Quando a Colônia Blumenau foi fundada como empresa agrícola de propriedade de Hermann Blumenau, na metade do século XIX, não possuía uma bandeira (em alemão – flagge).
Formalmente, a fundação aconteceu no momento da chegada dos 17 imigrantes alemães pelo rio Itajaí-Açu, na Foz do Ribeirão da Velha, em setembro de 1850.
A bandeira foi e continua sendo um símbolo muito importante para a cultura alemã, e esteve presente nas primeiras nucleações urbanas fundadas por imigrantes alemães na região do Vale do Itajaí, cuja característica de linha histórica das artes adotadas reporta à Idade Média, onde os brasões e bandeiras possuíam importância, entre outras coisas, por distinguir as famílias e os exércitos dentro da estrutura social dos povos que viviam naquela região – no âmbito da estrutura social do feudalismo.
Curiosamente, um leitor nosso – Ivan Castellani Tottene – perguntou-nos que bandeira era aquela hasteada na Neue Deutscheschule – Nova Escola Alemã, fundada em 1889 e localizada no Stadtplatz da Colônia Blumenau, no Palmenalle Strassen, Boulevard Hemann Wendeburg – atual Rua das Palmeiras – Centro da Colônia Blumenau, no século XIX.
O edifício e as pessoas foram fotografados por Alwin Seelinger. A foto foi feita antes de 1900, pois foi editada no Der Urwaldsbote: Kalender em 1900 para o livro de comemoração dos 50 anos da Colônia Blumenau.
Observando outras fotografias de edificações históricas da Colônia Blumenau, é possível ver a mesma bandeira hasteada na parte frontal delas.
Para compreender mais sobre as bandeiras usadas em Blumenau.
A atual bandeira da Alemanha, com as cores preto, vermelho e dourado/amarelo, como na imagem de 1832, anterior, faz parte da história da Alemanha há mais de mil anos, e sempre esteve presente em eventos históricos importantes na região, unificada em forma de nação somente em 1871, quando a Colônia Blumenau já contava mais de 20 anos de fundação.
De acordo com narrativas regionais, as antigas cores alemãs foram usadas durante o tempo do Imperador Barbarossa. Textos empíricos relatam que para a coroação do Imperador alemão em Frankfurt am Main, em 1152, o caminho da Catedral até Römer – antigo pátio Imperial e atual Prefeitura, foram cobertos com tapetes tecidos nas cores preto, vermelho e dourado, sob ordens dos Hohenstaufen.
Após a solenidade de coroação, o tecido de três cores foi cortado em pedaços pequenos e distribuído entre as pessoas como lembrança do momento. Elas amarraram as improvisadas bandeiras nas partes mais altas que puderam, para exaltar e desejar vida longa ao imperador recém-coroado.
Em 1184, as três cores: preto, vermelho e dourado foram reconhecidas como símbolo original do alemão, uma vez que ainda não existia a nação no Reischstag am Main, e assim foi preservado até 1806, quando Napoleão I acabou com o antigo Império Alemão (HRRDN). Desde o Imperador Barbarossa, todos os imperadores foram coroados com um manto nas cores preto, vermelho e dourado. Essa tradição durou até 1806, e o último imperador a segui-la foi Franz II, retratado em uma pintura, o qual não demorou muito para se tornar o imperador apenas da Áustria – o conhecido Franz I.
Na Idade Média, o Reichssturmfahne, ou o Reichsfahne, era uma faixa dourada com uma águia negra e a presença de um detalhe vermelho. Em 1336, o Imperador concedeu a Württemberg o direito de usar o Reichssturmfahne no Exército, em que historicamente podem ser encontradas as cores preto, vermelho e dourado.
Há narrativas históricas apresentando essas cores em vários episódios ocorridos na região da atual Alemanha.
Por ocasião do quarto aniversário da Batalha das Nações, perto de Leipzig, em 18 de outubro de 1817, cerca de 500 estudantes e alguns professores de toda a Confederação Alemã passaram a usar o lema “Somente a salvação é total” com a bandeira preta, vermelha e dourada (ouro eram o ramo de carvalho e as franjas) em Wartburg, perto de Eisenach (Festival de Wartburg), para demonstrar a liberdade e um império unificado.
Entre os dias 27 e 30 de maio de 1832, 30.000 manifestantes caminharam até Hambacherfest, reivindicando a unificação, com o objetivo de formar uma nação democrática e, pela primeira vez, carregaram consigo uma bandeira preta, vermelha e dourada. Havia uma inscrição na parte vermelha do meio que dizia “Renascimento da Alemanha”, deixando claro a intenção de criar a nação da Alemanha.
Em 18 de maio de 1848, os membros da primeira Deutschen Nationalversammlung – Assembleia Nacional Alemã, mudaram-se para o Paulskirche, em Frankfurt am Main. Em 13 de novembro de 1848, as cores preto, vermelho e dourado foram anunciadas no Reichsgesetzblatt como a bandeira alemã.
Debates sobre a ordem correta das cores preto, vermelho e dourado acontecem até hoje. Afirma-se que a ordem deve observar a natureza e a energia: preta, a cor do submundo, passado e sofrimento, localizada na parte inferior; e o amarelo dourado como a cor do Sol, da luz, teriam de ser a parte superior. Algumas imagens de representações mais antigas da bandeira no Hambacherfest (selo acima) apresentam as cores invertidas. Em imagens mais recentes, surgem o preto, o vermelho e o dourado na ordem que é usada atualmente.
Entre 1849 e 1852, as cores preto, vermelho e dourado foram usadas também na bandeira da Marinha Imperial Alemã. Após a revolução fracassada de 1848, o preto, o vermelho e o dourado passaram a ser símbolo do desejo de criar a nação da Alemanha unida, mesmo durante o conflito entre a Áustria e a Prússia pelo domínio da Alemanha. Ou seja, as três cores simbolizavam a nação unida, incluindo o território da Áustria. Nesse período acontecia a imigração na região do Vale do Itajaí, de maneira organizada, sob a coordenação de Hermann Blumenau.
Após a Revolução de novembro de 1918, em 1919 – a bandeira com as cores preto, vermelho e dourado se tornou a bandeira nacional oficial da Alemanha.
Por que a bandeira com as cores preto, branco e vermelho, como usada em Blumenau?
A bandeira com essas cores é exatamente a bandeira que está hasteada nas fotografias das edificações da Colônia Blumenau, no final do século XIX e início do século XX, postadas no início deste artigo. A Colônia Blumenau não possuía uma bandeira oficial, e as pessoas hasteavam a bandeira alemã com as cores preto, branco e vermelho.
A bandeira com a combinação de cores preto, branco e vermelho foi criada em 1866 e representava a bandeira da Confederação da Alemanha do Norte e do Império Alemão (Império de 1871 a 1919).
No Império, as cores preto, branco e vermelho tornaram-se cores nacionais amplamente aceitas. A partir de 1892, tornou-se a bandeira nacional oficial da Alemanha unificada.
Isso aconteceu porque, quando foram criar a bandeira após a fundação da Confederação da Alemanha do Norte, em 1866, Otto von Bismarck disse:
“Pelo meu bem, o verde e o amarelo e o prazer de dançar ou a bandeira de Mecklemburgo-Strelitz. Somente a tropa da Prússia (rei Wilhelm I) não quer saber de preto-vermelho-amarelo.“
Adotaram então a bandeira com as cores preto, branco e vermelho – e diziam que são as cores que representam de fato a vida, os primeiros desenhos rupestres nos períodos neolíticos e paleolíticos de seus ancestrais e também de todo o mundo, pois são feitos de giz, ocre e fuligem. As três cores juntas irradiam grande força e vitalidade.
A união das cores da Prússia – preto e branco, e das cidades-estados do Norte da Alemanha – branco e vermelho – como preto, branco e vermelho, explicam a bandeira.
Alguns historiadores afirmam que os criadores da bandeira também se inspiraram na história cristã e prussiana antiga, descrita em A Ordem dos Irmãos da Casa Alemã de Santa Maria em Jerusalém, abreviada “Ordem Alemã”. Depois de Johanniter e Templários, a Ordem Alemã foi a terceira maior no tempo das Cruzadas. Seguindo o exemplo dos Templários, usavam o jaleco branco, e a cruz vermelha substituiu a preta. As cores da Prússia também eram preto e branco.
Lembramos que a Prússia havia encampado, territorialmente, a Pomerânia, e um grande número de prussianos/pomeranos imigraram para a Colônia Blumenau, antes e depois da data de unificação alemã – 1871. Portanto, aqueles que vieram depois utilizavam a bandeira preta, branca e vermelha, conforme visto nas fotos de edificações importantes na sede da Colônia Blumenau.
Alguns historiadores difundem a versão de que o espírito “antidemocrático” de Otto von Bismarck foi o motivo de ele não aceitar a bandeira com as cores preto, vermelho e dourado.
Não foi bem assim. Durante o ano da Revolução de 1848 e na guerra alemã de 1866, inimigos da Prússia lutaram sob as cores da outra bandeira, e isso não foi bem aceito – tornar a bandeira de guerra dos oponentes da Prússia, a bandeira da Confederação da Alemanha do Norte.
Na Guerra Franco-Prussiana, os soldados alemães lutaram sob a nova bandeira e a içaram, entre outras situações, em 19 de janeiro de 1871, no conquistado Fort Vanves, em frente a Paris. Após a proclamação do Reich alemão, tornou-se a bandeira do Reich e permaneceu bandeira da Alemanha até 1919.
A população do Império identificou-se com as cores e as cantou em numerosas canções patrióticas, visto que o antigo desejo de um império unificado havia finalmente se concretizado, também na Colônia Blumenau. A aquisição de colônias sempre foi simbolizada pela elevação da bandeira imperial e está documentada em inúmeras pinturas e fotos como essas da Colônia Blumenau, mesmo que aparentemente invertidas, sendo que nesse tempo ainda não possuía a sua bandeira e, territorialmente, abrangia o Médio Vale do Itajaí e do Alto Vale do Itajaí.
A bandeira municipal de Blumenau de fato, somente foi instituída pela Lei no 1.287, de 20 de novembro de 1964 que, juntamente com o brasão municipal adotado pela Lei nº 19, de 1º de junho de 1948, passou a ser um dos símbolos do Município.
A bandeira consiste em campo de quatro listras vermelhas e três brancas, no sentido horizontal, tendo ao centro, sobreposto a uma esfera amarela, o brasão do Município de Blumenau, em suas cores oficiais.
O significado das cores vermelho, branco e dourado
São as cores das fitas e laços com que, em 1865, as mulheres blumenauenses enfeitaram a bandeira imperial que os 56 voluntários da Pátria, levaram para o Paraguai – defendendo as cores da bandeira do Brasil.
O brasão ao meio do círculo amarelo compõe-se de dois tenentes, como são chamadas as figuras que suportam o escudo, representando o fundador do município – Hermann Bruno Otto Blumenau e um lenhador representando os pioneiros.
O escudo é dividido em seis partes – representando os Estados alemães que trouxeram um maior contingente de emigrações, com o acréscimo de um escudete no centro, que representa o Cruzeiro do Sul e um campo de flores à margem de um rio – lembrando o rio Itajaí-Açu.
Abaixo do escudo, há uma faixa em azul com a inscrição: Pro Sancta Catharina Et Brasilia (“Por Santa Catarina e Pelo Brasil”). Atrás da faixa, uma roda dentada de engrenagem de ferro, representa a indústria blumenauense – responsável, junto com a de Joinville, pelo início da industrialização do estado de Santa Catarina.
Brasão de Blumenau
O brasão, de uma maneira abrangente, tem sua origem na Europa medieval. É uma composição feita a partir de um desenho que segue critérios determinados, obedecendo a regras da heráldica. Essa composição em forma de desenho tem o objetivo de identificar grupos familiares, clãs, corporações, cidades, estados, países, regiões, etc.
A composição de um brasão é assentada em uma forma que lembra um escudo – arma de defesa dos cavalheiros medievais. Pode também ser representado em bandeiras, vestimentas, edificações, objetos pessoais.
Com o declínio do feudalismo na Europa – Ascensão da burguesia e declínio da aristocracia e do clero, o brasão perdeu um pouco de sua importância na sequência histórica, mas não na Alemanha, de onde vieram os pioneiros para a região de Blumenau. Para os alemães, a Idade Média e seu estilo, hábitos e costumes sempre foram considerados características do estilo nacional alemão.
Além disso, no século XX, novamente houve uma busca dos símbolos do brasão, como aconteceu na cidade de Blumenau, para identificar, de maneira cívica, municípios, estados e países. Essa prática nunca foi interrompida em regiões da Alemanha, no âmbito de sua sequência histórica.
O brasão de Blumenau foi idealizado no ano de 1936, por Affonso d’Escragnolle Taunay – biógrafo, historiador, romancista, heráldico e professor nascido em nossa Senhora do Desterro – capital da Província de Santa Catarina.
Na época, o brasão criado por Affonso d’Escragnolle Taunay não pôde ser usado publicamente por causa da Constituição Federal de 1937 – período crítico para a região, devido ao Nacionalismo impetrado no Vale do Itajaí. A Constituição Federal proibia o uso dos brasões e bandeiras estaduais e municipais.
O brasão de Blumenau somente foi instituído em 1948, pela Lei Municipal nº 19, do dia 21 de junho. Passou, então, a ser usado de maneira oficial no timbre de documentos oficiais da Prefeitura Municipal de Blumenau e da Câmara Municipal, igualmente. Também está localizado na bandeira oficial de Blumenau, compondo com as faixas alternadas vermelho e branco.
Isso aconteceu no mandato do prefeito Frederico Guilherme Buch Jr.
Um registro para a História.
Leituras Complementares – Clicar sobre o título escolhido:
- Voluntários da Pátria – Imigrantes alemães da Colônia Blumenau na Guerra do Paraguai
- Correspondência Oficial 1865 – Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai
- Correspondência Oficial – Colônia Blumenau 1
- Monumento dos Voluntários da Pátria – Situado na Praça Hercílio Luz – Blumenau
- Hermann Christian Rüdiger – Um Pioneiro do Vale do Itajaí
- Kloster Lorch – Roteiro Alemanha 2016
- História – Prússia e Alemanha – Com Ecos no Vale do Itajaí
- História…Hino da Prússia e um pouco de sua História
- Museu Brandenburg – Prussia
- O “Alemão” de Pomerode
- Irmãos Grimm
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)
Chegou o livro “Fragmentos Históricos – Colônia Blumenau” – inspirado nos artigos desta coluna. Primeiro lançamento em Blumenau – dia 9 de março de 2023 – Fundação Cultural de Blumenau/MAB. Você é nosso convidado.
Agradecemos este espeço que nos inspirou a colocar parte deste conteúdo nesta publicação. Colocaremos nas Bibliotecas das Escolas Municipais e nas principais bibliotecas de Blumenau.