Como Hoeschl, 1° Cônsul Honorário Austro-Húngaro, influenciou a sociedade blumenauense
Durante nossas pesquisas dentro do grande território que pertenceu à Colônia Blumenau, em um museu de Rodeio, encontramos indícios de que os primeiros imigrantes supostamente italianos não eram de fato italianos, e sim originários do Tirol, e um Tirol que ainda não pertencia à Itália.
Em 1875, quando chegou a primeira leva de imigrantes à região, grande parte destes partiam de regiões que faziam parte do Império Austro-húngaro, casa a qual também pertencia a primeira imperatriz do Brasil, e que foi “desmantelada” no fim da Primeira Guerra Mundial.
Este assunto tem muito mais fatos dentro da história de Blumenau e região do que imaginamos. Apresentamos nosso 11° artigo, um registro para a história, inspirado durante a pesquisa sobre Rodeio – uma das “colônias italianas” dentro da grande Colônia Blumenau, envolvendo uma das personalidades desta história.
Durante uma visita de pesquisa in loco no Circolo Trentino e no Museu de Usos e Costumes da Gente Trentina, em Rodeio, deparamo-nos com a fotografia oficial do Kaiser Franz Joseph I – imperador do Império Austro-Húngaro, neto do pai da imperatriz do Brasil, Dona Leopoldina (seu sobrinho) e consequentemente, primo de D. Pedro II, Imperador do Brasil.
Aparentemente materiais oficiais no interior do que seria a Colônia Blumenau, pertencentes aos pioneiros daquela região. Esta questão nos inquietou e investigamos mais sobre as datas e as culturas envolvidas na localidade – desde a origem – na Europa – e concluímos que os primeiros imigrantes nessa região foram famílias tiroleses (do Império Austro-Húngaro – Atual Áustria) e não italianos, como muitos propagam.
O Tirol tinha cultura própria em um território unido ao território da Áustria. Essa organização geográfica permaneceu até o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, em 1918.
Em 1875, ano da “chegada dos italianos” na Colônia Blumenau, também chegaram os imigrantes austríacos vindos do Tirol, da Gorízia, do Friúl e da Boêmia entre estes, mas pouco se fala sobre. Tutto era considerato italiano.
Os imigrantes do Tirol passaram a ser denominados italianos erroneamente, principalmente após o fim da 1° Guerra Mundial, onde a Itália ocupou este território, em 1918. Na década de 1970, esses passaram e ser denominados de “trentinos” e foi o que constatamos no Museu de Usos e Costumes de Gente Trentina – de Rodeio. Não nos permitiam chamar seu grupo de canto de Circolo Italiano, mas sim de Circolo Trentino.
Não bastasse as evidências encontradas e contrariando o que até então era contado na história regional, sobre o início da colonização de Rodeio, descobrimos um fato curioso durante uma conversa informal com o atual Cônsul Honorário da Áustria na cidade de Blumenau, Mauro Kirsten, na qual comentamos evidências encontradas de outra história.
O Cônsul nos falou sobre uma publicação não oficial assinada por uma neta de Leopold Franz Hoeschl, Lieselotte Hoeschl Ornellas. Ele foi o 1° Cônsul do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau. O livro de Lieselotte, escrito 1997, tem o título: Meu Caleidoscópio – que para simplificar, chamaremos de “Caleidoscópio” quando mencioná-lo.
Nesse momento tomamos conhecimento da existência do 1° Cônsul Honorário do Império Autro-Húngaro e também da casa onde ele e sua família residiram até 1913, antes de se mudarem para Blumenau. O Casarão Hoeschl pertencente ao 1° Cônsul Austro-Húngaro na Colônia Blumenau, está localizado (em ruínas) na localidade de Warnow, atual Indaial, que na época era local estratégico entre o Stadtplatz da colônia e as comunidades dos pioneiros austro-húngaros (região de Ascurra, Rodeio e Timbó).
Na época, essas localidades tinham outros acessos e ligações política, cultural e econômica muito estreitas, diferentemente dos dias atuais. O sítio, como é atualmente, não era cortado e segregado pela rodovia BR-470 e os caminhos eram muito próximos: reportamos às localidades de Ascurra, Rodeio, Timbó, Indaial e Warnow.
Procuramos e encontramos o Casarão Hoeschel – o qual será apresentado no artigo N° 12 do “Registro para a História”. Encontra-se na atual paisagem da localidade de Warnow – Indaial em estado ruim de conservação. Mas ainda é possível efetuar estudos a partir do espaço. A Casa Hoeschl, em Blumenau, não existe mais.
Apresentaremos um pouco sobre a biografia do personagem da história da Colônia Blumenau, Leopold Franz Hoeschl – que teve parte de sua história publicada na Revista Blumenau em Cadernos do ano de 1960 – Nº 12.
Nesta publicação, curiosamente não mencionaram que Hoeschel foi o 1° Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau, mesmo residindo seus últimos 20 anos de vida na cidade, com uma vida social bem movimentada, na companhia de personalidades da história local e regional, contemporâneos seus.
Houve o registro de seu cargo de Cônsul no livro “A Colônia Blumenau no Sul do País” (2019), porque nossa pesquisa fez parte das referências deste livro e foi repicada. Em publicações anteriores a esta data – 8 de janeiro de 2018 – não é publicado este fato histórico local e regional.
1° Cônsul Honorário do Império Austro-húngaro na Colônia Blumenau Leopold Franz Hoeschl
Leopold Franz Hoeschl nasceu em 27 de outubro de 1850 (ano da fundação da Colônia Blumenau) na cidade Bielitz – na Galícia – Província do antigo Império Austro-Húngaro, atualmente faz parte da região do extremo Sul da Polônia. Em polonês é conhecida como Bielsko-Biała.
Hoeschl se mudou para o Brasil em 1868, com 18 anos de idade. Foi um dos primeiros pioneiros que ajudou a construir a Colônia Blumenau, pois essa tinha somente, como ele próprio, 18 anos de existência formal, desde a chegada dos primeiros 17 imigrantes fundadores.
A família de sua futura esposa Emilie Augustine Ernestine Helene Ebert, migrou para o Brasil em 1857, quando ela tinha 6 anos de idade. Helene, como todos a conheciam, nasceu em 4 de abril de 1851 na cidade de Halle an der Saale, território da atual Alemanha.
Lembramos que o herói da resistência austro-húngaro Andreas Hofer morreu defendendo a sua pátria e seu imperador, como também, sua religião.
Naquele tempo, também na colônia Blumenau – como acontecia no território que seria Alemanha, existia um antagonismo muito grande entre as duas religiões – católica e luterana. Os representantes da religião católica faziam uso da autoridade e do poder da igreja, também representavam o estado e o império. A maioria e principais famílias da Colônia Blumenau, no século XIX, eram pertencentes à religião luterana, inclusive o fundador, Hermann Blumenau. Essas diferenças, de acordo com a publicação Caleidoscópio, interferem muito nas relações da família Hoeschl.
Leopold Franz Hoeschl
Leopold Franz Hoeschl nasceu em 27 de outubro de 1850, na cidade de Bialitz e foi o mais novo de cinco filhos de Karl Hoeschl e Maria Czelsky (seu pai era natural da Galícia e sua mãe da Bohemia). O seu segundo nome – Franz – era uma homenagem ao Kaiser Franz Joseph I, Imperador do Império Austro-Hungaro. Seus irmãos eram: Franz, Emmanuel, Karl Jr. e Amalie.
Nessa época o grande Império Austro-Húngaro abrangia os territórios dos atuais países da Alemanha, Áustria, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Croácia, Polônia, entre outros. Dessa região saiam muitas famílias de imigrantes para outras regiões do planeta, como também para o Vale do Itajaí, principalmente durante o governo do Kaiser Franz Joseph I – dinastia dos Habsburg’s – sua sede era em Viena.
Leopold Franz Hoeschl (antes da pesquisa feita para a publicação de sua neta Lieselotte) tinha pesquisado sobre sua ascendência e deixado registro sobre. Mantinha correspondência com Behumil Hoeschl, bisneto de Waslow, irmão de Karl Joseph Hoeschl – seu avô. Behumil Hoeschl era juiz aposentado na cidade de Písek – e lhe forneceu informações importantes sobre a história da família, história muito antiga. Leopold Franz Hoeschl se considerava austríaco e seguia a fé católica.
Leopold Franz Hoeschl deixou registrado para a história, que existia em Bohemia de Kadaň, um museu onde estava, em um álbum de famílias, o nome da Família Hoeschl com fotografias, incluindo as fotografias de seus netos: Markus, Arno, Adolf, Karl, Walter e Werner. Essas tinham sido enviadas por ele mesmo, pois tinham o direito de estar lá, pela linha masculina, com herança do nome, que poderia atingir até a 6° geração, para a indignação de sua neta (mulher) Lieselotte Hoeschl Ornellas e autora da publicação Caleidoscópio, que não teve este direito.
Os primeiros membros da Família Hoeschl no Brasil
O primeiro membro da família Hoeschl que migrou para o Brasil foi sua irmã Amalie, em 1851. Chegou nas primeiras levas de imigrantes no início da fundação da Colônia Blumenau. Amalie foi casada com o pioneiro Ferdinand Klein. Klein, além de ser torneiro e proprietário de uma casa comercial.
O cunhado de Hoeschl se afogou ao atravessar o ribeirão Garcia em uma balsa, durante uma enchente em 2 dezembro de 1855. Amalie, além de perder o marido na enchente, também teve prejuízos materiais e ficou em uma situação difícil. A família de Amalie, na Europa, recebeu as notícias da Colônia Blumenau não muito positivas. A família Hoeschl enviou seu irmão Karl Hoeschl para lhe dar suporte. Por imprevistos no percurso, o veleiro no qual Karl viajava foi parar no Rio Grande do Sul. O irmão de Amalie, sem muita opção, juntou-se aos tropeiros e iniciou uma longa viagem até conseguir chegar à região da Colônia Blumenau, para poder se encontrar com sua irmã. Diante da situação imprevista, consumiu a reserva destinada a ela e pela qual foi enviado. Karl Hoeschl encontrou Amalie casada em segundas núpcias e muito bem instalada com seu marido na localidade de Capim Volta – local onde estava a família pioneira Wagner.
Nesse tempo Amalie tinha 27 anos e antes da chegada de seu irmão, conheceu Julius Paupitz, vizinho de Peter Wagner. Casaram-se em 8 de outubro de 1857 – Paupitz era imigrante nascido na cidade de Eilenburg – região da atual Alemanha e muito atuante na Colônia Blumenau.
O casal Paupitz se mudou para a nucleação de Passo Manso (atual bairro de Blumenau), localidade onde construiu e montou o histórico salão Paupitz. Sem muito o que fazer, Karl Hoeschl se mudou para São Pedro de Alcântara, onde trabalhou como professor, conheceu e se casou com Maria Zimmermann.
Karl Hoeschl e família decidiram acompanhar um grupo de famílias alemãs até Gaspar, onde se instalaram. As famílias migrantes, além dos Hoeschl, eram: Schmitt, Spengler, Müller, Händchen, Werner, Zabel, (…). Em Gaspar, Karl Hoeschl abriu a “venda”, embrião de seus futuros negócios.
Karl Hoeschl tornou-se, a partir de sua atuação na paróquia católica, um líder local em Gaspar e também, na região da Colônia Blumenau.
Os outros dois irmãos de Leopold Franz Hoeschl, os mais velhos – Franz e Emmanuel – ficaram na Europa, onde Fritz foi um guarda florestal no Ducado de Potocky e Emmanuel, um oficial de do regimento de cavalaria do exército austríaco.
O que motivou a migração de Leopold Franz Hoeschl para a Colônia Blumenau?
Leopold nasceu em cidade próxima à fronteira e com isso se familiarizou com dois idiomas: Alemão e polonês. Com a idade de 15 anos, Leopold Franz Hoeschl completou o curso da Realschule e não pode mais prosseguir os estudos por motivos financeiros. Seu irmão Fritz sugeriu a Leopold que prestasse exame na Cracóvia e o fez em 1867. Foi aprovado. Com auxílio do irmão deu continuidade aos seus estudos.
Em 1868, houve uma guinada em todos os planos da família. O pai de todos, Karl Hoeschl, convencido pelos filhos que estavam na Colônia Blumenau, decidiu também migrar para o Brasil, levando a esposa e o filho mais novo, Leopold. Em 10 de maio de 1868 partiram de Hamburg e chegaram em Itajaí no mês de junho, onde se hospedaram na única hospedaria da cidade – Casa Comercial de Malburg. O mesmo local que Hermann Weege, com a idade de 14 anos, um pouco mais tarde – 1891, trabalhou como aprendiz. Parece-nos que esse pessoal da Malburg “explorava” a mão de obra dos jovens naquela época – pois também aconteceu com Leopold – na sequência, mais sobre.
Leopold, com 18 anos de idade, começou a trabalhar no engenho de serra de Jacob Zimmermann – sogro de seu irmão. Mais tarde, tornou-se sócio de Elias Müller e trabalhava em um engenho movido à água para serrar madeira.
Passado algum tempo, começou a trabalhar para Nicolau Malburg – sem definir função. Neste trabalho fez o papel de carregador, guarda-livros, tratador de cavalos, engraxate das botas do Malburg, (…) e professor do filho mais velho da casa – Leopold Malburg.
Por algumas diferenças e por não aceitar fazer algumas incumbências – como transportar cubos de sólidos fecais, seus serviços foram dispensados pela esposa de Jacob Malburg.
Nesse tempo que trabalhou com os Malburg, conheceu o agente de imigração H. von Trompwski, que coincidentemente era seu conterrâneo. Ficaram próximos, porque falavam o mesmo idioma. Trompowski prometeu interceder e auxiliá-lo para conseguir um emprego na firma de Lídio Livramento Vieira na capital da Província – Nossa Senhora do Desterro.
Leopold encontrou dificuldades para viajar para Nossa Senhora do Desterro. Conseguiu uma passagem em uma embarcação marítima e chegou atrasado para reivindicar a vaga de emprego disponível que já tinha sido preenchida.
O sócio de Trompowski, Onkel Brandt – dono de um armazém, orientou Leopold Hoeschl a se hospedar na casa da Frau Schefsmacher, mesmo local que tinha hospedado Carl Franz Albert Hoepcke, que nessa época trabalhava com seu tio, ex sócio de Hermann Blumenau – na firma de Colônia Agrícola – Ferdinand Ernst Friedrich Hackradt. Também com Carl F. L Hoepcke, trabalhou o filho mais novo de Leopold – Walter Leopold – pai de Lieselotte Hoeschl Ornellas.
Instalado em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), Leopold Franz Hoeschl procurou emprego. Passou por momentos ruins e de restrições financeiras. Por breve momento, não pode pagar a pensão.
Conseguiu ocupação temporária, pela situação em que estava, no local, no primeiro local indicado por Trompowski- na firma de Lídio Livramento Vieira. Sua principal função era de ir duas vezes por semana, às 4:00h da madrugada, no mercado, esperar os moradores das colônias de Vargem Grande, Palhoça, Capivari, Teresópolis e São Pedro de Alcântara, entre outras colônias, e convencer-lhes de comprar os produtos que seu patrão vendia.
Os imigrantes alemães- colonos – que frequentavam o mercado de Nossa Senhora do Desterro, eram oriundos de Mosela e Westphalia – território da atual Alemanha. Naturalmente surgia a aproximação e a situação de afinidade cultural auxiliava nos negócios e no seu trabalho, que deixava seu patrão temporário satisfeito. Recebeu a proposta de seu patrão para que dirigisse sua filial na cidade de Itajaí, onde possuía um veleiro. Leopoldo não aceitou. Resolveu retornar para Gaspar e abrir seu próprio negócio. Propôs sociedade com seu irmão Karl Hoeschl.
Em 1870, os dois irmãos Hoeschl foram até Tijucas, compraram um veleiro usado e sem muitas condições e o colocaram pronto para a navegação. Gastaram 3 contos de réis.
Leopold, que acompanhou a recuperação do veleiro, foi se familiarizando com o seu comando. Levaram a embarcação para Desterro e a registraram com o nome de “Felizardo”. Leopold tirou a carta de credenciamento para navegar e recebeu a nomeação de “capitão Náutico”. Nas primeiras viagens para Itajaí, Brusque e Colônia Blumenau, tiveram um considerável lucro.
Quando surgiu a Companhia de Navegação na Colônia Blumenau e mediante ações das lideranças locais, surgiu o primeiro barco à vapor para fazer o trajeto regular entre Blumenau e Itajaí. De acordo com notícias na revista Blumenau em Cadernos, tomo XXI nº 10, outubro de 1980, página 284, o barco foi adquirido em agosto de 1871 por Eduardo Schadrack, e era oriundo de Brestlein, estando em Joinville.
O vapor, batizado de São Lourenço, inaugurou suas viagens regulares como rebocador de lanchas de carga. O terminal da linha era em Gaspar, sendo local do ancoradouro no meio do Rio Itajaí Açu, em frente à propriedade de Karl Hoeschl, onde tinha sua casa comercial. A logística regional da Colônia Blumenau – de produto e passageiros – era totalmente diferente no século XIX.
O São Lourenço fazia o transporte de mercadorias e de pessoas que tomavam embarcavam ali, com outros destinos, ou mesmo para fazer baldeações. Tomando outros vapores para diferentes destinos. A nova situação de transporte fluvial trouxe boas perspectivas comerciais para a casa comercial de Karl Hoeschl, o que possibilitou, na época, que o mesmo adquirisse uma chácara em frente à sua casa comercial, onde construiu uma grande residência/hospedaria, onde também hospedava pessoas.
Karl Hoeschl constituiu família e viveu toda sua vida em Gaspar, o que não aconteceu com seu irmão Leopold. Isso não significou que não fossem companheiros e simultâneos conselheiros, um do outro. Em Gaspar, Karl Hoeschl era conhecido como “o austríaco”.
Leopold Franz Hoeschl se casou com Emilie Augustine Ernestine Helene Hoeschl (Ebert), nascida no dia 6 de Abril de 1851 na cidade Halle an der Salle – Sachsen-Anhalt.
Helene veio com a família para o Brasil – 4 irmãos e os pais – Ferdinand Ebert e Emilie Willner Ebert (*7/5/1820 – +20/7/1892[Warnow]) em 1857. Na Alemanha ficou uma irmã casada. A família de Helene se fixou entre as localidades de Altona e Blumenau, local onde conheceu Leopold em 1873. Ficaram noivos no natal de 1874.
Nos negócios, Leopold Franz Hoeschl saiu da sociedade com o irmão Karl. Em 1878, chegaram muitas famílias pomeranas e polonesas e se fixaram na comunidade de Warnow (atual localidade de Indaial). Comunidade que recebia famílias desde 1868. O nome da localidade foi inspirado em uma localidade da antiga Pommern, norte da Alemanha, de onde eram originárias muitas das famílias que ali se fixaram.
Hoeschl adquiriu um lote colonial diretamente na direção da Colônia Blumenau, localizado em Warnow. Como toda a família pioneira que chegava na região, no século XIX, passou por todas as etapas: limpa do terreno, construção da casa provisória, plantio da roça e do pomar, do jardim, construção dos ranchos e melhorias sucessivas.
Em 1878, após 5 anos casado, abriu um pequeno comércio – “venda” para comercializar produtos regionais, excedente da produção dos vizinhos e mercadorias que trazia de suas viagens. Dava crédito aos colonos (embrião do primeiro banco no estado) que chegavam à nucleação, como também oferecia transporte – prática muito comum entre os residentes do Stadtplatz da colônia, nesse tempo. Contam que o caminho entre a nucleação de Indaial atual até Warnow era uma picada de difícil acesso. Sua firma também transportava gêneros de primeira necessidade para Salto e Pilão. Passado algum tempo, pode construir sua casa de alvenaria, meta de quase todos, durante décadas, na região (casa de material). Seus negócios no comércio aumentaram.
Antes de se casarem, o casal teve que resolver um pequeno desafio, comum na época, na Colônia Blumenau: Leopold Franz Hoeschl era católico e sua esposa Helene, era evangélica luterana.
As pessoas que professavam a religião que não fosse oficial – a católica – do estado brasileiro (e em quase todo o ocidente) encontravam problemas. Em 1863, Hermann Blumenau propagava entre a população da região, sobre as medidas do governo brasileiro, dificultando a vida dos imigrantes não católicos, desde casamentos até a prática do ofício de lecionar.
As diferenças foram superadas e o casal se casou em 25 de novembro de 1875, na igreja evangélica luterana – religião da família de Helene. Lembramos que neste ano é comemorado a chegada dos primeiros imigrantes tiroleses para a região onde hoje se encontra Rodeio. Tirol nessa época era uma pátria independente com cultura própria e que estavam sob domínio da Áustria do Imperador Franz Joseph I.
Durante o ano de 1876, Leopold continuou fazendo viagens comerciais até a capital da Província – Nossa Senhora do Desterro e em outras localidades, levando e trazendo mercadorias. Os novos colonos de Warnow se associaram a Leopold, e esses faziam parte da Kulturverein, desenvolvendo uma grande atividade agro-pecuária – adotando a técnica de confinamento de animais e alimento à base de ração. Tomavam como exemplo, as práticas do Stadtplatz e da colônia agrícola de Hermann Blumenau. Os negócios ampliaram e Leopoldo construiu mais armazéns, depósitos, melhorias para atender toda a movimentação – esse fato é perceptível na arquitetura das ruínas, ainda presentes na paisagem atual.
A produção de leite, através da associação de famílias produtoras era grande e comercializavam o excedente no comércio de Leopold Franz Hoeschl. O sistema de pagamento era feito através de escambo, ou seja, troca de mercadorias de consumo básico, como: trigo, açúcar, sal, ferramentas, tecidos, etc. A produção local dos colonos cresceu tanto, que Leopoldo teve que comercializá-la em regiões mais distantes. Por exemplo: a manteiga, depois de batida, sortida, lavada, salgada era enlatada e enviada, até o Rio de Janeiro.
Também era produzido em seu negócio, manufaturas de madeira esculpida como também, móveis em geral. Possuíam uma marcenaria. Alguns desses trabalhos estão por aí, inclusive como herança de família – mobiliário do próprio Leopold Franz Hoeschl.
Enquanto isso, no Stadtplatz de Blumenau, acontecia um fato importante para o desenvolvimento econômico e político da região. O governo provincial liberou uma quantia de 5 contos para desobstruir o rio Itajaí-Açu nas corredeiras de Belchior e em 10 de agosto de 1878 foram aprovados os estatutos da “Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau”.
Mesmo com as dificuldades encontradas pela Companhia, ocasionadas pela desconfiança do sucesso do empreendimento, foi encomendado um navio a vapor de rodas, construído nos estaleiros de Schlicksche Flussdampfwerke, em Dresden, Alemanha. O navio, adquirido com um capital inicial de 30 contos de réis, dividido em títulos de 100 mil réis, atravessou o Atlântico a reboque de outro barco e transporta passageiros, pequenas cargas, bem como rebocar grandes lanchas, destinadas unicamente a carga pesada, entre a sede da Colônia Blumenau e o porto de Itajaí.
O vapor, a que foi dado o nome de “Progresso”, construído em Dresden, chegou, efetivamente, a Blumenau em meados de 1879, tendo-o a população recebido com música, foguetes e júbilo geral. Era um barco de rodas laterais, de 22 e meio metros de comprimento por 3,34 m de largura, calado de 70 centímetros. (SILVA, 1972, p. 103).
Tendo chegado o navio – chamado na região, de forma mais íntima, de vapor – foi batizado de Progresso. O nome escolhido refletia toda a expectativa dos líderes locais, no que tange melhorias do transporte da produção local.
O transporte efetuado entre o porto fluvial e o último núcleo do vale acima permanecia rudimentar e precário, utilizando veículos a tração animal, ou somente animal ou a pé, inquietando a elite local e provocando-a a buscar uma alternativa para suprir e efetivar o escoamento da produção com maior agilidade e segurança nesse trajeto.
Família
O casal Leopold e Helene tiveram cinco filhos:
Rudolf – 10/09/1876 (Homenagem ao príncipe imperial austro-húngaro)
Alice (Altenburg – casada) – 06/12/1878
Arthur Ferdinand – 06/09/1880
Stephanny (Weitneur- casada) – 25/02/1883
Walter Leopold – 10/12/1885 – Pai da autora da publicação Caleidoscópio – Lieselotte Hoeschl Ornellas
Com 35 anos de idade, em 1885, Leopold Franz Hoeschl estava estabilizado e com a família constituída – na comunidade de Warnow – Indaial. Até então, houve muitos desafios para os colonos da Colônia Blumenau e para a família Hoeschl.
Um deles foi a grande enchente de 1880 e que para a família parecia um fato periódico que se repetiu outras vezes. Achamos muito curioso a narrativa de sua neta Lieselotte, ao mencionar que após a grande enchente de 1880, as famílias mudaram a maneira de construir suas casas. Nesse tempo foi construída mais edificações com estrutura em enxaimel.
Mediante a ausência de escolas e mesmo falta de professores, Leopold contratava professores de outras regiões ou de imigrantes alemães que chegavam à região, papel que ele também assumiu, quando era mais jovem. Lieselotte conta que seu pai Walter, quando tinha 9 anos de idade, teve uma boa oportunidade de estudar. Conta que em 3 de setembro de 1883, com a fundação no Distrito de Itoupava, uma comunidade evangélica, para orientação religiosa e ensino dos filhos das famílias locais. A comunidade solicitou ao Conselho Eclesiástico de Berlim e foi enviado o Pastor Hermann Faulhaber, que assumiu seu cargo no ano de 1889. Foi construída várias capelas, entre elas, a de Indaial e a de Warnow.
As crianças dos Hoeschl cresceram na mesma casa em ruínas que fotografamos, a qual Lieselotte chamou de mansão e onde também estava o comércio de Leopoldo Franz Hoeschl. A propriedade possuía uma área ajardinada, com plantas que Leopold trazia de suas viagens, lembrando que também era uma prática de Hermann Blumenau, reforçando o quanto o imigrante apreciava a fauna e a natureza. Na propriedade também havia um pomar e uma horta. Em uma das partes da propriedade havia o espaço para a criação de animais domésticos para abastecimento da residência e também para ser comercializado.
Lieselotte comenta sobre algumas atividades comuns em todas propriedades locais da Colônia Blumenau do Século XIX, dentro das famílias:
Naturalmente Leopold Franz Hoeschl se tornou uma das lideranças mais atuantes na sua comunidade e na Colônia Blumenau, com isso houve reflexos políticos. Em 1883, recebeu a incumbência de coordenar a equipe da construção da ponte sobre o ribeirão no Warnow, presente na paisagem até os dias atuais.
A localidade maior próxima – Indaial – se desenvolveu na confluência dos Rios Benedito e Itajaí Açu, e estava distante somente 26 km do Stadtplatz da Colônia e Blumenau. Desenvolveu-se rapidamente e em 4 de setembro de 1886 foi elevado a Distrito de Paz, constituído, em Câmara Municipal.
O intendente além de coletar impostos, administrava a comunidade. Foi nesse período que se instalou a primeira linha telefônica entre o Stadtplatz de Blumenau e o porto de Itajaí, auxiliando mais ainda no desenvolvimento local.
Em julho de 1886, Leopold Franz Hoeschl foi eleito, com mais 6 vereadores, para compor a segunda formação da Câmara Municipal da história da Colônia Blumenau. José Henrique Flores Filho, então presidente da Câmara, quis criar problemas mediante a eleição de dois novos eleitos – Lungershausen e Lasen – argumentando que esses não falavam o português – essa medida já tinha sido usada por Henrique Flores Filho na primeira eleição e baseado nesse precedente, proibiu-os de prestarem o juramento.
Mas nessa eleição a coisa não foi tão simples, como na primeira. Três outros vereadores eleitos, entre eles Leopold Hoeschl, foram até o Governo Provincial (Hoeschl era conhecido em Desterro) e narraram o ocorrido, obtendo ordens para que os eleitos fossem empossados. Assim iniciou a vida pública de Leopold Franz Hoeschl, quebrando paradigmas.
Nesse mandato da segunda Câmara Municipal de Blumenau, entre outras medidas e projetos, destacam-se a criação da estação telegráfica e a construção do Caminho até Curitibanos – Serra catarinense, coordenada por Emil Odebrecht. Em 1888, Leopold Franz Hoeschl, juntamente com seu primeiro patrão, Jacob Zimmermann, foi eleito Deputado da Assembleia Provincial.
Em 1899, Leopold e Helene, junto com o filho mais velho Rudolf – o primogênito que estava com 15 anos, retornaram à Europa para visitar familiares de ambas as famílias – Hoeschl e Ebert e mostrar ao filho, o velho mundo. Visitaram a cidade de Biale e Halle.
Contou ao filho sobre a história de seu Imperador, cujo nome recebera em sua homenagem – Franz Joseph I e de como esse teve que assumir o trono da Áustria com 18 anos de idade somente – 1848. Lieselotte, neta de Leopold, lembra em vários momentos de sua publicação, sobre a admiração e de como acompanhavam a vida do Kaiser do Império Austro-Húngaro – Franz Joseph I. O Kaiser que tem sua fotografia oficial no acervo do Museu dos Usos e Costumes da Gente Trentina – Rodeio SC.
Foi nessa viagem à Europa que Leopold Franz Hoeschl recebeu o título de Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro – em 1899. Em um primeiro momento, não foi reconhecido pelas lideranças da Colônia Blumenau. Blumenau já era Blumenau, neste período.
“Além das ótimas lembranças que trouxeram da viagem, o que importa ressaltar é que foi concedido a Leopold Hoeschl o honroso cargo de Cônsul Austríaco, por mérito de sua conhecida atuação e intercâmbio e relacionamento entre imigrantes e visitantes que vinham ao Brasil.” – Lieselote Hoeshl Ornaellas.
Tão logo retornou à Warnow, como Cônsul, que de fato o era, mesmo sem o reconhecimento local, colocou um grande brasão do Império Austro-Húngaro, no frontão principal e mais alto de sua casa. Esse, posteriormente foi levado para sua casa de Blumenau – em 1913.
A pergunta é: Onde estará esse brasão atualmente?
Como já mencionamos em pesquisas, de como a Proclamação da República foi um golpe de estado no Governo monárquico brasileiro por um grupo de militares que lutaram na Guerra do Paraguai e viviam na sombra e com regalias (na “mamata”) desse mesmo governo. Com isto houve uma reviravolta política brasileira mudou os nomes das lideranças políticas no Vale do Itajaí a partir de “respingos” de Nossa Senhora do Desterro – capital da Província de Santa Catarina e que não demorou muito a se chamar Florianópolis – em homenagem um dos algozes do governo imperial brasileiro e de muitos catarinenses.
Na década de 1890 houve grandes movimentações das lideranças nacionais, estaduais e na região da Colônia Blumenau, consequência das mudanças sociais e do golpe mencionado anteriormente. Em Blumenau, um coletor de impostos oriundo de Itajaí, José Henrique Flores Filho, assumiu a administração da colônia, no lugar do fundador (1883), que tinha como principal meta, integrar os interesses da economia local à economia do país e que criou problemas na 2° eleição à Câmara, como já mencionamos. A abolição da escravatura em 1888, incendiou os ânimos dos republicanos, fortalecendo-os e dando argumentos e força à traição militar que fez a orquestração do golpe militar que culminou com a Proclamação da República, com outros interesses não apresentados em um primeiro momento e sobre os quais escrevemos.
A Proclamação da República surpreendeu os moradores da Colônia Blumenau. O Partido Republicano se estabeleceu na cidade, tendo como principais líderes: José Bonifácio da Cunha, Hercílio Pedro da Luz e Victorino de Paula Ramos. Estes novos líderes políticos saem fortalecidos após essas mudanças e são, nestes momentos, os novos representantes das lideranças econômicas e políticas locais – estaduais e os grandes atores nas ações para promoção do desenvolvimento social e econômico local e realizações em toda a região, no início do século XX.
O republicano engenheiro Hercílio Pedro da Luz, chefe da Comissão de Terras e Colonização de Blumenau, assumiu o governo do Estado em 28 de setembro de 1894.
Neste tempo, em 1896, Hercílio Pedro da Luz oportunizou e iniciou a construção da Ponte Lauro Müller perto da nucleação de Badenfurt na altura do Salto – somente iniciou. Nesta época, o estado recebeu empréstimo federal e parte deste empréstimo foi destinado a construção de infraestrutura na Colônia Blumenau – Construção da Estrada até Curitibanos e uma ponte sobre o Rio Itajaí Açu – próximo ao Stadtplatz.
Nesse cenário nacional, estadual, regional e local, Blumenau se tornou município e Indaial, sua primeira intendência municipal. Leopold Franz Hoeschl foi nomeado seu primeiro intendente. De acordo com Lieselotte Hoeschl Ornellas, o Presidente da Província nomeou a primeira Intendência Municipal, composta por Leopold Franz Hoeschl, Georg Wemser e Eugen Klein.
Leopold também foi eleito Deputado Estadual e membro do Conselho Municipal de Blumenau. A autora de Caleidoscópio, neta de Leopold Franz Hoeschl, apresenta parte do artigo publicado por Ferreira da Silva, baseado em documentos guardados no Arquivo Histórico de Blumenau. Segue:
Leopold Franz Hoeschl, prosseguiu dentro da vida política local, municipal e estadual, de maneira ativa, bem como cumprindo o papel de Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro.
São lacunas históricas com ricas ramificações a serem preenchidas. Em 26 de junho de 1900, seu irmão e companheiro Karl Hoeschl morreu na residência dos Engelke, em Indaial, onde tinha ido se tratar com o médico Johson Topp. Foi sepultado em Gaspar em 5 de Julho – 9 dias depois.
Foi somente em 20 de setembro de 1909 que Leopold Franz Hoeschl teve seu título de Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro reconhecido pelas lideranças locais de Blumenau, mesmo que tenha trazido documentos oficiais de Viena. Por que isso aconteceu? Influência da Companhia Colonizadora Hanseática. Apontamos que ainda em dias atuais, Blumenau não “reconhece” alguns fatos históricos, mas que nós não descartamos – é cultural.
Em 1909 foi inaugurado o primeiro trecho da ferrovia EFSC – ligando Blumenau a Warnow, cuja construção teve início em 1907. Leopold foi Conselheiro da Companhia Colonizadoras Hanseática – que com o apoio do governo alemão e do Banco Alemão construiu a EFSC.
A Companhia tinha grande prestígio na região e influenciou politicamente e de certa maneira pressionou para que o título de Leopold fosse formal e justamente reconhecido. Além de ser Conselheiro da Companhia, Leopold Hoeschl trabalhou na construção da EFSC e, ainda, recebeu um pedido para fornecer 11 mil dormentes. Foi nomeado pagador da Comissão de Construção da EFSC – formada por muitos técnicos e engenheiros. Tornou-se um homem muito bem relacionado naquela época.
A sede da Companhia construtora da EFSC ficava em Warnow, próximo à residência e da firma de Leopoldo Franz Hoeschl, o que facilitou a amizade com todos aqueles que vieram de fora, para participar da execução do projeto ferroviário. Os trabalhadores, administrativos e técnicos frequentam seu estabelecimento para a prática do Stammtisch, se divertir, encontros de trabalho e lazer.
Leopold Franz Hoeschl em Blumenau
Em 1913, Leopold Franz Hoeschl se mudou para Blumenau. A nova Residência de Leopold Franz Hoeschl foi projetada por seu genro, o Engenheiro Arquiteto Albert Weitnaeur e a família se mudou em 1915. A nova residência Hoeschl estava localizada na esquina da Alameda Rio Branco com a Rua Dr. Luiz de Freitas Melro – Blumenau, N°264. A casa foi demolida e no seu local construído um edifício. Foi registrado no Projeto Memorvale, quando já era propriedade da família Willicke.
“Prezada Angelina. A casa da família Hoeschl em Blumenau, ficava na esquina da Alameda Rio Branco com, a então, Rua Maranhão, rebatizada posteriormente para Rua Luiz de Freitas Melro. Foi posteriormente residência da família Willecke. Onde se localizava a casa, existe hoje um prédio menor, com testada para os dois logradouros.” J. C. von H.
A casa possuía um caramanchão de alvenaria, coberta com um pergolado de madeira envernizada que recebeu trepadeiras de algumas espécies. Próximo às folhagens e flores variadas, na sequência, com a presença de um pequeno jardim. Foi construída sobre pilotis e possuía um certo afastamento da rua.
Possuía, na fachada frontal, uma monumental escadaria, que acessava uma grande varanda, para a qual se abria as portas da sala de estar. Essa possuía, entre outros mobiliários, ainda construídos na sua marcenaria, em Warnow, um grande piano. Tinha uma segunda porta, que acessava o escritório de Leopold Franz Hoeschl.
A casa possuía também uma grande sala de jantar, uma sala, na qual se faziam trabalhos rotineiros de costura, remendo e bordados. Junto a esses ambientes estava a cozinha e a dispensa, com uma escada que acessava o quintal e outra varanda sobre pilotis, na qual estava o espaço para lavar, estender e passar roupas.
Ao lado, estava o quarto de banho e a privada, tal qual percebemos na residência de Warnow, que ao observarmos essa descrição tem certa semelhança, com a diferença que lá existia em anexo, a fábrica e o comércio. Rotineiramente, a primeira “toilette” era feita nos quartos, com o uso de bacias, jarras e baldes. Também eram usados urinóis.
A exemplo da casa de Warnow, no corpo central da casa existia uma grande escada de madeira com corrimão que conduzia para os quartos dos familiares e de hóspedes. Observando a descrição tem muita semelhança com a casa que visitamos em Warnow e que apresentaremos no próximo artigo.
Na propriedade existia uma horta, pomar, jardim e um pequeno estábulo, onde tinha uma vaca para o leite consumido na propriedade. Isso foi na segunda década do século XX, na Alameda Rio Branco.
Atividades de Leopold Hoeschl em Blumenau
Quando residiu em Blumenau, Leopold Franz Hoeschl dedicou-se às atividades administrativas e políticas na comunidade. Já escrevemos sobre um momento histórico no bairro de Passo Manso, quando Leopold se reuniu no salão Paupitz – propriedade de seu cunhado Julius Paupitz, marido de sua irmã Amalie – em 24 de maio de 1914. A reunião aconteceu para tratar sobre o apoio ao candidato a prefeito: Paul Zimmermann.
Politicamente, esses senhores eram alinhados. Nessa reunião se encontraram os “descontentes” com a política de Alwin Schrader e lançaram a candidatura de Paul Zimmermann – que pertencia ao grupo político de Peter Christian Feddersen – à sucessão da Prefeitura de Blumenau. Paul Zimmermann tinha comércio na localidade de Fidélis.
Também Leopoldo Hoeschl, participou ativamente da vida cultural e esportiva de Blumenau e sociedade, como ilustra a fotografia a seguir.
Em 1916, Paul Zimmermann, então prefeito de Blumenau, nomeou Leopold Hoeschl – Tesoureiro da Prefeitura, reflexos de uma reunião no salão Paupitz, no Passo Manso. Permaneceu no cargo por aproximadamente 15 anos, até se aposentar em 1931 – em caráter compulsório, por exceder a idade de 80 anos. Sim, trabalhou até quando tinha 81 anos.
Helene viveu somente mais seis anos, depois que se mudou para a nova casa. Faleceu no dia 21 de janeiro de 1922, após uma cirurgia para a retirada de um tumor. Estiveram casados por 46 anos. Leopold tinha 71 anos. Após o falecimento da mãe, Stefanny, que também ficou viúva de Albert Weitnauer e se mudou com os filhos Charlotte e Albert Jr. para a residência do pai – Leopold.
Stefanny e os filhos moraram com o pai até o ano de 1926, quando embarcaram, em 6 de junho para a Suíça para se encontrar com a família de Albert Weitnauer. Leopold os acompanhou até o Porto de São Francisco do Sul, de onde foram levados ao transatlântico “Madrid” do Lloyd Brasil Alemanha.
Despedidas e emoção de ambas as partes, temerosos diante da ideia de não mais se encontrarem – e assim aconteceu. Albert Weitnauer Jr., que tinha 10 anos quando embarcou para a casa do avô paterno contava com 10 anos de idade, morreu em Berna em 29 de dezembro de 1984. Tornou-se um diplomata suíço e o primeiro Secretário de Estado da Confederação Suíça.
Na ausência de Stefanny, Leopold convidou a sua outra filha – Alice, que tinha ficado viúva em 1921, para morar com ele e os três filhos solteiros e ela aceitou. Alice vendeu a propriedade de Gaspar e se mudou para Blumenau. Cuidou de Leopold até ele partir. Os netos, como Lieselotte – autora do Caleidoscópio, tem muitas lembranças dessa personagem da História da Colônia Blumenau.
Leopold Franz Hoeschl contraiu uma virose o qual iniciou um processo que o levou a desidratação. Mesmo internado e recebendo cuidados no Hospital Santa Catarina, não resistiu e faleceu em 28 de janeiro de 1933 aos 83 anos. Faleceu no hospital.
Está sepultado no cemitério evangélico do centro de Blumenau, junto ao jazigo de Victor Gaertner (amigo da família), do genro Albert Weitnauer e do diretor da Colônia Blumenau – Hermann Wendeburg. Nesse local, também está Helene Hoeschl, sua esposa.
A residência/comércio de Warnow – Leopold Franz Hoeschl
Publicação de Blumenau em Cadernos – Ano 1960 – N°12
Sem a menção histórica de que Leopold Franz Hoeschl foi o 1° Cônsul honorário do Império austro-Húngaro na Colônia Blumenau.
Lieselotte Hoeschl Ornellas – neta de Leopold Franz Hoeschl
Para fazer esse trabalho, usamos como base, o trabalho de compilação da neta de Leopold Franz Hoeschl – Lieselotte Hoeschl Ornellas – Caleidoscópio. Somente como base, pois ao ler seu trabalho, encontramos muitos desencontros de informações históricas locais e diferentes datas para o mesmo episódio e diferentes nomes para a mesma pessoa.
“Cruzamos” os dados com dados de outras fontes históricas que temos e também, com dados de outros trabalhos que escrevemos anteriormente e fomos desnudando uma história fantástica. Inclusive sobre a própria biografia de Lieselotte, que merece uma página somente para si. Devemos muito a ela, por ter tido o trabalho em compor este apanhado, que nos fez perceber muita coisa desta história.
Lieselotte Hoeschl Ornellas estava para completar 100 anos no ano de 2017, quando partiu no mês de fevereiro. Foi uma mulher, filha do filho mais novo de Leopold Franz Hoechl, que quebrou paradigmas e foi pioneira dentro da área científica da nutrição, no país.
Um Registro para a História.
Continua – Arquitetura do Casarão Hoeschl
Referências
- GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
- HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau; Méri Frotscher Kramer e Johannes Kramer (orgs.). – 1.ed. – Blumenau (SC): Edifurb, 2015. – 226 p.: il.
- Leopold Hoeschl – Figuras do Passado. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo II. N° 12. Dezembro de 1960.
- SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2. ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 P.
- WITTMANN, Angelina C.R. A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina. -Blumenau : Edifurb, 2010. – 304 p. :il.
- WITTMANN, Angelina C. R . A estrada de ferro no Vale do Itajaí: Resgate trecho Blumenau-Warnow . Blumenau : Edifurb, 2001. – 145p. :il.
- WITTMANN, Angelina. Andreas Hofer. 21 de maio de 2017. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/05/andreas-hofer.html
- WITTMANN, Angelina. Carl Franz Albert Hoepcke – Uma personalidade da História Catarinense. 11 de dezembro de 2014. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2014/12/carl-hoepcke-um-personalidade-da.html
- WITTMANN, Angelina. Colônia Blumenau – Blumenau – Desde 1846 – Um pouco desta História. 1 de setembro de 2016. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2016/09/colonia-blumenau-blumenau-desde-1846-um.html
- WITTMANN, Angelina. Da Casa Rischbieter ao Norden – Valorização da Cultura – da História e da Arquitetura – Blumenau SC. 5 de outubro de 2021. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2021/10/norden-valorizacao-da-cultura-e-da.html
WITTMANN, Angelina. Hermann Christian Rüdiger – Um Pioneiro do Vale do Itajaí – Biografia. 9 de maio de 2020. Disponível em https://angelinawittmann.blogspot.com/2020/05/hermann-christian-rudiger-um-pioneiro.html - WITTMANN, Angelina. Leopold Franz Hoeschl – 1° Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro na Colônia Blumenau. 8 de janeiro de 2018. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2018/01/leopold-franz-hoeschl-1-consul.html.
- WITTMANN, Angelina. Proclamação da República do Brasil – Golpe Militar no Governo Imperial brasileiro. 17 de novembro de 2015. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2015/11/proclamacao-da-republica-do-brasil.html
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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