A origem e evolução da Casa Enxaimel em Blumenau e no Vale do Itajaí
A técnica construtiva enxaimel é uma técnica milenar que se desenvolveu diferentemente em vários lugares do planeta, em recortes de tempo histórico diferentes. Há aproximadamente 30 anos entramos em contato com esta pesquisa, iniciada na região do Vale do Itajaí, antiga Colônia Blumenau, de maneira pioneira, pelo arquiteto e professor Vilmar Vidor. Pesquisamos a técnica construtiva há aproximadamente 25 anos, o que rendeu a publicação do livro: Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel, em 2019.
Neste momento do nosso 5° artigo da coluna Registro para a História, apresentamos parte da pesquisa publicada – de maneira resumida, para fornecer o entendimento da origem, o que é, como se desenvolveu, o que resultou, através de um material inédito sobre a evolução da técnica construtiva enxaimel na região, e como aconteceu em outras regiões, não somente do Brasil.
A origem da técnica construtiva enxaimel – Blumenau – Vale do Itajaí
O enxaimel construído no Brasil foi trazido pelos imigrantes alemães a partir do século XIX e teve sua origem embrionária no cenário europeu neolítico, final do paleolítico superior e depois prosseguiu no mesolítico e neolítico – dentro do território onde está o território da atual Alemanha.
Em suas pesquisas sobre o enxaimel da região do Vale do Itajaí, o arquiteto e professor Vilmar Vidor destacou o fato de a casa construída com estrutura de madeira, apresentar suas paredes de vedação independentes desta, e sem função estrutural. Esta característica da casa enxaimel – a estrutura independente – estava presente nas primeiras casas primitivas neolíticas construídas com madeira – em locais onde não haviam cavernas (mencionadas como se fossem as únicas habitações neolíticas existentes neste período) e onde haviam grandes áreas com muita floresta, tal como na região do Vale do Itajaí, quando chegaram os imigrantes alemães na metade do século XIX.
O Fachwerk ou enxaimel, que consiste em uma estrutura independente em madeira e paredes de vedação sem função estrutural feitas com tijolos ou pau-a-pique. Como a alvenaria não é importante, obtém-se uma redução na espessura das paredes com a consequente economia de tijolos. Esta técnica, junto com várias outras, fazia parte da bagagem cultural dos imigrantes, mas devido às condições aqui encontradas, foi a que mais influenciou a arquitetura do colono alemão. (VIDOR, 1983).
A origem da técnica construtiva com estrutura de madeira aconteceu no momento que homem começou a se fixar em um local, primeiro por algum tempo e depois, definitivamente e deixou de ser caçador e coletor para tornar-se agricultor e pastor – a primeira grande revolução social – conhecida como revolução agrícola. Escolheu um local para suas interações sociais e produtivas, como também, para construir seu abrigo permanente – a casa. Em locais com grandes florestas, limpou o terreno para dar lugar ao assentamento e ao campo. Desde o período neolítico, os materiais básicos usados nas construções de madeira, da Europa Central e Balcãs, onde primeiramente surgiu o embrião da técnica construtiva enxaimel no território da atual Alemanha, eram: argila, madeira e palha/vegetação. Esta prática tinha alguma semelhança com a ocupação das regiões de mata virgem do Vale do Itajaí – coberta pela Mata Atlântica – antiga Colônia Blumenau. Ocupação esta, feita pelos descendentes destes primeiros homens europeus, que promoveram e revolução agrícola. Após um intervalo de tempo, superior a 7 mil anos (da revolução agrícola), temos registros de que os pioneiros no Vale do Itajaí utilizavam praticamente o mesmo material para construir suas casas vernacular temporárias, após a limpa do chão, para construir o abrigo, as plantações e o pasto para o rebanho.
As casas primitivas neolíticas eram sólidas, resistentes, estruturadas com madeira de carvalho, de até 30 metros de largura e 10 metros de comprimento, com uma altura estimada de 6 a 8 metros, com paredes/fechamentos de treliça de salgueiro, revestidas com uma argamassa homogênea feita de barro e palha e, telhado de palha – de colmo ou de junco, a conhecida taipa entre os primeiros imigrantes da região do Vale do Itajaí.
Esse processo também aconteceu de forma diferente, em períodos históricos distintos, no continente europeu, como também em outras partes do mundo e também, no Brasil – conhecida atualmente como casa edificada com a técnica construtiva enxaimel. O nosso primeiro contato com essa informação de pesquisa histórica aconteceu no museu a céu aberto de tipologias históricas de estrutura enxaimel, na Alemanha – Freilandmuseum Bad Windsheim, localizado em Unterfranken e idealizado pelo pesquisador Dr. Konrad Bedal, que nos recebeu no local.
No momento que olhamos o acervo do museu, compreendemos muita coisa sobre a construção de madeira e foi elucidativo para a pesquisa. Dr. Bedal nos explicou algumas questões sobre a evolução da técnica construtiva em madeira e nos foi transmitido como a evolução da técnica construtiva enxaimel. Também encontramos esta mesma análise cronológica, na obra de outro pesquisador alemão, com o qual tivemos contato no Brasil – Dr. Manfred Gerner, cujo material, também fez parte das referências da presente pesquisa.
Resumidamente, o embrião da casa primitiva com estrutura de madeira – no território da Alemanha atual – surgiu no território europeu, mediante a necessidade do agricultor e pastor, homem neolítico, ex-coletor e caçador, ter um abrigo adequado para proteger sua família durante as estações mais mais frias e também, dos predadores, em locais desprovidos de abrigos naturais. A origem do embrião da “primeira casa” no território da atual Alemanha, aconteceu na região do Vale do Danúbio, Sul da Europa Central e Balcãs, mais ou menos nas rotas das migrações oriundas do continente africano, do Homo Sapiens Sapiens e no período aproximado da fixação de seus descendentes no local ocorrido, aproximadamente 12.000 anos a.C.
Na Europa, este processo iniciou no paleolítico superior e prosseguiu no neolítico – Idade do Cobre. No território da atual Alemanha, local de origem da técnica construtiva enxaimel, trazida para o Brasil pelos imigrantes alemães, no século XIX, iniciou por volta de 5.500 a.C., na região hachurada no mapa anterior. Em outras partes da Europa e do planeta, este processo social aconteceu em períodos distintos e de maneiras diferentes – adequadas à realidade de cada local. Atualmente, ainda acontecem essas movimentações sociais do neolítico europeu, em alguns lugares do planeta.
As primeiras casas feitas com estrutura de madeira, no continente europeu, mesmo não reconhecidas como tal, em nenhum livro dos “mais”, foi uma das invenções mais fantásticas do ser humano, sob a ótica da arquitetura e da engenharia civil. Se considerarmos somente a parte estrutural de um edifício, o qual forneceu o embrião que possibilitou, a partir da evolução de sua técnica construtiva, contribuir para a execução de grandes construções nos períodos históricos posteriores, de sua origem neolítica até o momento presente, a partir do uso de diversos materiais, que a tecnologia atual possa oferecer, considerando a estrutura de treliça, que traduzido para o alemão é Fachwerk – enxaimel.
Enquanto que uma estrutura edificada engenhosamente com peças de madeira sustenta a estabilidade da construção, o enxaimel, que partia deste princípio construtivo desde os seus primórdios, antecipou, já desde os tempos mais antigos, a técnica das armações metálicas que desempenham o mesmo papel em nossos dias. O mestre de carpintaria precisa calcular a estabilidade da construção de uma forma muito mais profunda do que, por exemplo, um mestre de alvenaria. (HANSEN, p. 9, 1980).
A técnica construtiva enxaimel, no momento atual é o resultado de uma evolução tecnológica e de materiais cuja origem está na casa de madeira primitiva, construída, pelo menos na Europa, no período neolítico. Paulatinamente foi adaptada às diferentes regiões do continente, em diferentes recortes de tempo histórico, de acordo com a disponibilidade e tipos de materiais disponíveis, e recebia “ajustes” e melhorias de uma geração para outra de construtores. Ao longo dos períodos históricos, a técnica construtiva recebeu novos elementos e adaptações necessárias para a melhoria de seu desempenho ou mesmo, para sua diversificação de usos, gostos e práticas sociais, sem, no entanto, perder suas características – a estrutura de madeira, independente das paredes e os dois panos de telhado com grande inclinação.
Cada um destes fragmentos territoriais terá sua própria história evolutiva da técnica que foi construída e usada, em regiões de todo o planeta onde houvesse florestas e, por conseguinte, madeira.
A técnica construtiva enxaimel, portanto, dentro desta regra de tempo evolutiva, nas diversas regiões da Europa, do Brasil, e também, de outras regiões do mundo, assumiu diferentes formas e maneiras de construir com a presença da estrutura de madeira. Com isto, é muito difícil afirmar que enxaimel iniciou em determinado local, têm determinadas características definidas, e só assim pode ser considerado um legítimo enxaimel. Este procedimento não é justo com os fragmentos evolutivos históricos locais e regionais e também, com as diferentes práticas e usos, dentro dos diferentes recortes de tempo.
Para simplificar, tomamos como objeto de estudo referencial, para limitar e efetuar um recorte do conteúdo, a linha histórica responsável pela formatação das tipologias do enxaimel trazido pelo imigrante alemão para o Brasil. Em território brasileiro, de maneira predominante, o enxaimel é representado em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina, cuja origem (Século XIX) na Alemanha é praticamente a mesma – no entanto a arquitetura desenvolvida nas respectivas regiões citadas é diferente.
A técnica construtiva enxaimel adotada no Vale do Itajaí, a partir da segunda metade do século XIX, foi trazida por pioneiros oriundos do Norte e Nordeste do território da atual Alemanha, mais precisamente dos atuais estados alemães da Baixa Saxônia (Niedersachsen), Mecklemburg – Pomerânia Ocidental (Mecklenburg Vorpommern) e Turíngia (Türingen). Tais imigrantes se instalaram no Vale do Itajaí, lembrando que até 18 de janeiro de 1871 , não existia a Alemanha como estado, cujo território fazia parte do território do Reino da Prússia, dentro de uma linguagem que não era mais construída em sua Heimat, na Europa.
A região do atual território da Alemanha, localizada mais ao norte não recebeu a mesma influência da técnica construtiva romana autoportante de pedra e tijolos – ficou com características mais regionais e originais, semelhantes à casa de madeira neolítica que historicamente surgiu na região da Europa Central, Balcãs e Vale do Danúbio e seguiu, 1.000 ano depois, para esta parte da Alemanha. Não recebeu influências externas.
Citamos este local em específico, por ser a região de origem da tipologia predominante construída com a técnica construtiva enxaimel no Vale do Itajaí. As outras duas regiões brasileiras em que há a presença de enxaimel, a partir de uma amostra considerável, que são Rio Grande do Sul e Espírito Santo, apresentam com maior repetição, edificações enxaimel com a presença da taipa com reboco, revestida com cal (gesso), podendo caracterizar também, a influência da técnica desenvolvida na região da Europa Central.
A tipologia final de uma casa construída com a estrutura enxaimel, em cada solo, está alinhado às características físicas e climatológicas do local geográfico, ao tipo e disponibilidade de madeira no entorno imediato, aos materiais alternativos, às práticas do homem, de suas atividades e finalmente, às relações do grupo residente na casa, com outros grupos externos e seus intercâmbios técnicos, sociais, religiosos e culturais. Estas questões são atemporais e são válidas para todos os períodos históricos e regiões onde houve e há a presença do homem e práticas sociais e tecnológicas.
A Origem da Casa Enxaimel da Colônia Blumenau
A casa de estrutura de madeira que chegou no Vale do Itajaí tem sua origem na evolução da técnica construtiva adotada pelos primeiros agricultores e pastores que se fixaram nas proximidades das densas florestas neolíticas da região do Vale do Danúbio, Sul da Europa Central e Balcãs. Em locais onde não havia florestas, como no sul do continente europeu, desenvolveu-se outra técnica construtiva, cujo abrigo neolítico primário foi feito com pedras e onde inexistiam pedras, com tijolos de barro fabricados e secos sob o sol – quase como o adobe sumério – onde surgiram as primeiras cidades e onde está a origem da civilização ocidental. A estrutura é construída engenhosamente com elementos de madeira ligados entre si, formando um conjunto rígido que mantém a sua estabilidade.
A estrutura enxaimel, conhecida atualmente, é o resultado de uma evolução da técnica construtiva que iniciou com a construção da primeira casa primitiva de madeira neolítica e dentro dos muitos períodos históricos da arte, recebeu ajustes, detalhes, alinhamentos, novos materiais e elementos construtivos, até o momento presente. Não se poderia recortar um período destes e dizer que ali se encontra a verdadeira “casa enxaimel”, pois ela não se fez sozinha e de maneira linear, dentro de um recorte de tempo somente.
A Evolução da Técnica Construtiva Enxaimel nos períodos da História da Arte
Resumidamente, o Professor gaúcho Günter Weimer, um dos primeiros pesquisadores da técnica construtiva enxaimel no Brasil, define e observa, de maneira pontual, o significado de Fachwerk, em seu livro: Arquitetura da Imigração Alemã: um estudo sobre a adaptação da arquitetura centro-européia ao meio rural do Rio Grande do Sul. Segue:
A tradução literal de Fachwerkbau é “construção em prateleiras” e através dele se designa uma construção em que as paredes são estruturadas por um tramado de madeira aparelhada em que as peças horizontais, verticais e inclinadas são encaixadas entre si e cujos tramos (Fach, pl. Fächer) são posteriormente preenchidos com taipa, adobe, pedra, tijolos, etc. Entre nós, tem sido traduzida por enxaimel, que segundo Aurélio B. H. Ferreira, seria de provável origem árabe. Isso é estranho, porque a arquitetura árabe é, essencialmente, de pedra. (WEIMAR, p. 44, 1983).
Para compreender a técnica construtiva enxaimel construída no Brasil, e também, na Alemanha, no momento atual, faz-se necessário observar, mesmo que de maneira resumida, a evolução da técnica construtiva, desde o período do neolítico, passando pelo domínio do Império Romano, Período Românico, Período da Idade Média – subdividido em outros períodos, Período Renascentista, Barroco, dentre outros, até o período atual. Nesta análise, é possível observar os “acréscimos” de tecnologias, decorativismo e materiais, volumetrias e diversidades de elementos construtivos.
O Professor Vilmar Vidor, em um artigo de sua autoria de 1983, deixa evidenciada a presença de pequenas modificações e ajustes na casa de madeira neolítica, para suprir e aumentar a vida útil de sua estrutura de madeira, como também, para trazer conforto ao seu usuário.
A base de pedra resolvia o problema, mas deixava a estrutura menos estável, em comparação com a estrutura com pilares enterrados até um metro no solo. Para dar maior estabilidade à construção, passaram então a ser empregadas peças de madeira inclinadas que contraventavam a estrutura, dando às construções em “Fachwerk” a sua aparência definitiva e a sua característica mais conhecida (VIDOR, 1983).
A casa de madeira neolítica foi o embrião da casa enxaimel atual e dotada uma técnica peculiar, também adotada pelo pioneiro – imigrante alemão e descendentes, para construir sua casa temporária no Vale do Itajaí e em solo brasileiro, com o material retirado do entorno – séculos XIX e XX.
Apresentamos, de maneira resumida, o acréscimo de novos elementos na estrutura, surgidos durante a evolução da técnica construtiva enxaimel ao longo dos principais períodos históricos – na Europa para, em seguida, compreender a Classificação desta evolução na Colônia Blumenau.
Arquitetura Pré-Românica – Período Pré Românico – 500 a.C. a 476 d.C.
O termo pré-românico designa a primeira das três seções principais da Idade Média no espaço cultural europeu. Durante muito tempo, o período entre 500 e 1050 d.C. foi considerado uma era “escura” ou “atrasada”. Atualmente é considerada um período de transição entre a Antiguidade para a Idade Média e como um período à parte.
Os romanos conheciam a construção com a técnica construtiva enxaimel. Faziam o uso de forma mista, com construções de pedra e madeira. O arquiteto romano Marcos Vitrúvio Polião se manifestou no século I a.C. quando aponta as desvantagens da estrutura enxaimel – ele não era muito simpático à estrutura de madeira e escreveu em sua publicação “De Architectura”: “Enxaimel, gostaria que nunca tivesse sido inventado”.
Vitrúvio exigiu, mediante “a teima” dos povos da região continuar a construir suas casas com madeira, que esta estrutura fosse levantada do solo para evitar a umidade na madeira. O mais importante, nesta passagem histórica é seu reconhecimento e o reconhecimento da técnica construtiva, como de fato – enxaimel. Vitrúvio denominou enxaimel àquelas construções no chão.
Como mencionado pelo Professor Vilmar Vidor, e também por Vitrúvio – a estrutura de madeira da casa primitiva neolítica construída na região da Europa Central, Balcãs e Vale do Danúbio tinha um ponto fraco e um dos grandes problemas das edificações construídas pelos homens, até a atualidade, ou seja, o contato da estrutura com a umidade do solo. No caso da estrutura de madeira, com maior probabilidade de danos e do encurtamento de sua vida útil.
O conjunto perdeu a estabilidade que tinha através da “fixação” no solo e, para suprir esta deficiência, o construtor da época inseriu novos elementos de madeira na estrutura feita com o mesmo material, a madeira.
Neste período, para conseguir um conjunto estrutural estável e elevado do chão, foram adequadas três mudanças fundamentais na estrutura da casa primitiva. A primeira foi a criação do alicerce ou pilaretes de pedras – influência da arquitetura praticada pelos romanos, que utilizavam a alvenaria de pedra e tijolos. Com isso, elevaram a estrutura de madeira do solo. A segunda, foi a colocação de elementos horizontais – uma “cinta” de madeira, também na parte inferior, na qual seriam “amarrados” os elementos ou, caibros verticais – Schwelle. Na parte superior já era presente a cinta de madeira, a qual recebia a carga da estrutura do telhado – Rähm. Este conjunto, formado somente com caibros verticais e horizontais, ainda não estaria de fato estável sobre a fundação de pedras, que poderiam ser somente pilaretes de pedras assentadas umas sobre as outras e não, um muro fechado. Para de fato enrijecê-lo, a terceira mudança foi o acréscimo de elementos inclinados – pares de caibro conhecidos como Gegenstrebe – na armação da estrutura formada pelos caibros verticais e horizontais, contraventando o conjunto.
Para facilitar a execução do conjunto desta nova concepção e construção da casa do início da Idade Média, os carpinteiros e artesãos da madeira perceberam que para trabalhar melhor e também, para obter melhor rigidez do conjunto, os paus não poderiam ter a seção redonda natural, e sim, precisavam ser submetidos ao beneficiamento, como já faziam com o beneficiamento das tábuas, que eram usadas no fechamento da casa neolítica, através do rompimento com cunhas, usando os veios naturais para a obtenção da seção retangular.
Com a seção quadrada, os paus não rolavam e facilitava a execução e feitio do encaixe dos Strebe, Fussband, Kopfban, Gegenstrebe, entre outros. Não somente agregaram esta mudança na construção da casa com estrutura de madeira no século V, deixando os paus da estrutura e diversos tipos de caibros com a seção quadrada, como também, efetuavam determinados cortes nas extremidades dos mesmos, facilitando o encaixe entre duas ou mais peças, técnica que se aprimorou ao longo dos séculos seguintes, exigindo realmente engenhosidade matemática dos artesãos, que evoluíram a técnica, como nunca antes, dentro de todo o período medieval.
Enxaimel Românico – Período Românico
Aperfeiçoamento das muitas mudanças ocorridas na técnica construtiva enxaimel da Europa, após contato com os romanos, no século I a.C., prossegue neste período, no qual é destacado o Estilo Românico. O termo românico descreve o período histórico da arte medieval europeia entre o pré-românico e o gótico na pintura, escultura e arquitetura. A arquitetura românica começa por volta do ano 1.000 – século XI – e ocorre em toda a Europa.
Neste período aconteceu o acréscimo de mais uma opção para o fechamento além da taipa e da tábua, usada há mais de 6 mil anos. O fechamento/parede da estrutura, recebeu a alvenaria de pedra e depois, os tijolos. Também surgiu o primeiro pavimento construído com alvenaria autoportante na casa enxaimel – criando-se assim, a casa construída com a técnica construtiva mista. Lembra muito, construções atuais, onde o uso da madeira se restringiu à estrutura do telhado
Enxaimel Gótico – Período Gótico
A arquitetura gótica foi construída entre os séculos XII século XVI. Nesse período ocorreram mudanças sociais e econômicas relevantes na Europa. O cristianismo determinou a visão de mundo. Também o crescimento econômico deu aos cidadãos das cidades emergentes, possibilidades anteriormente inimagináveis de desenvolvimento e uma nova autoconfiança, quando o estilo dominante desta época era o gótico.
A construção com a técnica construtiva enxaimel continuou a evoluir dentro do período gótico e as casas com estrutura enxaimel sobreviveram séculos, devido às fundações que foram usadas nesse período – pedras e, em alguns casos, outros materiais, com os pavimentos térreos feitos totalmente com alvenaria autoportante. Nesse momento histórico, a construção com enxaimel foi da pós-construção até a construção de estande, passou a ter definitivamente a característica de “pré-fabricado” – madeiras encaixadas para depois serem “montadas” no local definitivo. Outra mudança agregada à tipologia desta técnica construtiva foi a verticalização, talvez inspiradas nas catedrais de suas principais cidades.
Com esta tecnologia mista, a partir da estrutura enxaimel e paredes autoportantes, faz-se necessário o acréscimo de novos elementos estruturais na trama de madeira. Foram introduzidos novos elementos construtivos, complementando a estrutura de madeira, para adquirir um reforço horizontal e melhor distribuição de cargas.
A casa enxaimel gótica, quase sempre parte da vizinhança das catedrais de pedras e vitrais, eram seguras e locadas intramuros. Possuíam novos elementos estruturais denominados Struts (escoras) e os caibros inclinados – os Strebe. Com estes dois elementos de construção, isolados, as forças laterais eram absorvidas e a parede, desta forma, era contraventada e permanecia rígida, sem sair do “esquadro”.
Por muitos milênios, o elemento estrutural vertical de madeira – Stil /Ständer – foi fixado diretamente no chão (desde a casa primitiva de madeira). Na Idade Média, após contato com os romanos e naturalmente, com a técnica construtiva de alvenaria de pedra, a casa de madeira passou a ter uma fundação contínua de pedra ou, pilaretes com o mesmo material, separando assim, o elemento estrutural de madeira da umidade do solo. No período gótico, a casa enxaimel também recebeu a “verticalização”, como nunca visto antes.
Na região do território da atual Alemanha, surgiram dois tipos de edificação: o Ständerbau do medieval mais antigo, e o Rähmbau, com a construção do piso de maneira independente para cada pavimento, o que também permitiu a verticalização com a presença de alguns pavimentos nas edificações enxaimel.
Enxaimel Renascentista – Período Renascentista
Entre os anos de 1470 e 1550, ocorreu a transição entre o Gótico e o Renascimento, quanto à maneira de construir a casa enxaimel na Europa. Aconteceu novamente uma nova evolução e refinamento das possibilidades estruturais da casa enxaimel. O conjunto estruturado de maneira unitária foi substituído de maneira definitiva por complexas construções articuladas – cujo resultante eram edifícios verticalizados com estrutura enxaimel. Além do detalhe e da perfeição da técnica, a estrutura enxaimel do século XVI ao século XVII atinge seu grau de refinamento e decorativismo máximo – dois séculos antes da migração para o Vale do Itajaí.
Houve grandes contrastes na forma de construir, dentro do território da atual Alemanha. Enquanto no Sul da Alemanha, eram criadas verdadeiras obras com painéis de parede individuais preenchidos com cruzes artisticamente desenhadas e esculpidas, no Norte da Alemanha as construções se limitavam ao aspecto restrito e ao trabalho de madeira puramente construtivo – origem do enxaimel que veio para a Colônia Blumenau.
Além deste detalhe arquitetônico – soma-se a influência renascentista nas artes plásticas, onde as fachadas receberam uma gama de cores em seus elementos, agora não mais somente estruturais, mas também decorativos – muitos dos quais são ricamente esculpidos e pintados. Há vários registros e artigos, como também edifícios, ainda presentes nas paisagens das cidades onde aconteceu esta evolução na técnica construtiva enxaimel – desde o neolítico, o que denota, e é perceptível, a mudança de consciência que ocorreu durante esse período.
A linguagem predominante da casa enxaimel construída no Vale do Itajaí tem semelhança com uma das tipologias construídas na Baixa Saxônia, região do Vale do Weser. A principal característica é o fechamento/parede com tijolos maciços aparentes.
Enxaimel Barroco/Rococó – Período Barroco
O Barroco surgiu na Itália no século XVI, após o Concílio de Trento, realizado entre os anos de 1545 e 1563, que reuniu a cúpula da Igreja Católica e em que se decidiu pela oposição às inovações propostas pela Reforma. Nos 3 séculos seguintes irradiou para outros países da Europa, com mais ou menos influência. A construção das casas enxaimel prosseguia, mas com muitas restrições e diminuiu muito com término do período do Barroco – final do Alto Barroco, nos séculos XVIII e XIX.
Em muitas cidades, a partir de cuidados das autoridades locais, pela facilidade com que a casa de madeira incendiava, e onde o incêndio era praticamente desprovido de controle, pelo material e pela proximidade das casas entre si, muitas delas localizadas intramuros, foram criadas muitas restrições. Um caso que aconteceu após um incêndio na cidade de Einbeck, em 1826, quando foi determinado que todas as paredes frontais das casas enxaimel da cidade deveriam ser rebocadas. Entalhes preciosos foram destruídos com machadadas pelos pedreiros da época. Em 1811, as novas construções enxaimel junto ao Rio Main foram proibidas na cidade de Frankfurt.
As edificações existentes e que recebiam a “maquiagem” barroca ou eram construídas dentro da linguagem barroca, continuavam apresentando sua fachada, igualmente adornadas com motivos esculpidos e pintados em seus elementos estruturais, com as diferenças de que eram evitadas as linhas retas, sempre que possível. Também foram acrescidos em suas fachadas, e também na estrutura de madeira do teto, um revestimento de estuque, o que era um desperdício sob o aspecto material e estético. Por que isto acontecia? Através da influência do Barroco, novo estilo e padrão estético, principalmente do classicismo (neoclassicismo) e o ecletismo, tal como aconteceu na Colônia Blumenau – atual Vale do Itajaí, quando “desapareceram” as edificações construídas com a técnica construtiva enxaimel da área central de Blumenau e também nas nucleações urbanas do interior do município, na virada do século XIX para o século XX. Muitas casas enxaimel estão escondidas por trás do reboco e da “maquiagem” neoclássica, art decó e ecléticas presentes na paisagem atual da centralidade de Blumenau, principalmente na Rua XV de Novembro, Wurststrasse – antiga Estrada da Linguiça.
Com isso, acontecendo no cenário europeu, e também, na região da Colônia Blumenau, no interior de Santa Catarina, acentuou-se o menosprezo pelo enxaimel. Desde o século XVIII, por motivos de vergonha, começou-se a esconder a estrutura feita em enxaimel com uma cobertura de reboco externo, para assim dar a impressão de que ali se encontrava uma construção de alvenaria autoportante com a linguagem do estilo contemporâneo vigente.
Enxaimel – Construção contemporânea – Sustentabilidade
Mesmo com a diminuição da construção de novas casas enxaimel e a retirada de outras tantas da paisagem, nunca se parou de construir com a técnica construtiva enxaimel e também não se extinguiu a manutenção e o cuidado com as tipologias pertencentes ao patrimônio histórico arquitetônico, ainda presentes na paisagem. A tecnologia, continuou acompanhando a evolução da tecnologia e também a nova ordem mundial, sob o enfoque da sustentabilidade.
A casa com estrutura de madeira contemporânea é uma combinação de construção histórica em estrutura enxaimel, estrutura de madeira, tecnologia de construção de ponta e cumprimento de requisitos alinhados à sustentabilidade. A principal matéria prima, a madeira é processada industrialmente e do material retirado de áreas de reflorestamento, onde nada se perde da matéria prima natural. Em alguns casos, o processo industrial da produção da estrutura enxaimel contemporânea segue dentro de uma linha de produção industrial automatizada. Também sua forma e volumetria receberam atualizações. A casa de estrutura de madeira contemporânea usa a técnica construtiva da construção pré-fabricada, como era executado no passado, porém com o processo automatizado e industrial com a principal matéria prima originária de reflorestamento.
A sua estrutura apresenta elementos verticais e horizontais somente, como era na casa primitiva neolítica. Portanto, nesse momento, é invalidada uma das questões citadas, entre muitas, no momento presente para que uma casa de estrutura de madeira seja considerada uma autêntica tipologia enxaimel (Receita de bolo de pessoas que ignoram). Ou seja, para estes, “só é enxaimel aquela edificação que possui estrutura de madeira contraventada através de elementos verticais, horizontais e inclinados (Strebe)”. Errado!
Compartilhamos nosso artigo apresentado no 27º Congresso Mundial de Arquitetos – UIA 2021 RIO: 27th World Congress of Architects, onde apresentamos parte da sequência de nossa pesquisa sobre enxaimel, onde vinculamos análises e apresentamos a evolução da técnica construtiva, munida da inserção de tecnologia contemporânea, sem com isto, descaracterizar a estrutura de madeira, resultante de uma evolução de mais de 7 mil anos.
A última página do livro: Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel, assevera que “[…] a madeira é o único material que pode atingir a sustentabilidade. Concreto, vidro, cerâmica, plásticos só emitem carbono e seus processos produtivos, enquanto que a madeira acumula carbono.“ Dando sequência.
O enxaimel tornou-se um elemento cultural na Europa e em outros locais do Planeta – em cidades brasileiras fundadas por alemães, motivo pelo qual a fonte desta pesquisa está localizada na Alemanha.
No período do aquecimento global e das ações sustentáveis do século XXI, o enxaimel é apontado como opção entre tecnologias e materiais testados cientificamente. Desde a década de 2000, a Alemanha vem desenvolvendo pesquisas.
De acordo com Lützkendorf, o enxaimel representa uma técnica sustentável, não apenas com ênfase, justificando o uso de matérias-primas renováveis, mas também, na construção de edifícios possíveis e passíveis de desmontar e reciclar.
Para acessar o artigo apresentado no congresso – Clicar sobre:
- 2021 International Conference: 27th World Congress of Architects Enxaimel e Sustentabilidade International Proceedings (Site Congresso)
- Enxaimel e Sustentabilidade (Drive Blog
A Classificação Das Casas Enxaimel no Vale do Itajaí a partir da área urbana e rural
Para a compreensão da parte histórica e aspectos técnicos relacionados à técnica construtiva enxaimel no Vale do Itajaí, classificamos a evolução da sua produção na região, a partir do início da segunda metade do século XIX – na chegada dos primeiros pioneiros, durante o surgimento das novas classes sociais na virada do século XIX para o século XX, até o término da 2ª Guerra Mundial – ano de 1945, nas áreas rurais e nas áreas urbanas da região.
A forma de construir a casa enxaimel nestas duas áreas: urbana e rural; durante o seu processo local e regional, na linha do tempo histórico, sofreu mudanças distintas sob as movimentações sociais, as quais contribuíram para as mencionadas diferenças tipológicas locais e regionais e apresentam, a tipologia final que caracteriza a casa do Vale do Itajaí.
A Casa Temporária
O processo de povoamento das primeiras nucleações urbanas na Colônia Blumenau e consequentemente, a construção das primeiras casas temporárias, em seguida, as casas permanentes, teve início na metade do século XIX, período em que a técnica construtiva enxaimel já não era mais muito popular na região do atual território da Alemanha. Isso porque, com o surgimento do Barroco na região do atual território da Itália, no século XVI, após o Concílio de Trento, decidiu-se pela oposição às inovações propostas pela Reforma (ocorrida no território da atual Alemanha).
Dentro da pequena produção que continuava a existir na região da atual Alemanha, as construções das casas enxaimel enfrentavam restrições, o que fez com que diminuísse sistematicamente sua construção, no término do período Barroco, séculos XVIII e XIX – mesmo período da imigração dos primeiros grupos de imigrantes daquela região para o Vale do Itajaí. Com as restrições criadas através de legislações locais que exigiam, por exemplo, que as fachadas das casas enxaimel fossem rebocadas a fim de proteger as madeiras, em função dos inúmeros incêndios que vinham ocorrendo. Isso limitou muito a construção do enxaimel.
Como poderia ser descrita a tipologia como estrutura enxaimel produzida por estes imigrantes, em solo brasileiro, neste mesmo período e nas décadas seguintes?
A casa local da região do Vale do Itajaí mudou e acompanhou as mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, bem como recebeu adequações às características locais e aos materiais disponíveis no local, durante as primeiras décadas de fundação da Colônia Blumenau. Wettstein (1907) destaca em seu livro publicado em Leipzig – Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau, que o imigrante começou sua existência na nova terra de maneira miserável e restritiva e levava de dois a três anos de trabalho duro, morando em uma casa provisória construída, imagem anterior, no meio da primeira clareira aberta na floresta. Após a construção de sua casa e cozinha enxaimel, com porcos, galpões de gado, grandes pastagens e campos férteis, seu objetivo estava alcançado, em um primeiro momento.
Quando a família do imigrante chegava ao Vale do Itajaí, geralmente, ao encontrar seu lote colonial, disponibilizado legalmente por Hermann Blumenau, no início da colonização, independentemente da região da grande colônia, esta limpava uma clareira, na qual construía seu primeiro abrigo, não muito diferente dos primeiros abrigos em solo europeu no período neolítico, no território de origem de seus antepassados.
Dentro dos vários recortes de tempo, nas cinco primeiras décadas de colonização da região do Vale do Itajaí – principalmente no Médio e Alto Vale, repetia-se o processo similar, ao momento da chegada das, na mata. Abriam clareiras no lote colonial e construíam seus abrigos de paus roliços, para preparar a plantação, o pomar, o pasto e em mutirão, logo mais, construir a infraestrutura pública, a escola, a igreja, a sociedade de tiro e também, construir a casa permanente.
As primeiras casas dos colonos foram bastante simples, pela necessidade premente de construção de um abrigo e pela carência de mão de obra e recursos financeiros. O material empregado era o tronco de palmeira para as paredes e suas folhas para a cobertura, com chão de terra batida. (VIDOR, 1983).
No interior da Colônia Blumenau, quando a família estava de posse de sua terra, acampava, e após, com material retirado do entorno, construía o abrigo provisório, diferentemente do que acontecia na centralidade da Colônia Blumenau, onde existia o barracão dos imigrantes que acomodava as famílias de imigrantes, semelhante a um albergue atual, até o momento que estas pudessem estar na sua propriedade de maneira definitiva, na casa permanente.
A origem destes imigrantes que chegaram ao Vale do Itajaí na segunda metade do século XIX era de diversos lugares do atual território da Alemanha, com maior representação das regiões Norte, Nordeste e Média, destacando imigrantes de Schleswig-Holstein, Mecklemburg, Pomerânia (Vorpommern e Hinterpommern), Brandenburg, Silésia, Prússia, Saxônia, Turíngia, Hannover e Braunschweig. Nesse período em que chegaram à região, deixaram as suas cidades após o barroco tardio. Relembrando que neste período existiam restrições legais, por parte do poder público, para novas construções de casas com estrutura enxaimel, como também, passou-se a rebocar, pelo menos a parede frontal das casas em algumas das regiões da Alemanha – que passou a existir como nação em 1871.
A Casa Permanente – Áreas Urbana e Rural
À medida que aumentava a prosperidade da colônia, as casas deixaram de ser construídas diretamente sobre o solo, para serem elevadas sobre pequenas fundações em alvenaria. Com isso o piso deixou de ser de terra batida, substituída pelo assoalho de tábuas (VIDOR, 1983).
A casa permanente é uma casa mais sólida, construída elevada do chão, através de baldrames apoiados sobre pedestais de tijolos ou pedras, com a elevação do assoalho feita de madeira, o que protegia o seu interior contra insetos, cobras e também contra a umidade do solo e o apodrecimento das madeiras, problemas percebidos nas tipologias neolíticas por aqueles que viviam na idade média. A elevação do piso, na região do Vale do Itajaí, também contribuiu para amenizar o clima interno em dias quentes. Porões foram exceção.
A primeira casa permanente urbana e também, rural, construída nos primeiros tempos no Vale do Itajaí, apresentava uma tipologia bem característica e semelhante entre si, sem os acréscimos dos anexos e adequações que receberam posteriormente a partir de uma evolução regional e de adequação ao local.
Em alguns locais do interior do Vale do Itajaí, o fechamento da primeira casa foi totalmente feito com madeira, passando a impressão de ser uma “casa de madeira”.
A primeira casa permanente quase sempre possuía a planta retangular ou quadrada, simetria nas fachadas, a partir da distribuição das aberturas de madeira, dois panos de telhados de inclinação maior que 80% , como eram construídas no território da atual Alemanha. Estas pessoas haviam tido contato com a técnica construtiva enxaimel em seu estágio áureo de aprimoramento e técnica, em suas cidades de origem e no Brasil, precisavam construir suas casas dentro de um contexto totalmente adverso e rude. A madeira estrutural era totalmente beneficiada manualmente, ou falquejada, como o faziam no alto neolítico. É possível constatar marcas deste processo na estrutura de madeira de casas existentes na paisagem atual, onde são perceptíveis as marcas do enxó e ou, do Breitbeil.
A casa permanente era construída de maneira semelhante na área urbana – Stadtplatz – da Colônia Blumenau e também, no seu interior, na área rural.
De acordo com o Professor Vilmar Vidor (1983), entre os imigrantes que chegaram na primeira leva junto com o fundador para iniciar a colonização da Colônia Blumenau, tinha somente um carpinteiro. Após 20 anos de fundação, a Colônia Blumenau possuía então, 35 carpinteiros, 27 pedreiros e 8 olarias, para construir as cidades.
Casa Permanente Rural
A casa permanente rural, a partir da primeira casa permanente, construída após a casa temporária recebeu melhorias, troca de materiais e também adornos, dependendo da região na qual foi construída e da região de origem da família na Alemanha. Também ocorreram melhorias na propriedade, tornando-se um complexo agrícola de produção, agricultura e pecuária, com espaços organizados e setorizados para as diferentes atividades, com ranchos, locais para fazer Schmier (geleia) e compota de frutas, guardar os grãos, fazer o trato dos animais, tirar o leite, entre outros tantos.
A casa permanente rural “limpa” de anexos e com planta quadrada ou retangular começou e receber elementos, agregando mais áreas construídas em sua área edificada pronta. Em um primeiro momento, de madeira e, posteriormente, com estrutura enxaimel e fechamento de tijolos, de alvenaria autoportante, com estrutura de concreto e fechamento de tijolos rebocados, entre outros – o que acontece até o momento presente em reformas de tipologias históricas, construídas com a técnica construtiva enxaimel. Em nossas pesquisas encontramos anexos construídos em diferentes períodos históricos, independentemente do ano da construção da casa. Os anexos foram colocados na fachada frontal e na parte posterior. Na parte frontal, a partir da presença da varanda, algumas vezes com parte de sua área fechada, criando mais um ambiente, ou totalmente aberta, linear à parede frontal. Na parte posterior, o anexo era um ambiente inteiro ao longo da parede – lugar do fogão (fogão à lenha), geralmente construído com tijolos e chapa de ferro.
As nova casa construída com a técnica construtiva enxaimel, na área rural posteriormente à casa permanente, conta com a presença de “experimentos”, semelhantes àqueles feitos no período neolítico na Europa Central e responsável pelo aperfeiçoamento e evolução da técnica desenvolvida pelo antepassados destes pioneiros. Esta evolução aconteceu ainda no século XIX. A nova geração de casas recebeu anexos e “nova volumetria”, a qual foi aprovada enquanto espaço e uso na região com aspecto rural. Ou seja, planta retangular ou quadrada (da casa original) sob o pano de telhados com a maior inclinação, mais os anexos frontal e posterior, dos ambientes da varanda e local do fogão respectivamente.
O pano de telhado contemplado com duas inclinações: uma inclinação menor, criando uma “quebra”, para viabilizar e aumentar a altura do pé direito no acesso localizado nas extremidades mais baixas do telhado, viabilizando a passagem das pessoas. Esta mudança na forma de construir a nova casa permanente, com a técnica construtiva de enxaimel local, caracterizou uma nova etapa na forma de construir no interior, região rural da Colônia Blumenau e do Vale do Itajaí.
A “nova casa rural” que surgia no Vale do Itajaí agregou elementos que formaram a tipologia característica, a qual refletia a identidade das casas da região, munida de características únicas e locais, “criadas” no local, diferentemente do processo da casa permanente e suas mudanças ocorridas na centralidade da colônia – no Stadtplatz.
Com isso, criou-se a falsa ideia de que a casa enxaimel é de uso estritamente rural e não urbana. Isso não confere. Seus processos de adequações ao lugar é que foram diferentes, a partir da primeira tipologia construída nas áreas rural e urbana – que foi a mesma em todo o território da Colônia Blumenau – a qual denominamos casa permanente urbana.
Primeiramente, de maneira rústica e sem muitos ajustes, foi agregada uma varanda linear ao longo da fachada principal que tinha inúmeras funções. Além de criar um ambiente de descanso e contemplação, o pioneiro também criou um elemento que protegia a parede frontal e a porta de acesso principal da chuva e do calor intenso. Plasticamente completou o conjunto muito bem e de maneira harmônica e empírica, a partir do volume da casa permanente rural e também da urbana. Em alguns casos, na falta de mais ambientes, se fechava parte da varanda com paredes e surgia mais um, e muito raramente, dois ambientes nos dois extremos da varanda.
Para “equilibrar” o conjunto, quase de maneira simétrica, foi colocado um anexo na parte posterior, junto à fachada dos fundos da casa permanente rural. Na inserção destes anexos houve igualmente a “quebra” no pano de telhado, que possuía dois valores de inclinação, sendo a maior, com valor superior a 80%, e a menor, inclinação suficiente para a obtenção de um pé direito razoável na parte mais baixa da cobertura.
No ambiente construído junto à parede posterior da casa permanente rural, foi criado o lugar do fogão, o ambiente da cozinha. O fogão deixou de ficar sob o piso do sótão – no centro da casa, onde quase sempre era o espaço de um quarto e também celeiro, lembrando dos aspectos funcionais da casa neolítica. A nova situação do fogo, possibilitou o afastamento do fogo do outro quarto – localizado geralmente ao lado direito da sala, evitando o aumento do aquecimento na casa, durantes os dias mais quentes, questão não tão necessária na Europa, onde a chaminé do fogão e da lareira, muitas vezes eram colocadas no interior de paredes para melhor aproveitamento do calor nos ambientes adjacentes às mesmas, durante os dias mais frios.
Casa Permanente Urbana
A casa permanente urbana é a evolução da casa enxaimel construída no Stadtplatz da Colônia Blumenau – sua centralidade – nos primeiros anos de fundação e no entorno imediato, a partir da casa permanente. Nos primeiros anos de colonização, as casas permanentes não apresentavam diferenças entre as construídas no interior e na sede da Colônia Blumenau. Construíram a tipologia da casa feita na Alemanha, com planta retangular, simetria das fachadas, dois panos de telhados, com inclinação maior que 80%, geralmente com o aproveitamento do sótão – caracterizando a existência da mansarda, e para o melhor desempenho, quanto à cobertura, esta, geralmente feita com telhas de barro planas, as quais não têm bom desempenho quanto à impermeabilização das águas das chuvas, usadas com pouca inclinação. Lembrando, que desde o período neolítico, quando usavam folhas e fibras na cobertura, a inclinação usada era mais ou menos esta e foi uma das características da casa de madeira neolítica, que permaneceu até o momento atual.
A centralidade de Blumenau, desde a sua fundação, na metade do século XIX, até as primeiras décadas do século XX, era repleta desta tipologia, desde o Palmenalle Strassen Boulevard Wendeburg – atual Rua das Palmeiras, localizada onde estava a centralidade, o Stadtplatz da Colônia Blumenau, até a Rua do Comércio – Wurststraße, atual Rua XV de Novembro e ruas adjacentes. Analisando a casa permanente da região urbana da colônia e suas transformações na forma de construir e o acabamento visual, para melhor entendimento, destacamos cinco momentos, os quais, algumas vezes se sobrepunham e aconteciam simultaneamente dentro de uma nova transição espacial.
Imigrantes continuaram a chegar da Alemanha, de maneira constante na virada do século XIX para o XX e nas primeiras décadas do século XX. Alguns destes viviam nos grandes centros da Alemanha ou próximos destes. Conheciam as restrições existentes em cidades da atual Alemanha, como aquela que especificava que a fachada frontal da casa enxaimel deveria ser rebocada. Algo curioso aconteceu na área urbana da Colônia Blumenau quanto à forma de construir, ainda no século XIX. Observando algumas imagens deste tempo destacamos algumas construções “novas” com estrutura enxaimel, no entanto, com a parede frontal rebocada.
Apresentamos os “dois anexos” mais usuais e repetidos que caracterizaram a casa permanente urbana na Colônia Blumenau.
O primeiro anexo que apresentamos é um alpendre construído sobre a porta de acesso principal. Em um primeiro momento foi feito somente como proteção da porta e era de construção muito simples. Com o passar dos anos, este elemento recebeu o mesmo decorativismo encontrado em casas enxaimel construídas na Alemanha, com adornos e detalhes renascentistas e barrocos, sendo que a aparência e a técnica usadas nas casas permaneceram as mesmas e só mudou, quando a estrutura enxaimel começou a ser rebocada, dentro de uma nova prática de construir na região.
Um exemplo atual que ilustra a casa permanente urbana com alpendre, construída na década de 1850 é a casa que foi a residência de Hermann Wendeburg – construída em 1858, Diretor Interino da Colônia Blumenau, durante ausência do Diretor Hermann Blumenau – em períodos das primeiras décadas da colônia. A casa, atualmente, continua localizada no mesmo terreno em que foi construída, na antiga Palmenalle Strassen – Boulevard Wendeburg – atual Rua das Palmeiras – Stadtplatz. É a tipologia da capa de nosso livro Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel escolhida por seu significado, importância histórica e casa de quem foi, grande personalidade da história local e regional – Hermann Wendeburg.
Mesmo sendo usado em casas construídas na década de 1850, a casa enxaimel urbana continuou a receber o alpendre sobre a porta também em meados da década de 1920, na área urbana da Colônia Blumenau. Algumas, mesmo apresentando sua estrutura enxaimel coberta por reboco, possuíam o alpendre, sobre a porta de acesso principal.
A casa permanente urbana, também recebeu outro detalhe volumétrico para viabilizar maior ventilação e iluminação e, simultaneamente, forneceu uma característica diferenciada à mansarda e diferentes formas ao telhado da casa urbana da Colônia Blumenau. Este elemento se chama Dachgaube na língua alemã.
Existem outros anexos usados no telhado, mas este em específico se fez presente na casa permanente urbana da Colônia Blumenau, desde as primeiras construções. A tipologia foi construída em várias áreas urbanas do Vale do Itajaí e não somente no Stadtplatz da colônia. Geralmente era construída nas casas com característica de multiuso, contendo o perfil comercial/industrial e residencial e através de sua presença no sótão – então mansarda – tornando-o mais funcional, agradável, ventilada, arejada, ampliando a área residencial da edificação, com conforto. Além disso, externamente, a volumetria da casa ficava bem interessante e com maior número de elementos e detalhes podendo usá-los de formas diferentes, criando outras opções de composição através da criatividade.
O Dachgaube poderia ser construído, com estrutura enxaimel e fechamento de tijolos maciços rebocados ou não, com paredes autoportantes ou, com estrutura enxaimel revestido com madeira.
Novas Construções – Estilo internacional.
No final do século XIX e início do século XX, houve reflexos no Vale do Itajaí, advindos da Alemanha, onde não se construía mais com tanta intensidade, casas com a técnica construtiva enxaimel. Surgiam novas linguagens arquitetônicas fazendo uso de novas técnicas construtivas e estilos arquitetônicos, como o neoclássico, neogótico, art nuveau, eclético e, mais tarde, art decó. Este fenômeno internacional repercutiu com maior intensidade na sede da Colônia Blumenau. No interior, a construção da tipologia da casa permanente rural, continuou, com a construção de uma ou outra casa comercial, seguindo a linguagem arquitetônica internacional, mas eram muito poucas e geralmente eram filiais de casas comerciais fortes cuja matriz estava localizada na sede da colônia.
A nova configuração social no Vale do Itajaí do início do século XX foi moldada por movimentações sociais através do surgimento da indústria, do comércio regional, novos caminhos interligando regiões, meios de transportes e novas tecnologias na construção (com novos materiais) e também, da presença das Companhias Colonizadoras, que contribuíram para o surgimento de uma nova casa permanente urbana em algumas nucleações do interior da Colônia Blumenau, diferentes daquelas construídas na centralidade da colônia
Por volta de 1895, uma das áreas mais valorizadas da bacia do Itajaí, banhada pelo Rio Hercílio, começou a ser colonizada por meio de concessão dada à Companhia Colonizadora Hanseática, sediada em Hamburg, Alemanha. Quando estes imigrantes chegaram à região, cinco e seis décadas após os primeiros pioneiros, traziam consigo, novos hábitos de construir, diferentemente daqueles usados no Stadtplatz da Colônia Blumenau, que já tinha mais de 50 anos de existência (desprovidos de atualizações alinhados aos novos tempos europeus) e, portanto, suas casas enxaimel eram construídas de maneiras diferentes daquelas construídas na região. Neste tempo, a Colônia Blumenau era munida de uma ferrovia que a ligava ao porto fluvial, localizado no Stadtplatz, foz do Ribeirão Garcia no grande Itajaí-Açu até o porto marítimo e também até o interior da colônia – sentido Oeste, o que facilitava o transporte de produtos locais para outras regiões e também, produtos oriundos de outras partes do Brasil e até mesmo da Europa.
Simultaneamente, de maneira etnocêntrica, criaram-se narrativas, por parte daqueles que residiam na área urbana, de que a casa construída com a técnica construtiva enxaimel era de uso exclusivo daqueles que viviam no interior da colônia. Para esta nova elite do início do século XX, a casa enxaimel era uma casa rural e não urbana e não deveria ser construída na “cidade”, como também não representava a casa de um “comerciante” e de um “industrial”.
Falou-se com tanta veemência sobre esta questão, que as novas gerações acreditaram nisso e a ventilaram como uma verdade, o que não o é. Ao contrário, não teria ocorrido a evolução da casa permanente rural e da casa permanente urbana – nas primeiras décadas de colonização, a partir de uma tipologia histórica única – sendo que uma ainda permanece no Stadtplatz da Colônia Blumenau, a tipologia histórica pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico de Santa Catarina – a residência de Hermann Wendeburg, cuja data de construção é 1858.
Na virada do século XIX para o século XX, quando iniciou a definição das classes sociais na colônia fundada por Hermann Blumenau em 1850, a partir da definição da divisão do trabalho que tem sua origem no assentamento das primeiras famílias e também, consequentemente da produção social regional, quando houve a separação espacial dos agricultores, comerciantes e os industriais, fez surgir novas práticas de construir, observando os estilos internacionais, presentes nas capitais do Brasil e na Alemanha, que variavam do neoclássico, neogótico, eclético e o art decó – da época. As novas casas desta nova elite da Colônia de Blumenau da virada do século XIX para o XX não eram mais construídas com a técnica construtiva enxaimel, mas eram edificações autoportantes, rebocadas com acréscimo do decorativismo de acordo com o estilo adotado vigente – acompanhando a tendência internacional.
Mas nem sempre esta estrutura era aplicada de forma original. No período de transição da forma de construir e da adoção da nova técnica construtiva, muitos optaram em continuar a usar a estrutura enxaimel rebocada, talvez por falta de mão de obra especializada, economia e até mesmo, falta de conhecimento técnico.
Muitos dos novos adeptos às novas linguagens e estilo arquitetônicos da região do Vale do Itajaí do início do século XX, também reformaram e repaginaram a sua “velha edificação enxaimel” e a “transformaram” em uma tipologia com características do art decó, do neoclássico, do neogótico ou ainda em uma edificação dotada com as características ecléticas.
Curiosamente, muitos contemporâneos desta época de depreciação à casa enxaimel regional, ousaram afirmar e a propagar que a estrutura enxaimel com tijolos aparentes em seus fechamentos, deixava transparecer que seu proprietário não tinha condições financeiras para rebocá-las, pressionando para que muitos o fizessem, por ignorância e para que não fossem julgados como “fracassados” sociais. Em locais mais isolados onde esta “ignorância” demorava chegar ou nem chegava, se continuava a construir a casa permanente rural, o que contribuiu para fixar mais ainda, a lenda, de que a casa enxaimel regional era uma tipologia rural somente com as características da casa permanente rural – dotada de varanda, risco da cumeeira paralela à rua e com o anexo posterior – local do fogão usadas somente pelo “colono”.
Enquanto na centralidade da Colônia Blumenau, muitas vezes, as pessoas rebocavam a casa permanente enxaimel para parecer o novo estilo internacional vigente ou construíam novas casas com este aspecto – no interior da Colônia Blumenau prosseguiu-se a construir a casa permanente rural.
Na Alemanha, também se rebocou a estrutura enxaimel, movidos por algumas questões: segurança devido a incêndios – após o período barroco; proteção da madeira estrutural às ações do tempo e fungos – tema apresentado para nós pelo arquiteto responsável pelo acervo arquitetônico da cidade murada medieval Dinkelsbühl – Arquiteto Holger Göttler que explanou in loco. Göttler falou sobre a deterioração da madeira exposta e o comprometimento da estrutura se essa não for coberta pelo reboco. Na Alemanha, existem, igualmente, muitas tipologias rebocadas, mas o objetivo é preservar a madeira estrutural das casas.
Casa Enxaimel Após a 2° Guerra Mundial
Pouco tempo antes, durante e após a 2° Guerra Mundial – período entre as décadas de 1930 e 1950, consequência do nacionalismo impetrado na região, pelos governos de Getúlio Vargas e de seus interventores no Estado de Santa Catarina – Aristiliano e Nereu Ramos, entre outras, muitas restrições, foi aplicada a de esconder que existia a cultura alemã na região, seus hábitos, fábricas, técnicas, casas e costumes. Deste período restam profundas marcas sociais, na paisagem e no seio da sociedade que vivia no Vale do Itajaí, formada predominantemente por alemães e italianos e seus descendentes. Sofreram bullying oficial e popular e humilhações, dentro das cidades que construíram, através de suas casas, entre estas, a casa enxaimel – marca de identidade das cidades e daqueles que a construíram, muitas vezes sem a presença do estado brasileiro. Os acontecimentos políticos do governo Vargas atingiram e suas consequências, marcaram mais de duas gerações. Encerrou a construção de casas com a técnica construtiva enxaimel em toda a região. Esta foi retomada, muitas décadas depois, de maneira lenta, envolta de “verdades”, conjecturas, estórias, lendas, pseudo-conceitos, os quais também nos inspiraram a pesquisa e a publicação de parte desta.
Outras tipologias características da Região do Vale do Itajaí
Além das casas enxaimel, com uma tipologia característica, e que poderiam ser classificadas dentro de um grupo predominante e de uma prática de construir na região do Vale do Itajaí, houveram muitas outras tipologias construídas com a técnica construtiva enxaimel – com diferentes volumetrias, detalhes e tamanhos, entre as quais, escolhemos algumas com breve apresentação e comentário por sua peculiaridade dentro da técnica construtiva regional, sob um olhar da escala internacional. Este foco tem um grande potencial para dar prosseguimento a uma linha de pesquisa, com estudo melhor detalhado – onde deixamos o desafio.
A partir do surgimento das Companhias Colonizadoras, que tiveram seus negócios na região, mais ou menos na virada do século XIX para o XX, houve algumas construções de casas enxaimel diferenciadas – fora deste processo evolutivo local da modelagem da tipologia regional. Isso aconteceu porque os imigrantes deste período tinham contado com a prática construtiva mais recente, na Alemanha – já formada e organizada como nação e da forma de construir, no mesmo período. Quando vieram os primeiros pioneiros não existia o estado da Alemanha, mas diferentes ducados, com hábitos e costumes diferentes, mesmo dentro de um pequeno território.
Enquanto se construía, na sede da Colônia Blumenau, usando a mesma maneira e técnica, com os mesmos carpinteiros – há cinco ou seis décadas, nestas colônias fundadas no interior da grande Colônia Blumenau pela iniciativa das Companhias Colonizadoras, surgiam novos profissionais que traziam parte da técnica construtiva solidificada na Alemanha, como por exemplo, casas com elementos decorativos do renascimento e do barroco parte característica da técnica construtiva alemã em madeira, dos séculos XVIII e XIX, antes não adotadas e, também, de grandes construções, de dois ou três pavimentos, com a estrutura segmentada e tipo a casa Hähmbau. Também algumas tipologias semelhantes a estas, de maneira isolada, foram construídas no Stadtplatz da Colônia Blumenau e nas imediações.
A Casa Alfredo Michelmann construída pelo construtor Alfredo Michelmann, tem aspectos da casa enxaimel alemã Rähmbau, renascentista e barroca, através da presença dos Balkenkopf e Knagge (Permite a construção superior transpassar a inferior através da estrutura de madeira e caibros com comprimentos menores) e dos Strebe (travessas) em curva. Poderíamos chamar esta tipologia de eclética, composta com estrutura enxaimel, contando com a presença da mansarda, da varanda e do porão – inexistente na casa primitiva alemã e usado após o contato com os romanos. Aberturas características da casa regional, fechamento também através da presença dos tijolos maciços aparentes, como era construído em algumas regiões da Alemanha Centro/Norte.
Esta casa foi realocada de seu lugar de origem para a praça onde estava o busto do pioneiro Pedro Wagner, no Bairro Vorstadt – na entrada Leste da cidade de Blumenau SC – Durante o processo da relocação foi descaracterizada em sua volumetria original – perdeu sua monumentalidade e presença no espaço, como também sua estrutura de madeira foi modificada.
A primeira estação ferroviária de Blumenau foi uma das tipologias mais interessantes e complexas construídas com a técnica construtiva enxaimel no Vale do Itajaí, no início do século XX. Foi inaugurada junto com o primeiro trecho ferroviário da extinta ferrovia EFSC, em 3 de maio de 1909 e estava localizada no km 49,50 da ferrovia. Sua estrutura era composta por todos aqueles elementos presentes em uma construção renascentista alemã, contando com partes autoportantes, mostrando que estava alinhada com o que se vinha construindo na Alemanha, através dos edifícios mistos.
Sua tipologia é composta com base na integração de vários volumes distintos e diferentes inclinações do telhado, dando-lhe movimento em suas fachadas, e seus espaços eram distribuídos em dois pavimentos, com aproveitamento do sótão – caracterizando a mansarda. O fechamento foi feito com tijolos maciços rebocados e acabamento de cal. A estrutura do telhado também foi executada em madeira, com telhas planas, do tipo germânico, de barro cozido. As aberturas foram feitas em madeira com janelas de folhas almofadadas com vidro. Há a presença de sacadas superiores com balaústres, também em madeira.
A primeira estação ferroviária de Blumenau, a partir de sua estrutura de madeira, sofreu várias modificações ao longo de sua pouca existência. Assim que foi inaugurado o novo trecho ferroviário de Blumenau a Itajaí – a estação de Blumenau deixou de ter sua importância para aquilo que fora construída – ficou fora do trajeto – resultado das ações do Engenheiro Breves Filho. Foi desativada de seu propósito no ano de 1954 – data da inauguração do trecho Blumenau a Itajaí. A partir de 1954 passou a ser usada como escritório da EFSC e foi demolida em 1974 – 20 anos após deixar de ser a Estação Ferroviária de Blumenau – da EFSC e com uma existência de somente 65 anos na paisagem da cidade.
Friedrich von Ockel foi um engenheiro que residia no Stadtplatz da Colônia Blumenau, no início do século XX, e tem sua história ligada à história ferroviária regional. Em 1898, a Lei nº 392, de 20 de setembro, lhe concedeu a construção de uma ferrovia, ligando a sede da Colônia Blumenau à nucleação urbana de Aquidaban (Apiúna). Esteve em Blumenau, o engenheiro alemão Soliz, para estudar o projeto. A Lei nº 430, de 11 de outubro de 1899, prorrogou o prazo para a assinatura do contrato de construção da ferrovia até 31 de dezembro de 1900. O engenheiro, certo do prazo para início, lançou a primeira estaca da construção no dia 18 de dezembro de 1899, em um evento solene, com a presença de representantes das lideranças locais, estaduais e do público em geral.
A Casa Duwe foi construída no início da década de 1930 por Carl e Maria Lindner – agricultores, produtores de arroz do interior de Indaial SC. O carpinteiro contratado foi Otto Wolter. A volumetria da edificação é o resultado de uma tipologia bem diferenciada partir do uso da técnica construtiva de encaixes de madeira à vista com fechamento de tijolos maciços aparentes utilizados em diferentes tons, resultando em mosaicos criados a partir do assentamento e disposição destes, também usados em detalhes decorativos através de frisos – características do Backsteinexpressionismus do norte da Alemanha.
A casa ficou conhecida como “Duwe”, porque os membros desta família eram funcionários dos Lindner’s, e mesmo com nove filhos, foram estes que cuidaram de Carl Lindner na sua velhice. Os Duwe receberam a propriedade como herança, quando ficou conhecida como “Casa Duwe”.
A planta da edificação é quadrada, contando com a presença de uma varanda frontal e lateral (direita), ambas guarnecidas com acabamentos treliçado, feitos de madeira. A edificação conta com a presença do Dachgaube nas fachadas frontal e posterior, quase criando um telhado na forma de “Cruz”. Com isto, sua mansarda tem uma grande área disponível, bem iluminada e ventilada – com 5 quartos. Suas fachadas são munidas de simetria, lembrando a casa primitiva regional, se passaria por ela, não fosse o diferente jogo de telhados cobertos por telhas planas e germânicas de barro queimado.
A Casa Comercial Warnow foi construída por August Voigt, em fins do século XIX e início do século XX. Apresenta a mesma técnica construtiva enxaimel e fechamentos com tijolos maciços, construídos na Colônia Blumenau, mas com uma planta e jogo de telhados totalmente diferente. A edificação possui uma mansarda, sendo que no lado direito conta com a presença do Dachgaube, ainda, uma parcela da parte frontal tem uma porção do telhado prolongada, para proteger as portas com características comerciais e na parte do frontão existe uma sacada junto à mansarda. Tornou-se um espaço nobre, a partir destes acréscimos.
A tipologia pertencente ao patrimônio histórico local está tombada sob o processo estadual Nº 297/2007 (antigo 001/2007). Está localizada na Rua Marechal Deodoro da Fonseca, nº 567/597 – Warnow – Indaial – SC.
Edificação monumental construída com estrutura enxaimel, atípica e totalmente diferente daquelas construídas na sede da Colônia Blumenau no mesmo período, muito raramente. Neste tempo o enxaimel já não era muito bem visto pela nova elite. Mesmo apresentando a estrutura de madeira encaixada, o fechamento é rebocado. Sua volumetria se caracteriza por inúmeras Mansardfenster (janelas da mansarda) sendo que, havia um grande Dachgaube demarcando a esquina de maneira simétrica. Escolhemos esta tipologia para estar dentre estas, por apresentar Strebe em curva, caracterizando uma edificação com linhas do barroco alemão, localizada no interior de uma povoação fundada a partir da iniciativa e negócios das Companhias Colonizadoras, que mantinham contato direto com a Alemanha, no início do século XX. Esta casa foi demolida.
A nucleação urbana de Vila Itoupava distava aproximadamente 30 quilômetros do Stadtplatz da Colônia Blumenau, no início do século XX. Nessa época, os líderes locais dessas comunidades se reuniam para construir um hospital que atendesse – mais perto de cada nucleação – um hospital regional. A primeira sede do Hospital Misericórdia foi construída com a técnica enxaimel, com fechamentos de tijolos maciços aparentes. É uma tipologia de grande porte, contando com a presença de uma varanda com guarda corpo de madeira e também do Dachgaube. Junto ao Dachgaube, também há alguns Mansardfenster, ou seja, janelas na mansarda, para criar fonte de luz natural e ventilação na mansarda, e ainda, o porão com janelas.
Atualmente o edifício continua fazendo parte do complexo hospitalar da Intendência da Vila Itoupava, mas não com a valorização que o edifício requer. Seu uso atual está destinado a serviços, como copa e cozinha e localizado aos fundos do atual layout do complexo hospitalar. Desperdício de originalidade e história que reflete, além da beleza plástica. Poderia estar sendo usado como hall e a recepção do Hospital Misericórdia, esses localizados na nova edificação construída em alvenaria, maquiada como se fosse estruturada em enxaimel – reproduzindo um cenário da técnica construtiva.
A Casa Krüger foi construída no início do século XX, com a mesma estrutura enxaimel da região, fechamento com tijolos maciços, aberturas em madeira, janelas com duas folhas envidraçadas e também as portas tem duas folhas para abrir, em madeira. Seu volume e localização no terreno, em relação à rua, são totalmente diferentes do usual da casa permanente rural e também da urbana.
Como todas as casas permanentes rurais, tipologias enxaimel da região na mesma época, o sótão era utilizado como quarto, com a diferença de que nesta edificação, a mansarda possui uma sacada que conta com pilares de madeira munidos de decorativismo feitos a partir da presença de arabescos, produzidos manualmente em madeira. A mesma varanda, em largura, repete-se na parte inferior, que acessa um grande corredor ladeado de portas que levam a quartos e no seu final, chega-se à sala. Este decorativismo na madeira lembra elementos do renascimento e do barroco alemão. A planta da casa é totalmente diferente da casa permanente rural da região e tem clara influência da casa colonial brasileira, talvez por estar próximo do histórico caminho das tropas da serra para o Vale do Itajaí.
Nos dois extremos da varanda há dois pequenos quartos, cujo acesso fica fora da área da casa. Este detalhe, mais uma vez, nos reporta a casa brasileira, cujo pano de telhados era feito a partir de 4 águas e munido de grandes beirais.
As igrejas/escolas eram as primeiras edificações construídas junto a um pequeno conjunto de casas que daria origem a uma povoação, nas muitas fundadas no Vale do Itajaí. A maioria dos imigrantes alemães, em função de seu local de origem na Alemanha, eram da religião protestante e nesta época, no Brasil, a igreja católica também representava o estado. Com isso, as igrejas luteranas tinham restrições para construir seus templos. Uma dessas restrições era a presença da torre no edifício, permissão dada somente aos templos católicos. Quase sempre as primeiras igrejas, construídas com a estrutura enxaimel, tinham a tipologia semelhante à casa dos primeiros pioneiros, com pequenas diferenças. Isso aconteceu até a Proclamação da República – novembro de 1889, quando a igreja católica foi desvinculada do estado. As igrejas já construídas receberam torres, quase sempre de madeira, como ilustra esta fotografia da capela da povoação Rio Ada, de Timbó SC.
As primeiras igrejas dos pioneiros quase sempre foram construídas com a técnica construtiva enxaimel, sendo que não demorou muito para que adotassem os estilos internacionais – eclético e neogótico, também no início do século XX.
Blumenau fundado pelo Padre José Maria Jacobs. Em 2 de agosto de 1901, Hermann Weege fundou seu negócio, no local aproximado onde está localizado atualmente, o Teatro Municipal de Pomerode SC. Esta construção também ilustra o surgimento da divisão de trabalho na Colônia Blumenau, só que neste caso em específico, não aconteceu a adoção da tipologia da casa permanente urbana. Hermann Weege fundou seu hotel com a tipologia da casa permanente rural. Na época, este local era o centro das atividades sociais da povoação e da comunidade, como também era o salão de baile, restaurante e onde paravam os ônibus. No volume do anexo agregado à primeira casa permanente, não está uma varanda, mas sim, a ampliação da área fechada dos ambientes do Hotel, semelhante ao que aconteceu na área dos fundos.
Esta região era tida como região rural dentro da Colônia Blumenau, e explica a escolha da tipologia da edificação enxaimel. Atualmente a edificação comporta o Restaurante Pomerode, tipicamente alemão.
Então, concluímos…
Enxaimel definitivamente não é um estilo, não é limitado dentro de um conceito engessado dentro de um recorte de tempo somente, não é “ripa” colada em um parede de alvenaria, não é tecnologia repassada pelos indígenas que viviam no Brasil quando chegaram os pioneiros, não foi construído e usado pelos “colonos” somente, não é coisa velha, não é passado, não é coisa pobre, não é só aquela edificação que tem tijolos à vista, …,.
A casa com a estrutura enxaimel é um dos muitos modelos resultantes de um processo que teve início durante a primeira grande revolução do homem, quando este deixou de ser coletor e caçador e se fixou no solo, tornando-se agricultor a pastor. Homem que domou, segundo Munford, a si mesmo e depois, o meio insalubre que tinha que tirar a sua sobrevivência e construir a sua casa primária com materiais tirados deste meio, o embrião da casa de madeira encaixada, com a presença dos primeiros encaixes.
Enxaimel é uma estrutura de madeira independente das paredes, com toda a complexidades da distribuição de cargas que isto significa e só conseguida nas casas de alvenaria após os experimentos na igreja de Santa Sofia, no século VI e depois evoluído até chegar a leveza dos vitrais das catedrais góticas – o ápice desta revolução na técnica construtiva em alvenaria de pedras. A casa de madeira já apresentava a sua estrutura independente das paredes, 6.000 anos a.C.
A estrutura enxaimel agregou identidade e características diferenciadas às cidades intramuros, e depois às cidades livres assentadas juntos aos rios, na Alemanha, na Europa e também, no Vale do Itajaí e outras regiões do Brasil.
Ao contrário do que afirmam as pessoas desprovidas de conhecimento, a técnica construtiva nunca deixou de ser construída em solo alemão, por representar uma das expressões culturais máximas – na forma de arquitetura – daquelas cidades e que habita o inconsciente coletivo, há mais de 7.000 anos. As pessoas que guardam este patrimônio no tempo presente e também constroem novos, são descendentes diretos daqueles que iniciaram o embrião desta técnica construtiva no período neolítico e esta foi repassada de uma geração a outra, sempre com o acréscimo de melhorias e novas tecnologias advindas de experimentos práticos.
Há também, aqueles que fazem questão da tradição no momento de construir uma casa enxaimel, utilizando as mesmas ferramentas, rituais e práticas, de alguns milhares de anos atrás outros da época áurea medieval – período nacional da Alemanha, onde a produção contemporânea de enxaimel faz uso de tecnologia de ponta, robótica, modelagem, disponibilidade em catálogos, com diversos tipos de materiais para o fechamento, formas e volumes, tudo seguindo a rigorosa legislação ambiental e construtiva daquele país.
Atualmente, na Alemanha, o uso da estrutura enxaimel e sua versatilidade mediante a disponibilidade de diversos materiais alternativos para seu fechamento tem também, o aspecto ecológico e seu uso relacionado à sustentabilidade do bem morar.
Referências
- BEDAL, Konrad. Häuser und Landschaft – Fränkisches Freilandmuseum. Ansbach – Alemanha: Editora Schmidt Druck GmbH, 1999.
- BRASILIANA FOTOGRÁFICA. Instituto Moreira Salles. Álbum de Blumenau – Vista Parcial da Cidade – Acervo Pedro Corrêa do Lago. Disponível em: <http://brasilianafotografica. bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2621> Acesso em: 30 de setembro de 2019 – 21:27h.
- BÜCK, Sthephan. Wie die Bayern Bauern wurden – Das Neolithikum. Disponível em: <http://www.landschaftsmuseum.de/Seiten/Lexikon/Neolithisierung.htm> Acesso em: 11 de julho de 2019 – 19:40h.
- CAVALCANTI, Carlos. História das Artes: curso elementar. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
- GERLACH, Gilberto S.; KADLETZ, Bruno K.; MARCHETTI, Marcondes. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. 1. ed. São José: Clube de cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019.
- HANSEN, Wilhelm; KREFT, Herbert. Fachwerk im Weserraum. Hameln, Alemanha: CW Niemeyer, 1980.
- LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina: a terra, o homem e a economia. Florianópolis: UFSC, 1968.
- VIDOR, Vilmar. Arquitetura, cultura, identidade local. Revista de Divulgação Cultural. v. 17, n. 58, maio 1995 / abr. 1996, p. 47-50.
- VIDOR, Vilmar. Arquitetura urbana em Blumenau. Vitruvius – Arquitextos, agosto de 2003 – Ano 4, n. 39-04. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/ 04.039/660> Acesso em: 17 de dezembro de 2018 – 22:00h.
- VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Edifurb, 1995. 248p, il.
- VIDOR, Vilmar. O Enxaimel Blumenauense Atual. Blumenau: 1983. Artigo não publicado, em anexo.
- WEIMER, Günter. Arquitetura popular da imigração alemã. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
- _______. Arquitetura da imigração alemã: um estudo sobre a adaptação da arquitetura centro-europeia ao meio rural do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 1983.
- WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig: Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
- WIKIMEDIA COMMONS. Büdingen, Schlossgasse. Publicado em: 24 de abril de 2016. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Datei:B%C3%BCdingen,_Schlossgasse_20-20 160324-003.jpg> Acesso em: 27 de agosto de 2019 – 22:47h.
- WIKIMEDIA COMMONS. Ständerbau-Rähmbau. Publicado em: 8 de janeiro de 2006. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:St%C3%A4nderbau-R%C3%A4hm bau.svg> Acesso em: 27 de agosto de 2019 – 18:36h.
- WIKIPÉDIA. Eickesches Haus. Publicado em: 30 de dezembro de 2018. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Eickesches_Haus> Acesso em: 27 de agosto de 2019 – 23:46h.
- WIKIPÉDIA. Handwerkskammer Braunschweig-Lüneburg-Stade. Publicado em: 11 de agosto de 2019. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Handwerkskammer_Braunschweig-L%C3%BCneburg-Stade> Acesso em: 27 de agosto de 2019 – 11:18h.
- WIKIPÉDIA. Herford. Publicado em: 6 de setembro de 2019. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Herford> Acesso em: 7 de agosto de 2019 – 22:11h.
- WIKIPÉDIA. Jungsteinzeit. Publicado em: 3 de julho de 2019. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Jungsteinzeit> Acesso em: 13 de julho de 2019 – 16:35h.
- WIKIPÉDIA. Pfahlbaumuseum Unteruhldingen. Disponível em: <https://de.m.wikipedia.org/ wiki/Pfahlbaumuseum_Unteruhldingen> Acesso em: 24 de julho de 2019 – 7:06h.
- WILLIAMS J. H. Romanas de materiais de construção no Sudeste da Inglaterra. In: Britannia, v. 2, 1971, p. 166-195. Sociedade para a Promoção de Estudos Romanos. Disponível em: <jstor.org/stable/525807> Acesso em: 02 de outubro de 2019.
- WIR SIND SÜDEN – BADEN WÜRTTEMBERG. Bächerhaus Altstadtstr 36. Disponível em: https://www.tourismus-bw.de/Media/Attraktionen/Baeckerhaus-Altstadtstr.-36 Acesso em: 30 de outubro de 2019- 22:51h.
- WITTMANN, Angelina. De onde viemos – Arquitetura – Do Neolítico ao Românico. Publicado em: 22 de abril de 2015. Disponível em: <https://angelinawittmann.blogspot.com/2015/ 04/arquitetura-do-neolitico-ao-romanico.html> Acesso em: 6 de setembro de 2019 – 18:22h.
- WITTMANN, Angelina. C.R.: Fachwerk – A técnica Construtiva Enxaimel. – 1.ed. – Blumenau, SC : AmoLer, 2019. – 405 p. : il.
- WITTMANN, Angelina. Pesquisador alemão de Fachwerk – Manfred Gerner em Blumenau após 23 anos – Um pouco desta História. Publicado em: 20 de janeiro de 2019. Disponível em: <https://angelinawittmann.blogspot.com/2019/05/pesquisador-alemao-de-fachwerk-manfr ed.html> Acesso em: 29 de julho de 2019 – 13:59h.
- WITTMANN, Angelina. Würzburg – Roteiro Alemanha 2016. Publicado em: 20 de janeiro de 2017. Disponível em: <https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/01/wurzburg-roteiro-alemanha-2016.html> Acesso em: 11 de julho de 2019 – 8:05h.
- WFB FENSTER. Bauernhäuser. Disponível em: <https://www.wfb-fenster.de/referenzen/bau ernhaeuser/> Acesso em: 11 de agosto de 2019.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)