Relembre quando Adelina Hess, fundadora da Dudalina, foi entrevistada por Jô Soares

Conversa aconteceu no ano de 1994

Foi no ano de 1994 que um dos grandes nomes do empreendedorismo de Blumenau ganhou as telas do Brasil. Ao ser entrevista por Jô Soares no programa Onze e Meia, no SBT, Adelina Hess de Souza, fundadora da marca Dudalina, mostrou ao país o motivo pelo qual é reconhecida como uma mulher à frente do seu tempo. A entrevista foi divulgada novamente há cerca de um mês no canal de Youtube da família Hess.

Na presença do marido, Duda, e de quatro das cinco filhas e onze filhos, a catarinense contou sobre sua vida pessoal e o início no mundo têxtil. Revelou também, segredos do empreendedorismo e lições de vida.

Início

Adelina começou a trabalhar com os pais aos 14 anos, em um armazém da família. Lá, já percebia novos métodos e coisas que podia mudar para alavancar os negócios.

“Anos depois foi nascendo praticamente um filho por ano. Logo, precisávamos pensar em ganhar mais dinheiro para cuidar dos filhos. Então fizemos uma indústria de camisas de pequeno porte”, relembrou na entrevista.

Como sucesso do pequeno negócio, Duda cuidava da loja e de uma fazenda da família, já Adelina focou nos negócios da indústria e na família. Em certo momento, questionada por Jô Soares, a falecida empresária contou como a indústria começou.

“Meu marido ia até São Paulo para fazer compras pois era mais ágil. Um certo dia um libanês ofereceu para ele um lote de seda e deixou pagar como quiséssemos. Quando trouxemos na loja não deu muito certo, as cores e o tecido não tinham aceitação”, disse Adelina.

Porém, de tanto olhar para o tecido parado no canto da loja, Adelina teve uma ideia que mudaria para sempre o rumo da família. Pegou os tecidos, chamou costureiras para trabalhar na casa da família e costurou camisas de modelo esporte.

“Estamos falando de 1957 e aquilo foi um sucesso de vendas. Eu sempre comprava camisas de outras indústrias e chegou o momento de vender as minhas. Começamos a ir mais vezes a São Paulo para comprar mais tecido. Eu sempre andava por algumas regiões para ver o que estava se usando pois não tinha estilista”, conta.

Mão de obra

Questionada sobre como conseguia mão de obra qualificada em uma cidade pequena como Luiz Alves, a empresária contou sobre os desafios enfrentados e acordos incomuns com as famílias das costureiras da empresa.

“Eu tinha que procurar as moças em casas de famílias e o acordo era que elas me entregavam as moças virgens e eu as devolvia virgens. Naquela época as mães tinham medo de dar as filhas para trabalharem fora. Passei bastante trabalho para controlá-las”, lembrou com humor.

A empresária revelou que eram as moças que traziam as máquinas, assim, além do salário, recebiam valores pelo aluguel das máquinas. Essa foi uma das estratégias usadas por Adelina visto que ainda não tinha maquinário suficiente.

“Não podia comprar máquinas pois precisava de capital de giro. Um dia chegou um representante e eu comprei uma máquina industrial cara. O Duda me questionou sobre a compra, mas concordamos que poderia ser uma boa ideia e foi”, afirmou.

Reprodução

Novos negócios

No início, as meninas empregadas conseguiam costurar cerca de três camisas por dia, o que anos depois virou um negócio que vendia 300 mil camisas por mês. Além da habilidade de fazer bons negócios, a empresária também tinha criatividade, o que fez com que a marca Dudalina só crescesse de valor.

Como gostava de colocar os filhos em boas escolas na cidade e Blumenau, precisava de recursos. Pensou então em negociar shorts escolares com os internatos. Assim, conseguiu trocar as peças de roupas pelo valor da mensalidade de alguns dos filhos.

Com os filhos crescendo, foi passando aos poucos as diretrizes da empresa para cada um deles. Nesse meio tempo, adquiriu o hotel Himmemblau, localizado em Blumenau, e lá ficou por oito anos até passar a gerência para um dos filhos.

Ao se ver sem o controle que tinha antes da indústria de camisas e do hotel, Adelina teve que procurar algo para se ocupar. Logo, teve a ideia de industrializar os retalhos dos tecidos.

“Começamos a fazer colchas e peças de roupas de Patchwork, ou seja, com os retalhos das camisas. A matéria prima não me custava nada então era perfeito”, relembrou durante a entrevista.

Marido

No fim da entrevista ela dedicou o sucesso de sua vida ao marido, o Duda. Nas palavras dela, foi ele o responsável pelo maior apoio e entusiamo nas decisões tomadas pela empresária.

“Ele sempre me colocou pra cima e aceitava tudo que eu quisesse fazer. Sou feliz pelo grande amor que a gente ainda tem após mais de 47 anos de casados”, concluiu enquanto recebia palmas do apresentador.

Reprodução

História

Adelina Hess de Souza nasceu no dia 20 de março de 1926 em Luiz Alves, Santa Catarina. Com espírito empreendedor desde o início de sua carreira, a fundadora da marca Dudalina colocou Santa Catarina no mapa do Brasil e do mundo no ramo da camisaria.

Após trabalhar no armazém da família e conhecer o marido, Duda, começou os negócios no ramo da camisaria no dia 3 de maio de 1957. O nome da marca é a junção do nome de Duda e com o final do nome de Adelina. A indústria chegou a liderar o ramo de camisaria no Brasil.

Mesmo com a chegada da idade e se afastando da diretoria das empresas, a empresária seguia participando do Conselho de Administração. Por confiar muito no potencial da família, apostou na sua filha, Sônia, a liderança da empresa. 

Adelina faleceu no dia 31 de outubro de 2008, aos 82 anos, na cidade de Blumenau, por complicações respiratórias. Sempre foi vista pelos amigos e familiares como uma pessoa trabalhadora, caprichosa, visionária e de bem com a vida.

Fim dos laços familiares

Após a morte da mãe, Sônia foi responsável por apostar no mercado de camisaria feminina, outro grande sucesso da empresa. A tacada fez o faturamento triplicar e o lucro multiplicar por 10. 

Em dezembro de 2013 a família vendeu 72,27% do capital empresarial para bancos de investimentos. De acordo com notícias da época, a empresa valia algo em torno de R$ 1 bilhão. Em 2014, foi anunciada uma fusão junto a Restoque (São Paulo), que virou a maior varejista de roupas de alto padrão do Brasil. Com a incorporação a empresa paulista, a marca deixou de pertencer à família.

Confira a entrevista completa:


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