Queda no dólar faz aumentar procura por viagens para o exterior em Blumenau

Agência de Turismo vê movimento crescer 30% nesta semana

O dólar está em queda há mais de uma semana no Brasil, alcançando os R$ 4,81 nesta segunda-feira, 28. O valor é o mais baixo desde março de 2020. Mas, apesar de recente, a redução vem refletindo no mercado de turismo em Blumenau.

Rafael Ramos, diretor da Cosmos Viagens, maior agência de turismo do Sul do país e que conta com filial em Blumenau, calcula que nos últimos dias houve um crescimento de 30% no número de procura e vendas por pacotes. Segundo ele, as pessoas estão tendo a percepção de um valor menor e querem garantir a compra mais barata.

“Teve casos de pessoas que estavam avaliando as viagens e que decidiram fechar o negócio quando perceberam que essa queda influenciou bastante no valor dos pacotes. Tem também muita gente comprando viagens mais pra frente, pra aproveitar o preço. É bem perceptível esse aumento”, explica Rafael.

“Tem casos também de pessoas que já têm viagem comprada mais pra frente, mas que entraram em contato pra comprar dólar agora. Como temos contato, fazemos as indicações”, completa.

As viagens internacionais são as mais procuradas. Como existem opções de compras de passagens, hospedagem, translados, ingressos de trem e até entrada em shows e eventos, com a queda do dólar todos os itens ficaram mais baratos e refletem no preço final bem reduzido dos pacotes.

Porém, as viagens pelo Brasil também acabam tendo reflexo e podem sofrer reduções. Rafael explica que como o dólar influencia também no preço dos combustíveis das aeronaves, as passagens tendem a terem o preço reduzido, diminuindo também o valor nos pacotes nacionais.

“Pra nós, para o nosso mercado, isso é vida. É um impulso muito importante. Tivemos a abertura dos países após as flexibilizações e já vinha em crescimento, agora com isso reflete ainda mais”, conclui.

Reflexo na importação no Comércio Internacional

Outro setor muito sensível às variações cambiais e que já sente os reflexos é o de importação e exportação de mercadorias e serviços. Luiz Carlos Barravieira Junior é Cônsul da Indonésia em Blumenau e possui uma empresa que faz importação de pneus, carvão de coco e outros diversos produtos da Ásia para o Brasil e América Latina.

Ele, que também é economista, conta que neste momento a queda do dólar vem sendo benéfica para o setor, uma vez que a baixa na divisa estrangeira frente ao real reflete diretamente na redução do custo dos produtos importados. Entretanto, destaca que existem outras variáveis que impactam no valor final pago pelo consumidor nas mercadorias que vem de fora, como o frete internacional.

No ano passado, por exemplo, o frete chegou a subir mais de 10 vezes em alguns casos, e apesar de algumas reduções recentes continua muito alto.

“O dólar mais baixo fatalmente torna o nosso negócio mais interessante e acaba colocando o produto importado num pé de competitividade maior que o nacional. Ainda mais levando em consideração a qualidade que os produtos comprovadamente possuem. Mas não é um cálculo simples porque existem essas outras variáveis que também fazem parte do custo”, destaca.

Ele ainda lembra que mesmo o Brasil possuindo fábricas de pneus instaladas no país – não brasileiras – elas não comportam a demanda interna. Além disso, muitas vezes aproveitam oportunidades de mercado – como  por exemplo quando o dólar está valorizado frente ao real –  e optam por exportarem parte da produção, desabastecendo ainda mais o mercado local e intensificando a dependência das importações.

Outro fator benéfico ao setor foi a diminuição da compra de carros 0km, aumentando assim a necessidade de manutenção e trocas de pneus.

Motivos da queda do dólar

Economista, Luiz Carlos Barravieira Junior explica que são vários os fatores que levaram a essa queda maior nos últimos sete dias. Segundo ele, desde 1999 o Banco Central adota o sistema de Câmbio Flutuante, ou seja, o que determina o valor da divisa americana frente ao real é a oferta e demanda desse recurso, ou a entrada e saída de dólares do país.

Dessa forma, o Banco Central atua muito mais na manutenção da funcionalidade do sistema ou como agente regulador, intervindo o mínimo necessário, apenas em casos extremos, do que necessariamente perseguindo uma taxa fixa.

“Neste momento existe uma forte entrada de recursos no Brasil. São vários os fatores que contribuem para esse movimento, a Taxa Selic por exemplo, atualmente cotada em 11,75% ao ano, maior patamar desde abril de 2017. Esse é um dos fatores no qual o investidor estrangeiro pauta sua decisão na hora de aportar ou retirar recursos do nosso país”, detalha Luiz.

“Somando a alta na taxa básica de juros, as ações das empresas brasileiras cotadas na bolsa de valores que ainda estão baratas em relação a outros mercados, os níveis atingidos pré-pandemia e por fim o preço das commodities agrícolas que também estão em alta expressiva, tudo isso cria um ambiente convidativo para o ingresso de moedas estrangeiras, como o dólar, entrarem no país. Esse fluxo maior de entrada de dólares no país faz com que o real se valorize frente a moeda estrangeira e consequentemente derrube a cotação do dólar em relação ao real. É resumidamente oferta e demanda”, completa.

A queda continuará?

O economista conta que não há como cravar se a queda irá continuar, estabilizar ou se a divisa estrangeira voltará a subir ante o real. Porém, salienta que há indícios de um aumento ainda maior na taxa Selic, ultrapassando os 13%, e que isso pode atrair ainda mais capital estrangeiro para o Brasil, acarretando numa queda maior da moeda americana.

“Se o cenário econômico continuar como está e se imagina, o dólar pode sim se manter nessa casa dos R$4,80 ou pode baixar ainda mais. Mas lógico que precisamos lembrar que estamos em um cenário caótico da economia mundial: guerra entre Russia e Ucrânia, novos casos de Covid-19 na China, inflação nos EUA e no mundo, etc… e tem o cenário das eleições presidenciais no Brasil, que é historicamente momento de muita especulação e volatilidade no mercado. Tudo isso pode interferir muito na questão cambial intensificando as oscilações.”

A recomendação para quem quer viajar ou tem negócios atrelados ao dólar, segundo o economista é: fazer compras periódicas do recurso. Ou seja, comprar dólares com antecedência sempre que possível e em momentos de baixa como o atual, fazendo uma média e aproveitando as oportunidades que o mercado oferece. Ou ainda, com ajuda especializada, desenvolver mecanismos de proteção cambial como travas de hedge por exemplo.


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