Quem foi Franz Baumgart, fundador da Banda Municipal de Blumenau e professor de música de gerações
Capa: Ensaio da Banda Municipal de Blumenau, fundada por Franz Baumgart em 1962. Rikobert Döring está na extrema direita do grupo.
A primeira vez que lemos o nome Franz Baumgart foi ao buscarmos mais informações sobre a Banda Municipal de Blumenau, quando esta comemorava seu 57° Aniversário no Teatro Carlos Gomes, em 2016. Foi fundada na gestão do ex-prefeito Hercílio Deeke.
A música na região
Desde as primeiras décadas de fundação de Blumenau, existiam inúmeros grupos musicais, corais e bandas, resultados de iniciativas de grupos de amigos, ou mesmo, de pessoas isoladas que a partir da música, tinham seus momentos de lazer e cultura, cultura esta oriunda da Alemanha, de onde muitas famílias vieram para desenvolver a cidade de Blumenau e região da antiga Colônia Blumenau (Médio e Alto Vale do Itajaí).
Mesmo com toda essa movimentação musical no seio das famílias, sociedades e igrejas, Blumenau levou mais de 100 anos para possuir uma banda municipal, iniciativa materializada por Franz Baumgart.
Quando fomos pesquisar a Banda Municipal de Blumenau em 2016 e, em 2023, a biografia de Rikobert Döring, nos deparamos com o nome de Franz Baumgart e sua contribuição musical para essa história. Foi contemporâneo da do Maestro Heinz Geyer.
Encontramos a dimensão de seus feitos em um artigo assinado pela pesquisadora Edith Kormann, este publicado na Revista Blumenau em Cadernos, em 1984. O conteúdo apresentado, fez-nos querer buscar conhecer um pouco mais sobre esse berlinense que escolheu Blumenau para fazer o seu trabalho e ensinar música. Vamos conhecer um pouco sobre o professor do músico, fundador da Banda Cavalinho Branco – Rikobert Döring, Franz Baumgart.
Artigo de Edith Kormann
(Há pontos que não estão claros e não estão corretos)
Francisco (Franz/Chico) Baumgart
Francisco Baumgart, Chico Baumgart ou ainda, Franz Baumgart, como era mais conhecido, nasceu em 6 de novembro de 1897. Não temos total certeza, se realmente nasceu na Alemanha, como registrado no artigo de Kormann, em função de conflito de datas e de informações. Temos o registro da arte cemiterial, do local onde foi sepultado. Franz foi filho de Emil Ignacio Keller Baumgartner e de Pauline Wanka. Os nomes da família foram muito modificados ao longo das gerações e até mesmo, entre membros da mesma família. É impressionante. Isso prejudicou um pouco essa pesquisa.
Informações apontadas pela pesquisadora Edith Kormann demonstram que Franz era migrante alemão, bem como seus pais, com idades bem específicas. Ao averiguarmos as datas, não apresentam coerência, uma vez que de acordo com suas informações da pesquisadora, ele teria nascido em Berlin, em 1877, e migrara para o Brasil em 1904 com 16 anos, e ainda, fora professor de Rikobert Döring, fundador da Banda Municipal de Blumenau, em 1962. Seria muito idoso. Não tem lógica. Ingressamos na esfera de informações da genealogia para encontrar documentos e registros e concluímos que Franz Baumgart pode até ser catarinense, nascido no finalzinho do século XIX. Seu pai Emil, pode ter nascido em Itajaí em 4 de agosto de 1872 e se casou com Pauline Wanka em 2 de agosto de de 1902, na cidade de Brusque. Eram de família católica.
De acordo com documentos de Franz, ele nasceu em 1897, antes do casamento de Emil e Pauline, seus prováveis pais. Seu nome de família não é Baumgaertner, como Emil, mas sim, Baumgart. Ao averiguarmos seu documento de óbito, a informação é específica ao afirmar que Franz Baumgart, de fato era imigrante alemão. Essa lacuna ficará como um desafio, aguardando esclarecimentos. Como Franz Baumgart teria nascido 5 anos antes do casamento daqueles que são apontados como seus pais? Viveu em Blumenau com sua esposa Anna Koglin, nascida em Hammonia, em 21 de março de 1898, desde a década de 1920. Informações retiradas do Cemitério Ecumênico Rua João Pessoa – Blumenau, onde Franz e Anna foram sepultados.
Franz teve 7 irmãos: Mathilde, Antonio Baumgaertner, Anna, Osvaldo Baumgärtner, Eugenio Germano Baumgärtner e João Luis Baumgärtner.
A pesquisadora Edtih Kormann também menciona um irmão que retornou para Alemanha, que se chamava Otto e que migrou para o Brasil, com Franz. De acordo com Kormann, Franz migrou para o Brasil, com seus pais e seu irmão Otto e desembarcou no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1904. A família viajou da Alemanha para o Brasil no Vapor Argentina e no Rio, como era costume, foram encaminhados para a Ilha das Flores.
Conhecendo o cenário da Ilha das Flores, que de acordo com o Site Brasiliana Fotográfica, está localizada no litoral da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Inicialmente era um local de isolamentos, prisões e quarentenas, usada tanto como hospedaria para imigrantes em quarentena epidemiológica, quanto de cárcere militar para presos políticos em 1922 – onde estiveram os revoltosos do Levante do Forte de Copacabana e os “estrangeiros indesejáveis” a partir de 1942 – no período de Nacionalismo. Do local eram encaminhados para os “campos de concentração”, “estrangeiros perigosos” e pessoas que faziam oposição ao governo; além de imigrantes enfermos.
A Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores foi desativada na década de 1960. O presídio não. Servindo também como espaço para o encarceramento de presos políticos das esquerdas armadas na ditadura cívico-militar do pós-1964. O lugar por quase 100 anos tinha seu uso alinhado ao isolamento relacionado a questões “sanitárias”, físicas e políticas.
As hospedarias de imigrantes foram estruturas especificamente instituídas a partir da segunda metade do século XIX para receber migrantes estrangeiros recém-chegados ao Brasil, os quais seriam posteriormente destinados ao trabalho rural no interior do país, ou mesmo ao trabalhos urbanos em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Aqueles imigrantes que chegassem doentes, o que era comum, permaneciam em quarentena antes de regularizarem suas entradas no país.
De acordo com Kormann, passado um ano, o suposto irmão de Franz, Otto, retorna para a Alemanha. Franz e seus pais mudam-se para Santa Catarina, Anitápolis. Confuso, pois a mãe de Franz é brasileira e se casou com seu pai em 1902, de acordo com documentação que encontramos. Ou seria a segunda esposa de seu pai que o mesmo adotou com mãe?
De Acordo com Edith Kormann, após dois anos da chegada a Anitápolis, mudam-se para para Hammonia (Ibirama), Alto Vale do Itajaí, onde adquiriram terras em Rio Rafael. A família trabalhou na lavoura e com fabrico de tamancos.
“Rio Rafael, na época, era um lugar tão desolado que os colonos que lá se fixaram o chamavam de “Neu Elend” (Nova Miséria).” Kormann
Em Hammonia, Franz participou do Conjunto Musical Sperber e Seltmann. No tempo em que residia na comunidade do Ribeirão Ferro, Franz, fundou uma banda e um grupo coral, conhecido como Sociedade de cantores. A banda abrilhantava Schützenfest (festa de atiradores), casamentos e outras atividades festivas. Franz integrava do conjunto musical que tocou na inauguração do Salão dos Atiradores de Dona Emma.
Ainda em Ibirama, Franz se casou com Anna Koglin em 11 de dezembro de 1918, com somente 20 anos. Anna era natural de Rio Sellin (Ibirama) e nascera em 24 de março de 1898. O casal teve quatro filhos: Edith, Marcolino Alfredo, Werner e Ilse, que não residiu em Blumenau, pois faleceu em Ribeirão Ferro – Hammonia.
Franz Baumgart foi professor de uma escola particular na localidade de Ribeirão Ferro. Na época, os candidatos ao cargo de professor tinham que se submeter a exame, principalmente de língua portuguesa, o que foi um dificultador para Franz que somente falava alemão. Não conseguiu permanecer no cargo. Prestou exame, em Blumenau, com o professor nascido em Hamburg, Carlos Techentin, então diretor do Grupo Escolar Luiz Delfino.
Quando Franz Baumgart tinha 28 anos, 8 anos de casado, em 1925, se mudou com sua família para a sede da colônia, Blumenau. Residiram no bairro da Velha, onde ele, de fabricante de tamancos passou a ser sapateiro, intercalando essa atividade com a de músico. Não demorou muito foi contratado na Empresa Industrial Garcia, onde também foi convidado para dirigir a banda da empresa fundada por Heinrich Schreiber.
Franz formou também um conjunto com Curt Winkler e Eugen Seelbach (este foi um dos fundadores do Coro Masculino Liederkranz em 1909). O conjunto tocava no Theater Frohsinn, e quando este foi demolido, foram tocar no Hotel Seifert (local do Edifício Catarinense – tem um hotel com esse nome, em Berlin).
Um pouco antes da 2ª Guerra Mundial, Franz foi proprietário de um bar na Rua São Paulo, quando foi convidado por Gustav Fröhlich auxiliá-lo em uma banda.
Os ensaios da banda eram realizados no bar, o que não durou muito, diante dos reflexos do Nacionalismo e do rompimento de relações entre Brasil e Alemanha, fazendo com Franz fechasse o bar. Foi um tempo duro, pois não possuía ganho, quando surgiu o convite de Afonso Moreira, para tocar no “Jazz Garcia”.
Nesse tempo de guerra, os alemães necessitavam possuir salvo-conduto para se apresentar em outras cidades. Franz não o tinha. Tal documento foi providenciado por Afonso Moreira e assim, Franz pode trabalhar e sustentar a família, com música, até 1945, final da guerra, ocasião em que Afonso Moreira se mudou para o Rio de Janeiro com objetivo de ganhar mais com seu trabalho.
De 1945 até 1946, Franz tocou no conjunto de Carl Zachner, até que sofreu um acidente no palco e ficou impossibilitado de tocar bandoneon. Franz tocou violino com Manoel C. S. Krieger, e trombone com com Eugen Selbach (Fundador do Coro Masculino Liederkranz). Também participou do grupo de músicos regidos pelo Maestro Heinz Gayer na Orquestra da Sociedade Dramático- Musical Carlos Gomes.
Franz Baumgart também foi professor de música no Conservatório de Música Curt Hering, onde estudou o jovem de 16 anos, Rikobert Döring, como já mencionado, também aluno de Franz Baumgart.
Em 23 de janeiro de 1953, Franz foi indicado para ser dirigente técnico para canto, música e teatro da Recreativa e Cultural Lyra. Quando Franz saiu do conservatório, fundou o Studio Musical Universal no mesmo prédio da Casa Willy Sievert. Também formou o Conjunto Musical do Studio Universal. A primeira apresentação do conjunto aconteceu em 8 de janeiro de 1955 no baile da Sociedade Recreativa e Cultural Lyra – salão Paulo Fischer. No conjunto musical participaram, Rikobert Döring, Domenico Junkes, Heinrich Schlingmann, Alfred Baumgart (filho de Franz), Claudionor Lorenzo, A. Karsten e Kaltenbach.
O Studio Musical Universal funcionava em uma casa localizada na Rua Paraíba, onde Franz reunia amigos para assistirem às apresentações musicais. O Conjunto do Studio Musical Universal e a Orquestra da Juventude regidos por Baumgart se apresentaram na cidade de Blumenau e adjacências.
Também participaram do Conjunto Studio Musical Universal, Penzlien, Struck e Waldemar Felski. Franz também era compositor e uma de suas composições “Em Forma” fez parte do disco “Antigamente era assim .. . “.
Em 1962, Franz Baumgart foi até o prefeito Hercílio Deeke com a proposta de criar a Banda Municipal de Blumenau, que recebeu total apoio e também foi convidado a formar e dirigi-la.
Francisco – Franz/Chico – Baumgart foi músico, regente, improvisador, desprovido de formação acadêmica, que ensinou tudo o que sabia para formar bandas musicais e músicos. De acordo com Edith Kormann: “O músico do povo.”
“…com o seu surrado terno preto, a gravata borboleta mal afixada, que deixava de comer para comprar papel pautado para escrever músicas para seus alunos, amigos músicos e dirigentes de “Musikkapellen”, se transfigurava quando regia, e quando a frente da Banda Musical, desfilava com um garbo indescritível, alegrando o Vale do Itajaí com suas apresentações, faleceu pobre, sem alarde, e sua passagem pelo nosso Verde Vale foi brilhante como se pode constatar pelo número de músicas que passaram pelas suas mãos. Temperamental como todo artista, Chico, como alguns o chamavam carinhosamente, foi o músico do povo!” Kormann
Franz Baumgart, faleceu em 28 de agosto de 1977 e está sepultado, junto de sua esposa Anna, no Cemitério Ecumênico – Velha, rua João Pessoa, 2039, Blumenau.
Em seu documento de óbito há as seguintes informações importantes:
– Casou-se em Ibirama;
– Faleceu em 28 de agosto de 1977, no Hospital Santa Isabel – Blumenau SC;
– Natural da Alemanha;
– Seu pai era alemão e sua mãe catarinense(Pauline poderia ser sua madrasta?);
– Filhos: Edith, Marcolino Alfredo e Werner (Ilse havia falecido em Hammonia);
– Não era eleitor, portanto não possuía a nacionalidade brasileira.
Conversando sobre a música de Blumenau em 2020
Fomos convidada a bater um papo com a musicista Carla Simas da Banda Municipal de Blumenau, fundada por Franz Baumgart, em 22 de julho de 2020. A pauta foi exatamente, falar sobre a música de Blumenau.
Que tipo de música é tocada em Blumenau? Qual seria o perfil da música de Blumenau, diferentemente de qualquer outra cidade brasileira, que como outras tantas do Vale do Itajaí, foi fundada por imigrantes alemães e também italianos.
Qual foi a herança dos pioneiros alemães de todos os recortes históricos?
Compartilhamos.
Um registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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Leituras Complementares – para ler, Clicar sobre o título escolhido:
- Banda Municipal de Blumenau – Um pouco de História e comentário sobre o samba
- Banda Municipal de Blumenau – Um pouco de História e comentário sobre o samba
- Biografia – Maestro Heinz Heinrich Geyer
- Rikobert Döring e o Cavalinho Branco – Banda Cavalinho – Momentos 50 Anos e um pouco de História – 2023
- Rudolf Damm – Jornalista, poeta, compositor, cantor e tradutor – Professor da Neu Schule
- 110 Anos Coro Masculino Liederkranz – Abertura da Semana do Imigração Alemã – Momentos
Referências
- DEEKE, José. A Colônia Hammonia 1879 – 1922 – Dia 8 de novembro, 25 anos de fundação – Blumenau em Cadernos, Tomo XXIX – Nov/Dez, N°11/12 – Blumenau. 1988.
- GERLACH, Gilberto S.; KADLETZ, Bruno K.; MARCHETTI, Marcondes. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. 1. ed. São José: Clube de cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019.
- KORMANN, Edith. Franz Baumgart, O Músico do Povo. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo XXV – Edith Kormann . Outubro de 1984. N° 10.
- ODEBRECHT, Rolf. Cartas de Família – Ensaio Biográfico de Emil Odebrecht e Ensaio Biográfico de seu Filho Oswald Odebrecht Sênior. Rolf Odebrecht, Renate Sybille Odebrecht. 576 p.: Blumenau: Edição do autor, 2006
- SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p.
- Brasiliana Fotográfica. Ilha das Flores. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/visualizar-grupo-trabalho/250 . Acesso em: 14 de novembro de 2023 – 23h30.