Reportagem de jornal alemão relaciona Pomerode à extrema direita e ao nazismo
Süddeutsche Zeitung, um dos mais influentes da Alemanha, compara rejeição a imigrantes no Médio Vale com movimentos identitários europeus
Um dos jornais mais influentes da Alemanha publicou no fim de dezembro reportagem que relaciona Pomerode a manifestações simpáticas à extrema direita e ao nazismo. No texto, o repórter Boris Herrmann, do Süddeutsche Zeitung, de Munique, surpreende-se com presença de símbolos nazistas na cidade, negacionistas do Holocausto e com manifestações de rejeição a imigrantes.
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Herrmann visitou a região em busca de respostas para uma questão que levanta no jornal: por que uma cidade orgulhosa de sua qualidade de vida, do quase pleno emprego e da conservação dos costumes apoiou maciçamente a eleição de um presidente que se comprometeu a promover mudanças radicais no país? Jair Bolsonaro (PSL) obteve em Pomerode 87% dos votos no segundo turno.
Herrmann cita também outras cidades do Médio Vale do Itajaí, como Blumenau e Timbó, mas destaca Pomerode em praticamente todo o texto, que ocupou uma página inteira da edição impressa do último dia 21.
O repórter descreve bandeiras, adesivos e símbolos característicos do regime nazista alemão que ele viu em empresas de Pomerode e num post no Facebook. A polêmica piscina do professor de História Wander Pugliesi, que tem uma suástica desenhada no fundo, ilustra o material tanto na versão online quanto na impressa. Em 2014, a piscina foi descoberta por policiais em um helicóptero, quando atendiam a uma ocorrência de assalto na região. A imagem correu o Brasil.
Na reportagem do jornal alemão, sobre a foto da piscina, o título soa irônico: “A cidade mais alemã do Brasil”. Na versão impressa, a manchete é mais branda: “Nossa pequena cidade”.
Rejeição a imigrantes
A reportagem do jornal alemão destaca a preocupação de pomerodenses com a mudança de paranaenses e nordestinos para a cidade. Segundo o texto, a vice-prefeita Gladys Sievert disse ao jornalista que não há ladrões em Pomerode, exceto os que vêm de fora. Ela também teria atribuído a sujeira nas ruas aos hábitos de novos habitantes.
“Agora temos muitos estrangeiros aqui, não é o que costumava ser”, afirma no texto o empresário Allan Dirk Weber, um dos principais personagens da reportagem.
Estrangeiros, segundo Weber explica ao repórter, são os moradores locais que não têm ascendência pomerana.
“Nem todos os pomerodenses pensam assim, mas aqueles que o fazem não precisam se esconder. Eles vivem no meio da sociedade”, afirma a reportagem.
O jornalista compara a rejeição a cidadãos de culturas distintas à do Vale do Itajaí com os movimentos identitários europeus contrários à chegada de imigrantes.
Jair Bolsonaro
O pano de fundo da reportagem é a chegada de Jair Bolsonaro ao poder no Brasil. Durante a passagem por Pomerode, o repórter do Süddeutsche Zeitung diz ter percebido uma combinação comum entre os apoiadores mais fervorosos do novo presidente:
“Em busca de apoiadores de Bolsonaro, você quase inevitavelmente encontra radicais de direita e negadores do Holocausto nesta cidade”.
Para Boris Herrmann, os medos dos pomerodenses não encontram justificativa em fatos. O jornalista afirma que os efeitos da crise econômica pouco foram sentidos na região. Os empregos ocupados por imigrantes nordestinos, por exemplo, não estariam fazendo falta aos nascidos na cidade. O jornalista alemão conclui:
“Acima de tudo, a cidade de Pomerode parece ser um exemplo impressionante do fato de que geralmente os medos não precisam de uma ameaça real. Nenhuma crise para o clima de crise. Para a xenofobia, nenhum estrangeiro. Para o anticomunismo, não há comunistas. E para Bolsonaro, nenhuma causa”, conclui.