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200 anos da Imigração Alemã: a trajetória dos imigrantes germânicos até Blumenau

Data é celebrada neste dia 25 de julho em alusão a chegada dos primeiros imigrantes em São Leopoldo (RS)

Nesta quinta-feira, 25, o Brasil relembra e celebra a história dos 200 anos da Imigração Alemã, ou o Bicentenário da Imigração Alemã no país e suas consequências culturais, socioeconômicas e políticas. A data de 200 anos da Imigração Alemã unifica as celebrações e representa a chegada do primeiro grupo de imigrantes que desembarcou em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

A data dos  200 anos da Imigração Alemã, que tem um apelo comercial, é questionada por alguns historiadores e defendida por outros. Os questionamentos, em sua maioria, se referem ao termo “alemães”, já que a Alemanha — como conhecemos — surgiu como país somente há 153 anos, em 1871. O bicentenário relembra a chegada dos imigrantes que desembarcaram no Brasil em 1825.

Em sua maioria, os imigrantes que desembarcaram no Brasil nos séculos XIX e XX, com um total estimado em 200 mil pessoas, eram sim alemães, mas também de regiões da Europa Central como Hunsrück, Pomerania, Westfália, Prússia, Baviera e Württemberg. A vinda, inclusive, foi incentivada pelo governo imperial brasileiro, como uma alternativa para povoar e proteger parte do Sul do Brasil, ação que completa seu bicentenário nesta quinta-feira, 25.

Em Blumenau, os 200 anos da Imigração Alemã no Brasil também são comemorados. No entanto, no município, a história é iniciada alguns anos depois da chegada dos primeiros imigrantes em solo brasileiro. O jornal O Município Blumenau conversou com a historiadora e diretora do Patrimônio Histórico-Museológico de Blumenau, Sueli Maria Vanzuita Petry, para esclarecer a trajetória dos povos germânicos no Vale do Itajaí. 

O projeto da imigração e colonização alemã no Brasil surgiu de uma necessidade para povoar e proteger as terras do país após um período de grandes incertezas. Esse planejamento ganhou força com a proclamação da Independência do Brasil, em 1822, mas nasceu anos antes. 

Sueli Petry explica que, para entender as estratégias e ideias pensadas no período, é necessário compreender o contexto do mundo na época, principalmente da Europa e do Brasil. “O mundo vivia a era de Napoleão Bonaparte, que para a Europa foi um período de grandes mudanças, nem todas positivas, para o Brasil foi ótimo. Já que a família real, não querendo ceder espaço para o líder francês, veio para o Brasil com o Dom João VI”, conta a historiadora. 

A vinda de Dom João VI trouxe ao Brasil mudanças na, então, colônia. Algumas delas envolviam a abertura dos portos para as nações amigas, a liberação da entrada de estrangeiros, a criação de uma universidade, biblioteca nacional e jardim botânico. “Ele urbanizou de certa forma o Rio de Janeiro e a Bahia, na época. No entanto, o Sul do Brasil estava à deriva”, acrescenta Sueli. 

D. João e a corte portuguesa na entrada da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde houve missa comemorativa pela chegada da família real ao Rio. Óleo sobre tela do século XX (Crédito: Armando Martins Viana/Museu da Cidade, Rio de Janeiro)

O litoral de Santa Catarina e parte do litoral do Rio Grande do Sul eram ocupados pelos açorianos. Já o interior, na região do Vale do Itajaí e demais, era dominado pelos povos nativos, que eram em sua maioria nômades. Junto a essa constatação, em 1815 acontece o Congresso de Viena, quando a ausência de Dom João VI é questionada pela primeira vez. 

A solução encontrada foi declarar o Brasil parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, fazendo o país deixar de ser colônia. “Na época já eram vistos movimentos de emancipar o Brasil, mas Dom Pedro I foi alertado. Mesmo assim, um ano após a saída de Dom João VI, nós já somos independentes”, explica.

Com a independência, o Brasil se tornou uma nação e precisou pensar em formas de garantir suas terras. “Na época, foram contratados mercenários. Porém, como uma nação recém-independente poderia fazer relações tendo uma mão de obra mercenária. Foi assim que nasceu o projeto de colonização, como um pano de fundo para esse momento”, conta. 

Na época, grande parte da população — que beirava três milhões de pessoas — era escrava. As pessoas trabalhavam 14 horas, sem garantias. Por conta disso, o projeto de imigração foi instaurado. Mas por que os povos germânicos? 

Com o fim da era de Napoleão, diversos estados independentes, principados ou resíduos de feudos antigos, passavam por momentos difíceis. Todo processo de imigração infringe em uma população que não está feliz com as suas condições de vida, e esse era o cenário dos primeiros imigrantes do Brasil.  

Velha matriz, no Rio Grande do Sul, construída pelos imigrantes em 1853, em dia de festa do centenário da igreja
Não se aplica / Acervo José Krás Selau

“O projeto prometia muito, mas não cumpriu muito. Propagandas foram feitas em uma Europa fragilizada principalmente para os trabalhadores que pagavam imposto”, conta. Assim, se inicia a imigração no Rio Grande do Sul com a chegada de um grupo composto por 39 homens e mulheres.

Os primeiros imigrantes de língua alemã que chegaram em Santa Catarina datavam de 1828 e os veleiros apontavam Desterro — atual Florianópolis —. Foi com a chegada do grupo que, em 1829, a Colônia de São Pedro de Alcântara foi formada. “Na época, os grupos ainda eram pequenos no estado e muitos não vingaram. A imigração começou a crescer a partir de 1850, ganhando cada vez mais pessoas a cada década”, explica Sueli. 

Foi em 1850, por exemplo, que a colônia alemã São Paulo de Blumenau — atualmente o município de Blumenau — foi fundada a partir de Hermann Bruno Otto Blumenau. Além dela, colônias em Joinville, Brusque, Nova Trento e outras regiões também datavam do início dessa década.

Durante o período das regências, entre 1831 e 1840, o projeto de imigração foi abandonado. Sendo as províncias de Novo Hamburgo e de São Pedro de Alcântara responsáveis pela administração das colônias. 

“É nesse período que leis são criadas para que as pessoas pudessem sair para procurar outras terras e buscar melhores condições de vida. Esse tipo de migração foi o que deu origem à região de Gaspar, por exemplo”, relata Sueli Petry. 

Um processo bem diferente da colonização da região de Blumenau, que foi completamente planejada por Hermann Blumenau. “Ele [Hermann] veio para o Brasil para fiscalizar as províncias e colônias de imigrantes em nome da Associação de Proteção dos Imigrantes do Sul do Brasil. Sua tarefa era relatar a situação que as pessoas aqui viviam”, conta. 

Foto dos imigrantes da região de Blumenau. | Crédito: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva

Esse foi o primeiro contato direto de Hermann com o Brasil. Ele passou pelo Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Desterro (Florianópolis) e diversas outras regiões para coletar informações. Chegando na região de Blumenau, ele resolveu conhecer o local. “Ele conhecia um homem que queria investir em terras e assim nasceu o projeto de colônia que hoje é Blumenau, que Hermann no fim tocou sozinho”, lembra. 

É em 1850 que o filósofo alemão Hermann Blumenau obteve do Governo Provincial uma área de terras de duas léguas para estabelecer uma colônia agrícola, com imigrantes europeus. E é em 2 de setembro daquele ano que os primeiros 17 imigrantes chegam à colônia, dando início ao processo de colonização onde hoje se ergue Blumenau.

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