A construção, os detalhes e a história da Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau
Outro dia nos perguntaram: por que fotografamos tantas igrejas, e por que estas ocupam tanto espaço em nossas pautas e pesquisas? Responderemos como qualquer arquiteto que nutre amor à arte de espacializar.
Os templos, independente da religião, refletem um pouco da face de uma sociedade, como coletividade e suas práticas, através de sua arquitetura e da técnica usada em sua construção, apontando também, o período histórico relacionado ao estilo de arte, técnica e uso de materiais.
Todo arquiteto que possui uma obra considerável, desde o final do século XIX até os tempos atuais, projetou, ou pretende projetar um templo, espaço onde seu maior desafio está em promover a elevação espiritual a partir deste espaço com arte e, que este envolva e complemente o homem, através de suas práticas em si, na escala humana, ou não.
Para nós, portanto, é uma fonte de estudos imensurável e que referencia, dentro de uma sociedade, hábitos e costumes dentro de um determinado recorte de período histórico.
Em Blumenau há um exemplar arquitetônico religioso, em especial, entre alguns. Uma igreja construída com elementos que caracterizam a arquitetura moderna, estilo da arte que na seara da arquitetura encontrou solo fértil no Brasil. No entanto, em Blumenau, a igreja em questão, foi construída no estilo moderno, porém, com uma estética alinhada à cultura do imigrante que fundou Blumenau.
Vamos conhecer um pouco sobre a arquitetura e a história da Catedral São Paulo Apóstolo
“Obedecendo o estilo a linhas modernas, diferentes às das igrejas tradicionais construídas na região, era óbvio que surgissem muitas opiniões a respeito da planta, de autoria dos arquitetos alemães Dominikus e Gottfried Böhm. Inconcebível, para alguns, era a construção de uma torre completamente separada da nave principal. Frei Brás Reuter, pároco e incentivador da obra, chegou a escrever: ‘A planta é ousada. É uma construção em estilo moderno, algo novo e diferente. No Brasil, quase somente são conhecidas igrejas em estilos colonial e gótico. A impressão colhida entre o povo diverge muito’.” Padre Antônio Francisco Bohn.
A pedra fundamental da nova igreja de Blumenau foi lançada em 24 de maio de 1953 e Dominikus Böhm faleceu em 6 de agosto de 1955 (Nasceu em 23 de outubro de 1880), quando a igreja já se encontrava em construção. Foi inaugurada em 25 de janeiro de 1958, um pouco mais de dois anos, após a morte de Dominikus Böhm.
Os Arquitetos – Gottfried e Dominikus Böhn
Gottfried Böhm – nasceu em uma família que tem gerações de arquitetos – na cidade de Offenbach – Hessen, em 23 de janeiro de 1920. Dominikus Böhm, seu pai, ficou conhecido por ter construído inúmeras igrejas em toda a Alemanha.
Destas, acompanhou o projeto de algumas e também, de suas execuções, como foi o caso, da Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau. Seu pai idealizou o projeto, mas faleceu três anos antes de sua inauguração. Seu avô, Alois Böhm, também foi arquiteto. Graduou-se como arquiteto na Universidade Técnica de München em 1946. Simultaneamente estudou escultura na Academia de Belas Artes nas proximidades da Universidade, desenvolvendo, também o Design, também utilizando argila.
Após a 2° Guerra Mundial – trabalhou na “Sociedade para a Reconstrução de Colônia”. No ano de 1951, viajou para Nova York, onde trabalhou durante seis meses no escritório do Arquiteto Caetano Baumann.
É curioso observar sua trajetória profissional com a trajetória de outro arquiteto, também alemão, muito conhecido no Vale do Itajaí, o qual também conheceu a arquitetura brasileira e o concreto armado, através de uma viagem aos Estados Unidos. Este episódio motivou sua vinda para o Brasil e seu nome – Hans Broos, arquiteto que também, auxiliou na reconstrução de cidades alemãs no período pós-guerra.
Gottfried Böhm assinou o projeto da Catedral de São Paulo Apóstolo de Blumenau – junto com seu pai – o arquiteto Dominikus Böhm. Desde sua formatura em 1947, trabalhavam juntos, situação que assim permaneceu, até o falecimento de Dominikus Böhm, em 1955. Depois disto, Gottfried Böhm prosseguiu coordenando o trabalho no escritório de arquitetura, terminando os projeto iniciados e recebendo novos. Curiosamente, nos registros formais de sua obra e de Dominikus, na Europa, os projetos de Blumenau e também de Brusque, não são citados. Pelo menos, até o início desta pesquisa, em janeiro de 2016.
Nos Estados Unidos, Gottfried conheceu seus conterrâneos, os arquitetos alemães Ludwig Mies van der Rohe e Walter Gropius. Gottfried foi casado com a, também, arquiteta – Elizabeth Hagenmüller (conheceu-a em 1948, em München). Elizabeth Hagenmüller trabalhou ao lado do marido em vários de seus projetos, principalmente, nos projetos de interiores. Tinham quatro filhos, dos quais, três também são arquitetos.
Dominikus Böhm – foi filho de arquiteto, pai de arquiteto e avô de arquitetos. Nasceu em 23 de outubro de 1880, na cidade de Jettingen, Baden-Würtenberg, Alemanha.
Estudou na Universidade de Ciências Aplicadas de Augsburg e se formou em 1900. Lecionou entre os anos de 1908 até 1926 na Hochschule für Gestaltung Offenbach. Foi ouvinte de palestras do Theodor Fischer na Universidade de Stuttgart. Construiu igrejas em Colônia, na Região de Ruhr – Suábia e Hesse. Foi um dos principais arquitetos e nomes da arquitetura Backsteinexpressionismus, técnica usada na região do Vale do Itajaí e do Itapocu, trazida por imigrantes alemães do norte da Alemanha, no século XX, explicando a expressão “tijolinho à vista” em regiões colonizadas por imigrantes alemães.
Dominikus Böhm oportunizou os novos materiais e técnicas modernas para os projetos de seus edifícios e igrejas. Desconstruiu a forma e tipologias conhecidas da igreja e a sua forma pura e essencial, com iluminação do altar, este com sofisticado, inédito e arrojado design.
O veterano arquiteto do final do século XIX e início do século XX, período que se ainda construía tipologias enxaimel no Vale do Itajaí, criou uma nova “imagem” para uma igreja – repaginada e moderna. Principalmente na Alemanha – onde construíam suas igrejas dentro da linguagem do neogótico com o olhar para o gótico com todos os elementos que o caracterizava (Arco ogival, monumentalidade, pedras, vitrais, simetria …). Isto também aconteceu nas colônias alemãs da América e também, do Vale do Itajaí – exemplo – a antiga igreja católica de Blumenau – demolida para dar espaço à obra dos arquitetos Böhm’s.
Dominikus Böhm, através da volumetria, criava efeitos a partir do uso da luz sobre paredes translúcidas e opacas, tal qual como os construtores medievais usavam em suas monumentais catedrais. Böhm, no entanto, para criar sua forma moderna, fazia uso da nova tecnologia e materiais.
Usou a luz como parte da construção e como parte da liturgia – que também comunicava. Böhm tirou partido da linguagem da arquitetura e a influência de seu espaço nas pessoas, tal como ocorria no ambiente da catedral gótica e da presença de seus multicoloridos vitrais, com inúmeras passagens e informações bíblicas. Para isto, usava como modelo, o templo antigo dotado com a forma da basílica romana (construção oficial e cível romana – tribunal, fórum e feira) adotada pelos cristãos romanos convertidos ao cristianismo – para ser o seu templo – a igreja, a basílica.
Suas igrejas, eram monumentais, com linhas simples e com a valorização central do altar, por exemplo, o altar da Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau, provido com muito espaço no seu entorno.
Outra característica forte de sua obra presente na arquitetura religiosa e que também inclui seu projeto de Blumenau, são os vitrais. Este elemento, característico das catedrais góticas – na idade média e depois, dispensado nas igrejas renascentistas, foi resgatado, como forte elemento cultural e de identidade por este arquiteto alemão e não muito usado na obra de seu filho Gottfried Böhm.
Os vitrais tinham um espaço muito importante na arquitetura religiosa de Dominikus Böhm e, pessoalmente, tinha um grande prazer em adotá-los em seus projetos, uma de suas paixões. Antes de desenhar os vitrais da Igreja de São Paulo Apóstolo – de Blumenau, desenhou os vitrais da Igreja do Espírito Santo – em 1952.
Parte de seu legado está exposto no Museu Alemão de Arquitetura de Frankfurt.
A igreja projetada por Dominikus Böhm, sob nossa percepção profissional, é uma releitura do neogótico e do gótico alemão, usando a tecnologia da arquitetura moderna, surgida no século XIX, na Europa, e construída durante todo século XX. No Brasil, teve seu auge na década de 1950, e era novidade, durante a construção da catedral, na cidade de Blumenau. A proposta fez uso de elementos da arquitetura religiosa trazida pelos imigrantes do século XIX e início do século XX, adotando materiais encontrados na região, como por exemplo o granito rosa (usado com o concreto armado), o qual também lembrava a cor da arquitetura Backsteinexpressionismus criada pelo arquiteto Dominikus. Respeita-se a identidade a partir da presença e do espaço para criar a monumentalidade, verticalidade e a presença imprescindível dos vitrais – criando a “brincadeira” de luz e sombra, característica importante da obra de Dominikus. Este último elemento, diríamos, trata-se de um dos principais resgates da arquitetura religiosa medieval – principalmente da Alemanha.
Sua arquitetura foi responsável pela definição de uma linguagem contemporânea e moderna, nacional, dentro de seu país, sem com isto perder as características de um conjunto que reporta aos templos góticos – “estilo nacional” alemão, que nunca aceitou totalmente o estilo “internacional” renascentista, que naturalmente, era italiano.
A Construção da Catedral – Imagens do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
De acordo com BOHN, a comissão encarregada pela construção da nova Igreja Matriz de Blumenau foi constituída em 26 de outubro de 1952 coordenada pelo Frei Brás Reuter. Para iniciar a obra, a comissão instituiu uma taxa de contribuição mensal por família – em 2 de janeiro de 1953. Neste mesmo mês, no dia 19, chegou o arquiteto Gottfried em Blumenau, para conhecer o “terreno” da igreja. O arquiteto Dominikus, não quis fazer viagem tão longa. Em 16 de fevereiro, foram retirados o último “material” do Cemitério São José, localizado nos fundos da antiga matriz. O Frei Bohn, denominou “o último caminhão de ‘chamote’ (terra e pedras)”. Soubemos – a partir de relatos – que restos mortais de pioneiros do século XIX, de Blumenau, católicos, foram sepultados em vala comum, no novo cemitério “São José”. Carece confirmação. Já tentamos encontrar registros de nomes do século XIX, da história de Blumenau no novo “Cemitério São José” e não obtivemos êxito.
Em 22 de abril de 1953, Frei Brás cavou a primeira pá de terra, simbolizando o início da obra. O engenheiro responsável pela execução da nova Igreja Matriz de Blumenau foi o engenheiro Franz Hrozek e a direção ficou sob responsabilidade de August Köster.
Em 6 de junho de 1954, durante a festa do Divino Espírito Santo, há coletas de ofertas e prendas pelo comércio local e das famílias. Também neste evento é apresentada à comunidade, a maquete do projeto.
Para a execução do projeto, o principal problema da equipe foi encontrar mão de obra qualificada. Em 6 de março de 1955, foi iniciada a campanha “pró-telha” da nova igreja matriz. Em agosto de 1955, Dominikus Böhm, faleceu na Alemanha.
Em 20 de maio de 1956, foi realizado um grande almoço no vão da construção, para 500 talheres, para angariar fundos para a obra. Marcou o momento, com sua presença, o governador do Estado de Santa Catarina: Jorge Lacerda. O almoço foi feito com doações de comerciantes e das famílias e foi elaborado por senhoras da comunidade.
Em 19 de fevereiro de 1958 aconteceu a benção da Via-Sacra, nas rosáceas laterias. Em 5 de abril de 1958 o batistério foi inaugurado. Em 15 de novembro de 1960 acontece o lançamento da pedra fundamental da torre e, em 28 de março de 1961 acontece o início da construção das escadarias da torre, inaugurada em 20 de maio do mesmo ano, cuja fita foi cortada pelo Prefeito de Blumenau, Hercílio Deeke, pai do historiador Niels Deeke. Em 26 de janeiro de 1963 é colocada a última pedra da torre e em 14 de fevereiro do mesmo ano, grande e pesada cruz, sobre a mesma, pesando 1200 kg.
“Para a construção da Igreja Matriz, existia um projeto cujo orçamento atingia, em 1952, a trinta milhões de cruzeiros. Para uma “Casa de Deus”, a monumentalidade não podia ser prejudicada. E não foi como se pode constatar no templo que foi construído, segundo outro projeto, em substituição ao primeiro, de autoria de Simon Gramlich. E neste se destaca, exatamente, a singeleza de uma construção que veio revelar a pureza da linha arquitetônica moderna, com grande redução de custo, em um orçamento para dez milhões de cruzeiros-igreja e torre.
Há que se destacar o valor do material e dos serviços prestados que não foram pagos, como a doação da madeira para os bancos, o transporte de todo granito vindo de Subida, feito pela Estrada de Ferro Santa Catarina, a terraplanagem e outros serviços feitos pela Prefeitura Municipal, Governo do Estado e firmas blumenauenses. Acrescem ainda as dispensas de direitos aduaneiros e de contribuição ao governo federal e tantos outros préstimos que, se fossem pagos, muito elevariam o custo da obra. Não foram incluídos também os anexos complementares da torre.” Frei Antônio Francisco Bohn – página 83.
Para a execução do projeto, o principal problema da equipe foi encontrar mão de obra qualificada.
A técnica construtiva usada, foi uma técnica mista, ainda não adotada na região e poder-se-ia dizer, ser esta a primeira edificação local a receber paredes autoportantes mistas, de concreto armado, com o assentamento do revestimento, camadas de granito rosa de aproximadamente 15 cm de espessura na parte interna e externa.
Primeiramente foi construída a estrutura de toda a igreja fazendo uso de concreto armado. Depois, foi executado seu fechamento, com vitrais e outras, com concreto armado revestido com granito, procedimento feito simultaneamente dentro do processo de execução.
Elementos que compõem a Arquitetura
A arquitetura, mesmo munida de elementos que reportam visualmente ao neogótico – arquitetura religiosa do imigrante alemão, têm aspectos, técnicas construtivas e material da arquitetura moderna. Possui relevos decorativos no teto, que faz lembrar a forma estilizada das abóbadas das catedrais góticas e depois, neogóticas. A nave é feita de concreto armado e paredes com alma de concreto revestidas de granito rosa – oriundos da comunidade de Subida – Lontras.
O piso do ambiente interno – público, com uma área de 2.085 m2, é revestida por placas de mármore claro com predominância branca. O material usado nas paredes – revestimentos de granito rústico – lembra o material predominante das catedrais góticas construídas durante a idade média.
Após a queda do império romano e o surgimento das cidades muradas e munidas de uma diversidade identitária a partir das muitas tribos “bárbaras” (que não eram os romanos ocupantes dos novos espaços, e convertidos pela igreja católica) e que contribuíam, a partir da adoção da arquitetura da basílica romana e da igreja de Santa Sofia, para a “criação” de novas tipologias de templos nestas cidades intramuros – a partir da arquitetura vernácula de cada tribo.
Tempos depois, estes elementos que caracterizavam as catedrais góticas eram usados novamente, somente que em igrejas menores – dentro do período dotado pelos “neos“, em uma Europa industrializada, na virada do século XIX para o século XX, tempo contemporâneo a Dominikus Böhm.
Mas também, um tempo dos novos materiais e tecnologias, que faziam surgir novos partidos, conceitos, linguagens e arte, como a obra dos arquitetos Böhm’s e também, mesmo sem a mão de obra especializada, presente na sua arquitetura construída em Blumenau.
Segue alguns elementos e comentários técnicos do projeto dos Arquitetos Böhm’s – pai e filho – para Blumenau, a Catedral São Paulo Apóstolo.
Aberturas circulares laterais que aludem às rosáceas das catedrais góticas
São em um total de 16 aberturas que também apresentam as estações da Via Sacra. Estão localizadas nas paredes laterais, a três metros do piso e possuem 1, 80 metros de diâmetro.
Vitrais
Um dos elementos característicos e preferidos das obras religiosas do Arquiteto Böhm – pai.
Como na maioria de suas obras religiosas, os vitrais possibilitam a presença da luz a partir deste fechamento translúcido de suas fachadas. Os vitrais reproduzem motivos litúrgicos estilizados, como: Peixe (Cristo), uva (Vinho), trigo (pão) e água (Batismo).
“Os vitrais utilizados, segundo sugestão de Gottfried e Dominikus Böhm, deveriam ser do tipo ‘antique’. Para importá-los, Frei Brás Reuter conseguiu uma audiência, em 24 de janeiro de 1956, com o Presidente da República” Frei Antônio Francisco Bohn
Observação: Os dois arquitetos decidiram pelo tipo de vitral.
Púlpito
A origem da palavra é o termo latino “pulpitum”, que significa “plataforma” ou “palco”, onde são lidas as leituras e evangelhos. O púlpito da Catedral São Paulo Apóstolo foi executado em mármore branco.
Castiçais
No fundo do altar, de forma simétrica, estão dispostos seis castiçais, com altura de 2,3 metros, feitos em bronze fundido. A sua presença harmoniza com a grande rosácea da parede posterior e o altar, fortalecendo a simetria e a harmonia entre a fonte de luz das velas e a fonte de luz natural.
Pia de água benta
Esculpida em um grande bloco de granito rosa. De acordo com o projeto, a pia de água benta tem a capacidade de atender ao mesmo tempo, 30 pessoas. Sua estrutura é feita de oito colunas que sustentam uma laje circular de granito rosa. Sua espessura é de 30 centímetros e diâmetro de 140 centímetros. A pia comporta 20 litros de água benta e é trocada toda manhã.
Altar
A exemplo do púlpito, também é executado em mármore branco. Está mais elevada que o piso das naves da igreja e tem acesso através de seis degraus e depois mais três degraus. Estes últimos envolvem o altar. Este tem 150 centímetros de largura e tampo com 15 centímetros de espessura.
Rosácea da parede posterior – fundos
É uma grande abertura para entrada de luz com oito metros de diâmetro. Faz parte da composição, outras 20 rosáceas menores – com 60 centímetros de diâmetro. De acordo com a proposta do projeto, a rosácea indica que a força da fé consegue manusear a dureza do granito. Os vitrais, com tons azuis, gotas vermelhas, espinhos verdes e pontos em ouro, recriam a coroa de espinhos de Jesus.
Cruz suspensa
Foi suspensa uma grande cruz, fabricada em latão com banho de ouro, no teto da igreja – sobre o altar. Suspenso “entre o céu e a terra”.
Órgão de tubos
É um órgão que tem quase 100 anos (completará em 2026) e se encontra em processo de restauro coordenado por Paulo Visconti. É o órgão da antiga igreja católica localizada no centro de Blumenau, local da atual Catedral São Paulo Apóstolo.
Órgão Faber & Greve – Durante a obra de ampliação e reformas ocorridas na Igreja Matriz de Blumenau, na década de 1920, também foi instalado um órgão alemão, que de acordo com Paulo Visconti – seu restaurador, o órgão possui 862 tubos e foi fabricado pela Firma Faber & Greve da cidade de Salzhemmendorf, Hannover, Alemanha – em 1926.
De acordo com Visconti, o órgão da Catedral São Paulo Apóstolo possui tração original do tipo pneumática com som com sistema de acionamento por membranas de couro. Contém dois teclados manuais com 56 notas cada e uma pedaleira de 30 notas. Possui ainda, 15 registros e 07 acoplamentos.
Originalmente, seu aspecto externo reportava às linhas neogóticas e a pedido do Arquiteto Dominikus, o invólucro do órgão recebeu linhas contemporâneas para a época e linhas retas, para sintonizar com a nova arquitetura – moderna. O que não compreendemos, é a desconsideração com a originalidade plena deste órgão, cuja fábrica na Alemanha fechou antes da 2° Guerra Mundial. Em Blumenau, originalmente o órgão foi inaugurado na igreja projetada por Krohberger, em 1927.
A partir de registros no Livro de Tombo N°. III pertencente à Paróquia São Paulo Apóstolo, ficou conhecido o responsável pelo translado do órgão da igreja antiga para a igreja nova.
O responsável também pela construção do novo “invólucro” do órgão, obedecendo as orientações do arquiteto Böhm foi o Orgelbaumeister – mestre organeiro alemão Siegfried Schürle, que residia em São Bento do Sul. O início destes trabalhos, de acordo com o documento, aconteceu em 21 de maio de 1957.
Em 25 de janeiro de 1958 a nova igreja foi consagrada. Seu campanário foi inaugurado em 1° de junho de 1963, onde também foi inaugurada a torre e concluídas as obras. Da antiga igreja, permaneceram na nova, os sinos, a ponta do campanário neogótico e o órgão, transladado por Orgelbaumeister Siegfried Schürle.
Em agosto de 2019, iniciaram os trabalhos de restauro do órgão Faber & Greve da Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau. No vídeo, Paulo Visconti, responsável pelo restauro toca e canta durante uma missa.
Confessionários
São quatro confessionários dispostos nas naves laterais – dois de cada lado da igreja. Foram confeccionados em mármore branco maciço, com acentos de madeira e veludo vermelho.
Bancos
Foram feitos 60 bancos maiores, em madeira maciça centrais, e mais 50 bancos menores laterais. Todos feitos na madeira carvalho. Há espaço para quatro mil pessoas, contando que mil pessoas estejam sentadas e três mil, em pé.
Áreas externas da Catedral São Paulo Apóstolo – Observações
“Desde o nível da rua XV, exatamente onde desemboca a Rua Pe. Jacobs, encontramos o primeiro dos 44 degraus que, em 11 lances de 4 degraus, formam a ampla escadaria de 6 metros de largura, em granito maciço. Passando pelo pórtico gigantesco de 30 metros de altura, formado pela arcada da própria torre, conduz-nos a escadaria ao vasto patamar que contorna, já no alto da colina, a magnífica construção. quem sobe, em nicho À esquerda de no próprio granito róseo está colocada a imagem do patrono da Matriz e da agora Catedral de Blumenau.
A torre com seus 45 metros de altura, na tonalidade rosa do granito ao natural acompanha a linhas funcionais da nave da Catedral. Acima da arcada, três aberturas em círculo formam o campanário com seus três sinos acionados eletricamente.” Frei Antônio Francisco Bohn
Torre da igreja
A torre da antiga igreja neogótica, foi colocada no alto desta igreja. Foi fixada na parte mais alta do telhado, no término da obra.
Escultura em madeira – Nossa Senhora, Cristo Crucificado, São José e o cordeiro pascal
Foram esculpidos em cedro e representam a família, o perdão, a comunidade e o sacrifício. Estão dispostos sobre a porta principal localizada na parte frontal da igreja.
Porta de Entrada
É uma porta maciça ricamente trabalhada, com maçaneta de bronze com a forma de peixe – símbolo de Cristo. O portal onde estão a porta é ladeado por panos de vitrais com 15 metros de altura e quatro metros de largura.
Batistério
Tem oito metros de altura por 5,6 metros de diâmetro. Está localizado na frente da porta principal do templo. Foi construído em concreto, granito rosa, mármore com vitrais quadriculados em amarelo, verde, cinza e branco. A pia batismal é de mármore e está localizada no centro do ambiente. A cobertura da pia é feita em vidro com armação de ferro e pende de uma corrente presa à cúpula cônica.
Torre
Construído em granito rosa. Possui 45 metros de altura. Contem três sinos que são acionados eletronicamente. Acima do arco, está os três círculos que guardam os sinos na torre. O objetivo do projeto original era de convidar as pessoas acessarem a escadaria e entrar na igreja. No topo da torre há um cruz em granito de 1,2 mil quilos, importada da Alemanha no ano de 1930. Nas quatro fachadas da torre, vêem-se o quatro mostradores de bronze do relógio, medindo o ponteiro maior 1,20 m de comprimento. Foi inaugurada no ano de 1963, três anos após a inauguração da igreja.
Vídeo
Sinos
Os sinos doados pelo Imperador Brasileiro D. Pedro II à Igreja Católica de Blumenau estavam avariados e sem uso. Foram encomendados 3 novos sinos que chegaram em Blumenau em março de 1928. Frei Gabriel Zimmer teve a iniciativa de encomendar os sinos de uma firma da cidade de Bochem.
O sino maior, chamado de “Jesus” pesa 510 quilos, o sino médio, chamado “Maria”, pesa 350 quilos e o sino menor, chamado “José”, pesa 200 quilos. Seu custo foi de nove contos, quatrocentos e noventa mil e quinhentos réis.
Foram abençoados, de maneira festiva, no domingo de ramos, em 24 de junho de 1928. Como já mencionado, a Igreja Matriz foi modificada, e sua torre foi reforçada e altura aumentada, para receber os três sinos novos, Foram realocados na nova torre – da nova Igreja Matriz, em 1963.
Relógio
Nas quatro fachadas da torre da Catedral São Paulo Apóstolo, estão os quatro mostradores de bronze do relógio, cujo ponteiro maior mede 120 cm de comprimento. Foi fabricado na firma alemã Eduard Korfhage & Söhne. Chegou em Blumenau em janeiro de 1930. Foi transportado pelo Vapor Bagé. Seu peso total é de 484 quilos e possui quatro pesos, cujo total soma mais 290 quilos.
“Com a inauguração da Matriz, hoje Catedral, sinos e relógio foram aí montados, duas verdadeiras relíquias. O relógio foi o primeiro e único, por muitos anos, relógio público da cidade. Ele e os três sinos norteiam a vida do coração pulsante do centro da cidade. É bem verdade que o relógio mudou de face; seus antigos mostradores foram substituídos por outros, novos. Mas o coração é o mesmo, porque, dentro da torre, é a máquina trazida pelo vapor Bagé que impulsiona os ponteiros.
No alto da torre, os sinos enchem de música as cercanias e os mostradores do relógio marcam as horas e os minutos deste povo que “trabalha cantando”, na feliz expressão de Roquete Pinto, quando, em memorável oração, inaugurava, em Blumenau, o monumento ao sábio Fritz Müller.
Nas quatro faces da torre, com ampla visão para todos os recantos da cidade, vêem-se os quatro mostradores de bronze do relógio, medindo o ponteiro maior 1,20m de comprimento. Harmonizando com a arcada e com as aberturas circulares do campanário, a torre toma forma abaulada no seu cimo. No topo a cruz, do mesmo granito da estrutura, pesando 1200 quilos, enquadra-se com a forma e a apropriação da torre.” Frei Antônio Francisco Bohn, p. 88.
Escadarias
As escadarias, também construídas em granito rosa, possuem 44 degraus e tem seis metros de largura. À esquerda, de quem sobe, está localizada a imagem do patrono São Paulo Apóstolo. Sua imagem tem 1,80 metros e é feita de concreto.
Material
Foram usados em sua construção:
- 3.662 metros cúbicos de granito rosa oriundo de Subida e transportado de trem da EFSC.
- 985 metros quadrados de vidros para os vitrais.
- 1.875 metros quadrados de mármore para o piso.
- 20 metros cúbicos de mármore branco para o altar, confessionários, assentos, púlpito e mesa de comunhão.
A igreja projetada pelos arquitetos Gottfried e Dominikus Böhm possui 23 metros de largura, 15 metros de altura e 75 metros de profundidade. Seu átrio tem 15 metros e sua nave – 45 metros. O presbitério tem 15 metros.
A Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau foi tombada como patrimônio municipal, como Patrimônio Cultural Edificado em 17 de julho de 2008 – sob Decreto N° 8.730 .
Curiosidade…
Após a apresentação do Coro de vozes masculinas e de meninos – do coro da Catedral de Aachen – Alemanha. Descobrimos mais detalhes sobre essa arquitetura forte e com grande identidade localizada na área central de Blumenau – Os coralistas se despediram e levaram essa imagem para a Alemanha. Neste episódio nos informaram que na sua cidade, Aachen havia uma igreja projetada por Dominkus Böhm. Mas…
Alguém apagou as luzes, mesmo com todos no interior da igreja. Entendemos que era para que saíssemos logo do local. Ficamos no escuro no interior da igreja e percebemos o espetáculo de luz, e destacamos a intensão do arquiteto, tanto tempo depois da inauguração da execução de seu projeto. Aconteceu a partir da infiltração da luminosidade ocasionada pelas luzes externas sobre o interior da arquitetura, com o efeito de “luz e sombra” ocasionado pelos motivos dos vitrais – efeito rendilhado. Isso aconteceu em 16 de outubro de 2016.
Arquitetura é arte e faz parte da identidade e da cultura de um povo, mesmo estando construída longe de sua origem.
O arquiteto Gottfried Böhm faleceu em 10 de junho de 2021, na cidade alemã de Köln, com 101 anos de idade.
Referências
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- CAVALCANTI, Carlos. História das artes: da Renascença fora da Itália até nossos dias, curso elementar /Carlos Cavalcanti. 3.ed. – Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1978. – 357p. :il.
- SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2. ed. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. 299 p.
- SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
- SENNHAUSERS FILMBLOG – Film is what Works. SFT 15: Die Böhms – Architektur Einer Familie von Maurizius Staerkle-Drux. Disponível em: https://sennhausersfilmblog.ch/2015/01/26/sft-15-die-boehms-architektur-einer-familie-von-maurizius-staerkle-drux/ . Acesso em: 7 de dezembro de 2021 – 19:40h.
- WITTMANN, Angelina. Arquitetura – Backsteinexpressionismus – Arquitetura expressionista com tijolos. Blog Angelina Wittmann – 6 de novembro de 2014. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2016/02/arquitetura-backsteinexpressionismus.html . Acesso em: 07 de dezembro de 2021 – 20:54h.
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- WITTMANN, Angelina. O Relógio de pêndulo, os sinos do início do século XX , o interior da Torre da Catedral São Paulo Apóstolo Blumenau e sua vista panorâmica – Um pouco de História. Blog Angelina Wittmann – 10 de dezembro de 2021. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2021/02/orgao-da-catedral-sao-paulo-apostolo-de.html . Acesso em: 12 de dezembro de 2021 – 9:14h.
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- WITTMANN, Angelina. Seminário de Corupá – Santa Catarina – Uma visita. Blog Angelina Wittmann – 28 de fevereiro de 2016. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2014/11/seminario-de-corupa-santa-catarina.html . Acesso em: 07 de dezembro de 2021 – 21:04h.
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