Casarão Hoeschl: conheça detalhes arquitetônicos da edificação centenária
Este artigo complementa o último conteúdo publicado, destacando arquitetura de uma tipologia importante em toda a região, parte do território da grande Colônia Blumenau e que foi idealizada por um dos personagens da história desta colônia. Aqueles que não leram sobre Leopold Hoeschl, antes de ler este, sugerimos sua leitura – último artigo que descreve a história do primeiro Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau – século XIX.
Ao buscarmos dados sobre a obra e a vida de uma personalidade histórica, dentro de um determinado recorte de tempo, em um local, nos deparamos com sua história na paisagem, ou, o que resta dela. Podemos “ler” no “cenário”, esse formado também, pela presença do patrimônio histórico cultural arquitetônico.
E não poderia ser diferente, quando buscávamos a história e obra do primeiro Cônsul Austro-Húngaro da Colônia Blumenau, Leopoldo Franz Hoeschl. Parte de sua história está impregnada nas paredes de sua firma/residência, ainda, localizada na comunidade de Warnow – Indaial, na época de Hoeschl – território da Colônia Blumenau.
A edificação histórica, a partir de sua volumetria, mostra as marcas de algumas intervenções ao longo dos anos de sua centenária existência.
“Em 1878, após 5 anos casado, Leopold Hoeschl abriu um pequeno comércio – “venda” para comercializar produtos regionais, excedente da produção dos vizinhos e mercadorias que trazia de suas viagens. Dava crédito aos colonos que chegavam à nucleação, como também oferecia transporte – prática muito comum entre os residentes do Stadtplatz da colônia, nesse tempo. Contam que o caminho entre a nucleação de Indaial atual até Warnow era uma picada de difícil acesso. Sua firma também transportava gêneros de primeira necessidade para Salto e Pilão. Passado algum tempo, pode construir sua casa de alvenaria, meta de quase todos, durante décadas, na região (casa de material). Seus negócios no comércio aumentavam.” – Artigo – Leopold Franz Hoeschl.
Observando a linguagem arquitetônica e conhecendo um pouco sobre a tendência das artes, entre elas – a arquitetura – na virada do século XIX para o século XX, podemos afirmar que a primeira célula construída, no atual conhecido Complexo Hoeschl, na localidade de Warnow, foi essa tipologia simétrica (imagem acima) e eclética com predominância das linhas do Neoclássico, que ocupavam as grandes capitais como também, foi adotada pelos comerciantes bem sucedidos nas muitas nucleações urbanas e cidades no Brasil e também, na Colônia Blumenau.
Já escrevemos sobre e vamos repetir, de que as construções das primeiras décadas do século XX, na Colônia Blumenau, possuíam características das construções de determinadas regiões do território da atual Alemanha (país formado em 1871).
Antes desse tempo histórico, quando muitas vezes, as edificações eram feitas com estrutura de madeira encaixada (enxaimel) com fechamento de tijolos aparentes não significa que não “existia mais dinheiro” para “rebocar” a edificação, como lemos e ouvimos em teorias de historiadores locais.
Os tijolos são os mesmos e tem o mesmo significado de identidade aos usados em construções ou arquitetura B c k s t e i n e x p r e s s i o n i s m u s – Arquitetura expressionista com tijolos ou expressionismo em ladrilho – arquitetura característica do norte da Alemanha. Também essa forma de construir enxaimel é oriunda do norte da Alemanha. Vimos algo, com esse decorativismo e mesmo em fechamentos, paredes e detalhes, nas ruínas do Casarão Hoeschl de Warnow – em 2018.
Os novos bem-sucedidos comerciantes da região do Vale do Itajaí do início do século XX, entre eles o Leopold Franz Hoeschl, já adotavam para suas novas construções, os novos estilos internacionais – art decó e o eclético – vigentes.
Muitas vezes, quando não construíam o novo, maquiavam, ou, rebocaram suas casas urbanas (em enxaimel aparente) e algumas no interior da colônia, criando a falsa afirmativa de que essas edificações eram tipicamente rurais e não urbanas e eram usadas exclusivamente por “Colonos”.
As novas construções, a partir desse momento, feitas por comerciantes, como é o caso de Leopold Franz Hoeschl, seguiam a nova tendência internacional vigente da arte e da arquitetura.
No caso do Casarão Hoeschl, com a linguagem eclética, com fortes traços neoclássicos, tal como muitas outras edificações, construídas com tipologia semelhante, nesse tempo em toda a região do Vale do Itajaí – Colônia Blumenau – principalmente na sua centralidade – no Stadtplatz e na “Wurtstrasse”, atual Rua XV de Novembro.
Para esclarecer, o movimento cultural artístico Neoclássico surgiu na Europa no final do século XVIII e seu ideário se opunha ao do Barroco, buscando no debate, quebras de paradigmas e um novo olhar voltado para os valores clássicos, porém, adequados aos novos tempos – moderno. A concepção de um ideal de beleza eterno e imutável não era mais válido dentro da nova maneira de viver do homem do início do século XX.
Algumas características da arquitetura neoclássica:
- Sistemas construtivos simples;
- Linhas ortogonais;
- Formas regulares, geométricas e simétricas;
- Volumes corpóreos, maciços, bem definidos por planos murais lisos;
- Pórticos colunados;
- Frontões triangulares;
- Decoração recorreu a elementos estruturais com formas clássicas, à pintura rural e ao relevo em estuque, como as cimalhas e colunatas;
O Neoclassicismo chegou ao Brasil, quando, em 1816, desembarcou a Missão Artística Francesa, contratada para fundar e dirigir, no Rio de Janeiro, uma Escola de Artes e Ofícios. Muitos artistas chegaram no grupo, entre eles – Jean-Baptiste Debret. Em 1826 foi fundada a Academia Imperial de Belas-Artes, futura Academia Nacional, que adotou o gosto neoclássico europeu, atraindo outros artistas neoclássicos, como: Auguste Marie Taunay e Johann Moritz Rugendas.
Ao visitarmos as ruínas do Casarão Hoeschl, reconhecemos algumas características do Neoclassicismo, mesmo que o conjunto tenha sofrido intervenções posteriores, a identidade não foi comprometida.
Elaboramos um croqui, da parte da edificação, a qual deduzimos ser a “primeira parte” construída do complexo – desconsiderando o “anexo” do lado direito – ambiente com as aberturas com arco cintra.
Constatamos igualmente, na planta baixa, a presença de uma certa simetria dos ambientes. Ao lermos sobre a descrição da residência de Leopold Hoeschl, construída na cidade de Blumenau, percebemos o quanto essa planta do Casarão de Warnow influenciou a definição dos ambientes da nova casa dos Hoeschl, construída na Alameda Rio Branco, em Blumenau.
Na sequência, imagens que possuem grande poder de comunicação, acompanhadas de comentários – quando, necessário.
Localização do Casarão Hoeschl.
Rua Marechal Deodoro da Fonseca – Warnow – Indaial SC – (antiga Colônia Blumenau)
Observando a fachada principal desse conjunto, atualmente, afirmamos que o volume recebeu uma primeira ampliação, percebida na área frontal, onde o telhado é plano, munido de frisos, para não quebrar a harmonia do primeiro conjunto.
No lado esquerdo, foi construído um grande ambiente, cuja fachada frontal recebeu uma porta e três janelas altas e na parte anexada ao lado direito, também foi construído um grande ambiente com janelas e porta acabadas em arcos meia cintra ou romanos (foto ao lado), muito adornadas, aberturas voltadas para a fachada do lado direito.
No período áureo da propriedade, era o lado voltado para o lado onde estava o pomar. Não temos a data precisa dessa intervenção.
Após a primeira intervenção/ampliação junto à primeira edificação construída, aconteceram mais duas intervenções, ou talvez, até três, “percebidas” na grande edificação em ruínas no local atual. Os negócios prosperaram e os Hoeschl necessitavam de mais espaço físico.
Vídeos
Ambientes internos da primeira casa – residência – cujo desenho recriamos em planta baixa a partir de medidas estimadas e respeitando as proporções
O Quarto de Banho foi um dos ambientes reproduzido na nova residência dos Hoeschl, em Blumenau – projeto assinado pelo genro de Leopold Franz Hoeschl – o Arquiteto e Engenheiro suíço Albert Weitnauer.
Resumo Arquitetura Casarão Hoeschl
Construção
O complexo atual da antiga Firma/residência da Família Hoeschl é resultado de pelo menos 4 intervenções em períodos históricos distintos. Poderá existir a quinta, se for considerado a volumetria construída aos fundos da ampliação frontal esquerda.
Estrutura
Na primeira parte do Complexo Hoeschl foi construída com uma estrutura do tipo enxaimel, que difere daquela usualmente feita na região. Nas ampliações da Firma foi usado predominantemente a estrutura autoportante feita com tijolos maciços com mais de uma queima, semelhante aqueles usados na arquitetura Backsteinexpressionismus feitas no norte da Alemanha.
Aberturas
Há vários tipos de aberturas. Também no primeiro volume arquitetônico construído há uma padronização, do tipo usual na arquitetura vigente internacional. Após as intervenções, as aberturas escolhidas variavam de forma, tamanho e uso. Da guilhotina à fixa. O comum, foram os materiais: Madeira e Vidro. Esse procedimento aconteceu com portas e janelas.
Telhado
Com exceção da primeira intervenção – ampliação nas laterais esquerda e direita da primeira casa, os demais telhados foram feitos com dois panos de telhados, característica duas águas, com inclinação maior que 45%, estrutura de madeira e cobertura com telhas planas de barro, conhecido telhas germânicas. Houve o aproveitamento dos sótãos, providos de janelas e acesso através de escadas internas.
Fechamento
O fechamento, ou paredes, em sua maioria foram feitas com tijolos maciços – partes rebocadas outras não – paredes externas da Firma.
Piso
Também o piso, teve partes feitos com alvenarias de tijolos maciços e partes com pranchões de madeira nobre e até o uso, de tacos de madeira. O assoalho do sótão, foi feito com madeira nobre.
Referências
- CAVALCANTI, Carlos. História das artes :curso elementar /Carlos Cavalcanti. -2.ed. – Rio de Janeiro : Civilizacao Brasileira, 1968- – nv. :il.
- CAVALCANTI, Carlos. História das artes: da Renascença fora da Itália até nossos dias, curso elementar. -3.ed. – Rio de Janeiro : Ed. Rio, 1978. – 357p. :il.
- GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
- SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2. ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 P.
- WITTMANN, Angelina. Arquitetura – Backsteinexpressionismus – Arquitetura expressionista com tijolos. 28 de fevereiro de 2016. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2016/02/arquitetura-backsteinexpressionismus.html
- WITTMANN, Angelina. Leopold Franz Hoeschl – 1° Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau – 1° Parte. 8 de janeiro de 2018. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2018/01/leopold-franz-hoeschl-1-consul.html
- WITTMANN, Angelina. Mansarddach – Uma tipologia de telhado trazida pelo imigrante. 12 de setembro de 2014. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2014/09/mansarddach-um-tipologia-de-telhado.html
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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