A dança, e também a música, ocupam um espaço importante nas festas e tradições da região do Vale do Itajaí – antigo território da Colônia Blumenau. A região tem o mesmo lastro cultural a partir de sua história de colonização e que  deveria ser considerado em cada fato da história contado dentro das atuais localidades formadas a partir do fracionamento da grande unidade, no século XX.

Antes de surgir o “grande palco” do despertar cultural,  apesar do apelo comercial inerente, o Oktoberfest Blumenau (organizado em 1983 e lançado em 1984), já existiam as tradicionais festas, em toda a região, geralmente com o mesmo perfil cultural, com música e chope, muitas delas, conhecidas como Festa do Chope e Festival da Cerveja. Muitos colecionavam os canecos que recebiam em cada um desses eventos. Também,  já existia um grupo de danças folclóricas alemãs. Recebemos de Haroldo Zeplin fotografias munidas de importância histórica do grupo folclórico mais antigo de Santa Catarina, fundado em Blumenau em 1968 – Grupo Folclórico Alpino Germânico.

Estas fotografias foram feitas em uma destas festas – mais precisamente no 4° Festival da Cerveja, ocorrido entre os dias 23 e 25 de janeiro de 1970, quando o Grupo Folclórico Alpino Germânico tinha um pouco mais de um ano de existência.

O registro aconteceu no Pavilhão da Feira de Amostra de Santa Catarina (Famosc), que depois se tornou Fundação Promotora de Exposições de Blumenau (Proeb), durante o evento do 4° Festival da Cerveja de Blumenau de 1970 – o que seria a atual Sommerfest de acordo com o depoimento de Marga Holzmann Nunes.

A mesma Sommerfest, na qual, fotografamos o Grupo Folclórico Alpino Germânico em janeiro de 2020, 50 anos após a data do registro de 1970, agora sem a presença da Famosc e Proeb.

FAMOSC – Depois PROEB – demolida na administração do ex prefeito João Paulo Kleinubing – após o evento do Oktoberfest Blumenau 2005. Arquitetura moderna, cujo espaço, de acordo com o Maestro alemão Helmut Högl, dotada com a melhor acústica do complexo do Oktoberfest Blumenau. É desconhecido o destino da cobertura de alumínio com linhas arrojadas do edifício, após a sua demolição.
Grupo Folclórico Alpino Germânico no Sommerfest Blumenau 2020 – 50 anos após o registro de 1970 – feito no 4° Festival de Cerveja – embrião do Sommerfest atual.

Um pouco dessa história…

Manfredo Bubeck e um de seus acordeons.

Quem nos contou um pouco sobre esta história, um tempo atrás, foi o ex maestro dos coros do C.C. 25 de Julho de Blumenau e ex Secretário de Cultura, Esporte e Turismo de Blumenau – Manfredo Bubeck. Contou que antes da fundação oficial do primeiro grupo folclórico de danças alemãs de Santa Catarina, existia um trio musical formado pelo fundador do Alpino Germânico, Franz Zmazek (Canto e violão), por ele – Manfredo Bubeck (Acordeon) e sua esposa – Rita Bubeck (Canto).

O trio se apresentava em muitos eventos da época, como: Encontro de Corais e concertos. Nesta época, o trio participou como uma das atrações da inauguração do Bela Vista Country Club – Blumenau.

Após algum tempo, Manfredo Bubeck saiu do trio e quem assumiu o acordeon foi Roland Findeiss, quando também, foi um dos fundadores do Grupo Folclórico Alpino Germânico – sob a coordenação de Franz Smazek, em setembro de 1968.

Nesta mesma data, setembro de 1968, sob orientações do primeiro coordenador – Franz ou Francisco Zmazek (nome de família eslovaco), foi elaborado um estatuto e o regimento do primeiro grupo folclórico alemão de Santa Catarina. Detalhe destacado nestes documentos: este é voltado para a prática de danças folclóricas de caráter amador.

Também ficou definido que Zmazek seria o presidente do grupo que foi batizado pelo nome de Grupo Folclórico Alpino Germânico, como é chamado e conhecido até o momento presente – ano de 2022.

Na ata desta primeira reunião, consta os seguintes nomes – fundadores: Franz Zmazek, Ari Egger, Roland Findeiss, Ruth Dehner, Reiwald Findeiss, Wilson Bruch, Isadora Wagner, Osni Hermann, Rosita Burkhart (casada Zeplin) e Renata dos Reis.

“Após a saída do Manfredo, o Roland Findeiss assumiu o acordeon, quando se formou definitivamente o Grupo Alpino Germânico – sempre sob a direção do abnegado e idealista das tradições Alpinas Austríacas Sr. Franz Zmazek. Sua sede sempre foi o C. C. T. Testo Salto. O Grupo está vivo até hoje e sua sede atual fica na cidade de Pomerode. Uma linda história.” Manfredo Bubeck

Com folcloristas fundadores durante as comemorações do 50° aniversário do Grupo Folclórico Alpino Germânico em 2018 – após serem homenageados pelos folcloristas da atual formação do grupo folclórico – Pomerode SC.

Contam aqueles que estiveram presentes no ato de fundação do grupo folclórico, que durante oito meses, os folcloristas: Ruth Dehner, Ari Egger, Renata dos Reis, Osni Hermann, Rosita Burkhart (casada Zeplin), Wilson Bruch, Isadora Wagner e Reiwald Findeiss aprenderam a coreografia da dança com o casal Zmazek. Linda Zmazek ensinava os passos e Franz Zmazek, o Schuhplattler, sapateado (fotografia da capa) – a dança mais antiga dançada na Europa ininterruptamente.

O acompanhamento musical, corretamente, era feito sob os acordes de um acordeon e de um violão, tocados por Roland Findeiss e Franz Zmazek respectivamente.

Grupo Folclórico Alpino Germânico e músicos Franz Zmazek (Presidente e Coordenador) e Roland Findeiss no Frohsinn – Blumenau – Capa de seu primeiro trabalho gravado.

Os primeiros folcloristas do Grupo Folclórico Alpino Germânico foram pioneiros em adotar o Lederhose na região – traje masculino da Baviera para a dança folclórica, originalmente – calça de couro.

Já haviam migrantes desta região da Alemanha – Baviera – que usavam o traje no cotidiano na região de Blumenau, como por exemplo estes fotografados na taberna e museu do cervejeiro Otto Jennrich, na comunidade Altona, década de 1900.

Na taberna de Otto Jennrich, Altona, descrito pelo Professor Max Humpl, era o ponto de encontro dos amigos, onde se lembravam do Heimat, falavam de política e se bebia cerveja e vinho de laranja.
Lerderhose confeccionada pelo alfaiate Arno Krueger – Primeiro traje masculino e o chapéu – foto abaixo

Na década de 1960, o traje era um tanto desconhecido quando relacionado à dança de Schuhplattler praticada no Sul da Alemanha, Áustria e Tirol italiano, entre outros países de língua alemã. O grupo folclórico buscou utilizar algo semelhante ao traje original Lederhose, considerando suas limitações e que não se tinha acesso à original calça de couro bávara, em um primeiro momento.

Chapéu de Franz Zmazek.

Dessa maneira, o traje foi confeccionado e providenciado dentro do próprio grupo – feito de brim, observando uma Lederhose original que pertencia ao coordenador Franz Zmazek e esta foi usada como modelo pelo alfaiate Arno Krueger que confeccionou 4 calças semelhante ao original, somente que de brim. Os suspensórios masculinos foram feitos por Linda Zmazek que recebeu as figuras de flores de Edelweiss desenhados por Franz Zmazek e pintados por Rosita Jung. Linda Zmazek, que tinha 54 anos neste recorte de tempo histórico, fez o traje feminino completo. Ambos os trajes buscaram representar o traje das festas tradicionais da região alpina de língua alemã.

A primeira apresentação oficial do Grupo Folclórico Alpino Germânico aconteceu em 5 de maio de 1969 – durante o 15° aniversário de fundação do C.C. 25 de Julho de Blumenau. Mais tarde, fez parte do grupo, o músico da localidade de Testo Central – Ivo Raduenz (Acordeon).

C.C. 25 de Julho de Blumenau na década de 1960.
Restaurante Frohsinn em 1976.

Ainda em 1969, o Grupo folclórico Alpino Germânico se apresentou na 2° Festa da Cerveja de Blumenau e após, passou a ser umas das atrações do Restaurante Frohsinn, no qual se apresentou entre os anos de 1969 até 1976 (Por sete anos consecutivos). Nesta época, faziam duas apresentações semanais para os visitantes. Em 1970, surgiu o primeiro trabalho gravado, onde Franz Zmazek e Roland Findeiss gravaram um disco com canções da região dos Alpes.

Em 1982, o casal Zmazek viajou para a Áustria e para o Sul da Alemanha, com o objetivo também de complementar, a partir de pesquisa, os trajes do grupo folclórico. Ao retornar para o Brasil, trouxeram uma relação de acessórios do traje oficial bávaro, que no mesmo ano de 1982, estes foram doados pela Cia Karsten de Blumenau. A firma doou seis Lederhosen e suspensórios de couro, correntes, chapéu com a pena de águia e coletes para complementar os trajes do Grupo Folclórico Alpino Germânico.

Eugênio Zimmer.

Em 1983, durante a grande enchente – o Prefeito de Pomerode – Eugênio Zimmer – oportunamente convidou o Grupo Folclórico Alpino Germânico, prometendo fornecer apoio financeiro necessário ao grupo se este se transferisse para a cidade de Pomerode e representasse o município em festividades e encontros culturais. Este convite, que foi aceito, aconteceu 15 anos após a fundação e atividades do Grupo Folclórico Germânico em Blumenau. O grupo folclórico passou a ensaiar em Pomerode e esta passagem histórica esclarece e explica porque a cidade de Pomerode, fundada por pomeranos, passou a ter um grupo de danças folclóricas com tradições bávaras.

Na sequência, fotografias do acervo de Haroldo Zeplin, esposo de Rosita Burkhart, uma das folcloristas da primeira formação e presente nas fotos inéditas enviadas por Zeplin. Em seguida, apresentamos registros do Grupo Folclórico Alpino Germânico no Sommefest Blumenau 2020, exatos 50 anos depois desta apresentação de 1970. As festas são praticamente as mesmas, no mesmo local (com as atualizações que recebeu de PROEB para Vila Germânica), e a alteração do nome – de Festival da Cerveja de Blumenau para Sommerfest. As festas apresentam o mesmo perfil e objetivo.

4° Festa da Cerveja – janeiro de 1970 – Blumenau SC

A folclorista Rosita Burkhart – atual Rosita Zeplin.
A folclorista Rosita casou com Haroldo Zeplin – quem nos enviou as fotografias de 1970. O casal reside atualmente no bairro de Blumenau – Badenfurt.
À direita, o casal Araci e Roland Findeiss. Interessante os sapatos de danças do traje feminino, muito diferente do tipo confeccionado e usado atualmente.
O Grupo Folclórico Alpino Germânico dançando o Schuhplattler.

Sommerfest Blumenau – janeiro de 2020 – Blumenau SC – 50 Anos após o registro de 1970.

Curiosidades

Manfredo Bubeck e Rita Bubeck – Oktoberfest Blumenau, 9 de outubro de 2018.
Rosita Burkhart casada com Harold Zeplin – folclorista da primeira formação do Grupo Folclórico Alpino Germânico, ainda reside em Badenfurt, Blumenau.
Roland Findeiss – Stammtich de Blumenau em 21 de abril de 2018.

Em 2022 o Grupo Folclórico Alpino Germânico continua sediado em Pomerode, cidade que se desmembrou de Blumenau, através de um ato político e a diferença de um voto no legislativo de Blumenau, em janeiro de 1959. Sua história é muito anterior a esta data. Alpino Germânico faz parte da Associação dos Grupos Folclóricos Germânicos do Médio Vale do Itajaí – AFG e possui uma programação muito intensa e além dos limites da região.

Alpino Germânico – após desfile da Festa Pomerana – festa do município – em janeiro de 2016.

Tradição e História de uma sociedade, em um recorte de tempo, na cidade.

Genealogia e história da família do primeiro Coordenador e Presidente do Alpino Germânico e de sua esposa – Smazek.

Local onde o casal está sepultado – Pomerode SC

Linda Zmazek (Solteira Schmidt) era filha de Paul August Schmidt (1887) nascido em Indaial e de Martha Pawlowsky (1896) nascida em Blumenau. Paul e August se casaram em 1° de julho de 1914. Linda Zmazek nasceu em 20 de agosto de 1914 e partiu em 4 de fevereiro de 1988. Francisco Zmazek nasceu em 24 de fevereiro de 1911 e partiu em 22 de outubro de 2001. Quando o grupo folclórico foi fundado, Francisco contava com a idade de 57 anos e Linda com 54 anos.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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