Para os mais jovens, Herr Schmidt não tem relação com o nome de uma banda da região e nem com a antiga canção dos pioneiros, mas sim com uma das figuras folclóricas e lendária da grande festa de Blumenau – o Oktoberfest, trata-se de um descendente de uma família pioneira – o Herr Schmidt, ou Arthur Schmidt – tocador de bandoneon que construía casa em enxaimel, depois, como os pioneiros, de ser agricultor.
Pesquisando por aí no grande Vale do Itajaí, vamos encontrando descendentes de personalidades que passaram e deixaram suas marcas na História, dentro de uma leva de anônimos que não aparecem nos livros de histórias, mas que fizeram história no território da antiga Colônia Blumenau, em Blumenau, independente do período histórico.
Pesquisando a ferrovia Estrada de Ferro Santa Catarina em 2018, observando os resgates de voluntários, conhecemos um pouco do trabalho do carpinteiro Jones Schmidt, construtor de vagões de madeira e de casas enxaimel. Aprendeu o ofício com seu pai e este, aprendeu com seu Opa Arthur Schmidt.
Entrevistamos o Jones na ocasião.
Quem foi a Opa de Jones Schmidt? – que deu o seu nome ao pai de Jones Schmidt – Arthur Schmidt.
Arthur Schmidt – Opa de Jones Schmidt, de Fabrícia Schmidt e de Eduardo Alexandre Maueler
Conversando com Jones Schmidt em 2019, este nos contou que é filho de Arthur Schmidt, que por sua vez, era filho de Arthur Schmidt (novamente), sendo todos os três, carpinteiros de profissão e construtores de casas enxaimel.
Um pouco sobre o Opa Arthur Schmidt – Herr Schmidt
Herr Schmidt foi bisneto de imigrantes alemães de Berlin. Em sua casa – a família se comunicava somente no idioma alemão.
Herr Schmidt construía casas com a estrutura enxaimel, fazia móveis e também pintava casas, quando, após a 2° Guerra Mundial, não se construía mais com esta técnica construtiva em madeira como era antes deste período histórico.
Observamos, coincidência, ou não, mas quase sempre, todo construtor de casas com madeira, também é tocador de bandoneon.
Não é o primeiro caso que encontramos – construtor de casas enxaimel sendo também tocador de bandoneon. Conhecemos também, Anderson Töwe de Jaraguá do Sul, que além de musicista do instrumento, constrói e restaura casas enxaimel.
Arthur Schmidt nasceu em Blumenau, sendo que neste ano de 2022, foi lembrado o centenário de seu nascimento. Seu pai foi Hermann Schmidt, nascido na comunidade do Garcia, Colônia Blumenau, em 17 de abril de 1894. A partir desta informação, podemos afirmar com segurança que a família Schmidt, foi uma das famílias pioneiras da Colônia Blumenau que residiam no Garcia. Hermann Schmidt nasceu em 17 de abril de 1894, faleceu em 31 de maio de 1968 e está sepultado no Cemitério Comunidade Garcia Alto – Canto do Rio – Progresso – Blumenau.
Hermann Schmidt se casou com a filha de outra tradicional família de Garcia, Irma Alfarth (que nasceu em 18 de junho de 1894) em 8 de janeiro de 1919. Hermann era o filho mais velho do casal pioneiro – que migraram da Alemanha – Gustavo Schmidt que nasceu em 1866 e faleceu em 1934 e de Maria Jarchow que nasceu em setembro de 1867 e faleceu em 1957. Hermann Schmidt teve 9 irmãos: Clara, Martha, Osvaldo, Rudolfo, Hellmuth, Erwin, Erna, Paula e Oswaldo.
Hermann e Irma tiveram o filho Arthur Schmidt em 22 de janeiro de 1922. É curioso que o nome de Arthur, foi determinado e consta no documento do batizado que aconteceu em 1922, sendo que sua documentação posterior, apresenta o nome sem o “H”, que pode ser consequência da onda de “abrasileiramento” dos nomes. O chamaremos de Arthur, como seria originalmente este nome, no interior das famílias de imigrantes alemães.
Arthur Schmidt, Herr Schmidt, em um primeiro momento, somente trabalhou na sua propriedade, na agricultura, com a criação de animais, como quase todas as primeiras famílias, que pode-se dizer, possuíam uma pequena “fabrica alimentícia” em sua propriedade, que a partir do pomar, da plantação e da criação de animais, preparavam, o mussi, as compotas, geleias, conservas de frutas e verduras, os embutidos, o queijo, a nata, o kochkase, os docinhos, pães e cucas, entre outras iguarias presentes nas mesas das primeiras famílias de Blumenau. Deste trabalho, historicamente, através do excedente, que foi utilizado como matéria prima, surgiram as primeiras indústrias na região, iniciando a industrialização do Estado de Santa Catarina – uma das característica da colônia agrícola privada fundada por Hermann Bruno Otto Blumenau.
Herr Schmidt, além de construir casas com a estrutura enxaimel, fazia móveis e também pintava casas, quando, após a 2° Guerra Mundial, não se construía mais com esta técnica, como antigamente e o trabalho praticamente acabou. Ajudou a construir a Igreja Luterana Martin Luther do Progresso, onde foram celebradas as suas bodas de ouro e de diamante em novembro de 1994 e de 2004.
Arthur Schmidt contava que pegou pela primeira um instrumento musical, quando tinha a idade de 9 anos. Fez escondido do seu pai Hermann. Pegou “emprestada” a sua gaita para tocar no vizinho. Uma arte artística de menino. Foi autodidata, pois aprendeu sozinho a ordenar as notas musicais em melodia. A melodia da música do além mar. Além da gaita, aprendeu a tocar violão, violino, teclado e o bandoneon que o tornou conhecido em toda a cidade de Blumenau, principalmente no mês de outubro.
Tocava um bandoneon construído em 1965, um dos muitos que ele possuía, dentre os quais, um está muito bem guardado com Jones Schmidt.
O Opa Arthur Schmidt partiu no dia 22 de janeiro de 2010, quando contava com 88 anos de idade. Na época de sua despedida foi lembrado pela comunidade de Blumenau – comparando-o a outros personagens e personalidades importantes na história do Oktoberfest Blumenau que já tinham partido: a Espanhola e Horácio Braum.
Este artigo atual, recebeu contribuições de uma neta de Herr Schmidt, Fabrícia Schmidt.
Arthur Schmidt, muitas vezes levou seu neto Eduardo Alexandre Mauler junto no Bierwagen. Mauler deixou registrado a seguinte frase:
“Cada vez que escuto uma música Dele, é como se estivesse junto.” Eduardo Alexandre Maueler
O neto de Arthur Schmidt e de Anna Frieda , Eduardo Alexandre Maueler (quando criança, desfilava com seu Opa no Bierwagen), também foi tocador de bandoneon da Die Dorfmusikanten – Rock’n Volxmusic – Banda de Witmarsum, no Paraná, a qual conhecemos em Curitiba no IV Concórdia Tanzboden – em julho de 2019, e descobrimos esta história em 5 de outubro de 2019. A história familiar de dois tocadores de bandoneons nascidos em Blumenau, Arthur Schmidt e Eduardo Alexendre Mauler – Opa e primo de Jones Schmidt, construtora de casa enxaimel e vagões de trem, que conhecemos em Rio do Sul, também nascido em Blumenau.
A Banda na qual Eduardo Alexendre Mauler tocava antes de partir.
Professor de Bandoneon Anderson Töwe, também construtor de Casas Enxaimel.
Histórias das famílias que construíram a Colônia Blumenau.
Registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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@AngelWittmann (Twitter)
Em breve – Estaremos lançando o livro: “Fragmentos Históricos da Colônia Blumenau” – inspirado nos artigos desta coluna. Aguardem.
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