Casarão Hennings ajuda a contar história de Blumenau, parte da história de Paul, Lorenz e Fritz Müller
A edificação pioneira foi desmontada aos poucos, e atualmente estava localizada em Indaial próximo ao limite entre este município e Blumenau – historicamente pertencia ao território da Colônia Blumenau.
Possuía características da arquitetura polonesa construída em Santa Catarina, identificada como tal, a partir do decorativismo e entalhes feitos nos elementos de madeira, como lambrequins, pilares e guarda corpos, geralmente integrado no espaço de uma grande varanda em torno de uma área coberta por dois panos de telhados na forma de duas águas.
Estava localizada na entrada da comunidade Encano – Indaial. Qualquer um que passasse na rua Dr. Blumenau – via intermunicipal arterial entre Blumenau e Indaial, tinha seu olhar atraído por essa edificação histórica.
No mês de dezembro de 2021, recebemos informações, de mais de uma pessoa, sobre o que ocorria no local da edificação pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico de Santa Catarina, do Vale do Itajaí, de Indaial e porque não dizer: de Blumenau, pois fez e faz parte de sua história, atualmente parte da comunidade histórica de Encano.
A edificação demolida estava localizada na frente da Companhia Lorenz, importante indústria regional, principalmente na época que funcionava a fecularia e que, também, contava com a presença da ferrovia EFSC, no início do século XX – nas proximidades passava a linha da EFSC.
De acordo com o pesquisador Luiz Carlos Henkels, a casa histórica tinha ligação com a história da Firma Lorenz e com a tradicional família de Blumenau – Família Hennings.
A Companhia Lorenz está localizada no outro lado da rua Dr. Blumenau, onde estava localizado o casarão onde residia a família Hennings – denominaremos, portanto, esta edificação histórica de Casarão Hennings – localizado na estrada mais antiga do Vale do Itajaí, conhecida atualmente como Rua Dr. Blumenau, que surgiu a partir de uma picada, na margem direita do Rio Itajaí Açú que rumava para o Alto Vale do Itajaí (na época – pertencente ao território da Colônia Blumenau), Serra e Oeste de Santa Catarina.
O Casarão Hennings foi construído em alvenaria autoportante e madeira – construção mista. A alvenaria autoportante fez uso de tijolos maciços rebocados. A planta é formada por uma área total distribuída em dois pavimentos, com a forma retangular.
O pavimento térreo era complementado com uma grande varanda de madeira em forma de “L”- primeira a ser demolida, que criava uma proteção – cobertura, ao longo do primeiro pavimento na fachada frontal e também, na lateral direita.
O detalhe das mãos francesas dos pilares da varanda ornadas por formas de arabescos é uma das características que vimos nas construções pioneiras das cidades do norte catarinense – Itaiópolis e Mafra – construídas por descendentes de poloneses e também, na localidade de Warnow, Indaial, que também recebeu migração polonesa.
As aberturas são de madeira, duas folhas características das edificações do pioneiro local da virada do século XIX para o século XX. Janelas com bandeiras (em duas folhas) envidraçadas e também, as duas folhas principais envidraçadas. A porta principal, também dotada de bandeira fixa e duas folhas em madeira e com detalhes em vidro. A varanda é munida do característico guarda corpo com elementos de madeira trabalhados com corte na forma de arabescos. Para ilustrar, retiramos imagens do Google Maps, portanto, sem acesso aos detalhes da parte posterior e interior da edificação histórica.
A inclinação do telhado – no segundo pavimento, apresenta um pequena inclinação, mesmo sendo coberto com a telha plana, germânica ou “rabo de castor”, usada nas casas pioneiras de imigrantes e descendentes de imigrantes alemães e que requer grande inclinação do telhado.
O muro, já se encontrava totalmente descaracterizado, tendo base do nível terreno até o nível da rua, feito de grandes blocos de pedras a característica arte em cantaria do pioneiro alemão, complementado com o tradicional gradil de madeira, cuja origem é do período neolítico, muito comum em várias regiões da Alemanha.
Os beirais apresentam a presença de acabamento de estuque, denotando, certo padrão da construção, cuja técnica era adotada por famílias abastadas, a partir do início do século XX. Destacamos também a construção da garagem, afastada da edificação principal, o que denota ter sido construída após a construção da casa, quando ocorreu o advento do automóvel, quando era acessível para muitos.
Isto aconteceu, na região – no final da década de 1950. Isso não significa que já não existiam automóveis na Colônia Blumenau, sendo que teve o primeiro automóvel de Santa Catarina, importado dos Estados Unidos da América por Friedrich Wilhelm Busch – ou, Frederico Guilherme Busch, ex prefeito de Blumenau, quando Indaial – territorialmente – pertencia a Blumenau.
Portanto, é interessante para a análise da arquitetura, a presença desta garagem, como anexo do casarão construído após o mesmo.
Casarão Hennings
De acordo com registro de “Memória Digital” – da Secretaria de Cultura e Relações Institucionais de Blumenau, outro membro da família Hennings, que tinha ligação à Companhia Lorenz, pois era seu Diretor – Otto Hennings, esteve à frente da Prefeitura de Blumenau em 1929, por oito meses, quando prefeito Curt Hering viajou para a Alemanha para tratamento de saúde.
Depois de João Hennings Filho, o Casarão Hennings foi residência de Hans Hennings e família, que comprou a edificação da Companhia Lorenz, que o tinha como parte do patrimônio da firma. Com o falecimento de Hans Hennings, o patrimônio passou para os herdeiros. A edificação histórica não era tombada na esfera municipal, na estadual e nem na nacional.
Um pouco de História da Companhia Lorenz
Com a qual, havia relações estreitas da edificação história e da família Hennings.
Friederich Fritz Carl Lorenz.
Com 20 anos de idade, Lorenz viajou para a Alemanha. Quando retornou e seguindo o exemplo de muitos dos pioneiros do Vale do Itajaí, trabalhou na Firma de Koehler & Asseburg, no Paraná. Casou-se em 1909 com Marie e, mais tarde, assumiu, em companhia de seu irmão Johannes Hans Lorenz, a direção da firma de seu meio irmão, Richard Paul (Também filho de Thusnelda, agora casada com Paul da comunidade Altona), em Timbó, lembrando que todas estas localidades faziam parte do grande território da Colônia Blumenau. Os irmãos Lorenz compraram a firma do meio irmão, Paul e então, fundaram a primeira fecularia de um total de 12, no Vale do Itajaí, na comunidade de Encano e outra em Campo Alegre. Produziam maisena e fécula de batatas. Johannes Hans Lorenz se mudou para Blumenau, para se dedicar inteiramente às indústrias de fécula – na Altona.
Daiana Graziela Fuchs nos enviou uma fotografia feita por Billion Graves – do túmulo de Fritz Lorenz, neto de Fritz Müller, que nasceu em Massaranduba, morou em Blumenau, tinha firma em Indaial e foi sepultado em Timbó. Esta era a Colônia Blumenau do final do século XIX e início do século XX.
Lembramos que 1959, quando Lorenz faleceu, Getúlio Vargas já havia retalhado territorialmente a grande colônia, fazendo surgir 31 novos municípios e enfraquecendo politicamente o município fundado por imigrantes alemães e italianos.
Importante intervenção de Everton de Vargas que corrige o FCC quanto a edificação do museu – Timbó – em 25 de dezembro de 2021.
“Olá, bom dia.
Há um equívoco por parte do governo estadual. Essa casa pertenceu a Christian Benz, proprietário e construtor da atafona de milho que hoje abriga um restaurante e que fica ao lado desta casa. A fecularia dos Lorenz ficava no prédio do outro lado do rio Benedito, onde a Thapyoka tinha a danceteria. Até o ano da fecularia é questionável, visto que a roda d’água que movimentava o gerador de energia da empresa do Lorenz é de 1916… A companhia de força e luz começou suas atividades 10 anos depois, em 1926. Essa casa foi construída em 1890, aproximadamente… É provável que a atafona tenha sido construída por volta de 1870, inicialmente com fechamento em madeira. Vou entrar em contato com a FCC pra resolver isso.” Everton de Vargas.
De acordo com Vargas, esta seria a edificação da firma de Lorenz, em Timbó.
Continuação
A partir da demolição do Casarão Hennings, em Encano – Indaial, localizada na frente da histórica Companhia Lorenz, onde João Hennings Filho residiu e foi gerente da firma Lorenz – e tem seu nome emprestado a uma avenida de Indaial e também, a uma praça que está localizada na frente da Prefeitura de Indaial, nos resta registrar para a História.
Foi o local, onde residiu este homenageado, cujo espaço poderia guardar sua memória e da firma Companhia Lorenz, além da preservação da histórica e diferenciada arquitetura, estaria se efetivando uma prática para uma cidade mais sustentável, pois não se estaria gerando entulhos e desperdiçando o material de um espaço, o qual poderia ser reciclado, nos moldes do que se vem sendo feito na Alemanha atual.
As imagens do Casarão Hennings – Google Maps
Fotografia de novembro de 2021 – Enviada para nós.
Fotografia de dezembro de 2021 – Enviada para nós.
Registro para a História
Referências
- Memória Digital: Indústria Lorenz. Fonte: Fundação Cultural de Blumenau / Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Identificação da imagem: Werner Reimer / Centenário de Blumenau p.183-184. Pasta 311, foto 006. Postado em 05/03/2018. Disponível em :https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/fundacao-cultural/fcblu/memaoria-digital-indaostria-lorenz33 Acesso em: 25 de dezembro de 2021.
- Fundação Cultural de Blumenau / Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Identificação da imagem: Werner Reimer / Centenário de Blumenau p.183-184. Pasta 311, foto 006.
- Ipatrimônio – FCC – SC – Timbó – Antiga Indústria de Fécula Companhia Lorenz. Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/timbo-antiga-industria-de-fecula-companhia-lorenz/#!/map=38329&loc=-26.825853000000013,-49.276160000000004,17 . Acesso em: 25 de dezembro de 2021.
- GERLACH, Gilberto. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
- SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p.
- WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)
Em breve – Estaremos lançando o livro: “Fragmentos Históricos da Colônia Blumenau” – inspirado nos artigos desta coluna. Aguardem.
————