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Quem é a enxadrista moradora de Blumenau que viajou o mundo graças ao esporte

Jogadora de xadrez desde os 11 anos, Regina coleciona diversos títulos e já fez inúmeras viagens devido ao esporte

Uma reportagem sobre xadrez que passava na televisão foi essencial para que a carioca Regina Ribeiro se encantasse pelo esporte. Hoje, com 62 anos, ela carrega inúmeras medalhas e troféus que ganhou devido ao jogo, vários deles enquanto representava Blumenau, além de diversos carimbos no passaporte de viagens que fez pelo mundo graças ao esporte.

Aos 11 anos, enquanto brincava, Regina passou na frente da televisão e foi pega de surpresa por uma comparação entre Pelé, que, nas palavras do apresentador, era bom dos pés, com Mequinho, Grande Mestre brasileiro de Xadrez, que era bom da cabeça, de acordo com a analogia.

A pequena Regina já conhecia a fama de Pelé e ficou curiosa para saber mais sobre o enxadrista que era comparado com o rei do futebol. A reportagem ainda informava que o xadrez era um jogo para pessoas inteligentes.

A curiosidade motivou Regina a pesquisar sobre o xadrez em uma enciclopédia. “Quando eu li que era um jogo milenar e jogado no mundo inteiro, eu fiquei fascinada. Desenhei as peças e o tabuleiro e falei: ‘vou jogar xadrez”, recorda.

Arquivo pessoal

Jogos de xadrez diariamente

A enxadrista relembra que um vizinho havia ganhado um tabuleiro de xadrez e que se ofereceu para ensinar Regina a jogar. No aniversário, ela ganhou o próprio tabuleiro, além de um livro que ensinava as regras básicas do xadrez.

Ela carregava o jogo de xadrez para todos os lados e na escola disputou diversas partidas com colegas e até professores. Regina recorda que uma professora a convidou para jogar durante os intervalos de terça-feira e que sempre era derrotada pela docente. Ela foi em busca de mais conhecimento e comprou um novo livro sobre o xadrez na intenção de vencer a professora, e teve o objetivo alcançado.

Arquivo pessoal

Mequinha do Rio

Por carregar o xadrez embaixo do braço todos os dias, Regina foi apelidada de Mequinha, uma referência ao Grande Mestre de Xadrez. Com isso foram surgindo as primeiras oportunidades, como o convite para o Jogo de Primavera no Rio. Ela recorda que era a única menina na competição, algo que lhe chamou atenção dentro do contexto do Rio de Janeiro.

Regina, que na época morava no subúrbio do Rio de Janeiro, começou a sair para desbravar novas áreas da cidade devido ao xadrez, participando de torneios e ganhando visibilidade.

Na adolescência, ela demonstrou interesse pela música e entrou na banda da escola, onde tocava trompete, deixando de lado as competições de xadrez.

Arquivo pessoal

Foi após um convite insistente para participar de um torneio de iniciação esportiva que Regina foi chamada para fazer parte de um clube, onde seria paga para ensinar a modalidade esportiva.

“A contrapartida de ser a instrutora, é que eu representaria eles nas competições femininas. Eu aceitei e participei do meu primeiro campeonato carioca, classifiquei para o estadual e classifiquei para o brasileiro, que ocorreu em Laguna, aqui em Santa Catarina”. Esse foi o primeiro contato da enxadrista com o estado catarinense.

“Foi a primeira vez que eu andei de avião e eu me senti o máximo. Eu pensei ‘como o xadrez proporciona isso?”, recorda a Mestre Internacional de Xadrez.

Arquivo pessoal

Convite para Blumenau

Ao retornar para o Rio, Regina continuou disputando os campeonatos e conseguiu uma vaga para disputar a sua primeira Olimpíada de Xadrez, em 1982, na Suíça. Na competição, ela reencontrou uma enxadrista de Blumenau que havia conhecido no campeonato em Laguna. A blumenauense recomendou o nome de Regina aos dirigentes do município para que ela se tornasse instrutora.

Na volta da Olimpíada, ela descobriu que tinha uma requisição de passagem aérea para Santa Catarina, para conhecer Blumenau. “Quando eu cheguei e passei pela Beira Rio, parecia que eu ainda estava na Suíça. Fui muito bem recebida”, recorda a profissional.

Novamente ela recebeu uma proposta para ser instrutora de xadrez, em troca de representar a cidade nos campeonatos. Com o objetivo de ampliar os horizontes, Regina deixou a faculdade de Letras e a família do Rio de Janeiro e se mudou para Blumenau.

Ela chegou em 1983, ano da grande enchente e, por conta disso, os Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) foram cancelados no estado. No ano seguinte, a enxadrista se questionou se continuava ou não no município, mas decidiu permanecer e representar o município nos Jasc, que naquele ano foi realizado em Concórdia.

Fesporte/Divulgação

Medalha no Jasc

Regina já participou de 33 edições do Jasc onde colecionou 19 títulos. O mais recente foi na edição de 2024, que ocorreu novamente em Concórdia, onde ela recebeu a medalha de prata por Blumenau.

“Foi emocionante, pois 40 anos atrás eu estava em Concórdia representando a cidade e tentando mostrar o porquê me trouxeram para cá. Ver a evolução que o xadrez teve em Santa Catarina, pensar que naquela época a gente contava nas mãos, eram quatro equipes, e hoje ver o que o xadrez feminino representa. Além de ter reencontrado pessoas que estavam naquela época. Eu queria muito ganhar uma medalha, só que é muito difícil hoje em dia, pois o nível é alto, muitas jogadoras fortes, então foi emocionante, passou um filme na hora”, diz a medalhista.

Fesporte/Divulgação

Raízes em Blumenau

Em Blumenau ela também recebeu o primeiro patrocínio de uma empresa, a Cremer, e teve a oportunidade de disputar mais competições. Também foi aqui no município que ela decidiu estudar Educação Física, na Furb, e se tornou professora.

Além de representar Blumenau no Jasc, Regina também dá aulas na escola Bom Jesus, onde atua há 35 anos. Ela destaca que a escolinha de xadrez do colégio já revelou grandes nomes da modalidade. No currículo, Regina carrega a participação em dez Olimpíadas de Xadrez, sendo a última em 2010.

Ao longo da trajetória, Regina recebeu convites para morar em outros lugares, inclusive nos Estados Unidos, mas a enxadrista confessa que recusou a oferta, pois sempre trabalhou em prol da comunidade. “Não entrava na minha cabeça eu sair daqui e fazer lá o que eu faço aqui, para uma outra comunidade. Por isso não fiz essa escolha e quis ficar aqui”, revela.

Arquivo pessoal

A profissional reconhece que foi acolhida por Blumenau, e quis retribuir isso ensinando o xadrez para outras crianças e jovens daqui.

“Quando eu vi a cidade se unir para se reconstruir depois da enchente, aquilo me impressionou. A história do Clube de Xadrez de Blumenau também é bonita, pois os jogadores se reuniram para fundar o clube e juntos compraram a sede. As pessoas se reúnem por um objetivo. Se eu tivesse pensado só em mim, poderia ter ido para outro país, mas a minha história é social, não fazia sentido pensar só em mim e deixar o coletivo de lado”, comenta.

Hoje ela é presidente do Clube de Xadrez de Blumenau, que trabalha em parceria com o Poder Público, onde são treinados os atletas de base.

Desde os anos 2000 ela se dedica ao ensino do xadrez, inclusive o clube tem parcerias para realizar eventos e promover o esporte na cidade.

Novos sonhos

Regina confessa que nos próximos anos pensa em jogar o campeonato dos veteranos, além de jogar o mundial para atletas com mais de 60 anos. Além disso, ela começou a desbravar novos esportes e neste ano começou a competir no Tênis de Mesa.

Ela também busca incentivar as pessoas mais velhas e os idosos a participarem do esporte. Quando a equipe de Blumenau retornou para cidade após a 63ª edição do Jasc, a delegação campeã percorreu o Centro da cidade. Regina conta que viu diversas pessoas de idade e que fez questão de mostrar que eles também podem estar ali no próximo ano.

Ela acredita que a sua história pode servir de exemplo para outras pessoas que querem praticar alguma atividade, mostrando que não há limite de idade.

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