Projeto leva conhecimento sobre moda a pequenos empreendedores da periferia de Blumenau

Livro com imagens produzidas durante o projeto será publicado em abril

Nos bairros de Blumenau não é difícil encontrar pequenos e criativos empreendedores da moda fabricando peças e objetos cheios de cultura – mas que pouco são divulgados. Foi percebendo esses artistas que vão desde a moda pronta até à alta costura, que uma designer blumenauense resolveu começar o projeto Modas Periféricas.

Emanuella Scoz sempre focou seu trabalho com a moda nos pequenos produtores. Mestre em Educação, especialista em Políticas Culturais de Base Comunitária e especialista em Negócios da Moda, ela atualmente cursa o doutorado em Design pela Udesc.

Quando ela cruzou com a lei Aldir Blanc em Blumenau, decidiu buscar uma forma de usar a oportunidade para levar seu conhecimento para quem não tem acesso a essas informações. “Esses editais e projetos não chegam para essas pessoas. Meu propósito era divulgar isso enquanto ensinava eles conceitos de fotografia de moda”, conta.

O trabalho foi realizado em conjunto com o professor Albio Fabian Melchioretto, que já planejava fotografar as periferias da cidade. Vindo da área de Filosofia e Educação, ele é doutorando da Furb e colaborou também com as entrevistas para construir o material.

Foto: Albio Fabian Melchioretto

“Buscamos pessoas que têm marcas e produzem, mesmo que de forma informal. Ensinamos a fotografar, maquiar, explicamos a diferença entre fotografia de moda e de catálogo e produzimos essas fotos na periferia, fazendo disso um trabalho pago, porque todos receberam cachê”, explica Emanuella.

Visitando 11 bairros de Blumenau – passando desde pelo morro Dona Edith até pelas ruas Coripós e Eça de Queiroz – Emanuella e Albio mostraram a necessidade dos produtores criarem uma rede para colaborarem entre si.

“Vemos que nos editais não temos pessoal das artes visuais, design e moda. Não sabemos se eles não sabem fazer o projeto, não têm ideias ou não conhecem os editais. Minha ideia era mostrar o que pode ser feito, como acessar os editais, montar projetos e como isso pode ser útil para as necessidades deles”, relata.

Duda Bachmann, produtora e modelo, com Emanuelle (ao centro) e Albio (à esquerda). | Foto: Arquivo pessoal

“O produtor de economia criativa usa os espaços que tem. Por isso aproveitamos a periferia para fotos, mostramos como fazer fotos externas e internas. Para eles entenderem que é possível fazer fotos legais e conceituais com o que eles têm”, conta.

Apesar de cerca de 25 pessoas terem passado pelo projeto, a designer ainda precisou selecionar os participantes. O foco dela foi selecionar os mais marginalizados e que mais poderiam se beneficiar com o projeto.

“Não colocamos a moda como algo superior a essas pessoas, mas sim mostrando que elas já fazem moda. Só trouxe técnicas de experimentação artística da fotografia para elas usarem no cotidiano. Queremos que essas pessoas busquem políticas públicas para desenvolver a economia criativa”, explica Emanuella.

Livro tornará registros públicos

Em abril, Emanuella e Albio lançarão um livro com 15 fotos realizadas durante o processo. Registros feitos de pessoas que mostraram seu estilo nas periferias blumenauenses também serão expostos.

“O que mais me impressionou foi a riqueza do material dos produtores, do começo ao fim. A arte nas mais diversas formas. A pessoa faz a modelagem, confecciona a peça, pinta manualmente, tatua… Tudo com muita qualidade. E mesmo sem recursos ou especialistas, só com know-how“, exalta a designer.

Albio Fabian Melchioretto

Albio também organizou uma cartografia de onde estão esses produtores de economia criativa, para incentivar o meio e a criação de políticas públicas para este grupo. Os modelos das fotos eram selecionados pelos próprios produtores.

“São pessoas da comunidade que nem são profissionais, mas costumam fazer esses favores para amigos ou parentes. Também descobrimos que vários dos produtores se conhecem, mesmo morando longe”, acrescenta Emanuella.

O plano da dupla é aproveitar o edital Herbert Holetz para lançar um segundo livro com mais fotos. Entre 300 e 400 registros foram feitos, mas faltou cachê para pagar por todas as fotografias.

Lei Aldir Blanc

No ano passado, a designer também lançou um documentário pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Intitulado Moda e Memória no Vale, o projeto ouviu quatro mulheres da região sobre vivências e experiências com os fazeres que permeiam a moda.

Realizar o documentário era um desejo antigo de Emanuella, que queria registrar aprendizados que vão além dos acadêmicos para que fiquem gravados pela eternidade.

“Os cursos se voltam para a indústria e não para a economia criativa. Quando vamos trabalhar, vemos que o conhecimento popular e cultural também é utilizado. Cresci ouvindo histórias das pessoas da minha família que faziam roupas e acessórios e queria registrar essa memória”, justifica.

O projeto também realizou uma exposição peças do acervo pessoal das entrevistadas, datadas a partir de 1930. O documentário, lançado em fevereiro do ano passado, pode ser assistido no YouTube de Emanuella:

“O processo industrial copia para se fazer em grande escala, mas o processo manual é acessado pela economia criativa e não pode ser perdido. É uma riqueza de um patrimonio imaterial”, complementa.

A lei Aldir Blanc foi aprovada em junho de 2020, com o propósito de salvar os setores culturais de todos os municípios brasileiros durante a pandemia. O nome foi escolhido em homenagem ao cantor e compositor que faleceu vítima da Covid-19.


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