Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

Relação de Bolsonaro com o Congresso lembra Jânio, Collor e Dilma

Para colunista, presidente parece não se importar com as consequências de uma eventual crise institucional

Bolsonaro é o líder da oposição

Quando iniciou o ano legislativo, parecia que Jair Bolsonaro (PSL) teria no Congresso um aliado da sua agenda política. Logo de início, conseguiu emplacar dois aliados no comando das duas casas. Rodrigo Maia (DEM/RJ) na Câmara dos Deputados e Davi Alcumbre (DEM/AP) na presidência do Senado.

As duas eleições, apesar de não terem envolvimento direto do presidente da República, contaram com a articulação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM/RS).

Com aliados na presidência das duas casas e seu partido tendo a segunda maior bancada da Câmara, com ligações ideológicas e pragmáticas em relação às bancadas ruralista, da bala e da bíblia, os eleitores de Bolsonaro imaginavam que o capitão teria pela frente um céu de brigadeiro. Ledo engano.

Pouco mais de cinco meses depois, o presidente não conseguiu formar maioria nas casas legislativas e ainda conseguiu dinamitar aliados.

Na última semana, isso ficou escancarado. Enquanto era alvo de manifestações em 200 cidades, contra os cortes na Educação, o ministro da pasta, Abraham Weintraub, prestava esclarecimento à Câmara dos Deputados.

Estava lá por uma convocação, sendo resultado de uma articulação da oposição com o chamado centrão. Durante sua presença na casa, nem mesmo os deputados do PSL apoiaram o ministro.

Para o leitor ter noção do significado do ato, nos últimos 20 anos, somente dois ministros tinham sido convocados pelo plenário da Câmara. Surpreendeu a todos o discurso de José Nelto (Podemos/GO) que relatou na tribuna da Casa que o presidente mentiu aos líderes partidários aliados, dizendo que suspenderia os cortes na educação.

O episódio quase levou à convocação de Onyx Lorenzoni ao plenário da casa. E acreditem, não pela oposição, mas o próprio líder do partido do governo articulava convocar o ministro responsável pela articulação política de Bolsonaro.

A fragilidade da relação de Bolsonaro com o Congresso parece ser um método do capitão. A confusa estratégia pode levar ao limite as relações institucionais já esgaçadas. Bolsonaro brinca com fogo e parece não se importar com as consequências de uma eventual crise institucional.

Até agora, a atuação de Bolsonaro em relação ao Congresso lembra os presidentes Jânio Quadros, Fernando Collor e Dilma Rousseff. Ex-presidentes que tentaram governar sozinhos.

Terminaram cassados ou renunciaram.

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