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Quem foi Erwin Teichmann, primeiro escultor de Blumenau que criava na Porcelana Schmidt

O “escultor Teichmann” tinha um grande reconhecimento por sua obra em toda a região, no estado de Santa Catarina, no Brasil e internacionalmente. Com curiosidade, fomos conhecer um pouco mais sobre sua jornada e de sua família, a partir de seu trabalho e fomos surpreendidos com o que descobrimos além – muito além da escultura de madeira. Neste 18° artigo, apresentamos o perfil de uma personalidade que fez, além dos limites de sua região. Vamos conhecer um pouco sobre Erwin Curt Teichmann e seu legado, deixando um registro para a História de Blumenau.

Fotografia de fotografia original, exposta no Museu Teichmann – Pomerode SC. O escultor Erwin Curt Teichmann  –  Originalfoto, ausgestellt im Teichmann Museum – Pomerode SC. Der Bildhauer Erwin Curt Teichmann.

Desde que chegamos em Blumenau, em 1981, ouvimos falar de Erwin Curt Teichmann. Visitamos algumas vezes o local onde foi sua residência e ateliê e em uma das vezes encontramos sua esposa Hertha pintando Bauernmalerei em pratos de madeira torneados na companhia dos passarinhos, pois fazia sua arte na varanda.

Faz aproximadamente 40 anos que convivemos com o nome de Erwin Curt Teichmann como um dos nomes da arte na região, não suficientemente valorizado, se for considerado sua vida e legado. Esta afirmativa conclusiva nos incentivou, em 20 de outubro de 2021, a ir mais uma vez à casa do artista localizada ao lado do Portal de Pomerode e encontramos seu filho mais jovem – Arno Hercílio Teichmann (1942), que nos contou um pouco mais sobre a personalidade e vida de seu pai e também, de seus irmãos: João Dieter Teichmann (1940), Hermann Theichmann (1938) e a mais velha – Ingeburg Teichmann (1934), casada – Schoenau.

Ingeburg Teichmann (1934), casada – Schoenau, trajada para o carnaval – fantasia de salão como era o carnaval na Alemanha (Link no final da postagem). Recebemos informações de maneira informal, que Ingeburg (Teichmann)Schoenau foi Professora no Colégio Luiz Delfino – Blumenau. Fotografia de um dos quadros do Acervo do Museu Teichmann – assinado por um dos inúmeros amigos do artista, também artistas.
Hermann Theichmann (1938) e Sandra Meri Wachholz (1950) – Festa Pomerana 2019. Hermann Theichmann foi escultor como o pai Erwin Teichmann.
Arno Hercílio Teichmann (1942), o caçula dos irmãos, ao lado do autorretrato de Erwin Carl Teichmann – seu pai. Foto feita durante nossa visita ao Museu Teichmann em 20 de outubro de 2021.

Erwin Curt Teichmann

Navio Hoepcke.

Erwin Curt Teichmann nasceu em 27 de julho de 1906 na cidade alemã de Kiel, Schleswig-Holstein e foi filho dos pioneiros Joseph Heinrich Wilhem Teichmann e Anna Bertha Jeske Teichmann. A Família Teichmann migrou para o Brasil, em 1913, quando Erwin Carl tinha 7 anos. Desembarcaram na Ilha das Flores no Rio de Janeiro, de onde viajaram para o Porto de Itajaí com o Navio Hoepcke e depois seguiram para Florianópolis.

Após desembarcar, a família ficou alojada no barracão dos imigrantes na cidade de São João Batista. Para sobreviver, venderam parte de seus pertences, até o momento que Joseph encontrou um trabalho em Blumenau.

Joseph Teichmann exercia a profissão de professor na Alemanha e também entalhava madeira. Em Blumenau,  conseguiu uma colocação de trabalho na fábrica Empresa Industrial Garcia S/A como Modelltischler – em português, é aquele que produz moldes de madeira.

Na época de guerra, as fábricas tinham dificuldades para importar peças de mecânica e também máquinas. Possuíam um setor de manutenção e confecção de maquinários para uso interno e neste local do bairro blumenauense, Garcia, foi trabalhar Joseph. Trabalhou na modelagem de moldes de peças.

A Empresa Industrial Garcia S/A tem sua história ligada à firma de Nicolau Malburg – de Itajaí, que foi vendida aos sócios: Heinrich Probst, Friedrich Busch e Hermann Sachtleben. Quando faleceu Probst, em 1906, seu filho Júlio assumiu seu lugar na direção da firma. Ainda em 1906, saiu da sociedade – Friedrich Busch. A empresa começou a se chamar “Probst & Sachtleben”. Em 1913, a firma foi transformada em Sociedade Anônima, adotando a denominação “Empresa Industrial Garcia & Probst”, uma fábrica de fiação e tecelagem, tinturaria, fundição, serraria, olaria, oficina mecânica, marcenaria (local de trabalho de Joseph Teichmann) e ferraria. O nome de Garcia, foi uma homenagem à primeira família a residir no bairro. A firma também ficou conhecida pela fabricação de maquinário agrícola e sinos para Igrejas. Em janeiro de 1918, saiu da firma Júlio Probst e seu nome ficou somente como Empresa Garcia – Acervo Arquivo Histórico José Ferreira da Silva – Blumenau.

Quando começou a trabalhar na Garcia, a família de Joseph Heinrich Wilhelm Teichmann  continuou a residir em São João Batista, cuja picada era a mesma que deu origem à estrada antiga, a partir da Rua da Glória (no atual bairro Garcia), em Blumenau, até Guabiruba e de Guabiruba até Brusque.

Geralmente assim ocorria com muitas famílias pioneiras, os homens, e quando tinham, os filhos adultos iam na frente para organizar o espaço para moradia e também, providenciar o que seria necessário para as primeiras plantações. Neste caso, Joseph veio sozinho para arrumar um lugar para instalar sua família em Blumenau.

Neste tempo, de acordo com Arno Hercílio Teichmann, o pequeno Erwin Curt Teichmann ficou doente. Anna Teichmann, esposa de Joseph e mãe de Erwin percorreu o trajeto entre São João Batista e Garcia – Blumenau, a pé, para encontrar o marido e pegar dinheiro para comprar o remédio e para o tratamento do pequeno Carl.

Figura 26 do livro “A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina” – Localização da picada que ligava Garcia à Brusque e de Brusque – na sequência, se chegava a São João Batista. Caminho que Anne Teichmann percorreu a pé.
Trajeto aproximado percorrido à pé por Anna Teichmann.

Joseph Teichmann era dotado de formação acadêmica, cultura e tinha como hobby a prática musical, comum no Norte da Alemanha – o canto coral. Já residindo com toda a família em uma casa alugada na localidade de Itoupava – Blumenau, continuação da comunidade Altona na outra margem do Rio Itajaí Açu – atuais bairros de Itoupava Norte e Itoupava Seca, organizou um grupo de canto coral de quatro vozes, formado pelos membros de sua própria família.

Nesta comunidade de Itoupava/Altona, Joseph Teichmann começou a trabalhar como professor na Escola Alemã, a mesma escola do Professor Max Humpl e por certo, foram colegas de docência. Esta Escola Alemã é atual E.B.M. Machado de Assis, encampado pelo governo brasileiro no período do Nacionalismo.

Escola Alemã de Altona, comemorando seu jubileu de prata, atual Escola Bássica Municipal Machado de Assis.
Imagem do livro “A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina” – Porto de Cargas de Itoupava Seca, aos fundos, a balsa que efetuava a ligação entre Itoupava Seca e Itoupava Norte, mais ou menos no local onde está localizada a escultura “Soprador de cristal” de Teichmann.
Período do Nacionalismo – Os nomes alemães eram traduzidos para o Português, o que gerava muita confusão. O nome de Joseph Heinrich Wilhelm Teichmann grifado, como um dos 126 professores presentes nesta reunião de trabalho.

A partir de informações sobre Joseph Heinrich Wilhem Teichmann, conhecidas durante a entrevista com seu neto Arno Hercílio Teichmann, fomos pesquisar e constatamos que Joseph não somente fundou grupos de canto coral, como também foi um dos regentes do tradicional Coro Masculino Liederkranz do qual resgatamos  sua história, qual comprovou de que é um coro centenário fundado por Rudolf Damm, em 1909.

De acordo com KORMANN, a grande movimentação de canto coral, aconteceu entre os anos de 1920 e 1935 e o canto coral teve seu momento de ápice em Blumenau, quando houve a fusão da Sociedade Teatral “Frohsinn” (24/06/1860) e o Coro Masculino Liederkranz (26/05/1909) em 1936, formando então a Sociedade Dramático Musical “Frohsin”, iniciativa do Prefeito de Blumenau, Curt Hering.

Mas qual a relação desta história com a família Teichmann? Observem a lista dos primeiros Regentes do Coro Masculino Liederkranz registrados por KORMANN.

1 – Carl Flesch;
2 – Josef Schwartz;
3 – Joseph Teichmann;
4 – Ernst Drawin;
5 – Kurt Boettner;
6 – Heinz Geyer.

Joseph Teichmann foi o terceiro maestro do Coro Masculino Liederkranz, e regeu antes do grande Heinz Geyer.

Mesmo estando vivendo com uma certa estabilidade e bem integrado na comunidade, a situação da família, que ainda não possuía um “chão”, lote colonial – objetivo de todos os pioneiros que chegavam no Brasil – residiam em uma casa alugada, não agradava Anna Teichmann.

Inquieta, alertava o marido Joseph, sobre seus principais objetivos e o que os fez decidir a virem para o Brasil – possuir um pedaço de terra para cultivar. Insistiu tanto, que em 1921, Joseph adquiriu uma gleba de terra virgem na localidade de Albertina, pertencente a Bella Alliança – atual município de Rio do Sul SC – no Alto Vale do Itajaí. Neste período Erwin Curt Teichmann tinha 15 anos de idade e seu irmão, 18 anos de idade. Ambos ajudavam muito, nas tarefas da propriedade da família.

Neste período, quanto mais longe da centralidade de Blumenau, mais acessível era o custo de um gleba de terra.

Propriedade rural, na região de Rio do Sul, mais ou menos neste período, a Família Teichmann se mudou para o Alto Vale do Itajaí.
1° Igreja da Comunidade Luterana de Rio do Sul e provavelmente onde Erwin Teichmann foi confirmado.

Erwin, que foi batizado em 4 de novembro de 1906 (em Kiel – Alemanha), fez sua confirmação em 7 de novembro de 1920 na Igreja Luterana de Rio do Sul, na época do Pastor Emil Rahn, que ficou na comunidade entre 1920 até 1924. A cerimônia aconteceu no ano que a igreja foi criada em Rio do Sul.

Lembrança da confirmação – com ricos detalhes, feitos à mão por alguém muito zeloso e caprichoso. Foto do documento original – parte do Acervo Teichmann.
A Igreja Luterana de Rio do Sul em 1927, foi decorada para a Confirmação.

Em 1933, Erwin se casou com Hertha Weiss (da cidade de Golda – da Prússia) que imigrou em 1925 e nasceu em 1914, 8 anos mais nova que Erwin. O casamento aconteceu em 11 de março de 1933. 

A mãe de Erwin Curt Teichmann, Anna Teichmann, falou-lhe algo semelhante ao que havia dito ao marido Joseph, seu pai – um tempo anterior em Blumenau. Disse-lhe que ele – Erwin precisava arrumar um trabalho fixo, para garantir o sustento da família. 

Até a idade de 27 anos, Erwin Curt Teichmann trabalhou com o pai. Aprendeu a trabalhar com madeira e era incumbido dos acabamentos artísticos em mobiliário de madeira – a partir da marcenaria, situada em Rio do Sul. Também ajudava a cuidar da propriedade rural que construíram a partir da mata nativa, dentro de um processo de fixação conhecido por todos os pioneiros e parte da história de fundação de inúmeras cidades na região, a partir da construção da casa provisória, derrubada da mata para abrir espaço para a lavoura, pasto e também, para o local da casa permanente, geralmente construída com parte da madeira derrubada no local.

Em um determinado dia, Erwin acompanhava a esposa Hertha até o Stadtplatz da Colônia Blumenau para tratamento de saúde. Viajavam no trajeto entre Blumenau e Rio do Sul, de trem, cujo trecho até o ponto de Rio do Sul, foi inaugurado em 1933, no ano de seu casamento, momento em que também foi inaugurada a estação ferroviária de Rio do Sul. Arno Hercílio Teichmann contou que ia visitar seu Opa Joseph Teichmann, em Rio do Sul, de trem.

Trem na estação ferroviária de Rio do Sul. Acervo: Fundação Cultural de Rio do Sul.
Ex-Prefeito de Blumenau – Alberto Stein 1°/03/1936 a 11/01/1938. Foi afastado do cargo em virtude do anti-golpe de Estado em 10 de novembro de 1937. Foi nomeado para ocupar seu lugar – José Ferreira da Silva.

Em uma de suas inúmeras viagens de Rio do Sul ao centro da antiga Colônia de Blumenau, de trem, alguém informou a Erwin, de que havia uma vaga de professor na Escola Municipal da localidade de Testo Central, localizada entre a sede de Blumenau e a nucleação urbana de Pommeroder – atual Pomerode. Enquanto sua esposa Hertha era atendida no Hospital, Erwin foi falar com o prefeito de Blumenau, sobre o cargo, Alberto Stein. Erwin encontrou o prefeito Stein e começaram a conversar (em alemão), aí o prefeito perguntou: – Sprechen Sie auch Portugiesisch? – “O senhor também fala português?”. Conta Arno Teichmann, que Erwin “se virou para o português e começou a falar com o homem” no idioma. Em 1937, começou a trabalhar nesta escola – Escola Municipal de Testo Central, como o primeiro professor a lecionar em português no local.

Professor Erwin Curt Teichmann com sua turma – na Escola Municipal de Testo Central.

Sua carreira como professor não foi muito longa. Em 1939, foi sancionada uma lei que professores estrangeiros não poderiam lecionar (em cidades fundadas por seus compatriotas) – período do Nacionalismo de Getúlio Vargas e Nereu Ramos, governo federal e estadual respectivamente.

Erwin foi exonerado de suas funções docentes. Mas esta passagem em suas vidas, foi suficiente para que Erwin Curt Teichmann e sua família fossem residir em Pomerode. Mudaram-se de Rio do Sul para Pomerode – 1939. Pomerode ainda pertencia ao território de Blumenau (emancipou-se em 21 de janeiro de 1959)

Primeira Casa da família – em Pomerode – denominada pela família de “Casa Velha” – Althaus

As exposições de Teichmann – a partir de 1940..

Desempregado para sustentar e prover a casa, resolveu investir no trabalho artístico com a madeira, ofício que aprendeu com seu pai Joseph Teichmann e que poderia evoluir e produzir sob outras formas. Não precisou de muito tempo para ter um acervo considerável para fazer várias exposições, em Blumenau e fora do estado de Santa Catarina.

A primeira, aconteceu em Blumenau, logo no ano seguinte, em 1940. Fez amizade com muitas pessoas da cidade, como por exemplo – o comerciante Willy Sievert.
Passou a se dedicar exclusivamente à arte. Pode ser considerado o primeiro artista na região do Vale do Itajaí – Médio Vale do Itajaí, como escultor. Sua primeira exposição – 1940, aconteceu no novíssimo Teatro Carlos Gomes na companhia do austríaco Alfred Zangerl – que se tornou seu amigo pessoal. Sangerl residia na capital do Brasil – o Rio do Janeiro e era gravador e pintor. Zangerl expunha as gravuras e Erwin, as esculturas. Para a primeira amostra, foi um sucesso.

Obra de Zangerl. Fonte: Wikipedia Cammons.

ZANGERL, Alfred. Bregenz, Áustria, 1892 – Blumenau/SC, 1946. Artista gráfico, desenhista e pintor. Nasceu em 2 de fevereiro de 1892. Estudou em escolas de artes aplicadas de Hamburgo e Munique, Alemanha, onde também frequentou a Academia de Artes, sendo aluno de Ângelo Jank. 1918 e 26: exposições em Insbruck. 1925: percorreu a Itália e a Alemanha apresentando seus trabalhos. 1926/27: participou da exposição Artistas Tiroleses, em Munique e Viena, Áustria. 1929: passou a residir em Wernigerode, Alemanha, mas no mesmo ano imigra para Nova York, posteriormente para Argentina e Brasil, permanecendo em Petrópolis/RJ. Viajou para Santa Catarina, onde tornou-se amigo do escultor Erwin Teichmann. Em 1940 ambos apresentam exposição no Teatro Carlos Gomes, em Blumenau. Zangerl apresentou 60 aquarelas austríacas, a maioria com paisagens do Paraguai (onde presume-se que foi casado), Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Santa Catarina. Em Pomerode/SC, residindo na casa de Teichmann, desenhou o retrato do amigo e de sua esposa. Também em Pomerode pintou afrescos no teto do Hotel Oásis, já demolido e, em Rio do Sul/SC, pintou os 4 Apóstolos na Igreja Evangélica local. Faleceu no Hospital Santa Catarina no dia 11 de janeiro de 1946, sendo enterrado na mesma cidade. Suas obras, entre desenhos, pinturas e gravuras, foram levadas, em 1955, para Munique pelo escultor Teichmann. BORTOLIN, Nancy Therezinha. Indicador Catarinense de Artes Plásticas. 2.ed.rev ampl. . Itajaí: Ed. UNIVALI; Florianópolis: Ed. UFSC, FCC, 2001. MASC

Erwin Curt Teichmann, além das esculturas em madeira, fazia moldes para bustos de personalidades. Fez o molde do busto de Curt Hering, do Coronel Feddersen (que sumiu de seu lugar em Itoupava Seca, antiga Altona), de Paul Werner. Teichmann os conheceu, quando frequentava a sociedade de Altona.

Busto do Coronel Peter Christian Feddersen que sumiu do local após obras públicas no Bairro Itoupava Seca.
Molde original do Busto de Feddersen feito pelo artista – Museu Erwin Teichmann.

Nem passou um ano após estar desempregado da Prefeitura de Blumenau, em 1940, fez sua primeira exposição, de muitas, e por algum tempo, no ritmo de uma exposição ao ano. Fez muitos contatos, principalmente na centralidade de Blumenau, quando conheceu o comandante do 23 BI – Quartel de Blumenau, que facilitou sua exposição na capital do Brasil, em 1945. Seguiu para o Rio de Janeiro com uma carta de apresentação do Frei, diretor do Colégio Santo Antônio e também, orientações de seu amigo Willy Sievert. Na ocasião, Willy Sievert disse ao Teichmann, que ele precisaria levar uma pequena quantia em dinheiro, caso houvesse um imprevisto e este lhe emprestou um valor. A primeira exposição no Rio do Janeiro foi um sucesso. Das 53 obras que levou, vendeu mais da metade. Para um novo artista, este foi um bom resultado e neste mesmo momento, agendou uma nova exposição para o ano de 1947.  

Em 1946 fez uma exposição na Galeria Itá, em São Paulo e também, em Porto Alegre, local onde lhe despertou um dos motivos que apreciava esculpir: os cavalos, ao lado das mulheres.

Fotografia de um estudo de cavalos, do acervo do Museu Erwin Curt Teichmann. Dimensões.
Modelo do Automóvel Ford 1940 de Willy Sievert.

Em 1947, Erwin Curt Teichmann, a convite, viajou com seu amigo Willy Sievert para Caxias do Sul. Viajaram até lá de automóvel, um carro Ford de 1940, conhecido de Luy. Surpreendeu nesse episódio, o fato de que Erwin foi reconhecido na firma onde Willy Sievert foi efetuar acertos de negócios. Foi levado à presença do Presidente da Firma. Nessa época, oportunamente, Erwin foi contratado para fazer as portas da Basílica de Belém do Pará, obra assinada por ele. Fez as portas em alto relevo na madeira.
Existe um registro de 1947 da entrega destas portas em Belém do Pará.

Erwin Curt Teichmann e Hertha Teichmann reproduzidos por diferentes nomes da arte em diferentes técnicas, amigos do artista. Fotos das obras integrantes do acervo do Museu Erwin Curt Teichmann.

De 1947 até 1954 fez exposições e trabalhos em algumas regiões do Brasil, com mais frequência, em Porto Alegre. Em 1953, expôs no bicentenário de Curitiba. Em 1954 a última exposição foi em Porto Alegre. Em 1946, conheceu Arthur Leopold Schmidt – da Porcelana Schmidt – em São Paulo, durante sua exposição. Schmidt leu a notícia sobre a exposição no Jornal e foi ao encontro do artista de Pomerode, em São Paulo. A Porcelana Schmidt estava instalada na comunidade Pomerode – na época, território de Blumenau, há somente um ano. Antes disto, seu nome era a Porcelana Real S/A, e tinha sido fundada em Mauá – o que explica a coroa da marca, por Fritz Schmidt e seus irmãos, em 23 de setembro de 1943, quando foi fabricado o primeiro jogo de jantar completo de porcelana branca, no país e na América do Sul. Em 1945, a Família Schmidt decidiu se mudar para Blumenau – Pomerode, com a ideia de fundar a Porcelana Schmidt, o que aconteceu em 19 de dezembro de 1945.
Os fundadores, juntamente com Hans Herwig Schmidt, foram: Hans Ernst Schmidt, Ailhen Krämer, Arthur Leopold Schmidt, Rodolph Pedro Schmidt. Isto explica o porquê Arthur Schmidt não poderia ter conhecido Erwin Curt Teichmann antes desta data, na cidade de Pomerode, mas sim em São Paulo e a partir de então, houve mudanças de rumos na vida do artista.

Porcelana Schmidt.

Em 1955, um dos sócios da Porcelana Schmidt, Arthur Leopold Schmidt contratou Erwin Curt Teichmann. Enviou o artista para a Alemanha para se aprimorar. Erwin partiu em março/abril de 1955, em um voo da KLM e permaneceu na Europa por 8 meses, na Alemanha e na Itália pesquisando e estudando – custeado pela Porcelana Schmidt, que pretendia ter um criador artístico no seu quadro. Na Alemanha, o artista visitou fábricas, artistas, pessoas ligadas às artes plásticas, técnicos, com os quais trocava impressões. A Porcelana Schmidt, visionariamente, encaminhou o artista para se aprimorar e trazer novidades no setor de criação e aprimoramento da técnica, tal como fizeram com fundador da firma Schmidt que trouxe o processo de produção de cerâmica para o Brasil – depois de um estágio patrocinado na Alemanha, por seu patrão.
E assim aconteceu. Teichmann criou muito, nos anos que trabalhou na Porcelana Schmidt. Criou conjuntos de jantares e café inéditos e desenvolveu a arte dos bibelôs de porcelana, nunca visto no Brasil. Nós fotografamos muitos anjos durante pesquisas em cemitérios e descobrimos durante esta pesquisa, que são criação e arte de Erwin Curt Teichmann, produzidos na Porcelana Schmidt.

Modelagem de Erwin Curt Teichmann, anjo de porcelana sem o verniz, produzido na Porcelana Schmidt, colocado como decoração cemiterial. Parte do acervo do Museu Erwin Teichmann.
Modelagem de Erwin Curt Teichmann – anjo de porcelana produzido na Porcelana Schmidt, um cemitério de Indaial.
Modelagem de Erwin Curt Teichmann – anjo de porcelana produzido na Porcelana Schmidt, no cemitério de Taquaras – Rancho Queimado SC.
Acervo Museu Teichmann – Bibelôs – de Trabalho de Erwin Teichmann na Porcelana Schmidt.
Acervo Museu Teichmann – Bibelôs – de Trabalho de Erwin Teichmann na Porcelana Schmidt.
Modelagem de vaso – criação do artista – Acervo do museu Erwin Teichmann.
Jogo de jantar da Porcelana Schmidt – criação de Erwin Curt Teichmann. Inspirado na forma de “gota d’água”.

Quando Erwin Curt Teichmann retornou ao Brasil, Blumenau, Pomerode e naturalmente assumiu seu posto na Porcelana Schmidt, na área de criação da Porcelana Schmidt. Contribuiu para a firma se tornar uma das maiores do ramo de porcelana, não somente em tecnologia, mas também, na parte da criação e arte, no mundo. Sem a arte de Teichmann, os produtos da Schmidt seriam outros, não tão aprimorados, requintados, criativos e artísticos quanto foram, citados como referência mundial.
Arno Hercílio Teichmann nos contou que a primeira coisa que seu pai fez na Porcelana Schmidt, foi implementar uma produção de decalques para decorar as porcelanas. Em sua própria casa, sob a escada, montou uma sala escura para fazer sunscreen. Conseguiu fazer decoração de decalques que fechavam bem as cores que deveriam ficar fixas. Rodolf, técnico de arte, pegou o material e fez as mesas de impressão a partir da ideia básica de Erwin Curt Teichmann que orientava em sua maquete, para as três fábricas de porcelana do grupo. Em 1946, o primeiro contato com a porcelana aconteceu em São Paulo, quando Schmidt deixou determinado que a fábrica de Pomerode estava a sua disposição e que ele teria a liberdade de desenvolver o projeto que desejasse. Teichmann começou a modelar bibelôs, coisinhas miúdas, os quais enviava para a produção. Com isto, o artista teve a oportunidade de ter contato com materiais como a cerâmica, ampliando o número de técnicas de arte, que já eram muitas.

Na fábrica da Porcelana Schmidt assumiu a direção técnica – fazia a arte final, participava das reuniões, e em uma destas reuniões perguntou: – “Por que vocês não fazem uma gota d’água?”  A sensação de uma gota d’água. E foi feito este jogo de jantar na década de 1950. Foi um sucesso. A cada dois anos, era criado um novo aparelho de jantar e Erwin Curt Teichmann se solidificou como o  criador artístico da Porcelana Schmidt e talvez o responsável direto por seu período áureo – em vendas de cerâmica de qualidade e arte. 

Além de trabalhar na fábrica, Erwin Curt Teichmann também participava de congressos e Seminários representando a Porcelana Schmidt, como parte da criação. Nesse meio tempo, o artista aprendeu inglês com o auxílio do Pastor, o que o possibilitou, em 1949, ser membro da National Geographic Society.

“Papai era um gênio esquecido em Pomerode!” Arno Hercílio Teichmann

Curiosamente, seu filho Arno Hercílio Teichmann contou como foi que Erwin iniciou a fazer arte.  Sua primeira peça moldada foi feita em barro, para criar um presente para uma menina que fazia aniversário e não tinham dinheiro para comprá-lo. Era uma criança de 7 ou 8 anos de idade. Erwin encontrou esta menina, décadas depois, veio lhe mostrar o presente que guardava. Era um cachorrinho de barro, seu “primeiro bibelô”.

Museu Casa de Erwin Curt Teichmann – Residência do artista e sua família.

Durante a entrevista com o seu filho caçula Arno Hercílio Teichmann, também visitamos o Museu Casa Erwin Curt Teichmann e registramos um pouco do grande e valioso acervo guardado no local e que preocupa muito seu filho Arno, que tem o olhar para o futuro, quando não puder mais cuidar do pequeno tesouro que pertenceu ao seu pai e à sua história pessoal e obra – que de certa maneira também pertence à sociedade.
A Casa Teichmann foi planejada por Erwin Curt Teichmann, que também desenhou mobiliário e o layout, inserindo um aquecimento interno a partir do fogão à lenha localizado na cozinha. A arquitetura segue a tipologia dos descendentes de imigrantes alemães, construídos na década de 1950, com detalhes em estuque, jogo de telhados, dois pavimentos e o aproveitamento do sótão – característica da mansarda.
Para encerrar, ouvimos o filho Arno mencionar uma observação sobre a obra de. O artista, talvez movido pelo espírito inquieto que era dotado, produz uma arte dotada de movimento, nunca estática. Suas obras mostram o movimento e inquietude do mesmo.

Meu primeiro dia em Pomerode foi muito tumultuado. O pastor Lieseberg e sua esposa, que eram provenientes de Pyritz, queriam organizar as minhas visitas, bem como me acompanhar para que eu pudesse fazer várias visitas em pouco tempo. No entanto, quando já estava tudo organizado, o pastor adoeceu alguns dias antes da minha chegada. Desta forma, precisaram mudar tudo e eu fiquei hospedado na casa do escultor Teichmann, que trabalhou muitos anos na fábrica de porcelana Schmidt. Lá ele era responsável pelo desenho e desenvolvimento dos padrões das peças e havia se aposentado.
Desta forma, ele teve tempo para me mostrar tudo e como possuía um carro pude desfrutar de uma boa carona. (…)
Por último, visitamos o bem organizado posto de vendas e recebi de presente um prato de parede, decorado com o brasão de Pomerode que há algumas décadas foi desenvolvido pelo sr. Teichmann. (…) O sr. Teichmann tinha o direito de se orgulhar por ter desenvolvido este brasão (…).GRANZOW, pgs. 106/111.

Monumento ao Soprador de Cristal
Monumento ao Soprador de Cristal de Erwin Curt Teichmann foi inaugurado em 18 de dezembro de 1980, às 19,00 horas, na praça Jorge Lacerda, bairro de Itoupava Norte (Bairro onde a família Teichmann residiu antes de mudarem-se para Rio do Sul) – Blumenau. O monumento de cristal é uma obra de 3 metros de altura. No momento da inauguração estiveram presentes – a convite do Prefeito Renato de Mello Vianna – os diretores e funcionários das fábricas de cristais Blumenau e Hering. Ao pé do monumento foi colocado uma placa com a inscrição de um poema de Lindolf Bell – residente de Blumenau – nascido em Timbó.
Revista Blumenau em Cadernos. Tomo XXII. Janeiro de 1981
Erwin Curt Teichmann e o ex-Prefeito de Blumenau Renato de Mello Vianna no dia da inauguração do Monumento ao Soprador de Cristal no Bairro Itoupava Norte, bairro onde a família residiu, quando chegou à região, em 1913. Fotografia de fotografia do acervo do Museu Casa Erwin Curt Teichmann.

Momento da inauguração do Monumento ao Soprador de Cristal de Erwin Curt Teichmann, em 18 de dezembro de 1980, às 19,00 horas, na praça Jorge Lacerda, bairro de Itoupava Norte (Bairro onde a família Teichmann residiu antes de mudar-se para Bella Alliança – atual Rio do Sul) – Blumenau. O Monumento do Soprador de Cristal é uma obra de 3 metros de altura. No momento da inauguração estiveram presentes – a convite do ex-Prefeito Renato de Mello Vianna – os diretores e funcionários das fábricas de cristais Blumenau e Hering. Ao pé do monumento foi colocado uma placa com a inscrição de um poema de Lindolf Bell – residente de Blumenau – nascido em Timbó.

“Num dos momentos de inspiração dediquei o poema que está na placa ao soprador de cristal.
‘Como bolha de sabão,
O cristal toma forma.
Materializa o sopro,
com o talento d’alma.'” Lindolf Bell

Mensagem do ex-Prefeito de Blumenau, que acompanhou a foto da inauguração do monumento de Itoupava Norte a Erwin Curt Teichmann, feito em próprio punho. Fotografia, acervo Museu Casa Erwin Curt Teichmann.

Sempre que me deslocava a Pomerode, fazia questão de visitar o Sr. Erwin e sua esposa dona Hertha, para cumprimentá-los e renovar meu profundo sentimento de admiração pelas suas virtudes de incomparável escultor. Dona Hertha enquanto conversamos na sala de sua residência, fazia questão de colher grãos de café, do pé que cultivavam e com eles fazer e depois servir um precioso cafezinho. Bons tempos. Renato de Mello Vianna – 26 de novembro de 2021

O Monumento ao Soprador de Cristal – 2021
O tubo está deslocado da boca, situação prevista pelo artista. Estado de conservação ruim.

Entrevista com Arno Hercílio Teichmann – filho do artista

Pequena amostra do cervo do Museu Erwin Curt Teichmann

Parte de monumento – Pomerode SC.
Porta do ateliê de Erwin Carl Teichmann.
Arquitetura.
Jardim – com obra do artista.

Erwin Curt Teichmann jovem.
Anna Teichmann.
Erwin Curt Teichmann.
Autorretrato – Erwin Curt Teichmann.
Primeira casa da família Teichmann em Pomerode. Aquarela de 1949.
Arno Hercílio Teichmann.
Molde do Busto de Peter Christian Feddersen.
Mãos do Erwin Curt Teichmann.
Neta do fundador da Banda Treml de São Bento do Sul.
Hertha Teichmann – 34 anos.
Gustav Koch – Testo Central – 1941.
Hermann Ponath – 62 anos. Findeisstiefe – Ribeirão Findeiss, Rio do Testo.
Wilhelm Kreitlow – Selketal, Rio do Testo, 1941.
Mutter Knopo, Ribeirão Claro – 68 anos, 8 filhos – 1942.
Wilhelm Kreitlow – Selketal , Rio do Testo – 1941.

Uma família que construiu sua história, sem fronteiras.
Um Registro para a História.

 

Referências

Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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