“Todo mundo trabalhava com medo”
O delegado Juraci Darolt prorrogou o inquérito sobre o acidente de trabalho que aconteceu em março deste ano, quando um barranco desmoronou sobre três operários de uma obra na Via Expressa, em Blumenau. Élcio José Padilha, 30 anos, e Romero Geraldo da Silva, 28 anos, foram encontrados sem vida. Ademir José Ferreira, 41 anos, foi resgatado consciente nove horas depois do deslizamento, mas morreu pouco mais de um mês depois.
Devido a novos depoimentos prestados à polícia, os responsáveis pela construção do hotel podem ser indiciados por homicídio culposo. Segundo Darolt, duas situações chamaram a atenção.
A primeira é que o responsável pela empreiteira é funcionário de uma indústria têxtil em Indaial e raramente acompanhava os trabalhos na obra. Além disso, duas pessoas afirmaram à polícia que todos que estavam no local sabiam do risco do morro desmoronar.
O geólogo e doutor em construção civil, Juares Aumond, sustenta que a tragédia poderia ter sido evitada:
“Sem dúvidas, se tivesse ocorrido uma fiscalização durante a execução da obra isso não teria acontecido. Em um caso como esse teria sido fácil ver a imprevidência em função da altura e do corte feito nesse tipo de material rochoso”.
O funcionário Ricardo Cardoso de Souza presenciou o acidente e prestou depoimento. Até agora ele não conseguiu voltar ao trabalho e precisa de medicamentos controlados para dormir. Souza acredita que o acidente não aconteceu por fatalidade, mas por imprudência dos responsáveis. Confira a entrevista exclusiva:
O que você lembra do dia do acidente?
Ricardo Cardoso de Souza: Todo dia a gente almoçava às 11h45. Mas, naquele dia, ninguém saiu para almoçar no horário, pois o encarregado estava na obra. Às 11h50 aconteceu o acidente. Eu estava passando do lado quando vi todo aquele barro cair em cima do Romero. Ele ainda estava com a cabeça para fora e eu gritei pedindo ajuda para tirar ele dali. Mas veio uma segunda camada de terra e cobriu ele todo. Bem em cima dele caiu uma pedra enorme e aí eu tive certeza que ele não tinha sobrevivido. Eu achava que era só ele que tinha sido soterrado, mas daí falaram que o Ademir e o Élcio também estavam lá embaixo.
O que vocês fizeram a seguir?
A gente nem conseguia pensar direito, parecia que aquilo não estava acontecendo. Tanto que primeiro a gente ligou para a polícia e depois para o bombeiro, tamanho o desespero. Mesmo assim os bombeiros chegaram em minutos.
O barranco já tinha sinais de que poderia deslizar?
Um muro daquela altura, com um corte de 90 graus, até eu que sou leigo já imaginava que ia acontecer uma tragédia. Todo mundo trabalhava com medo! O funcionário da escavadeira disse que não ia mais cavar no local, pois já temia que ia desabar tudo.
Você acredita que foi uma fatalidade ou imprudência?
Eles sabiam do risco, então acho que não foi fatalidade.
Contraponto
A assessoria jurídica do Empreendimento Hoteleiro Via Expressa informou que desde o início todos os projetos e documentos exigidos pela prefeitura foram apresentados e aprovados. Os trabalhos só começaram após a expedição do alvará necessário, em 2016.
“[…] e a empresa, inclusive, adotado como medida de segurança postura mais conservadora quanto a algumas questões concebidas nos projetos, a exemplo de executar declividade do talude menor daquela concebida”, descreveu a nota.
A empresa ressalta que está à disposição das autoridades que investigam o caso e lamenta o ocorrido.