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Quatro roteiros para não se perder na variedade de rótulos

Jornalista e sommelier de cervejas propõe minirroteiros para guiar o paladar durante os quatro dias de evento

Larissa Guerra é jornalista, chef de cozinha e sommelier de cervejas

Quem frequenta o Festival Brasileiro da Cerveja há alguns anos – é o meu caso – tem seus macetes e rituais ao entrar nos pavilhões da Vila Germânica. Há aqueles que vão sedentos às cervejarias mais famosas, outros preferem rodar todos os estandes, descobrir as estreias, como quem faz uma caça ao tesouro.

Num lugar com centenas de rótulos e só quatro dias para provar (sem exagerar, é claro!), é preciso saber escolher. Minha primeira vez no Festival da Cerveja foi um completo fiasco. Foi em uma das primeiras edições, quando tudo isso aqui era mato e não se falava sobre IPAs, sours e barleys com naturalidade. Queimei largada, não dei valor à experiência e pouco conheci de estilos e rótulos. Juventude, né?

Anos depois, com algum estudo, horas-copo e humildade, fui tirando o melhor do festival e aprendendo a curtir o evento como se fosse uma grande peça em que cada dia corresponde a um ato. Pensando nesta linha, apresento a seguir cinco maneiras para viver o Festival Brasileiro da Cerveja, de 7 a 10 de março, em Blumenau, de uma forma diferente – e inesquecível.

Dia 1 – As premiadas

O primeiro dia precisa ser dedicado a conhecer e provar os rótulos que foram premiados na noite anterior, no Concurso Brasileiro de Cervejas. Muitas das medalhistas são vendidas em pequenos lotes ou realmente têm tanta procura que se esgotam rápido nas torneiras. Vai por mim, depois não adianta reclamar quando não houver mais nada para experimentar.

Dentre as premiadas, observe as que venceram medalhas do respectivo estilo e também as cervejarias premiadas pelo conjunto da obra.

Dicas da Larissa Guerra:
– Faça a lição de casa e leve uma colinha com os resultados.
– Não tome logo de cara doses de 300 ml. Prefira as de 100 ml, intercaladas com bastante água, para manter o corpo hidratado e ir limpando o paladar.
– O primeiro dia também costuma ser menos cheio, então aproveite para conversar com o pessoal das cervejarias. Descubra o que eles têm de novo, o que esperam vender mais e quais os mimos que trouxeram à clientela (e existem muitos!).

Daniel Zimmermann/Festival da Cerveja

Dia 2 – As novidades de 2018

Como você foi inteligente e já fez uma sondagem no Dia 1, use o segundo dia de festival para explorar as novidades. Muitas cervejarias trazem rótulos experimentais para testar a aceitação do público e ouvir opiniões qualificadas – onde você encontra tantos cervejeiros, sommeliers, especialistas e bons bebedores assim dando sopa o tempo todo?

Outros tantos fazem lançamentos nesta época, o que é um ótimo termômetro do sucesso do evento e de como o público que frequenta a Vila Germânica é importante para eles. Uma maneira de ir pensando no que deve estrear neste ano é observar quais são as tendências do mercado cervejeiro artesanal no Brasil.

Dicas da Larissa Guerra:
– Há uma boa probabilidade de as cervejas ácidas com adição de frutas continuarem em alta.
– O mesmo vale para cervejas que passam por processos de maturação em barris de madeira e as que levam centeio (rye) ou aveia (oatmeal) na receita.
– Publicações especializadas costumam adiantar alguns dos lançamentos, o que já pode servir de base para você escolher o que vai beber.

Dia 3 – A noite de um estilo só

Tire a noite de sexta-feira para estudar e conhecer um determinado estilo de cerveja. Perceba as variações apresentadas em cada cervejaria. Fique atento às sutilezas de cada rótulo, peça informações sobre as receitas, as inspirações e possibilidades de harmonizações. Uma boa pedida é focar nas lupuladas – cuja variedade é normalmente imensa no festival.

Se a ideia de provar apenas um estilo a noite toda não lhe apetece, experimente então focar em uma determinada escola cervejeira.

Dicas da Larissa Guerra:
– A Escola Alemã é conhecida por ser mais tradicional e equilibrada, conforme a Lei de Pureza de 1516 (que determinava malte de cevada, lúpulo e água como os únicos ingredientes permitidos). Há exceções à regra, descobertas mais tarde, como as cervejas de trigo.
Estilos: pilsen, weizen, bock

– Na Escola Inglesa, temos maltes tostados e lúpulos mais terrosos. São cervejas com amargor acentuado e que podem passar por processos de amadurecimento em barris.
Estilos: IPA, porter, barley wine

– Na Escola Franco-Belga, a levedura se destaca. Prepare-se para aromas surpreendentes e resultados instigantes no copo. São cervejas refinadas, que não perdem em nada para um vinho ou uma espumante. Espere frutas, condimentos e combinações menos usuais.
Estilos: dubbel, trippel, lambic

– Veja a Escola Americana como um adolescente rebelde pronto para subverter a lógica das sábias anciãs. Muitos sequer consideram uma escola, por faltar-lhe tradição de séculos, mas aqui encontram-se as releituras de estilos antigos, as altas cargas de lúpulos cítricos e com aquele aroma de pinho, ou de frutas tropicais.
Estilos: american pale ale, american amber ale, new england ipa

Dia 4 – Degustação com a galera

Daniel Zimmermann/Festival da Cerveja

A despedida do festival precisa ser celebrada com os amigos. Chame a galera e proponha uma experiência coletiva. Chegue cedo e estimule seus amigos a comprar rótulos diferentes um do outro. Aí proponha uma degustação comunitária.

Passe o copo adiante e peça o de alguém para provar. Você pode até seguir os passos de uma análise sensorial mais técnica (veja dicas abaixo) – sem fazer alarde ou se estender muito para não pagar de “cervochato”.

Algumas pessoas não vão gostar daquela cerveja que você amou loucamente e está tudo bem. Como cozinheira, costumo dizer que há ingredientes e pratos que são “paladar adquirido” – você não nasce gostando e talvez nunca vai gostar. Da mesma forma enxergo as diferentes opiniões sobre estilos e preferências pessoais.

Dica da Larissa Guerra:
– No último dia de festival fique atento às queimas de estoque promovidas pelas cervejarias.

– Não esqueça de lavar os copos nas torneiras entre uma degustação e outra

– Numa análise sensorial das bebidas, o primeiro passo é observar o visual. Qual a coloração ela apresenta, se é opaca ou brilhante, e se a espuma permanece após servir.

– Depois, repare nos aromas. Grande parte da degustação está neste quesito. Aromas frutados, florais, herbais, tostados, cítricos, adocicados, condimentados, e por aí vai. Também não se recrimine se não sentir um aroma que seu amigo jura que existe. Tudo é uma questão de referência e de treino.

– Deguste a cerveja. Note se os aromas que você sentiu antes correspondem aos gostos básicos (Amarga? Doce? Salgada? Ácida?) e quais sensações você teve na boca (Refresca? Aquece? Pesa? É leve?).

– Pense com que comida ela poderia combinar. Vá memorizando e aprendendo aos poucos.

Programação paralela

Além destas experimentações durante o festival, não perca a oportunidade de curtir algum evento paralelo ao Festival Brasileiro da Cerveja. Esta é a época em que Blumenau realmente vive o universo cervejeiro e que muita gente que é referência no setor está aqui.

De quarta a sábado rola uma programação técnica com palestras (inclusive internacionais) organizadas pela Escola Superior de Cerveja e Malte (confira aqui o cronograma e os preços), algumas cervejarias locais fazem eventos e visitações durante o dia e ainda há ações pontuais em bares e restaurantes.

Leo Laps/Divulgação

Se a ideia é viver uma experiência paralela mais sofisticada, vá a um Beer Pairing, projeto da escola Science of Beer que une chefs e sommeliers em jantares temáticos harmonizados com cervejas ali mesmo na Vila Germânica.

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