Prova de amizade: paciente doa rim para amigo em hospital de Blumenau

Doação precisou de autorização judicial, por não se tratar de familiares

Não é raro, porém, também não é comum a doação renal entre pessoas que não são familiares. Por conta disso, tentando evitar a “compra e venda” de órgãos, todo transplante de vivos que não sejam da mesma família precisam de autorização judicial para acontecer. E isso foi realizado em Blumenau, no Hospital Santa Isabel, nesta quarta-feira, 11.

Amigos há quase 25 anos, Álvaro Menezes de 38 anos, doou um dos seus rins para Haroldo Nascimento, também de 38 anos. Eles se conheceram quando Nascimento se mudou do Rio de Janeiro (RJ) para Florianópolis. Ambos começaram a trabalhar cedo na mesma empresa e criaram o vínculo de amizade no trabalho, no futebol e nas festas nos fins de semana.

 

Haroldo, da esquerda e Álvaro, à direita, antes da cirurgia. Arquivo pessoal

Porém, há algum tempo Nascimento começou a se afastar. Não participava mais dos jogos de futebol, não saia mais com os amigos. Tudo isso porque estava realizando tratamentos por conta de um problema renal.

Sem saber da situação e percebendo o sumiço dele, Menezes e outro amigo convidaram Nascimento para jantar, pra se reencontrarem e entenderem o que estava acontecendo. “Quando me viram eles já perceberam que eu estava magro, por conta do tratamento e restrições alimentares, e aí tive que contar o meu problema”, afirma Nascimento.

Ele ainda conta que daquele dia em diante, ambos deram todo o apoio possível e o convenceram que podiam realizar os exames para serem doadores, caso necessário. “Eu precisei de um tempo pra aceitar. Mas depois eles fizeram os testes e coincidentemente os dois eram compatíveis”.

Gabriel Silva / Hospital Santa Isabel

Em decisão entre os próprios amigos, Menezes foi o escolhido para ser o doador. Porém, ainda precisaram passar por várias fases envolvendo Ministério Público e a justiça para conseguir o aval e realizar a cirurgia. Após tudo aprovado a amizade foi reforçada com esta ação.”Agora mais do que nunca. Eu sempre falo pros dois que a gratidão que eu tenho por eles não tem como falar, é demais”, conta Nascimento, ainda em recuperação.

“Eu sempre falo pra quem me pergunta como tive coragem, o que eu sempre pensei foi que não vou deixar um amigo meu morrer. E nem é questão apenas de ser meu amigo. É de ser uma pessoa. Eu sei que fiz a coisa certa”, conta Menezes, já em casa, após a cirurgia.

Ele recebeu alta do hospital nesta sexta-feira, 13. Mas como todo doador de rins, precisará ter cuidados especiais até o fim da vida, já que apenas um órgão fará o trabalho de dois.

Nascimento seguirá no hospital por mais alguns dias até ser liberado. Ele também precisará seguir com os cuidados. Em primeiro momento deverá realizar diversos exames periodicamente. Com o tempo as visitas ao hospital se tornam anuais.

Ambos os pacientes passam por avaliações médicas e acompanhamento psicológico antes e após procedimento.

Mesmo sendo moradores de Florianópolis, capital do estado, a cirurgia foi realizada no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, que é referência em transplante de órgãos. Até novembro, ao todo foram realizados 274 transplantes na instituição, sendo 140 apenas de rins.

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