Por diversos motivos, definir “traje” é importante nas regiões dos vales do Itajaí e do Itapocu, e também, de outras regiões onde existam festas com o perfil alinhado à cultura alemã e relacionado ao acesso livre em muitas destas festas àqueles que estiverem devidamente trajados.
Muitos nos perguntam: o que é traje alemão? Dentro do conjunto a ser analisado para definir o que é traje, citamos: originalidade cultural, identidade da festa dentro do cenário histórico local e regional e na Alemanha, beleza visual e conjunto.
Também é importante definir critérios com embasamento histórico para que o visitante e o residente na região tenha a orientação para compor seu traje e, assim, justificar sua gratuidade do acesso ao ambiente das inúmeras festas regionais, tendo a festa de Blumenau, Oktoberfest, o referencial.
Relembramos que dentro das várias regiões da Alemanha multicultural e multicolorida, há uma diversidade de trajes históricos e todos são originais e dotados de lastro histórico. De todas essas regiões saíram imigrantes para residir na Colônia Blumenau e em outras regiões do Brasil.
Em tempos mais recentes, considerando o período histórico na Europa, são igualmente usados na Alemanha, o Trachtenmode.
O que seria exatamente o traje histórico e o Trachtenmode?
1- O traje histórico:
Devidamente documentado, realmente utilizado pelas pessoas de uma determinada região da Alemanha multicultural, baseado nos materiais disponíveis no local, dentro de um período histórico, necessidades, clima, relevo e outros.
Este traje é normalmente utilizado nos dias atuais por Tanzgruppen (Grupos de danças Folclóricas) e TrachtenVereine (entidades que preservam trajes, usos e costumes).
Também poderá ser utilizado por pessoas que apreciem história e queiram valorizar um encontro cultural das tradições dentro de uma determinada região da Alemanha – a partir de hábitos e costumes da maioria das famílias locais e que tenha um certo lastro histórico.
2- O Trachtenmode:
É uma releitura contemporânea do traje típico histórico – mas voltado para o mundo fashion. É mais leve, mais barato e não segue critérios rigorosos, apenas o estilo Landmode. Poderá ser feito dentro da cultura das diversas regiões alemãs. O traje Trachtenmode mais conhecido e “vendido” na Alemanha é da região da Baviera – Sul do país.
Repetimos – as peças que compõem os trajes de todas as regiões alemãs são as mesmas do traje bávaro, com algumas modificações. São elas: blusa branca, avental, saia, colete, sapato e meia. Sugerimos e desenhamos um traje desses para a realeza da Festa Pomerana 2017.
As flores são acessórios opcionais. Em alguns trajes da região da Baviera, devidamente “equilibrado”, o traje poderá ser usado sem o avental, mas não é recomendado. Também não consideramos parte do traje feminino, aqueles que adotam a Lerderhose (calça de couro).
O Traje para entrar em uma das inúmeras festas da região – como convidado – trajado.
Faz-se necessário definir o que é traje para entrar em uma das festas de cultura alemã da região. O traje ao ser observado e analisado pela organização da festa, pode permitir o acesso à festa com gratuidade
Questões importantes:
Na região, em duas cidades distintas: Pomerode e Blumenau, apresentam perfis culturais diferentes em seus territórios. Mas uma se destaca, até mesmo pelo nome. Pomerode – fundada predominantemente por imigrantes oriundos da antiga Pomerânia – norte da atual Alemanha. Região, localizada bem longe do Sul da Baviera – estado do Sul da Alemanha e que inspira muitas festas ao redor do mundo e também na região de Blumenau, que também teve a migração de pomeranos.
Os trajes históricos da Pomerânia e de outras regiões da Alemanha, tem a sua origem no ambiente rural e campestre. Geralmente usados por camponeses, pastores e pescadores locais – atividades da cultura ancestral percebida também na origem na edificação construída com a técnica construtiva enxaimel, cujo embrião surgiu após a revolução agrícola. Devemos considerar as grandes movimentações sociais e ocupações – que interferem nos hábitos e costumes locais no decorrer dos séculos e dentro dos recortes históricos distintos.
Quanto ao traje feminino e masculino a ser usado nas festas, chegamos a algumas conclusões durante nossas observações.
Traje Feminino
Quase sempre, ao tirarmos as peças mais “pesadas” do conjunto, indispensáveis para climas mais frios e observando os trajes históricos das diversas regiões da Alemanha, que não é o caso das regiões Vale do Itajaí e do Vale do Itapocu, restam as mesmas peças que compõem o “Dirdl” do Sul da Baviera, com variantes nos detalhes e adereços dos modelos das peças do conjunto: Blusa branca, colete, avental e saia plissada e com comprimento mínimo até a altura dos joelhos – original seria no tornozelo.
Também, pode ocorrer a substituição do colete e saia por vestido, cujo resultado visual será quase o mesmo. Há somente a fusão das duas peças. Esta fusão se dá no local imediatamente acima do umbigo e não na cintura como muitos imaginam.
Interessante, pois a partir dessa conclusão, podemos afirmar que, em síntese, o traje feminino é formado pela presença de blusa de algodão branca, colete, saia plissada (Não godê) – podendo ser franzida e ou com pregas, avental e sapatos com ou sem salto (sem ser fino – com ou sem meias).
Se usar meias, não pode deixar o joelho à mostra e a meia deverá ter sua altura sob o joelho, complementando com o comprimento final da barra da saia ou vestido, se for a opção. Esta situação é para considerar os trajes históricos característicos de todas as regiões da Alemanha.
Caso seja adotado o original traje de passeio do Sul da Baviera – Dirdl, poderão ser usados vestidos com comprimento até dois dedos acima do joelho (somente) e sapatos, com ou sem meias de várias cores, mas devem ser sapatos e não sandálias. A meia, nesse caso, pode ser “arriada” tipo polaina, baixa. Com vestidos curtos, não é recomendado usar meias altas (como ilustrado na foto anterior.
Alguns sapatos usados na Alemanha.
Geralmente a blusa é branca e de algodão, com ou em renda ou não. A blusa (em alemão – Trachtenbluse) já foi o suporte ou sutien de uma época – langerie. Por este motivo, não é elegante usar somente a blusa, sem o colete ou vestido. Até é permitido, mas corre o risco de vulgarizar o traje.
O avental pode ser estampado com cores integradas ao conjunto acabado (Pode ter mais de uma cor) ou com uma só cor. Este elemento do traje pode ser importante para variar o conjunto dentro de outras composições de traje, alterando também a blusa (outro modelo).
Sugerimos que não façam o avental com os cantos arredondados e com rendas, fitas e babados (pode-se usar uma fita ou uma grega, mas não em demasia – corre-se o risco de vulgarizar o traje). Deve ser um autêntico avental, mesmo que confeccionado em tecido nobre. Sua faixa de amarrar pode ter uma largura de 6 a 10, 12 centímetros e deve ter o comprimento suficiente para fazer um lindo laço, quase sempre feito na frente do corpo, mas também usado nas costas. Se o conjunto – saia e o colete tiver cor neutra, a cor do avental pode ser vibrante e dotado de brilho. Equilíbrio e bom senso. Gosto.
Colete e saia em cores, quase sempre únicas. Mas há também, estampados (principalmente os coletes). Todos os elementos devem compor de maneira harmoniosa, dentro do conjunto final.
Também, ao compor um traje, o lema “Menos é Mais!”, é verdadeiro.
Nós, preferimos observar o traje do camponês alemão histórico, para compor os nossos trajes, quesitos cores e tecidos.
O colete pode ser separado ou fazer parte do vestido. Ele tem a função de cobrir parcialmente o Trachtenbluse – que em outros tempos era a langerie – suporte de seio. Com o passar do tempo, seu decote foi aumentando e aqui no Brasil, em alguns casos, aumentou tanto, que ficou totalmente desconfigurado e deselegante. A “moda” foi criada pelo comércio local, desprovido de pesquisa e é denominado “ vestido da Frida” e por alguns, até fantasia. Traje não é fantasia e nem somente Frida usa. É traje.
A peça que cobre o Trachtenbluse pode ter fechamento através de fitas e cordões presos e ganchos de metal – adaptação dos trajes antigos medievais usados pelos camponeses, ou por botões, colchetes e zíper camuflados.
Podemos afirmar que essas quatro peças do traje feminino (saia, blusa, colete e avental), juntamente com o complemento do sapato e meias, devem ser consideradas no momento que for observada a composição do traje feminino para adentrar em uma das festas da região – gratuitamente.
Observar, também, que o traje da tradição e cultura pomeranas pode receber bordados florais na blusa, na saia, avental e colete. Também, os cabelos das moças e senhoras podem receber flores colocadas em tiaras, prendedores e fitas. São quesitos opcionais e adornos da região da Pomerânia e não usados no Sul da Alemanha – Baviera. Faz-se muita confusão no Brasil sobre estas questões.
Exemplos do que não podem ser usados
As flores não são permitidas, quando é usado o traje do Sul da Baviera – estado localizado no Sul da Alemanha.
O traje bávaro do Sul do estado alemão é erroneamente adotado como o traje tradicional alemão (único) e quase sempre confundido, como o traje oficial usado em toda a Alemanha e fora dela – o Dirdl e a peça masculina Lederhose – calça de couro e esta deve ser de couro natural ou sintético e não confeccionado de tecido. No mesmo estado – Baviera, existem locais com outra cultura, melodias, cores e sabores e que, não usam este tipo de traje, só para se ter uma noção da diversidade disponível.
Traje Masculino
O traje masculino, igualmente é o traje geralmente usado por camponeses, pescadores, pastores, em determinado período histórico e região do atual território da Alemanha da “lida” ou de “passeio”.
Há pessoas preocupadas com este detalhe na região, como por exemplo o Professor Dietrich Drew, de Pomerode, que compreende que o traje masculino não se resume em Lederhose usado na região.
No traje masculino, quase sempre, a camisa é branca de tecido de algodão, com mangas bufantes e longas (podendo ser usadas “enroladas” ou “arregaçadas” até a altura do cotovelo), com ou sem gravatas, calça preta comprida e colete. Sapatos escuros e meias. A camisa branca, como é o caso da blusa branca do traje feminino era o “camisolão” antigo, peça íntima e de dormir a noite.
Como no traje feminino, também, poderá ser considerado o uso do Lederhose (calça de couro) – peça do traje usado no Sul da Baviera – Sul da Alemanha. Para manter a originalidade, deve ser de couro e não de tecido. Há calças de couros macios e leves e não tão quentes – geralmente feitos de couro de porco. Afirmamos, Sul da Baviera – Sul da Alemanha, porque dentro desse tradicional estado existem diferenças culturais e naturalmente, diferenças no traje. Ao norte do estado da Bavaria – região dos francos – Franken – Francônia – Unterfranken. A cor da bandeira é vermelha e não azul e o traje, é totalmente diferente daquele usado nas regiões montanhosas do Sul da Baviera. No entanto, é Baviera. Por exemplo: usam calça de couro compridas com botões na frente.
Quando a opção for adotar o traje usado no Sul da Baviera, também é permitido o uso de camisas brancas com malhas xadrez em vários tons, como vermelho, azul, preto. O mesmo ocorre com os sapatos, que poderão ser marrons – tons no couro natural e meias “arriadas” ou até embaixo do joelho, em tons claros. No traje típico bávaro do Sul do estado, pode ser adotado, ou não, o uso do colete (dependendo do clima). Não é recomendado o uso do colete quando o clima é muito quente, o que geralmente acontece durante o período das festas regionais. Não fica de acordo e destoa.
Conversando…
Para definir um traje que justifique a gratuidade e entrada nas festas regionais – sendo a de Blumenau – Oktoberfest Blumenau, sugerimos respeito e a observação para com os trajes de todas as regiões da Alemanha, uma vez que o país é o mesmo e o imigrante alemão, independentemente da região de onde tem sua origem neste país, contribui para a formação da identidade destes povos que deram origem a estas festas e migram para a região, até o tempo presente. o intercâmbio nunca findou.
Podemos concluir que – pode ser aceito como traje – de acordo com algumas imagens que seguem. As opções são muitas.
O traje folclórico feminino alemão
Através de Imagens
O traje folclórico masculino alemão
Através de Imagens
Palestra ministrada por nós em 27 de junho de 2021, como parte das atividades On line do grupo de danças folclóricas alemãs – Tanz- und Spielgruppe Gartenstadt, de Blumenau – grupo associado da AFG – Associação dos Grupos Folclóricos Germânicos do Médio Vale do Itajaí – sobre o significado de trajes e o significado de sua origem.
É isso e com isso, usar o bom senso na momento de escolher um traje e na hora de avaliar “O que é realmente um traje” pautado em alguns critérios, como: harmonia, elegância, conjunto, dimensões e proporções, originalidade e identidade. O traje não é uma fantasia. Se fugir de algumas observações importantes que listamos, passa a ser uma fantasia e então é comprovado que deixa de ser um traje.
Há pessoas ligadas às tradições – hábitos e costumes das muitas regiões da Alemanha que visitam as festas com perfil da cultura alemã nas regiões brasileiras e fazem publicações por lá sobre o assunto – semelhante a esta, da imagem abaixo. É preciso ter respeito e cuidados, quando pretendemos manter uma tradição familiar e herança dos antepassados. É preciso ter lastro histórico e identitário e muito respeito – o lucro é consequência da seriedade e do trabalho.
As pessoas fotografadas – turistas – na matéria do jornal alemão (abaixo) são inocentes. Foram consumidores desinformados do que é vendido na cidade de Blumenau e região durante o período do Oktoberfest Blumenau. Lembramos que o intercâmbio entre a região e a Alemanha nunca terminou e temos muitos visitantes daquele país e que também possuem seus celulares e registram para o mundo – o que desejarem.
Incluímos neste contexto do olhar do visitante da Alemanha no tempo presente – a “Casa enxaimel” construída de alvenaria com ripas coladas na paredes. Fiquemos atentos. A originalidade deve ser observada sempre, dentro de uma cultura. Do contrário, pode ser percebida como desrespeito, desconhecimento e também pode ser percebida como algo trágico/cômico, que desperta risos.
Referências
- WITTMANN, Angelina. Como será o Traje da Realeza da Festa Pomerana 2017?. 8 de janeiro de 2017. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/01/como-sera-o-traje-da-realeza-da-festa.htmlhttps://angelinawittmann.blogspot.com/2017/01/como-sera-o-traje-da-realeza-da-festa.html Acesso em: 17 de maio de 2022 – 20:09h.
- WITTMANN, Angelina. Encontramos um tocador de Hurdy-gurdy – Drehleier – no caminho do Schloss Neuschwanstein. 6 de outubro de 2018. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/12/encontramo-um-tocador-de-hurdy-gurdy.html Acesso em: 17 de maio de 2022 – 23:09h.
- WITTMANN, Angelina. Fränkischer Tanzabend – Noite de Dança da Francônia – No C.C. 25 de Julho de Blumenau – Momentos. 22 de dezembro de 2017. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2018/10/frankischer-tanzabend-noite-de-danca-da.html Acesso em: 17 de maio de 2022 – 21:34h.
- WITTMANN, Angelina. Kaschubien – Etnia e cultura que sobreviveram a partir de sua História e Cultura. 17 de junho de 2014. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2014/06/kaschubien-povo-e-cultura-que.html Acesso em: 17 de maio de 2022 – 11:34h.
- WITTMANN, Angelina. O “Alemão” de Pomerode. 18 de outubro de 2013. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/o-alemao-de-pomerode.html Acesso em: 18 de maio de 2022 – 20:30h.
- WITTMANN, Angelina. O que é um traje típico alemão? 2 de janeiro de 2017. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2018/10/frankischer-tanzabend-noite-de-danca-da.html Acesso em: 17 de maio de 2022 – 21:34h.
- WITTMANN, Angelina. Traje da Francônia – Fränkische Trachten – Por Aribert Elpelt. 22 de outubro de 2013. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/traje-da-franconia-frankische-trachten.html Acesso em: 17 de maio de 2022 – 21:40h.
- WITTMANN, Angelina. Trachten in Bayern – Trajes usados na Baviera. 21 de outubro de 2013. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/trajes-usados-na-baviera.html Acesso em: 18 de maio de 2022 – 1:40h.
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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