Quem era Willy Wendelich, personagem que o Garcia perdeu em um acidente

Morador da Nova Rússia era conhecido pela simpatia com que atendia os visitantes no café colonial, na Nova Rússia

A morte de Willy Wendelich, morador emblemático da Nova Rússia, pegou a comunidade do Garcia de surpresa nesta segunda-feira, 11. Ainda não se sabe ao certo o que levou o Fiat Uno que ele dirigia a cair no ribeirão Garcia.

A dúvida paira sobre as conversas no bairro, que aprendeu a admirar a simpatia do comerciante, um verdadeiro personagem da região. O velório de Willy ocorre na capela da rua Emílio Tallmann, no Progresso. O sepultamento está marcado para 16h desta terça-feira, 12. Willy tinha dois filhos, Rafael e Ricardo, e era casado com Irene.

Luiz Juvenal Leite chegou ao local logo após a tragédia e foi a primeira pessoa a entrar na água para tentar socorrer o amigo.

“Quando cheguei na ponte, vi que um ônibus estava parado na cabeceira. Achei que ele tinha enguiçado, foi aí que vi o carro na água. Logo desci e entrei para tentar virar o carro, mas sozinho não consegui”, relata Lula, como é conhecido pela comunidade.

O ônibus que estava no local transportava mulheres e crianças e somente dez minutos após o acidente outros homens chegaram ao local. Os funcionários da Conservas Vivi estavam passando pela região e ajudaram Lula a virar o carro. Porém, já era tarde demais.

Ironicamente, o proprietário da empresa de alimentos morreu no mesmo local há pouco tempo.

“Talvez seja um pouco de responsabilidade do poder público. Mesmo que o Willy tenha sofrido um mal súbito, as pontes não têm nenhuma proteção”, reclama Lula.

Segundo o morador, em um trajeto de cerca de 300 metros, quatro pessoas morreram em acidentes recentemente. Por ser um local repleto de recantos naturais e pousadas, muitos turistas visitam a região.

“Lutamos muito para ter mais proteção nas pontes e também nas vias. A ribanceira não é muito alta, porém o carro cai direto dentro do rio. Eu já vi o ônibus da Nova Rússia quase cair na água, mas as árvores seguraram ele. Por sorte, só o motorista estava dentro dele”, relata.

Corpo de Bombeiros/Divulgação

Lula e Willy trabalharam juntos por muitos anos e faziam companhia um ao outro a caminho da Coteminas em suas bicicletas. Atualmente, moravam a cerca de quatro quilômetros um do outro. Willy com o seu rancho onde servia o café colonial e Lula, com o Recanto Paraíso do Miguel.

Preocupação com a comunidade

O amigo destaca a preocupação de Willy com a comunidade e com o meio ambiente. Além de colaborar na coleta do lixo reciclável, foi ele quem iniciou as atividades de limpeza do rio da Nova Rússia no início dos anos 2000.

“O que hoje é feito no Progresso foi o Willy quem começou. Eles limpavam quase oito quilômetros de extensão do rio”, conta Lula.

Além de receptivo no comércio, Willy também era um artesão talentoso. Participou de três feiras de artesanato da Nova Rússia para expor seu trabalho.

“As primeiras mesas que eu tive no meu comércio foi o Willy quem fez. Ele gostava muito de trabalhar com a madeira. E não tinha inimigos. A convivência dele com todos era muito tranquila”, relembra.

 

Moradora da região, Miriam Rautenberg cresceu na companhia de Willy, grande amigo do pai dela. Após a morte de alguém tão querido para a família, Miriam se preocupou mais ainda com a condição das estradas e, principalmente, das pontes da Nova Rússia.

“É puro descaso. A gente que mora aqui acha uma vergonha. Minha filha vai para a escola e passa com o ônibus escolar naquela ponte. E se algo acontecer?”, questiona.

Amigo dos ciclistas

A região da Nova Rússia é um dos trajetos favoritos de muitos ciclistas de Blumenau e região. Marlon Gerhard Bandler, dono de uma loja de bicicletas, faz o passeio há mais de 25 anos e organiza grupos para visitar a região.

“Eu frequentava o antigo rancho, que foi destruído, e depois continuei visitando ele mais para cima no novo lugar. Fiz muito pedal para ajudar ele, pois sabia que ele tinha passado necessidade. Chamava 20 ou 30 ciclistas e levava lá para comer cuca e tomar café”, comenta.

A destruição do Rancho do Willy

Em outubro de 2015, o Rancho do Willy tradicional foi destruído por um grande deslizamento de terra. Como o barro mudou o curso do ribeirão Garcia e inviabilizou a propriedade, o café colonial mudou-se para mais adiante, no caminho das antigas Minas de Prata. O que restou do antigo local continua parte da vista da Nova Rússia.

Imagem de outubro de 2015 após o deslizamento de terra. Foto: Jaime Batista da Silva/Especial

Marlon lembra do carisma de Willy com muito carinho. O comerciante inclusive já participou de alguns passeios de bicicleta com o grupo. Porém, segundo ele, nos últimos anos Willy trocou o pedal pela caminhada.

“Ele estava sempre descalço. Gostava muito da galera. Era muito falador, quem fazia tudo era a dona Irene”, brinca Marlon, lembrando da esposa de Willy, a responsável pelas delícias do café colonial.

Entretanto, ele também se preocupa com a situação da ponte. Segundo ele, o grupo já presenciou ciclistas caírem no ribeirão.

“Ela é muito mal projetada, não tem proteção nenhuma. É apenas um toco de madeira com uma tábua em cima”, critica Marlon.

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