monn, Lia Borges d’Aquino, Laura Hogus, Alfredo Moreira, Waldemar Cercal, José Teichmann, Estanislau Blachsvski, Amaro de Quadro, Adolpho Mауг, Victor Butzke, Germano Trentini, Veneranda Moser, Frederico Navarro, Eugenio Hettärich, Paula Mayr, Rodolpho Hollenweger, Candido S. Rodrigues, Octavia Braga, Edeltraut Riediger, Ondina Ramos Brasil, Helena Filtrini, Hertha Germer, Sylvia R. Brasil, Nila Peckering. Ladislau Schmidt, Euphrosina O. Campos, Leonor Schmitt, Ricardo Hoeller, José Haendchen, Luiz Venturi, Ottilia Anhold, Maria Stoll, Antonietta Silva, José Brancher, João D. Müller, João Valle, Joaquim Girardi, Ernesto Pizzini, Innocencio Chaves de Souza, Hermogenes Fernandes, Arthur Fronza, Celso Schaefer, Carlos Maffezzolli, Anacleto Nascimento, Hermes Hoffmann, Maria Mathilde Müller, Coralia Gevaerd Olinger, Georgina da Luz. Semiramis D. Bosco, Isaura Gevaerd, Ottilia M. Schlindwein, Francisca Albini, Augusta Dutra de Souza. Aida Lobe, Maria Ignes de O. Gorger, Maria M. O. Maçaneiro, Maria B. Pamplona, Arthur Wippel, Carlos Boos, Benta Cardoso, Veronica Cardoso, Maria Elisa Vogel, Braulia Pessoa, José Z. Tavares, Walter Lesner, Francisco Talle, Anna B. Pamplona, Gevaerd, José Lucken. Christina A. M. Klann, Laura Tell Maurici, Carlos Croni, Maria Carolina Soares, Noemia Müller, Leopoldo Raizer, Adelaide Melim, Maria Neves Rosa. Arminda Haberbeck, Julia Dutra, Adelina Zierke. Adelia Faulin Moritz, Maria Seemann, Alvina Karmann, Francisca Rangel, Erotides Pontes, Edith Vieira, Olavia Feijó Linhares, Dongilia Mafra Pereira, Zoé Mello, Neoflides Vieira Vendhausen, Maria Fibiana Bacellar.

 

Bandeira original do Coro Masculino Liederkranz.

Joseph Teichmann, não somente fundou grupos de canto coral, como também, foi  o terceiro maestro do centenário Coro Masculino Liederkranz.

De acordo com KORMANN, a grande movimentação aconteceu entre os anos de 1920 e 1935 e realmente tudo acontece de fato, quando, em 1936 houve a fusão da Sociedade Teatral “Frohsinn” (24/06/1860) e o Coro Masculino Liederkranz (26/05/1909), formando a Sociedade Dramático Musical “Frohsin”, iniciativa do Prefeito de Blumenau, Curt Hering.

Mas qual a relação desta história com a família Teichmann? Observe-se a lista dos primeiros Regentes do Coro Masculino Liederkranz registrados por KORMANN.

1 – Carl Flesch;
2 – Josef Schwartz;
3 – Joseph Teichmann;
4 – Ernst Drawin;
5 – Kurt Boettner;
6 – Heinz Geyer.

Em Blumenau, mesmo estando vivendo uma certa estabilidade, a situação da família Teichmann, que ainda não possuía um lote colonial, e que residia em uma casa alugada deixava Anna Teichmann inquieta a ponto de alertar o marido Joseph, sobre os principais objetivos que os motivaram a vir para o Brasil – possuir um pedaço de terra para cultivar.

Insistiu tanto, que em 1921, Joseph Teichmann adquiriu a gleba de terra virgem acima citada, pertencente Bella Alliança – atual município de Rio do Sul SC – Alto Vale do Itajaí. Neste período Erich Teichmann tinha 18 anos de idade e seu irmão Erwin Curt Teichmann tinha 15 anos de idade. Ambos ajudavam muito, nas tarefas da propriedade da família.

Curiosamente, o patriarca Joseph Teichmann (1871 – 1949) está sepultado no cemitério luterano de Passo Manso, Blumenau.

O professor Erich Teichmann – o irmão mais velho do escultor Erwin Teichmann

Erich Teichmann nasceu em 1903, em Kiel, Alemanha e chegou ao Brasil com 10 anos de idade, portanto, viveu quase 8 anos em Itoupava Seca, Blumenau com seu irmão e pais.
A família, por pressão para aquisição de um propriedade própria de sua mãe Anna Teichmann, mudou-se de Blumenau para o Alto Vale do Itajaí.

Em 1921, o pai de Erich, Joseph Teichmann adquiriu a gleba de terra virgem acima citada. Em Blumenau, deixaram amigos com os quais praticavam atividades culturais, como o canto. Quanto mais afastada da centralidade de Blumenau, o preço das terras era mais acessível.

Propriedade rural, na região de Rio do Sul. Foi mais ou menos neste período que família Teichmann mudou-se para o Alto Vale do Itajaí.

Erich Teichmann e seu irmão fizeram sua confirmação na Igreja Luterana de Rio do Sul, na época do Pastor Emil Rahn, que ficou na comunidade entre 1920 até 1924. A cerimônia aconteceu no ano em que a igreja foi criada naquela cidade. Foram pioneiros na formação da comunidade luterana de Rio do Sul, mesmo residindo, até então, próximo a Igreja da Cruz, em Itoupava Seca, bairro de Blumenau.

1ª Igreja da Comunidade luterana de Rio do Sul e provavelmente onde Erwin e Erich Teichmann foram confirmados.
Bruno Ademar Prochnow.

Erich Teichmann permaneceu no Alto Vale do Itajaí, ao contrário de seu irmão Erwin, que se mudou para Pomerode.

Recebemos informações sobre as atividades exercidas por Erich Teichmann a partir de um depoimento fornecido por Bruno Ademar Prochnow, que nos brindou com suas informações – parte de sua história pessoal e de sua família, pioneira na região.

Erich, igualmente seguiu as práticas das artes, através da música.

Escola em Braço do Trombudo, onde a família do Professor Erich, também foi registrada. Acervo Família Ralf Kruger.
Erich Teichmann e família.

De acordo com Bruno Ademar Prochnow, na década de 1960, Erich Teichmann residia na localidade de São João, onde estava localizada a última estação ferroviária da EFSC e onde estivemos pesquisando sobre o tema na casa da família Trapp, no município de Agrolândia, próximo a Braço do Trombudo.

Família Trapp na frente da antiga estação ferroviária de São João – do livro “A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina”.
1964 – Inauguração da Estação da EFSC – São João.

No período do Nacionalismo, Erich Teichmann não pôde mais lecionar na escola alemã e para sustentar sua família e passou a dar aulas particulares de música.
O pequeno Bruno Prochnow foi aluno de música de Erich Teichmann na igreja luterana do centro de Agrolândia. Bruno conta que, o então Professor Teichmann, seu professor de música, percorria 4 quilômetros que cobriam a distância entre São João e Agrolândia, a pé, carregando uma bolsa contendo partituras e instrumentos musicais para ensinar flauta doce, bandolim, violão, incluindo escalera e outros instrumentos para um pequeno grupo de crianças. Carregava tudo durante o percurso.

As aulas de música, motivaram representantes de uma geração local para a criação de um conjunto que ficou muito conhecido na região: Os Meteoros, no qual, Bruno, agora jovem, também atuava como membro. Antes de ser Os Meteoros, o grupo era conhecido como “The To Shines”, formada por 9 músicos, em suas infâncias, alguns deles, alunos do professor Erich Teichmann, que tinha nascido em Kiel – Alemanha, emigrado com sua família para Blumenau, antes disto residiram em São João Batista. Histórias de Santa Catarina.
“The To Shines” – Em o 1° Baile da Banda “Os Meteoros” – Clube Floresta Negra – Agrolândia – 25 de outubro de 1969.
“Os Meteoros”.
Ingrid Schmoegel, neta de Erich Teichmann.

Muitas vezes, os descendentes de Joseph Teichmann, de Erich e também de Erwin, estão nas várias regiões do Vale do Itajaí e em outras, também, e não tem a menor ideia de que sua história e de sua família iniciou no galpão dos imigrantes de São João Batista, a partir de Florianópolis, seguindo para Blumenau e dentro da região construindo história a partir da arte e da educação.

Um registro para a História.

 

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)

Referências

  • GERLACH, Gilberto. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
  • LAGO, Paulo Fernando.Santa Catarina: a terra, o homem e a economia. Editora da UFSC. Florianópolis, 1968.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
  • WITTMANN, Angelina.A Ferrovia no Vale do Itajaí: A Estrada de Ferro Santa Catarina. Blumenau. Edifurb, 2010.