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Rio do Sul e a história que não é contada: a ferrovia e a mudança da centralidade

Capa: Bella Alliança, embrião urbano de Rio do Sul possuía uma estrutura bem característica da povoação fundada pelo imigrante pioneiro alemão, antes da década de 1930. O que aconteceu com a centralidade dessa povoação?

Rio do Sul – a “Capital do Alto Vale”. Ministramos aulas em algumas disciplinas do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIDAVI por três anos e tivemos contato com boa parte da região do Médio e Alto Vale do Itajaí.

Íamos a campo com os pesquisadores dessa instituição e trocávamos pareceres. Nessas trocas nós percebíamos que algo não “fechava”. Muitas vezes esses pesquisadores não concordavam com aquilo que expúnhamos, pautado no que conhecemos da história regional que replicamos independentemente de ideologia.

Muitas vezes mostramos aquela personalidade histórica que está à sombra e que tem méritos e feitos nas construções de uma região.

Trabalho in loco como uma orientanda da UNIDAVI – Pouso Redondo – Casa Vendramim – Novo caminho aberto pelos primeiros pioneiros de Blumenau -para chegar a Curitibanos. Cidade fundada por Gottlieb Reif.
Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo UNIDAVI. Estudo acadêmico – da região – 3 anos.

Qual era a história de Rio do Sul e região que nossos alunos conheciam, e suas fontes? O que percebemos, na época, que era fragmentada, sem uma continuidade cronológica, o que tentaremos fazer de maneira resumida, para o pleno entendimento do leitor. Com início, meio e fim.

Este artigo está sendo apresentado, no mínimo, com três anos de atraso, pois o tema é muito denso e mesmo assim, o apresentaremos resumidamente.

Durante esse período de trabalho docente em Rio do Sul, percebemos algumas passagens históricas desfocadas e desencontradas. Outras, com grandes lacunas a serem preenchidas, mesmo existindo evidências a partir de nosso conhecimento sobre a história regional da Colônia Blumenau e outras ainda, simplesmente ausentes do espaço acadêmico, sem chance alguma a debates e questionamentos.

De acordo com nossos orientandos, os acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIDAVI foram orientados formalmente, de que não poderiam referenciar, em seus trabalhos dentro do curso, nossas pesquisas regionais.

A partir dessa experiência, nos sentimos desafiados através de nossos próprios questionamentos a partir da ótica técnica de Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade, a trazer uma contribuição teórica cruzando passagens históricas do local de Rio do Sul, sob um olhar regional e até mesmo estadual.

Lecionamos em Rio do Sul, na UNIDAVI (entre os anos 2018 e 2020) as disciplinas de Ateliê de Planejamento, Planejamento Urbano, Planejamento Regional, Desenvolvimento Urbano, Projeto Urbano, Projeto, Desenho da Forma, Materiais e orientamos nove TCCs (Trabalho de Conclusão de Curso – link’s no final da postagem), para a cidade de Agrolândia (2), Ituporanga(3), Rio do Sul(2), Lontras(1), Pouso Redondo(1).

O sítio das propostas estava localizado em diferentes cidades do Alto Vale do Itajaí e portanto tivemos contato com sua história, pois fizemos questão de ir a cada uma. Tivemos contato com a história contada no local, muitas vezes, destoantes de fatos conhecidos por nós dentro da história regional e estadual. Isso nos intrigou muito.

O acionar do gatilho aconteceu quando, em Rio do Sul, ouvimos a citação (publicada na cidade e apresentada em um trabalho de nossos alunos), de que Hermann Blumenau, o primeiro negociante de terras do Vale do Itajaí e fundador de Blumenau a partir da Colônia Blumenau, da qual Rio do Sul, quando era chamado de Bella Alliança, fazia parte até 1931, povoada com famílias de famílias da sede da colônia, “escravizava os colonos” daquela região.

Chegamos a comentar o fato com o pesquisador catarinense Gilberto Gerlach (1943-2021), no dia em que lançava o livro do qual é um dos autores – “Colônia Blumenau – no Sul do Brasil” na UNIDAVI, e este teve a mesma reação que nós. Perplexidade. Resolvemos organizar, compreender, concluir e disponibilizar o material encontrado aos pesquisadores, através desse artigo.

Gilberto Gerlach e o ex-reitor da UNIDAVI – Rio do Sul, professor Célio Simão Martignago.

O contexto histórico de Santa Catarina do século XVIII nos permite compreender o processo de ocupação do Vale do Itajaí, iniciado na metade do século XIX, como também entender o processo de produção social, reflexo das mudanças que já vinham ocorrendo há mais de um século, nos países de origem desses imigrantes e o que muito bem explica a implantação ferroviária no Vale do Itajaí, estudada por nós e publicada no livro “A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina”, título esgotado em sua primeira edição.

No período que antecede a chegada dos primeiros imigrantes ao Vale do Itajaí, a Província de Santa Catarina era um caminho que ligava as pastagens do Rio Grande do Sul ao Planalto Paulista e ao território das povoações de Laguna, de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), e de São Francisco do Sul. E só. Santa Catarina era desprovida de caminhos na região onde surgiu Rio do Sul no início do século XX.

Em 1766, foi fundada a cidade de Lages, o primeiro núcleo de povoação no interior do Estado, sem comunicação com o litoral. Após a fundação de Lages, mais tarde, a Câmara da Vila de Laguna determinou a abertura de uma estrada que a ligasse ao Planalto, acompanhando o curso do rio Tubarão, atual Estrada do Rio do Rastro.

Caminho entre Lages e Laguna, aberto logo após a fundação de Lages. Fonte: Wittmann, 2010.

E o Vale do Itajaí? Este fato foi percebido pelos primeiros pioneiros alemães do local. Uma das primeiras providências foi o amplo estudo da geografia regional.

Os rios – elementos estruturadores da rede de cidades – Colônia Blumenau

A Colônia Blumenau foi um projeto sobre a ocupação de uma bacia hidrográfica, estruturada nos seus rios, de maneira organizada e planejada. A grande Bacia do Itajaí estruturou os caminhos, a ferrovia e as primeiras nucleações urbanas no Vale do Itajaí, inclusive Rio do Sul, que nos primeiros tempos era conhecida pelo nome do rio que banhava a nucleação: Südarm.

A Colônia Blumenau – Planejamento do uso do solo

Mapa com informações do relevo e principais rios, com também as povoações, em 1867 feito por Heinrich Kreplin.
Detalhe do mapa anterior – localização do “encontro dos rios” região de Rio do Sul atual e o destaque está na Colônia Blumenau – ano de 1867.

Com isso, ficou definido o local da sede da Colônia – a centralidade, no último local de ponto navegável – através de embarcações maiores – no rio Itajaí Açu e deste ponto, acima tinham, o projeto era a construção da ferrovia, além de outros caminhos tantos, que foram abertos através das primeiras picadas e do trabalho de agrimensores alemães que mapearam quase todos os rios da Bacia do Itajaí – milimetricamente.

Südarm – Braço do Sul – primeira denominação do local, como era comum (nomes geográficos).
Stadtplatz da Colônia Blumenau – 1864.
Mapa inédito encontrado por uma bisneta de Emil Odebrecht em 1994, no Instituto Ibero-Americano em Berlin. Cópia entregue à Fundação Cultural de Blumenau – Levantamento feito no Alto Vale do Itajaí por Emil Odebrecht em 1874.
Detalhe do mapa anterior. Do livro Cartas de Famílias: ensaio biográfico de Emil Odebrecht e ensaio biográfico de seu filho Oswaldo Odebrecht Sênior.

Desde o princípio de sua fundação, a hierarquia social foi implantada na Colônia Blumenau, isso, a partir do ideário econômico e fisiocrata de Quesnay. As pessoas eram designadas para o espaço geográfico de acordo com seu aporte profissional por Hermann Blumenau.

Os agricultores geralmente eram assentados longe da sede administrativa (Stadtplatz) para proporcionar o excedente agrícola que faria surgir a industrialização a partir da produção industrial de alimentos. A matéria prima? O excedente de cada propriedade rural instalada no interior.

Os artesãos, os comerciantes e os burocratas seriam instalados na centralidade – já surgindo o embrião dos conceitos urbano e rural. Vale destacar que nas primeiras décadas, na propriedade, todos plantavam, indistintamente, criavam animais e possuíam uma “um pequena fábrica” de embutidos, compotas e queijos na propriedade. Também lembramos que esse tipo de produção social foi a responsável pelo surgimento da industrialização do Estado de Santa Catarina.

Estrutura interna da propriedade para a produção interna, de alimentos.
Para compreendermos o espaço urbano atual – presente na paisagem, precisamos compreender o processo histórico que o formou a partir de sua sociedade, em outros períodos históricos.

(…)a colônia nasceu do empenho da racionalização, sob a tutela do planejamento e com o requinte da capacidade empresarial de muitos de seus administradores e componentes. Nasceu como empresa agrícola com vistas ao desenvolvimento industrial. Nasceu impregnada dos “novos tempos” que mal atingiam as áreas de onde proviam os colonos – a revolução industrial. LAGO, 1968.

Território de Blumenau – de 1850 até 1930 e Südarm

Território planejado pelas primeiras lideranças de Blumenau, dentro de um escala regional, com abertura de caminhos (inclusive o ferroviário), realocação de nucleações urbanas, criação da indústria alimentícia e comércio. Muitos apagam esta história.
O município de Blumenau, onde, dentro de um determinado recorte histórico, ainda era conhecido como Colônia Blumenau, se estendia desde a atual divisa entre os municípios de Ilhota e Gaspar até os contrafortes da Serra Geral, incluindo no território, os atuais municípios: Gaspar, Indaial, Timbó, Pomerode, Rio dos Cedros, Benedito Novo, Apiúna, Rodeio, Ascurra, Doutor Pedrinho, Ibirama, Presidente Getúlio, José Boiteux, Dona Emma, Witmarsum, Vitor Meireles, Lontras, Rio do Sul, Aurora, Agronômica, Laurentino, Rio do Oeste, Trombudo Central, Pouso Redondo, Taió, Mirim Doce, Rio do Campo e Salete.
Do livro Cartas de Famílias: ensaio biográfico de Emil Odebrecht e ensaio biográfico de seu filho Oswaldo Odebrecht Sênior. Rio do Sul é parte do território de Blumenau.

Rio do Sul – até 1931, fazia parte do grande território de Blumenau, sendo que sua primeira nucleação não estava localizada onde atualmente está seu centro urbano, mas sim, na atual localidade conhecida por Bela Aliança (bairro da cidade), na época chamada de Matador.

A nucleação – embrião – da sede de Rio do Sul atual surgiu no raso do rio Itajaí do Sul, na época chamado de Südarm – Braço do Sul. Nas primeiras décadas de história de Blumenau, as localidades eram denominadas, quase sempre, pelo nome de um elemento geográfico, como o nome de um morro ou de um rio.

Bela Aliança – atual bairro de Rio do Sul.

Nomes históricos antes de se chamar Rio do Sul

Südarm e Braço do Sul: desde a década de 1860 (quando Emil Odebrecht e outros enviados por Hermann Blumenau chegaram à região) até 1912, quando passou a ser um distrito de Blumenau.

Südarm (Braço do Sul) e Oficialmente Bella Alliança: Entre 1912 e 1931. Quando passou a ser parte do 4° Distrito de Paz de Blumenau até a emancipação.

Rio do Sul: após 1931, quando foi emancipada de Blumenau, e de certa maneira houve um resgata do primeiro nome, com leve modificação. A partir da década de 1940, as novas lideranças fizeram com que os primeiros nomes fossem perdendo importância – como também apagando a “força” da primeira centralidade de Rio do Sul, sequer reconhecendo seu status de Centro Histórico.

O embrião de Rio do Sul – Südarm – até 1912

No mapa de 1905, feito pelo agrimensor José Deeke, ainda não existe a presença da nucleação urbana que deu origem a Rio do Sul junto ao Südarm, rio Itajaí do Sul.

O mapa de 1905, feito por José Deeke, não apresenta a povoação de Südarm; pessoas fixadas junto ao rio Itajaí do Sul. Em 1905 ainda não existia o embrião que deu origem a Rio do Sul. Fonte Arquivo Público Histórico de Rio do Sul modificado por WITTMANN.

A evolução espacial de Südarm
Parte do território de Blumenau

O embrião da nucleação urbana de Rio do Sul, como anteriormente mencionado, teve sua origem a partir da colonização do Vale do Itajaí́, resultado de um planejamento interno de ocupação e exploração do espaço da colônia particular de Blumenau, após a fundação desta, em 1850.

Projeto de caminhos no interior de Santa Catarina desenhado por Emil Odebrecht em 1870. Alguns, como picadas, outros carroçáveis, outros projetados e outros ainda, existentes antes da chegada dos pioneiros e seus projetos. No caminho, o projeto de Blumenau a Curitibanos (tracejado) passava no local do raso do rio Itajaí do Sul – Südarm.

Quando os primeiros pioneiros alemães chegaram à região para fundar a Colônia Blumenau – escolheram o local para assentar a sua sede no último ponto navegável do rio Itajaí Açu. Tinham um planejamento para promover a ocupação espacial de toda a região da Bacia do Itajaí, mais ou menos organizado.

A colônia de Hermann Blumenau foi idealizada como uma empresa agrícola e para atingir seu objetivo de produção social foi também organizada sua ocupação territorial que foi estruturada na bacia hidrográfica do Itajaí.

A centralidade da Colônia Blumenau foi assentada no último ponto navegável do rio Itajaí Açu, com projeto de efetuar uma rede de caminhos no seu interior a partir desse ponto, ligando a região com a Serra Catarinense e dessa, com o caminho das tropas de Lages – caminho que ligava Rio Grande a São Paulo. Entre os caminhos idealizados, estava previsto também o caminho de ferro, a ferrovia, construída menos de 60 anos após esses planos surgirem – a EFSC.

Localização da sede da Colônia Blumenau no último ponto navegável do Rio Itajaí Açu. Fonte: WITTMANN, 2010.

Para executar o plano de povoação e construir uma colônia agrícola – Hermann Blumenau entrou em contato e convidou pessoas com formação técnica, como Emil Odebrecht e outros, contratando-os para localizar e mapear os cursos d’água, abrir as primeiras picadas, que posteriormente tornaram-se uma rede de caminhos; onde alguns se tornaram carroçáveis – embrião de muitas das atuais rodovias do interior do estado e também um leito ferroviário. Observar mapa de 1870, feito por Emil Odebrecht.

Carroções que circulavam no interior da colônia. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.

Assentou sua sede, e também, efetuou os estudos no interior da colônia a partir de levantamentos, em mapas, dos principais leitos fluviais, que foram usados para acessibilidade, feitas através de pequenas embarcações e também, usados para a irrigação e abastecimento das propriedades agrícolas e centralidades das primeiras nucleações urbanas fundadas no interior da colônia. Estas povoações eram formadas de maneira equidistantes e interligada entre si, observando, de certa maneira, um projeto regional de Hermann Blumenau.
Este previu a construção de caminhos entre esta e outras regiões, como a serra catarinense e as colônias alemãs do Norte, bem como a Colônia Dona Francisca que ligava ao porto marítimo de São Francisco do Sul e também, à colônia de Rio Negro, considerando a linha férrea existente ligando Rio Negro e Joinville e Porto de São Francisco. Com isso, havia a intermodalidade dentro de uma malha de diferentes caminhos, questão importante para o desenvolvimento econômico de uma região. E assim se fez e até por isso, surgiram algumas povoações, como a atual cidade de Pomerode.

Mapa de 1905 alterado, originalmente desenhado por José Deeke, mostra a localização das principais colônias surgidas no final do século XIX e início do século XX. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.

Primeira Expedição de Emil Odebrecht para o Alto Vale e o contato com a região de Südarm

Em 1863 aconteceu a primeira expedição, coordenada pelo engenheiro Emil Odebrecht partindo da sede de Blumenau rumo ao Oeste de Santa Catarina e ao Planalto Serrano, com o objetivo de estudar a Bacia do Itajaí e encontrar o melhor traçado para a construção de uma estrada ligando essas regiões e elas ao Oeste do estado de Santa Catarina. Toda essa movimentação era coordenada por Hermann Blumenau e as lideranças de Blumenau, com o objetivo específico de implantar a rede de povoações, caminhos e a intermodalidade, organizando a colônia espacialmente a partir de um projeto amplo regional, para o desenvolvimento econômico regional. Nesse momento, foi o segundo grupo de pessoas de outra cultura, que não a nativa, a visitar a região.
Antes de embarcar para a Guerra do Paraguai, Emil Odebrecht teve uma tentativa frustrada de abrir a picada até a Serra catarinense. Não teve êxito. Ao retornar da Guerra do Paraguai, em abril de 1867, usou outra tática para atingir seu objetivo. Seguiu, da centralidade da Colônia Blumenau, até a capital da província de Santa Catarina – Nossa Senhora do Desterro e de lá, seguiu até Lages. Durante três meses, ele e sua equipe desceram em direção à Colônia Blumenau, demarcando terras e abrindo a picada. Em sua equipe estava o mateiro Basílio Corrêa de Negredo.

Acampamento de Emil Odebrecht e sua equipe. Fonte: Arquivo Histórico de Blumenau.

A abertura do traçado da Serrastrasse – Blumenau Curitibanos – surgimento dos pousos (construídos por Blumenau)

A serra do mar, intermediária a estas frentes de ocupações, constituía-se num grande obstáculo. Em 1850, com o estabelecimento da Colônia Blumenau, visando às comunicações, fez-se necessária à abertura de uma ligação até Curitibanos, já que o caminho para o Planalto era imensamente maior pelo litoral. A área existente entre o Litoral e o Planalto representava então, um “vazio demográfico” e a necessidade de sua ocupação, como elo comunicante, constituía-se uma política e uma necessidade. Maristela Poleza, 2002.

Iniciou-se a almejada ligação entre a região da Colônia Blumenau e o Planalto Catarinense, através da Serrastrasse. Quando chegaram às margens de Südarm – rio Itajaí do Sul, encontraram o grande obstáculo natural para fazer a travessia do rio. Encontraram o raso do rio, localizado aos fundos do Colégio Sinodal Ruy Barbosa.

Roda de Dança dos Xoklengs junto ao rio Itajaí do Sul, próximo ao encontro dos rios. Fonte: ODEBRECHT, 2013.

Após três expedições efetuadas em direção ao Alto Vale (1863, 1864 e 1867) as lideranças de Blumenau concluíram que para conhecer e explorar o grande Alto Vale do Itajaí, havia dois grandes marcos e ser vencidos. O primeiro o trecho da subida da Serra do Mar e a travessia de Südarm – Braço do Sul (atual rio Itajaí do Sul). Concluíram que para isso deveriam assentar uma pessoa no Alto Vale do Itajaí. Para tanto, deveriam derrubar árvores, efetuar uma queimada, construir uma casa provisória e fazer pasto para os animais. Concluíram que essa pessoa ficaria cuidando dos animais de carga e utensílios diversos para auxiliar nas expedições posteriores de exploração no local. Uma segunda providência seria construir uma balsa em Südarm, e contratar um balseiro. Providências que deveriam ser tomadas para começar a implantar o projeto regional.
Nas proximidades de Lontras, Blumenau construiu um galpão de pau-a-pique coberto de folhas de palmeiras, com uma pequena roça e pastagens, onde foi colocado um morador que tinha como tarefa cuidar das mulas que ficariam no pasto, dos equipamentos, do local e das canoas.

Para o local da construção do rancho-depósito e inclusive a formação da pastagem, Odebrecht escolheu uma baixada aluvial razoavelmente plana, no lado direito do rio Itajaí. Trata-se da várzea pela qual hoje passa o acesso de Lontras à BR 470, próxima da atual ponte de concreto armado. Esta foi a primeira grande derrubada de mato, a primeira construção e a primeira pastagem do Alto Vale. ODEBRECHT, 2013.

Em 1868, Blumenau providenciou a derrubada e alguns meses mais tarde foi feita a queimada, coivara, a construção do galpão e aproximadamente em agosto/setembro o plantio da pastagem. Por aproximadamente 10 anos, homens contratados por Blumenau trabalharam na construção da estrada Blumenau-Curitibanos, Serrastrasse e denominada pelos pioneiros de Truppenweg (Caminho das Tropas). Lembramos que o território que seria Rio do Sul, estava nesse caminho de construção da infra estrutura.

Carta de Hermann Blumenau guardada no Arquivo dos documentos raros da Universidade Federal de Santa Catarina, a qual menciona Odebrecht e construção deste caminho.

Transcrição (ipsis litteris)

[…] e ainda (ilegível) ficar intelligível e bem compreendido, o muito que sobre muitos e muitos argumentos concernentes teria que dizer.
O tempo aqui continua chuvoso e os caminhos vão cheios de lama; talvez, que a lua nova do dia 21 traga o melhoramento desejado e desejável. O Sr. Odebrecht, que muito ouso recommendar à benevola protecção de Vª Eª, ainda está em Curitibanos ou visinhança da serra.
Digno-me finalmente Vª Eª, de receber, os protestos do meu profundo respeito e da (ilegível) consideração e estima, com que tenho a honra de ver.
Ilmo. e Exmo. Snr.
De Vª Eª
H. Blumenau

Encontramos inúmeras correspondências que confirmam a oficialidade dessa obra, Serrastrasse, junto ao governo do estado de Santa Catarina, escritas por Hermann Blumenau e Hermann Wendeburg, e também nos foram enviadas cópias de jornais com de notícias da obra.

Transcrição

N°23 – Diretoria da Colonia Blumenau 14 de março de 1876.

Illmo Exmo Sr.

Por avizo de 9 do mez p. p. . V. Excia havia dignado, aprovar a combinação tomada entre o Sr. Dr. Virginio da Gama Lobo e esta Directoria, de ele mandar continuar os nivelamentos necessários na Estrada para Curitibanos, a fim de que a mesma Directoria possa continuar na execução da abertura ou construção do próprio caminho nas seções, de que havia sido incubida, e é até o rio Tayó ou a raíz da serra, de maneira, que ella havia de pagar os salários, os viveres e seu transporte e mais despesas miúdas com os operários ocupados no dito nivelamento.
Tendo-se actualmente concluído uma parte do mesmo, evidenciou se porém e infelizmente, que este serviço apresentou e ainda na sua continuação há de apresentar dificuldades maiores do que a princípio se supunha em lugar de extensas partes planas, que parecião dispensar qualquer nivelamento, este deverá ser executado até o rio Tayó sem interrupção, porque somente por esta maneira se conseguirá um traço, que possa ser considerado como definitivo e servir de base para a medição e distribuição de lotes de terra e sobretudo para a frente fixa e definitiva dos mesmos.
Combinei com o Sr. Gama Lobo, portanto e como este serviço muito urge, que ele mande continuar e mesmo com a possível brevidade, ficando em pé nosso acordo anterior, aprovado por V. Excia, e continuando esta Directoria em pagar os salários etc dos operários. Partirá portanto nos proximos dias um dos subordinados daquele chefe para este fim.
A respectiva despeza, porém, à vista das referidas circunstancias também será mais considerável do que à principio se calculou e poderá talvez ainda chegar a 1:700 até 2:000 sendo totalmente impossível, calculal-a com perfeita exatidão. ___. Para cobril-a, existe ainda na mão do Sr. Gama Lobo ou restou da quantia, que ele recebeu para seus serviços, um saldo e este poderia ser empregado nestes nivelamentos, contanto que V. Excia. Aprove ou autorize este alvitre, além disto o saldo de cerca de Rs. 1:700,000, que custou o nivelamento recentemente executado até o saltinho do rio Trombudo.
Reunindo-se portanto estes diferentes saldos, o total em todo e qualquer caso chegará para não somente concluir os nivelamentos em questão, mas sobrará provavelmente quantia suficiente, para que o agrimensor Odebrecht possa executar o levantamento, com seu distanciometro, do curso do Itajahy assú supeior e de diferentes dos seus confluentes, o que eu aludi no meu Officio N° 10 de 31 de Janeiro p. p…
Felicito portanto respeitosamente, V. Exma. Se queira dignar, d ´provar esta combinação de modo, que nestes nivelamentos em primeiro lugar, fique empregado o saldo na mão do Sr. Gama Lobo e o resto das despeza a suprido po esta Directoria, comtanto que em caso algum não fique excedido o credito originário de Rs. 40:500,000, destinado para os serviçoes daquela estrada.
Deos Guarde a V. Excia
Illmo. E Exmo. Sr. Dr. João Capistrano Bandeira de Mello Filho, Mui Dig. Na Prezidentes da Província.
O Diretor
Dr. H. Blumenau

Contribuição do pesquisador Marcos Schroeder retirado do Jornal Immigrant, arquivados no Arquivo Histórico de Blumenau. “A abertura do caminho foi realizada pelo Eng. Emil Odebrecht mas o alargamento na década de 80 foi realizado por Gottlieb Reif” – M. Schroeder.

Os pousos dos Serrastrasse – parte do projeto de Blumenau

Ao longo do caminho que estava sendo aberto em direção a Curitibanos, a cada seis e doze quilômetros, sempre ao lado de uma fonte de água, como por exemplo do rio das Pombas, se abria uma clareira com mais ou menos um hectare de área e construía-se um abrigo, um pouso, para os tropeiros e viajantes. Existia um destes pousos que ficou conhecido como “pouso redondo”, um lugar de pouso e descanso, dentro de um conjunto deles criados para isso, e não uma povoação. O que aconteceria mais tarde promovida por Gottlieb Reif, o fundador de Pouso Redondo, quando recebeu terras junto a esse local, como pagamento de seu trabalho na construção de estradas.

Gottlieb Reif e Catharina Reif (Solteira Wendt), em suas bodas de Pratas comemorada em 26 de dezembro de 1898. Nesta data, Gottlieb tinha somente 42 anos e Catharina, 38 anos.

Gottlieb se mudou para o local, próximo ao rio das Pombas, fixando-se em suas terras, com documento de posse. Construiu igrejas, escolas e fábricas alimentícias, importou maquinário da Alemanha. Também fez plantações e pasto para rebanhos. Para promover o desenvolvimento da povoação idealizada por si, como Hermann Blumenau o fez, vendeu lotes coloniais por um pequeno valor com documentação e também forneceu documentos de posse aos posseiros já ali estabelecidos. E, ainda, forneceu documentos de posse às pessoas apontadas erroneamente como fundadores da cidade.
A cidade fundada às margens do rio das Pombas por esse pioneiro de Blumenau, migrante alemão, se chama Pouso Redondo e também foi pesquisada por nossos alunos nos cursos da UNIDAVI.

Local de pouso na Serrastrasse. Caminho construído a partir de projeto regional de Blumenau.
Local de pouso na Serrastrasse. Caminho construído a partir de projeto regional de Blumenau. Fotografia do pesquisador, escrito e engenheiro alemão Dr. Phil Wettstein.
Mapa com a localização de Pouso Redondo e Rio do Sul, Serrastrasse (pontilhada) e demais localizações da malha de caminhos construídos com os principais elementos geográficos da região.

O esperado surgimento da rota comercial com a presença da Serrastrasse – Südarm torna-se um interposto

De acordo com a pesquisa de Rolf Odebrecht, descendente de Emil Odebrecht, os tropeiros tinham grande interesse na abertura dessa nova rota de tropas, a Serratrasse – Estrada Blumenau – Curitibanos, abrindo a nova rota comercial, não somente de gado, mas de açúcar mascavo, cachaça, farinha de mandioca. Os pioneiros de Blumenau já sabiam e por isso colocaram esse projeto regional em execução ainda no século XIX.
Esta movimentação e construção de infra estrutura, impactaram positivamente onde estava o segundo obstáculo do projeto regional, a travessia de Südarm – Braço do Sul/rio Itajaí do Sul. As lideranças de Blumenau trabalharam para resolver esse problema.

No tempo da foto, o local já possuía algumas benfeitoria e os barrancos não possuíam tanta mata, mas ainda é possível observar os barrancos de Südarm.

Blumenau decidiu que contratariam um balseiro para a travessia de Südarm quando iniciasse o tráfego de tropas dos Campos Gerais, que eram Campos Novos, Lages, Curitibanos, Palmas entre outros – para Blumenau, ou vice versa. Em 1853, o governo imperial fundou a Colônia Militar de Santa Thereza – Indústria, atual localidade de Catuíra e após a localidade de Taquaras para quem se desloca do litoral para o interior – sentido leste, às margens do Rio Itajaí do Sul. Neste local estavam instalados grupos de soldados e também, de imigrantes, para defender os viajantes e tropas que cruzavam o caminho que ligava o litoral em direção a Lages. O mesmo caminho que Emil Odebrecht usou, a partir de Lages, para abrir uma picada até o Vale do Itajaí e o Stadtplatz de Blumenau. Aumentaram, com isso, a migração interna e a movimentação nessa região, do litoral para o Alto Vale e Blumenau, aumentando a característica de interposto comercial, de Südarm.

Ano 2020 – localidade d do município de Alfredo Wagner, homenagem ao sobrinho de Pedro Wagner.

Observe-se como o Engenheiro Heinrich Krohberger delineou e destacou bem o caminho para Santa Thereza Indústria, no mapa que desenhou manualmente em 1907. Localidade muito mais antiga dos muitos municípios do Vale do Itajaí. Infelizmente não percebemos indícios desta história na paisagem local ou de maneira organizada, exceto aquela guardada e organizada no museu idealizado pela família Wagner – Museu Lomba Alta.

Parte do Mapa feito pelo Engenheiro alemão Heinrich Krohberger em 1907. Localização do povoado Santa Thereza Indústria.

Primeiro Balseiro de Südarm e a Balsa construída por Gottlieb Reif

“As primeiras e rudimentares balsas da região eram feitas com pranchões de madeira afixados sobre canoas.” ODEBRECHT, 2013.

Novamente nos deparamos com o pioneirismo de Gottlieb Reif, tão pouco mencionado na história regional. Em 3 de março de 1890, o Conselho de Blumenau, presidido pelo médico José Bonifácio da Cunha, incumbiu Reif de construir uma balsa em Südarm. Gottlieb Reif era Conselheiro desde 1888.
Bonifácio da Cunha foi responsável por outra ação importante para a história regional. À frente.

Karl Heinrich Ferdinand Schroeder

O primeiro balseiro foi Karl Heinrich Ferdinand Schroeder. Este  permaneceu por pouco tempo no local, aproximadamente sete meses. Antes de ir para Südarm, residia em Apiúna – na época denominada Aquidabã e pertencia a Indaial. Sua casa sofreu um ataque dos índios. Ele e seu filho de 10 anos se refugiaram no “Pouso” da pastagem, local da atual Agronômica e quando voltarem encontraram tudo destruído pertences roubados, entre estes, 3 porcos e 3 cachorros. Pegou o resto que sobrou e retornou para Apiúna, deixando tudo para trás e deixando Südarm sem balseiro.

Franz Joseph Frankenberger e Basílio Correia de Negredo

O imigrante alemão Franz Joseph Frankenberger, conhecido pelo nome “abrasileirado” Francisco, é considerado o primeiro morador de Bella Alliança e do Médio Vale do Itajaí. Frankenberger nasceu na capital de Unterfranken, norte da Baviera, na localidade de Hiberhausen – Würzburg, em 4 de outubro de 1856, cidade em que também foi prefeito. Seus pais foram Anton Frankenberger e Helena Heinrich. A região é muito católica. Frankenberger tinha comunicação e amizade com o padre José Maria Jacob, primeiro pároco de Blumenau, idealizador da Casa São José e do Colégio Santo Antônio, na época se chamava de Colégio São Paulo. Foi professor do Colégio São Paulo, onde existe um depoimento de um de seus ex-aluno, Marcos Konder. Segue:

Quanto ao ensino, estava quasi exclusivamente a cargo de professores leigos, recrutados entre gente adventicia e instável. Lembro-me, entre outros, dos seguintes: Padre Steiner, o único professor religioso do Collegio, Murphy, filho da “Madama”, Frankenberg e Schönfelder. Dentre estes o mais moço e mais intelligente se me afigurava o professor Guilherme Murphy, que leccionava portuguez e arithmetica. Honra lhe seja feito, elle se esforçava muito, principalmente na ultima destas materias. Recordo-me ainda bem que Murphy cortou meia dúzia de laranjas para metter-me na cabeça o que eram fracções. Foi, porém, tudo debalde. Nem o fraccionamento de um laranjal inteiro seria capaz de quebrar a resistencia inteiriça do meu cérebro. Frankenberg dava aulas de leitura, escripta e não sei o que mais. Schönfelder, um homem de uma linda barba á Tolstoi, leccionava, entre outras cousas, piano. Um dos meus supplicios havia de ser tambem a aprendizagem deste instrumento. Schönfelder tudo fez para me ensinar as sete notas rudimentares da escala. Marcos Konder, 1927 – 50 anos do Colégio Santo Antônio.

Em seu diário, aponta o dia de sua última aula em Blumenau antes de se mudar para o Alto Vale.
Trechos do Diário, ODEBRECHT, 2013 e tradução de Willy Hesthein:

“Dia 14 de março de 1892 – Estive com o Sr. Dr. Blumenau no assunto da terra.
Dia 25 de março – Assinei o contrato de compra com Schütz hoje e paguei a primeira prestação.
Dia 23 de maio: Hoje lecionei a minha última aula (em Blumenau).
Dia 7 de setembro: Trabalhei pela primeira vez na minha colônia.” Diário de Frankenberger

Batizado do filho de Franz e Josephina – Conrado Guilherme. O padre era o religioso italiano jesuíta João Maria Cybeo (1837-1925).

Frankenberger adquiriu terras diretamente com Hermann Blumenau, na localidade de Matador, que tempos depois se tornou a povoação de Bella Alliança, atual bairro de Rio do Sul – Bela Aliança. A sede do distrito de Bella Alliança, mais tarde, foi transferido para Südarm. Chegou no seu lote colonial em 7 de setembro de 1892, solteiro. Construiu sua casa com material retirado de suas terras – casa vernacular. Permaneceu no cargo por pouco tempo. Novamente, após um ataque indígena, com mortes, largou tudo e saiu da região com a roupa do corpo, deixando tudo para trás. A cidade que deixara na Alemanha era a capital de um Estado, e deve ter ficado muito assustado. No entanto, este incidente não impediu que no local que abandonou se desenvolvesse uma povoação, com a presença da igreja e da escola fundadas pelos pioneiros.
Frankenberger retornou para Südarm, que depois se tornou Rio do Sul, onde formou sua família com a viúva Josephine Galant (solteira:Tarnowski) (1870-1917) de Indaial. Casaram-se em 31 de março de 1897, em Blumenau. O casal teve 8 filhos. São eles: Ambrósio Frankenberger (1898–1984), Conrado Guilherme Frankenberger (1899 – 1990), Antônio Benedicto Frankenberger (1901– -), José Pedro Frankenberger (1904– – ), Alexandre Frankenberger (1905–1977), Bernardo Frankenberger (1909–1984), Aloisio Frankenberger (1911 – -), Mônica dos Santos (1914–1993).

Registro do casamento de Franz Joseph Frankenberger e a viúva Josephine Galant (solteira:Tarnowski).
Quem construiu a primeira capela católica em Südarm foi o devoto aposentado Basílio Correia de Negredo, em 1907, quando contava com 83 anos de idade. Basílio Correia de Negredo trabalhou por mais de 30 anos, como mateiro, na equipe de Emil Odebrecht, nas inúmeras expedições ao interior de Santa Catarina, junto com Vicente Leite, outro pioneiro no local.
Antes disso, ainda em 1892, a direção da Colônia  Blumenau contratou Basílio Correa de Negredo, auxiliado por seus filhos, João Basílio e Carlos Correa de Negredo. Foram incumbidos de abrir um estabelecimento de passagem em Südarm, na Serrastrasse. Os contratados receberam, por arrendamento, um lote de 25.000 m2, primeiro passo para a fundação do distrito Bella Alliança, cuja sede não era junto dos rios que formavam o Itajaí-Açu: rio do Oeste e rio Itajaí do Sul.
O local da balsa, era local importante dentro da escala regional, por ter se tornado um entreposto comercial – conforme idealizado pelos pioneiros. Não demorou muito para que mais famílias oriundas de familiares de famílias pioneiras de Blumenau (sede), se fixassem na região. Também membros da família do engenheiro Emil Odebrecht, como seus filhos Rudolf e Oswald Odebrecht.
Formação social no Alto Vale do Itajaí, a partir de fixação de famílias oriundas da sede de Blumenau.

Basílio Correia de Negredo tinha sua família residindo em Apiúna, conhecida na época, como Aquidabã. Ao se aposentar, Hermann Blumenau e Odebrecht o contrataram como balseiro de Südarm – próximo onde surge o grande rio Itajaí Açu a partir das águas do rio Itajaí d’Oeste e do rio Itajaí do Sul. O local, como experienciado por Schroeder e Frankenberger, era ponto de ataque dos nativos local e perigoso, embora passagem de expedições e tropas.
Negredo tinha amizade com parte dos indígenas, pois a política de seu líder por por um bom período de tempo, Emil Odebrecht, era o de boa vizinhança. Dividiam a caça com os índios e nunca atiraram contra eles.
Basílio Correia erroneamente foi considerado fundador de Rio do Sul, o que não condiz com sua história, pois a região era parte do território de Blumenau, fato amplamente registrado em mapas da época e a personagem história foi contratada por Blumenau para estar no local como trabalhador público.
Também essa região foi local de implantação de projetos regionais a partir da administração blumenauense, de ações para o desenvolvimento da região, tornando esse local muito importante dentro da rede de caminhos abertos pelas lideranças de Blumenau – e também, tornando-se um interposto comercial.
Basílio recebeu uma estátua na frente da Prefeitura Municipal de Rio do Sul, como fundador de Rio do Sul. Sua família nunca residiu em Rio do Sul.

Estatua do “fundador” de Rio do Sul, localizada na frente da Prefeitura Municipal de Rio do Sul, contratado, depois de se aposentar da equipe de Emil Odebrecht, para conduzir a balsa em Südarm, depois de dois balseiros, largarem seus cargos por conta de ataque indígenas.
Rio do Sul não tem fundador.

O embrião urbano surgido com as rotas comerciais – conforme previsto no projeto regional dos pioneiros

As primeiras famílias pioneiras do embrião da povoação era de famílias da centralidade de Blumenau. Rudolf Odebrecht era filho do engenheiro Emil Odebrecht e abriu a primeira casa comercial de Südarm/Bella Alliança/Rio do Sul. A técnica construtiva dessa edificação é enxaimel com fechamento de tábuas de madeira e cobertura de ramos.
Naturalmente, em torno do local da balsa, surgiu a nucleação urbana. O filho de Emil Odebrecht – Otto Theodor Rudolph Odebrecht ou somente Rudolf Otto Odebrecht (como foi batizado), abriu uma pequena venda e também uma pequena hospedaria. Posteriormente algumas famílias de descendentes alemães oriundos da centralidade da Colônia Blumenau se fixaram no local. A nucleação era naturalmente chamada de Südarm e foi importante entreposto comercial.
Mapa de 1874 – de Emil Odebrecht com a localização da confluência dos rios e a formação do grande Rio Itajaí Açu – Südarm. Fonte: Arquivo Histórico de Blumenau.
Como era previsto pelos pioneiros de Blumenau e rede de caminhos e principalmente a Serrastrasse – caminho entre a Serra Catarinense e a Colônia Blumenau e também, deste ponto – a viabilidade de uma ligação para o Oeste de Santa Catarina e para a Argentina fomentou o desenvolvimento regional. Isto a partir das propriedades agrícolas e nucleações urbanas que surgiram ao longo dos vales – às margens dos rios da Bacia do Itajaí e posteriormente, ao longo da ferrovia, que também teve estação em Südarm – então em Rio do Sul – emancipado dois anos antes do ponto final chegar ali, com a inauguração de sua estação ferroviária.

Esta rede de caminhos e intermodalidade foi responsável pelo surgimento de rotas comerciais, urbanas, regionais, não somente na região, mas no estado de Santa Catarina. Lideranças locais sagazes apresentavam realidades diferentes aos residentes. Historicamente, é fato que a região de Südarm, Bella Alliança, parte do território de Blumenau, tornou-se uma região privilegiada sob o aspecto das rotas comerciais na rede de caminhos idealizada e construída por Blumenau.
Rede de caminhos construída no interior do Estado de Santa Catarina – Mapa de Emil Odebrecht – 1870. Fonte: Arquivo Histórico de Blumenau.
Südarm, próximo ao raso, embrião da atual rua Ruy Barbosa. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.

Os primeiros moradores de Südarm

Os primeiros moradores e proprietários de terras em Südarm foram Franz Joseph Frankenberger, August Zirbel, Jakob Häuser e Vicente Leite. As primeiras providências para abrir clareiras e coivaras foram feitas por ações diretas destas famílias.
ODEBRECHT (2013) considera como primeiro morador do atual perímetro urbano de Rio do Sul, Franz Joseph Frankenberger. Seu lote colonial estava às margens do rio Itajaí Açu, cerca de 6 quilômetros abaixo da atual centralidade de Rio do Sul, atual bairro Bela Aliança. August Zirbel adquiriu lote na margem direita de Südarm, no entorno de do ribeirão Albertina, atualmente bairro de Rio do Sul. Jakob de Häuser adquiriu um lote em 1892, próximo a de Zirbel.
O mérito sem dúvida, é destes quatro pioneiros. eles fizeram derrubada, aceiro, queimada, encoivaramento, nova queimada e roça, construíram suas casas e trouxeram suas famílias. eles resistiram à perfídia dos índios e preservaram nessa grande solidão e isolamento, mormente Zirbel e Häuser, uma vez que Vicente Leite e Frankenberger residiam à beira da estrada Blumenau Curitibanos, estrada usada por cavaleiros, pedestres, tropas de muares e bovinos bem coo trabalhadores da linha dos telégrafos. A estrada foi inclusive usada por uma parte dos maragatos, federalistas revolucionários de Gumercindo Saraiva , tanto quando vieram organizados do Rio Grande, como quando voltaram debandados, roubando e saqueando. ODEBRECHT, 2023.
Famílias em 1917 mapeadas em Bella Alliança/Südarm: Klemz, Wagner, Graupner, Tomsen, Baumgarten, Odebrecht, Cardoso, Mayr, Pellizzetti, Leite, Jansen, Siewerdt, Freiberg, Holetz, Köning, Lukas, Schlatter, Wehmut, Ern e Brandes .

Südarm – 5° Distrito de Blumenau 1912 – Bella Alliança

A nucleação urbana – Südarm foi elevada à condição de vila e sede do 5º distrito de Blumenau em 1912 e o local tinha uma configuração espacial e uma centralidade exercida pela presença da venda, das edificações e do hotel de Odebrecht. A centralidade possuía somente uma igreja – a luterana, cuja comunidade foi fundada em 1908. Nesse tempo da criação do distrito, a comunidade de Bella Alliança já contava com a presença do italiano Ermembergo Pellizzetti, que chegou de Ascurra e já sabia o que pretendia no local, geográfica e economicamente promissor, depois de efetivada a Serrastrasse, ou a estrada Blumenau Curitibanos.
Tipologia de cidade alemã e não renascentista – Primeira fase histórica de Rio do Sul Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.
Pode ter sido a primeira casa construída na região onde está Rio do Sul atual. Casa construída com estrutura de madeira, fechamento de taipa e coberta com ramos. Assim era a casa provisória dos pioneiros e a técnica vernacular veio com os migrantes, trazida da Alemanha. A técnica construtiva é semelhante àquela que foi construída em território alemão e em outras partes da Europa no período neolítico e que deu origem à técnica construtiva enxaimel conhecida e construída na região, posteriormente. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.
Cobrança de imposto de Barreira no centro do povoado. O gado chegava da Serra e passava na centralidade.

Em 2019, em uma de nossas aulas de Planejamento Urbano, no curso de Arquitetura da UNIDAVI, no momento em que analisávamos as pesquisas, geográficas, econômica e sociais do projeto em desenvolvimento, uma acadêmica mencionou durante sua exposição, a sua entrevista informal feita com sua Nona. Disse:

“Minha Nona disse tratar de uma lenda que ouvira de sua mãe. Ela disse que quando chegou as famílias italianas na região, elas foram assentadas longe do assentamento das famílias alemãs. Foram instaladas à margem esquerda do rio Itajaí Açu, no Canoas e Canta Galo. Mas é lenda.”

Esse comentário espontâneo, no meio de debates sobre dados sociais da pesquisa que embasariam o projeto urbano para a cidade nos fez ponderar e questionar: Por que não? O que existia politicamente, entre as comunidades alemãs e italianas da região?

Segregação étnica cultural e suas consequências sociais

As famílias italianas foram instaladas junto às margens do rio Itajaí Açu, mas abaixo da confluência, que coincidentemente, também eram famílias católicas. Nesse período não havia uma boa convivência entre católicos e luteranos na região. Mas também, descobrimos, que boa parte da comunidade italiana local também não tinha bom relacionamento com as igrejas cuidadas pelos freis franciscanos alemães. Por quê?
Quem estava por trás disso?
No decorrer do artigo, o leitor compreenderá.
Neste período, a política local de Rio do Sul estava sob comando de descendentes dos pioneiros italianos na região, explicando o nome, Bella Alliança. Como sede distrital, a região começou a contar com serviços públicos que contribuíram para o aumento populacional, a circulação de pessoas e também, em função do aumento das transações comerciais e industriais na região.

Dois italianos destacam-se na mudança de rumos da História de Rio do Sul

Escritório residencial de Ermembergo Pellizzetti, com presença de inúmeros registros históricos, que podia sociabilizar – na cidade de Rio do Sul.

Dois nomes italianos se destacam nas mudanças dos ares e da história de Rio do Sul. São eles: Ermembergo Patrízio Felice Pellizzetti (1876 – 1947) e Gino Alberto de Lotto (1896 – 1959). Indiretamente, houve a presença de outro italiano, que sequer morou em Rio do Sul, mas foi o responsável pelo ideário que vingou e motivou as mudanças, através do primeiro citado, Giovani Rossi.
O primeiro mencionado, Pellizzetti, chegou em Blumenau, de Rio de Janeiro, atendendo ao chamado de Giovani Rossi que o alertou sobre a presença de uma boa quantidade de italianos na região. Trabalhou com Rossi em Rio dos Cedros. Pellizzetti conheceu o segundo italiano que teve influência nas mudanças históricas de Rio do Sul, o engenheiro Gino Alberto de Lotto, na frente de construção da EFSC, onde Pellizzetti trabalhou como empreiteiro. Lotto também tinha boas relações com o novo Diretor da EFSC, engenheiro Breves Filho, onde tinha informações privilegiadas, relacionadas a localização de infraestrutura ferroviária e terras.
Nesse tempo, Pellizzetti se mudou para Südarm e ao se fixar no local, buscou o poder. Para isso foi preciso trabalhar politicamente para que a região saísse das mãos dos fundadores e de Blumenau. Para atingir esse objetivo, Ermembergo Pellizzetti precisou de somente 21 anos, a contar da data de sua chegada.

Quem foi Giovani Rossi, personalidade que trouxe Pellizzetti para Blumenau?

Giovanni Rossi foi um engenheiro agrônomo e médico veterinário e escritor italiano nascido na cidade de Pisa, em 11 de janeiro de 1856. Estudou agronomia e veterinária na Escola Normal Superior de Agronomia. Durante a faculdade conheceu a literatura socialista antiautoritária e se aproximou do partido socialista clandestino de Montescudaio.
Rossi convidou Ermembergo Pellizzetti que simpatizava com seu ideário, para trabalhar em Rio dos Cedros. Pellizzetti era militar da reserva na Itália.
A filha de Ermembergo, Beatriz comenta em sua publicação sobre a afinidade de seu pai com Rossi. Ressalte-se que Ermembergo chegou à região de Südarm em 1910, quando famílias de famílias da sede de Blumenau organizavam a povoação de Südarm. Esse processo tomou forma após a efetivação de todas as providências tomadas para a construção de uma rede de caminhos e de povoações, com o objetivo de promover o desenvolvimento da região do Vale do Itajaí, a partir de uma colônia agrícola privada – nos moldes do ideário capitalista. Nesse momento está se armando um cenário de dualidade política, onde historicamente haverá um conflito ideológico.
Sabiam disso?

Acontece que Ermembergo ouviu falar que tinha italianos em Santa Catarina e veio para Blumenau. Lá ele soube de um italiano muito ilustre, que se chamava Giovanni Rossi e morava em Rio dos Cedros. (…) Ermembergo chegou a Rio do Sul, onde começou a se interessar pela população que estava querendo se libertar de Blumenau e ele começou a ajudar nesse processo. Quando Rossi quis voltar para a Itália, o governo mandou cercar as fronteiras, pois considerava o engenheiro agrônomo muito perigoso. “Mas ele tinha outras intenções, como a de melhorar o estado da vivência humana. Ele era contra o casamento, por exemplo, o que está acontecendo agora, pois as pessoas estão se unindo sem se casar. Para Rossi papel não valia nada”, detalha Beatriz.
Por fim, Rossi conseguiu chegar a Pisa, mas não conseguiu emprego. Era Ermembergo Pellizzetti quem mandava dinheiro para engenheiro agrônomo sobreviver na Itália. “Rossi tinha difundido muito a ideologia anarquista e ninguém quis dar emprego para ele. O que é interessante, é que o meu pai não comenta essa parte da história”. Beatriz Pellizzetti Lolla.

Por que será que não comenta?
Prosseguindo.
Giovani Rossi foi simpatizante dos socialistas libertários experimentalistas franceses (socialistas utópicos, no jargão marxista). Escreveu inúmeros livros sobre a criação de comunidades experimentais, os quais eram lidos por Pellizzetti. Rossi também foi membro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) de Pisa, fundou a Colônia Agrícola Experimental Cittadella em Cremona e ficou conhecido ao tentar implantar a Colônia de Santa Cecília, em 1890. no estado do Paraná, Brasil 1890.

Um fato social novo, que está preocupando os pais de família, é o espírito de independência suscitado nos filhos pela facilidade da vida, também fora da casa paterna. A família quebra o antigo modelo patriarcal no qual se modelou até então, e tende irresistivelmente à liberdade . Os adolescentes não suportam mais a autoridade paterna; exigem que o pai lhe compre novas terras para estabelecer se, ou que lhe sejam cedidas uma parte dos lucros domésticos, e em cada caso tendem ao casamento precoce e a estabelecer-se independentes . Assim os pais se veem abandonados às suas fracas forças, se não souberam ou puderam salvar da avidez filial uma economia que os auxiliem a passar a triste velhice. Giovani Rossi – passagem do 50° aniversário de Blumenau – Blumenau em Cadernos, 1991.

Como Pellizzetti, Rossi também preferia não se expor muito. Usou o pseudônimo de Cardias para publicar uma série de cinco livros que chamou de Une commune socialiste (Uma comuna socialista) – entre 1878 e 1891. Nessas publicações coincidentemente o personagem principal se chamava Cecília. No ensaio, Rossi, com o pseudônimo de Cardias, apresenta a história de uma vila imaginada, onde critica a religião, a propriedade privada e a família nuclear. Em novembro 1878, Rossi é preso. É libertado em abril de 1879 e o caso foi arquivado. Quando lembramos que Rossi inspirava Pellizzetti, através de seu ideário e este, estava residindo em Blumenau desde 1901 (Rio dos Cedros e Südarm), lembramos do fundador de Blumenau, Otto Bruno Blumenau. Este era conservador ao ponto de entender que Dr. Fritz Müller e suas amplas ideias, representavam um problema para a colônia e administração. Mexeu “mundos e fundos” para que esse fosse residir em Nossa Senhora do Desterro. Nem poderia supor o que viria a acontecer no Alto Vale, onde tinha a fama semeada de estar “escravizando” aquelas pessoas, que tinham seus familiares na sede da colônia. Coisas que a história nos apresenta hoje “lendo” de longe, do respectivo recorte de tempo.

Prosseguindo. Como os demais membros da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), Rossi era considerado um contraventor na Itália, o que o fez alinhar-se ao projeto dos anarcossindicalistas. A ideologia de Giovanni Rossi era pautada na ideia de solução para os problemas sociais, contrária ao capitalismo – através do “socialismo experimental” cientificamente fundamentado, atualmente é denominado comunalismo experimental.
Rossi chegou à região graças a seu bom relacionamento com o Superintendente de Blumenau, o médico baiano José Bonifácio da Cunha (veio para Blumenau tratar da saúde). Este fez lobby junto ao governador do estado, o republicano Hercílio Luz, para que colocasse Rossi, através de um ato oficial, no cargo de Diretor da Estação Agronômica da localidade de Rio dos Cedros, que então fazia parte do município de Blumenau, o que aconteceu em 1898. Rossi chamou Ermembergo Pellizzetti.

….a primeira discórdia foi semeada por um tal de Dr. Giovanni Rossi, de Pisa, mandado em 1895 pelo governo brasileiro como diretor de uma Estação Agronômica, em Cedros. Ele era um perfeito ateu e socialista ativo. Fingindo uma tal amizade com os religiosos, ele enquanto isso, espalhava ocultamente entre o povo simples as suas doutrinas perversas. Ainda que os fiéis avisados em tempo pelo sacerdote, em geral não dessem grande importância àqueles ensinamentos perigosos, foram infectados pelo mal e se fizeram propagadores de tais ideias em outros lugares, em particular na comunidade de Ascurra, já bastante inclinada a tal discórdia. Relatório dos franciscanos ao Núncio Apostólico Monsenhor Aversa. Rodeio, 1913. (CFR).

Ermembergo Patrízio Felice Pellizzetti (1876 – 1947)

De ideias socialistas, deixou a Itália, em 1896. Com planos propostos pelas suas novas reflexões, emigrou para o Brasil, às suas expensas. Voltou à Itália em 1904 e 1923. Na antiga capital da República, depois de percorrer o norte do país, interessou se por soluções diversas do modo de produção latifundiário, porque, neste aspecto, sua visão ideológica era a da pequena propriedade, conforme seu Plano de Petrópolis, em sua coletânea. Com a intenção de se dedicar a uma vida rural, exerceu, antes, outras atividades. Foi escriturário na fábrica de tecidos Alliança, no Rio. Não procurou, então, associações capitalistas e logo se tornou vice-presidente de uma Liga Operária que, na verdade, era composta de um bom número de intelectuais italianos, de acordo com suas memórias. Ligou-se, em 1901, à colonização estrangeira da região catarinense de Blumenau (Vale do Itajaí), com planos de desenvolver seu projeto de conciliação entre o capital e o trabalho. Beatriz Pellizzetti Lolla.

Nesse mesmo relatório, o líder Ermembergo Pellizzetti recebeu os seguintes adjetivos:

“o Dr. Rossi chamou da Itália ainda um outro companheiro, um tal Pellizzetti, talvez mais perigoso, porque era mais familiar com os colonos. Depois da partida do Rossi, se estabeleceu em Ascurra onde mora ainda, em concubinato apenas, o primeiro que lá deu esse mau exemplo. Ele tinha pego um seguidor prosélito, o agrimensor Landriani, conhecido por todos também por causa de seus discursos imorais. Que mal causaram estas duas pessoas entre a população, sobretudo entre a juventude, não se pode calcular. Propagaram entre os colonos jornais péssimos, como L’Asino, L’Avanti, Il Leme e similares e enquanto isso se faziam representantes do consulado italiano, inspetores das escolas.” Relatório dos franciscanos ao Núncio Apostólico Monsenhor Aversa. Rodeio, 1913. (CFR).

Ermembergo Pellizzetti nasceu em 22 de abril de 1876, em Mantova, Itália.
Foi filho de Tommaso Pellizzetti e de Eugenia Francesca Tonninelli.
Foi um militar na Legione Allievi Carabinieri de Roma e ficou parcialmente surdo. Essa instituição é um tipo de serviço militar para formação de soldados do “Corpo Real de Carabinieri”.

Fotografia de fotografia do General italiano. Estava pendurada na parede da casa onde viveu Ermembergo Pellizzetti, em Rio do Sul. Detalhe: a pequena fotografia de Pellizzetti fardado.
Documento de Carabinieri Reali di Roma, comprovando a passagem de Pellizzetti pela corporação. Fixado na parede de sua residência.

Deixou o serviço militar e migrou para o Brasil, quando chegou em 1896, no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, em 1901, chegou em Blumenau. Trabalhou com Giovani Rossi em Rio dos Cedros, depois, nas frentes de construção de estradas e também na construção da EFSC, quando, oportunamente, conheceu outro italiano além de Giovani Rossi – que trabalhava na construção da ferrovia, Gino Alberto de Lotto. Essa aproximação e posterior sociedade, juntamente com o ideário de Rossi, rendará muitas mudanças em Südarm, Bella Alliança.
Casou-se primeiro com Rosalia Bazzanella (1884–1922), em 10 de junho de 1905, na cidade de Indaial. Tiveram seis filhos: Dante Pelizzetti (1907–1957), Silvio Pellizzetti (1910–1992), Eugenia Pellizzetti (1911– – ), Amabile Pellizzetti (1916–1987), Vitor Pellizzetti (1918–2000) e Ivanhoé Pellizzetti (1921–1990).
Após enviuvar, em 1922, casou-se novamente, com Maria Schiocchet, 26 anos mais jovem que Ermembergo, em 11 de fevereiro de 1926, em Rio do Sul. O casal teve dois filhos: Humberto Pellizzetti (1926–1988) e Beatriz Pellizzetti (1930–2023).
Ermembergo tinha somente um irmão, Atlante Odoardo Secondo Pelizzetti (1875, – ), que foi assassinado no Rio de Janeiro.

“Meu pai, Ermembergo Pellizzetti, era da província de Mantova, região Lombarda, onde nasceu em 1876. Estudou em casa até o primário com a mãe, Eugenia, que era professora. O pai, Tommaso, era costureiro modista, tanto que veio para o Brasil uns anos antes comprar tecidos no Rio de Janeiro, onde tinha um irmão que tinha venda de tecidos”. Beatriz Pellizzetti Lolla.

Ermembergo tinha apenas um irmão, Atlante Pellizzetti, que também veio para o Brasil. Trabalhava para o governo, no Palácio de Petrópolis (RJ), onde foi assassinado no período da Primeira Guerra Mundial. Nunca soubemos a razão, mas ele devia saber segredos. Beatriz Pellizzetti Lolla.

Chegou à região chamado por Giovani Rossi e segundo Curi, Pellizzetti hostilizou os padres franciscanos alemães, com objetivo de fundar escolas “italianas”, em oposição às escola paroquiais franciscanas. Por exemplo, Padre Jacobs fundou o Colégio Santo Antônio em Blumenau. Rossi e Pellizzetti eram contrários a esse tipo de escola. E conseguiram. Há um trabalho desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina sobre esse episódio histórico, muito bem documento que pode ser pesquisado pelos interessados. Trata-se da tese de doutorado em História orientada pelo Prof. Dr. Artur Cesar Isaia desenvolvido por Clarícia Otto.
Ermembergo Pellizzetti era próximo de Giovani Rossi, sendo esse o responsável pela vinda de Pellizzetti para Blumenau e por trabalhar com ele na Estação Agronômica de Rio dos Cedros.

Mesmo porque, em Rio dos Cedros dois nomes chamam a atenção no tocante ao movimento anárquico e socialista: Giovani Rossi e Ermembergo Pellizzetti. Rossi, na verdade, foi o fundador do socialismo anárquico italiano e internacional e foi hostil ao padre Lucínio Korte, já que o padre não via com bons olhos o patriotismo e o anarquismo exagerado de Rossi. Pellizzetti mostrou-se hostil aos padres franciscanos, quando se empenhou em fundar as escolas ditas “italianas”, em oposição às escolas paroquiais. Tais escolas italianas foram também pivô de discórdias entre os imigrantes italianos (ao menos para alguns) e os frades alemães de Rodeio, e isto principalmente pelo cultivo da italianidade e a liberdade de pensamento… CURI, 2005.

…Assim, além dos frades mencionados, outras pessoas passam a partilhar do mesmo imaginário, no que se refere à imagem construída sobre o outro. Acerca de Ermembergo Pellizzetti e do episódio de uma bomba que foi colocada debaixo da casa paroquial em Rio dos Cedros, em 1911, Victor Lucas afirma: “Pellizzetti era revolucionário, ele era contra o domínio dos padres. A bomba foi colocada pelo Pellizzetti”… Vitor Lucas – Clarice Otto

Também para os redatores do jornal Blumenauer Zeitung, esse acontecimento passou a ser notícia e reforçou o imaginário acerca do iminente anarquista. Esse jornal noticiou e comentou o hediondo crime contra os freis Modestino e Policarpo, como se vê nos três fragmentos dessas matérias jornalísticas. O primeiro deles diz que em Rio dos Cedros foi cometido.

“…um crime que faz lembrar os perfídios atentados da Mão Negra. A ação criminosa foi dirigida contra um padre católico, o Frei Modestino Oechtering, membro da Ordem Franciscana, que exercia a função de pároco. […] Pelas 11 horas da noite, quando todos os moradores da casa haviam se deitado, explodiu a bomba, que fora detonada por meio de um pavio. O efeito foi horrível. O assoalho do quarto foi arrancado e a cama, na qual o padre dormia, foi arremessada até o teto. […] Também no quarto ao lado dormia Frei Policarpo Schuhen, superior do Convento de Rodeio, que havia vindo ao Cedro pra auxiliar o pároco. […] Esperamos que sobre o ato criminoso e seus motivos as investigações policiais venham trazer completos esclarecimentos… Blumenauer Zeitung. Blumenau, 02/05/1911. (AHJFS)

O terceiro artigo do Blumenauer Zeitung acerca do atentado baseiase num artigo do L’Amico, que havia publicado um extenso relato sobre a tentativa de assassinato ocorrido em Rio dos Cedros.

“A bomba de dinamite colocada debaixo da casa paroquial explodiu no dia 29 de abril, na noite de sábado para domingo. Para aquele domingo estava marcada a Primeira Comunhão de cerca de 180 crianças. O jornal L’Amico supõe que os criminosos pretendiam, com o assassinato de ambos os padres, que dormiam na casa paroquial, obstar a realização do ato religioso. Com isso evidencia-se incontestavelmente a tendência anticlerical do ato criminoso. Conforme supõe o citado jornal, o ato deveria ser, ao mesmo tempo, uma espécie de prelúdio à comemoração do dia 1º de Maio, dia de festa universal, consagrada por socialistas e anarquistas. A agitação anticlerical entre os italianos foi fomentada, ainda, com a propagação do pasquim anarquista L’Asino cujo redator, outrora, instigara os anticlericais de Blumenau a expulsarem os padres franciscanos intrusos. L’Amico cita até nominalmente duas pessoas, acusadas pela boca do povo como autores do atentado. Dizem que ambos, na noite anterior, compraram dinamite na casa de negócio do senhor Henrique Klug e um deles, ao que consta, dissera: “os padres prepararam tudo para a cerimônia da primeira comunhão, porém não chegarão a realizá-la”. Blumenauer Zeitung. Blumenau, 09/05/1911. (AHJFS)

As palavras eram suas armas.

Em consonância com o dizer de Largura estão os registros do cronista franciscano, o qual diz que além de Pellizzetti, de Rossi e de seus colaboradores, um mal mais pernicioso resultou das visitas dos cônsules italianos. O cônsul Pio di Savóia sabia muito bem fingir ser um católico zeloso, afável, cortês com os franciscanos, mas ao mesmo tempo se hospedou na casa do socialista Rossi, e com esse inimigo do trono, assim como do altar (grifo nosso), ele tinha um relacionamento tão familiar a ponto de surpreender e confundir muitos imigrantes. Nos Vales, esse cônsul fez propaganda da escola Dante Alighieri e se atribuía direitos inclusive sobre as escolas fundadas pelos padres franciscanos. Segundo o cronista, Pio di Savóia enviou uma carta ao frei Lucínio Korte com elogios aos franciscanos e simultaneamente um relatório ao ministro das relações exteriores em Roma, com calúnias contra eles. Dentre outras afirmações, no relatório dizia que os franciscanos alemães, “tomados de ódio contra a população italiana, pretendiam germanizá-la a todo o custo”. Ao tomar conhecimento de tais acusações, frei Lucínio exigiu que o cônsul apresentasse provas. Pio di Savóia, no entanto, pediu que ele se dirigisse ao embaixador italiano no Rio de Janeiro, pois não tinha tempo para discussões com padres, e além disso se sentia ameaçado. Diante dessa resposta do cônsul, Frei Lucínio envia um relatório ao embaixador italiano no Rio de Janeiro. O embaixador em resposta disse que não estava totalmente de acordo com o cônsul.
Após alguns meses, Pio di Savóia foi transferido para São Paulo…Clarice Otto

Ermembergo Pellizzetti e Giovani Rossi na Estação Agronômica

…a primeira discórdia foi semeada por um tal de Dr. Giovanni Rossi, de Pisa, mandado em 1895 pelo governo brasileiro como diretor de uma Estação Agronômica, em Cedros. Ele era um perfeito ateu e socialista ativo. Fingindo uma tal amizade com os religiosos, ele enquanto isso, espalhava ocultamente entre o povo simples as suas doutrinas perversas. Ainda que os fiéis avisados em tempo pelo sacerdote, em geral não dessem grande importância àqueles ensinamentos perigosos, foram infectados pelo mal e se fizeram propagadores de tais ideias em outros lugares, em particular na comunidade de Ascurra, já bastante inclinada a tal discórdia. (…) o Dr. Rossi chamou da Itália ainda um outro companheiro, um tal Pellizzetti, talvez mais perigoso, porque era mais familiar com os colonos. Depois da partida do Rossi, se estabeleceu em Ascurra onde mora ainda, em concubinato apenas, o primeiro que lá deu esse mau exemplo. Ele tinha pego um seguidor prosélito, o agrimensor Landriani, conhecido por todos também por causa de seus discursos imorais. Que mal causaram estas duas pessoas entre a população, sobretudo entre a juventude, não se pode calcular. Propagaram entre os colonos jornais péssimos, como L’Asino, L’Avanti, Il Leme e similares (grifos nossos) e enquanto isso se faziam representantes do consulado italiano, inspetores das escolas. Relatório dos franciscanos ao Núncio Apostólico Monsenhor Aversa. Rodeio, 1913. (CFR) – Clarice Otto

Para melhor compreender, a Estação Agronômica e de Veterinária do Estado foi criada no final do século XIX em Rio dos Cedros, território de Blumenau. De acordo com site da Prefeitura de Rio dos Cedros, a Estação Agronômica de Rio dos Cedros estava localizada onde atualmente está a “Fábrica de Molas Marchetti S/A”.

A prática na Estação Agronômica é mais ou menos o que fazia Karl Eugen Richard Hinsch, fundador do Laboratório Renascim, na Granja Modelo em Salto Weissbach, Blumenau, na mesma época, só que nesse casso o local foi criado pelo governo de Santa Catarina e sem muita pesquisa contratou o agrônomo Giovani Rossi para dirigir o espaço. Estava no Paraná e usou de suas relações para vir para Santa Catarina e que por sua vez, trouxe Pellizzetti. Rossi morava na Estação Experimental. Não somente dirigia a colônia experimental, sob seu ideário e ideologia como também assessorava outros centros italianos. A Estação Agronômica de Rio dos Cedros foi seu reduto, também de experimento de estruturação política amplamente materializada a partir do ideário teórico socialista adquirido na Europa.
Os franciscanos locais perceberam imediatamente o embate. Possuíam conhecimento para isso, pois fundaram as primeiras escolas em Blumenau. Foram sua oposição, pois conseguiam “ler” o que acontecia na Estação Experimental, onde ocorriam também outros tipos de experiência e propagação. Houve embates, onde a sociedade foi amplamente seduzida pelo ideário, o que, também aconteceu em Bella Alliança, tempo depois, com a ação direta de Ermembergo Pellizzetti, que introduziu as práticas agroculturais de Rossi naquele local. Ele chegou em Rio dos Cedros, convidado por Giovani Rossi. Beatriz Pellizzetti afirma que nesse momento, seu pai soube “que as pessoas de Südarm almejava se separar de Blumenau.” Estranhamente, pessoas que possuíam famílias na sede de Blumenau.
Pellizzetti e Rossi trabalharam juntos em Rio dos Cedros entre 1901 e 1904, quando este foi transferido para Coqueiro.
Pelizzetti mudou-se para Ascurra e Rossi foi para Coqueiro onde dirigiu a Estação Agronômica até 1907, quando de lá, voltou para a Itália, pois tinha outros planos que não saíram bem como ele planejou, porque foi preso.
De acordo com Beatriz Pellizzetti:

Quando Rossi quis voltar para a Itália, o governo mandou cercar as fronteiras, pois considerava o engenheiro agrônomo muito perigoso. “Mas ele tinha outras intenções, como a de melhorar o estado da vivência humana. Ele era contra o casamento, por exemplo, o que está acontecendo agora, pois as pessoas estão se unindo sem se casar. Para Rossi papel não valia nada”, detalha Beatriz. Por fim, Rossi conseguiu chegar a Pisa, mas não conseguiu emprego. Era EErmembergo Pellizzetti quem mandava dinheiro para o engenheiro agrônomo sobreviver na Itália. “Rossi tinha difundido muito a ideologia anarquista e ninguém quis dar emprego para ele. O que é interessante, é que o meu pai não comenta essa parte da história”. Beatriz Pellizzetti Lolla.

Por que será que não comentava essa parte na história?
Muita bagunça em Ascurra, provocada por Ermembergo Pellizzetti por questões referentes a educação e a ideologia. No local, foi professor e militante.

Fonte: Clarícia Otto.

[…] o Dr. Rossi chamou da Itália ainda um outro companheiro, um tal Pellizzetti, talvez mais perigoso, porque era mais familiar com os colonos. Depois da partida do Rossi, se estabeleceu em Ascurra onde mora ainda, em concubinato apenas, o primeiro que lá deu esse mau exemplo. Ele tinha pego um seguidor prosélito, o agrimensor Landriani, conhecido por todos também por causa de seus discursos imorais. Que mal causaram estas duas pessoas entre a população, sobretudo entre a juventude, não se pode calcular. Propagaram entre os colonos jornais péssimos, como L’Asino, L’Avanti, Il Leme e similares e enquanto isso se faziam representantes do consulado italiano, inspetores das escolas. Relatório dos franciscanos ao Núncio Apostólico Monsenhor Aversa. Rodeio, 1913. (CFR)

Ao referir-se aos integrantes da comissão escolar das escolas italianas, acusou-os de incompetentes; diz que principalmente o presidente da comissão, Ermembergo Pellizzetti, “é um socialista declarado, que arruinou boa parte da juventude e provocará a ruína moral e social daquelas colônias.” Clarícia Otto

Confirmando informações anteriores sobre a proximidade entre Pellizzetti e Rossi, que foram colegas de trabalho em Rio dos Cedros, uma publicação do Diário do Alto Vale, diz que Ermembergo Pellizzetti teve contato com anarquistas e foi um burocrata, ao contrário da maioria dos migrantes, que trabalhavam na terra. Migrou para o Rio de Janeiro em 1896, com 20 anos de idade e em seguida, para Blumenau. Na região de Südarm, chegou em 1910, onde foi empreiteiro de obras de estradas em um primeiro momento, como o era Gottlieb Reif. Depois assumiu de vez, na qual sempre esteve, a senda da política. E o local, Südarm, era propicio pela análise do lugar, descrita por Avelino Pereira.

O desenvolvimento agrícola do distrito de Bella Alliança, nos anos vinte, dava a essa unidade do município de Blumenau, a maior importância política e econômica após o distrito da sede. Sua situação a cerca de 100 quilômetros da cidade de Blumenau e maior aproximação do planalto cooperavam, juntamente com a grande área banhada pelos formadores do rio Itajaí-Açu, para que a vila apresentasse condições de iniciativas próprias, independentes da sede municipal. Avelino Pereira.

Transcrição e tradução da Carta de Giovanni Pedrelli ao Frei Lucínio Korte, envolvido e alvo de Rossi e Pellizzetti em Ascurra, antes de Pellizzetti seguir para Südarm (definitivamente), e onde tomou o poder local, menos de 21 anos depois.

Fonte: Clarícia Otto, 2005.

Pomeranos, 27/03/1908

Reverendo Padre,
Lucínio Korte,
Recebi sua pequena carta dia 26 deste mês, ouvindo que o senhor me convida para ir ao Cedro, assim eu declarei não vir por certos motivos que exponho abaixo.
Faz mais ou menos 15 dias que eu fui à casa do Senhor Andrea Largura para pegar alguns livros e cadernos necessários à escola, estive com aquela boa gente que disse que eu fui pegar notícias do Sr. Largura, da escola negra do Pellizzetti; se eu vou à loja do Sr. Eugênio Uber para fazer o abastecimento necessário para minha família, esta gente boa prognostica sobre mim, dizendo que vou pegar correspondências socialistas, assim tomam gato por lebre, pobrezinhos, por isto eu declarei não ir mais longe que da minha casa à escola, e não mais, se me ocorrer de precisar material na escola por parte do inspetor, eu não me meto mais em nenhuma história, e quanto antes deixar também a escola, eu estou cansado de ouvir tantas hipocrisias, pensei em lavar as mãos e não mais sujar-me. Se o Senhor Reverendo tem prazer em falar comigo, pode vir à escola, ou a minha casa, quando melhor lhe aprouver, ficando eu muito contente por isso.
Sou o seu fiel (obedientíssimo) filho
Giovanni Pedrelli

O que a história formal conta

Inspirado no agrônomo Giovani Rossi, Ermembergo voltou seu interesse para a agricultura. Isso foi amplamente publicado por Beatriz Pellizzetti.

Após adquirir, em Rio dos Cedros, conhecimentos teóricos e práticos que lhe proporcionava Rossi, a nível universitário (grifo nosso), sobre ciências agronômicas, Pellizzetti transfere-se para Ascurra (núcleo italiano do município de Blumenau), aí permaneceu até 1914 (grifo nosso). Neste período, dedicou atenção ao estudo e incentivo não só da policultura, mas também ao comércio interno e muito do seu tempo às cooperativas agrícolas e às escolas leigas, propagando mais de trinta e organizando a Sociedade Dante Alighieri. Beatriz Pellizzetti Lolla.

Ermembergo Pellizzetti chegou em Südarm, em 1910 (e não em 1914), quando atuava como empreiteiro e foi contratado para a construção da Estrada Südarm-Trombudo Central. Fazendo uma analogia, o mesmo ofício que o pioneiro Gottlieb Reif fez em todo o Vale do Itajaí.
Em 1911, foi novamente contratado para construir uma rodovia no Alto Vale do Itajaí.
Em 1913, incentiva a criação de Cooperativas, o que já acontecia na sede da Colônia Blumenau desde o século XIX. Muitas famílias instaladas em Bella Alliança tinham contato com o Kulturverein (link no final da postagem) de Blumenau, que seria a tal “Liga dos Lavradores”, denominada por Ermembergo no Alto Vale como algo novo e com um pouco do ideário de Rossi. Nesse momento foi divulgado aos locais que as pessoas da região eram “escravas” de Blumenau. Havia uma fomentação deliberada de um ideário para criar uma animosidade entre o local e a sede de Blumenau – há 100 quilômetros de distância, que lhe poderia render dividendos políticos. E assim aconteceu.
Em Bella Alliança, de construtor de estradas passou a ocupar o cargo de Inspetor Primário e Oficial do Registro Civil do Distrito de Bella Alliança.

Documento preenchido e assinado pelo escrivão Ermembergo Pellizzetti, em Bella Alliança, julho de 1922.

O que faz o inspetor e como aconteceu o cargo? Não conseguimos encontrar fontes de pesquisa que explicasse isso.
O que é um inspetor primário e oficial?
No novo cargo, prossegue disseminando entre a sociedade de Bella Alliança os conhecimentos de Giovani Rossi e narrativas, como faziam em Ascurra.
Com toda essa movimentação, narrativas e cargos com nomes importantes, o empreiteiro Ermembergo Pellizzetti ingressa na política, e sem qualquer surpresa, é eleito Deputado Estadual por Blumenau, com eleitores de Bella Alliança, pleito de 1925 até – 1927.
Nesse tempo se posicionava como liderança local e independente da sede de Blumenau.

Vivendo do comércio mantido pelos colonos, o núcleo de Bella Alliança impôs-se às demais povoações (Lontras e Matador), por ser “Centro de Abastecimento” da área mais povoada. A condição de Distrito trouxe funcionários públicos e feições urbanas ao núcleo.
Desenvolveu-se a exploração da madeira na vizinhança deste Distrito acarretando-lhe movimento e crescimento, com prestação de novos e diferenciados serviços, destinados não somente a lavradores. As Companhias Colonizadoras quando vendiam os lotes, faziam a reserva das madeiras nobres e na preparação das roças, o resgate destas implicando sempre em mais derrubada. No meio agrícola, o povoamento foi intensificado com agricultura de subsistência, em minifúndios explorados por grupos familiares, de modo que Pellizzetti como predominantemente rural a vida em Bella Alliança. Maristela Poleza

Pellizzetti, a pessoa que definia, independentemente do governo de Blumenau, prosseguiu o silencioso no trabalho de separar sua base eleitoral de Blumenau e com isso, dispensando a dependência política que tinha com Blumenau. Tornar-se-ia o líder máximo local. Sua maior força, por sintonia cultural, em Bella Alliança, estava na comunidade italiana. Criando discórdias, dividia a força social das lideranças operante no momento e ele surgia como a opção de luta para um dos grupos – como seu líder. Por isso a importância de que o primeiro prefeito fosse representante, aparentemente do grupo que não foi contemplado nessa manobra toda, passando a ideia de que lutava por todos.
Ficou complicado? No decorrer da explanação ficará claro.

Local da cidade de Rio do Sul que deveria ser lembrado como parte do Centro Histórico da cidade. Por que?

A nova personalidade iniciou um trabalho prático, no sentido de ofuscar os feitos históricos da comunidade alemã local, bem como também, tirar a importância espacial da primeira centralidade de Rio do Sul – no Südarm, próximo ao local da primeira balsa e as ruas que ligavam a igreja luterana e onde surgiram as primeiras casas comerciais locais, Sociedade de Tiro, escola e o assentamento das primeiras famílias. Como fazer isso?

O trecho ferroviário da EFSC, onde trabalhava o engenheiro Lotto, estava sendo construído, em direção à Bella Alliança. Na década de 1920, nas mãos do governo brasileiro, por conta da Primeira Guerra Mundial, os construtores da EFSC estava “subindo” a serra com a obra. No final da década, estava chegando em Lontras.
Bella Alliança precisava de um lugar para locar sua estação ferroviária. Poderia ser um local com grande especulação fundiária e o espaço ideal para construir uma nova centralidade para povoação.
Qual foi o local escolhido para a estação ferroviária de Rio do Sul?
Nesse tempo, Ermembergo Pellizzetti posava para fotografias com lideranças de Blumenau, como Deputado Estadual de Blumenau, inaugurando obras.

Mantinha-se informado sobre o avanço da ferrovia EFSC, através do engenheiro italiano Gino Alberto de Lotto que trabalhava na construção dela. Tornaram-se amigos e conversavam sobre este meio de transportes moderno que chegava em Bella Alliança.
Em função da construção da Estrada de Ferro Santa Catarina, foi desenvolvido uma maneira de captar recursos dos moradores da região, que até então guardavam suas economias nas vendas. Com isso surgiu o primeiro banco de Santa Catarina. Ermembergo, em 1928 implantou, igualmente um banco em Bella Alliança com a denominação de Banco de Crédito Popular e Agrícola de Bella Alliança reproduzindo o que foi feito em Blumenau, mas como se fosse algo inédito, na região do Alto Vale. Concluímos que a criação do banco foi algo calculado pelo politico italiano, dentro de seu plano de emancipação de Bella Alliança de Blumenau. O que diz sua filha Beatriz sobre a questão:

As condições exigidas para a consecução do desmembramento de um distrito, como no caso, já se concretizavam em 1927. Pela Lei nº. 1639, de 5 de outubro de 1928 da Assembleia Legislativa Catarinense, ou art. 4º da Lei Orgânica Municipal13, os requisitos necessários para autonomia exigiam uma população superior a 15.000 habitantes e uma renda superior a 50 contos apresentados à Prefeitura de Blumenau. A essas exigências legais antecipavam se os requisitos necessários a Rio do Sul. No decorrer da polêmica separatista o movimento de 1927, que teria seu objetivo realizado em 1930, e concretizado em 1931, se constatou nesse período no V Distrito uma instituição de crédito que foi realmente uma das molas propulsoras de sua total independência, com a criação de um Banco. Beatriz Pellizzetti Lolla.

O fato rendeu-lhe dividendos políticos e novamente foi eleito Deputado Estadual (1928 – 1930). Prosseguiu o lobby de desmembramento de Bella Alliança de Blumenau, o que, como já foi mencionado, lhe traria maior poder na região, sem a interferência de Blumenau.

Em 1927 o V Distrito de Bella Alliança (ou Rio do Sul) já esboçava seus motivos para uma autonomia político-administrativa, através de uma reunião efetuada por representantes expressivos no ambiente colonizador. Estudavam-se os meios de trocar ideias para a realização desse desmembramento. Essas pretensões podiam ser realizadas devido ao alto índice de crescimento financeiro do V Distrito. Todo esse processo de independência local foi tratado pelo parlamentar Ermembergo Pellizzetti, na Assembleia Legislativa do Estado, que enfrentou sérias polêmicas em torno dos interesses políticos e econômicos da cúpula administrativa do antigo município blumenauense. Beatriz Pellizzetti Lolla.

O Banco de Crédito Popular e Agrícola de Bella Alliança foi criado em 24 de maio de 1928 e foi incorporado ao Banco INCO em 1935, quando a EFSC chegou ao local e este por sua vez, foi incorporado ao banco particular Bradesco.
Só para se ter uma ideia da força que Pellizzetti tinha com as pessoas de Bella Alliança, através das narrativas, os demais desmembramentos ocorridos em 1934, por conta do Nacionalismo de Getúlio Vargas, fez com que toda as povoações de Blumenau fossem até a sede do município para atos de protestos contrários à separação e fragmentação do grande território de Blumenau. Isso foi amplamente registrado.

Ermembergo Pellizzetti atingiu seu objetivo, 21 anos após a chegada ao local. Bella Alliança se emancipou de Blumenau sob a Lei Estadual n.º 1.708, de 10 de outubro de 1931, quando passou a se chamar Rio do Sul – nome brasileiro alinhado à política de Vargas e ao Nacionalismo, responsável por outros desmembramentos ocorridos pouco tempo depois.

Rio do Sul se denomina “Capital do Alto Vale”, tornando-se mais ou menos a representatividade política e econômica que Blumenau tinha com relação a Bella Alliança.
Blumenau foi responsável por seu desenvolvimento desde as primeiras décadas de colonização e de sua história e foi descartada mediante um ideário social com narrativa de igualdade, a partir de um projeto de poder pessoal.

Se quisermos realmente conhecer o conhecimento, saber o que ele é, apreendê-lo em sua raiz, em sua fabricação, devemos nos aproximar, não dos filósofos mas dos políticos, devemos compreender quais são as relações de luta e de poder – na maneira como as coisas entre si, os homens entre si se odeiam, lutam, procuram dominar uns aos outros, querem exercer, uns sobre os outros, relações de poder. Michel Foucault

A fala de Ermembergo Pellizzetti, abaixo, transcrito por sua filha Beatriz, sobre a emancipação de Bella Alliança de Blumenau é cheia de contradições. Lembra um pouco sobre o que aconteceu com D. Pedro II e a “Proclamação da República” impetrada por seus amigos pessoais.

“Dia 15 me levanto às 3 1/2; está chovendo, ao amanhecer chuvisca e assim continua até 10 1/2; em seguida não chove mais, mas o tempo é incerto. Dizem que esta noite chegou o Dr. Nereu, é no hotel Brattig. Às 11 horas chega a comitiva com o Dr. Juiz e Promotor. É convidado o meu ajudante Julio Roussenq para secretário. São pronunciados diversos discursos (ver jornal que guardo). Tendo um orador mencionado o meu nome, lembrando os meus sacrifícios e lutas para obter a emancipação. Achei conveniente responder algumas palavras. Disse que eu nada fiz se não cumprir o meu dever, obedecendo a vontade do povo e que o meu único desejo era de ver harmonia pelo bem da Pátria, e que o nosso dever era de nunca esquecer Blumenau que se devia amar quanto um filho ama o pae e que se devia continuamente ter a visão d`aquelles primeiros nobres pioneiros que tanto lutaram e soffreram para deixar a nós uma vida melhor, que o nosso dever é imital-os com o nobre trabalho e a economia, pois sem economia não se alcança bem estar e que devemos meditar sobre a hora presente, pois uma enorme vaga de mal estar assola o mundo inteiro.” Beatriz Pellizzetti Lolla.

O primeiro Prefeito de Rio do Sul foi o genro de Gottlieb Reif

Após a efetivação do desmembramento de Bella Alliança de Blumenau foi escolhido o prefeito. Este, o primeiro prefeito de Rio do Sul, foi Eugen Davet Schneider, genro de Gottlieb Reif, casado com sua filha Geni Reif.
Por quê?
Prefeito era de família de descendência alemã e de uma família pioneira importante e com familiares em Blumenau. Por que a aproximação com um representante do grupo contestado para conseguir a emancipação?
Após seu mandato, a política local foi dominada pelas famílias alinhadas a Ermembergo Pellizzetti ou, com o apoio de políticos destas famílias em um processo de mudanças intensas e céleres no espaço da cidade durante toda a década de 1930, 1940 e até 1950 – como por exemplo a mudança do “eixo” da centralidade “alemã” e histórica para o local onde se “construiu” uma nova centralidade. Para isso se iniciar foi importante a definição da estação ferroviária da EFSC de Rio do Sul – no meio de um vazio urbano e consideravelmente longe da centralidade histórica. Quem assinou a “reformulação urbana” de Rio do Sul foi o ex engenheiro ferroviário e parceiro de Pellizzeti, Gino Alberto de Lotto.

A Estrada de Ferro Santa Catarina EFSC – Estação Ferroviária

Com a emancipação de Rio do Sul, Ermembergo  Pellizzetti tem pleno controle politico e econômico em toda a região a partir do novo status: a “Capital do Alto Vale” na década de 1930. Nessa mesma década, chega a ferrovia em Rio do Sul. O líder político mantinha relações de amizade, de longa data, desde que trabalhara junto, com seu conterrâneo, o engenheiro Gino Alberto de Lotto que se tornou seu sócio nos negócios de terras na emancipada Rio do Sul.
Surgiram novos projetos para o antigo território de Südarm, agora Rio do Sul, a começar pelo local da estação ferroviária, construída em um vazio urbano.

Na organização urbana de Rio do Sul observamos a necessidade da compreensão dos ciclos econômicos vividos, já que estes reproduziram um modelo de cidade compatível com suas necessidades. Para compreender o urbano deve-se analisar e comparar os diferentes períodos históricos de forma bem abrangente. A análise espacial foi assim subdividida considerando:
a) Braço do Sul, enquanto Vila de Blumenau, em fins do século XIX;
b) Bella Alliança, na condição de Distrito de Blumenau em 1912;
c) Rio do Sul, como cidade emancipada em 1931. Maristela Poleza

De certa maneira, Meristela Poleza, em sua dissertação, desenvolvida em Blumenau – FURB, percebeu esta questão dos tempos distintos. O da construção da infraestrutura necessária implementada pelos pioneiros no Südarm, parte da Colônia Blumenau. Depois a fixação da povoação que se desenvolveu a partir dessa infraestrutura construída, dentro da Colônia Blumenau e finalmente, a troca de administração, através de politica ideológica, como já faziam os romanos, promovendo construção de uma nova centralidade a partir do novo governo, independentemente de Blumenau, a partir de detentores novos do poder local.
Com isso, nós também percebemos, já em sala de aula na UNIDAVI, a intensão de criar uma nova centralidade para a novíssima Rio do Sul, alinhada aos novos tempos políticos, sociais e econômico, com a perspectiva da construção de uma grande catedral para os fiéis católicos (construídas por eles mesmos), geralmente de famílias italianas, um loteamento de alto padrão próximo à estação ferroviária (na várzea e local das águas dos rios quando os níveis subissem), onde se tinha um bom valor de mercado agregado mediante a facilidade de residir próximo ao embarque e desembarque do trem e um novo edifício para a Prefeitura Municipal, projeto contratado com Hans Broos e que nunca foi terminado. Em frente a esta obra inacabada existe a estátua de Basílio Corrêa de Negredo, anunciando ser ele o fundador de Rio do Sul.

Primeiramente, foi construída a estação ferroviária no meio de um vazio urbano. Esta foi inaugurada em 28 de dezembro de 1933, dois anos após a emancipação política de Blumenau. Com isso, houve o favorecendo do aumento de negócios através da indústria e do comércio e seu escoamento para Blumenau e para o Porto de Itajaí – o que fez aumentar o desenvolvimento econômico na região e também o crescimento urbano da cidade, com a possível área a ser urbanizada no entorno da estação ferroviária.

Dia 28 de dezembro de 1933 – inauguração do ponto final da EFSC – na cidade de Rio do Sul, a topografia local nesse momento, passou por uma planificação coordenada pelo engenheiro Lotto, que então residia na cidade. Observa-se a existência do barranco, nos “fundos” da estação. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.
Espaço urbano de excelência para especular, sem a nova catedral. Topografia da atual centralidade de Rio do Sul sem os aterros feitos pelo engenheiro italiano, amigo de Ermembergo Pellizzetti, Gino Alberto de Lotto.

Sob o comando de Gino Alberto de Lotto, os trilhos atravessaram o Distrito de Bella Alliança, imprimindo-lhe uma nova forma e o compromisso com o desenvolvimento. Com expressiva produção da fécula, Bella Alliança seguia economicamente em alta, embalada na produção das pequenas indústrias, conferindo a Blumenau confortáveis índices de arrecadação. Esta condição, sensível aos moradores do Distrito, não tardou a ser objeto de luta do então deputado estadual Ermembergo Pellizzetti, pró-emancipação do Distrito de Bella Alliança. Maristela Poleza, 2003

Projeto idealizado pela Colônia Blumenau.

A nova centralidade de Rio do Sul se solidificou no local onde é até os dias atuais, a partir da construção da catedral, da estação ferroviária, Ponte dos Arcos, Praça Ermembergo Pellizzetti, Rua Carlos Gomes, entre outros elementos urbanos que surgiram a partir da década de 1930, após a emancipação do município.

Estação ferroviária, contando com a presença na paisagem da catedral.

Novos equipamentos para nova centralidade. E o Centro histórico? Caminho de passagem de trânsito de fluxo rápido e descaracterização da vila pioneira, com a retirada de inúmeras tipologias que marcavam o lugar junto à antiga balsa, rua XV de Novembros e rua Ruy Barbosa.

Praça Ermembergo Pellizzetti construída nas proximidades da Catedral São João Batista, com traços e equipamentos neoclássico, inspirados na arte renascentista cujo berço aconteceu na Itália. No local está o busto e Pellizzetti.

A Catedral São João Batista

As igrejas e catedrais são elementos urbanos responsáveis por fomentar movimento de pessoas e adensamento no seu entorno. Em muitas cidades no Brasil, como Itajaí, por exemplo, se pedia licença para abrir um curato, para que surgisse uma povoação e por conseguinte, seu desenvolvimento. As novas lideranças de Rio do Sul, cientes disso envolveram toda a comunidade católica, predominantemente formado pela comunidade italiana e contrataram o renomado arquiteto de igrejas da região – Simon Gramlich. Este encontro foi fomentado por Germano Purnhagen, que conheceu o arquiteto em uma de suas viagens, retornando da Europa.

Em 1949, foi lançada a pedra fundamental  da Catedral São João Batista em 5 de julho de 1950 –  foi iniciada a obra.

O executor da obra foi o ex engenheiro ferroviário Gino Alberto de Lotto. A nova igreja foi consagrada no dia 28 de dezembro de 1957. A Catedral completa um conjunto com o Colégio o Dom Bosco, Praça Ermembergo Pellizzetti e o monumento do Cristo.

Loteamento de Alto Padrão – Jardim América

Como mencionado, nos primeiros anos da década de 1930, o território da área nova central do município de Rio do Sul, no entorno da novíssima estação ferroviária, foi alvo de planificação a partir de projeto de arruamento, introduzindo a nova centralidade. Também já mencionado, quem coordenou estes trabalhos foi ex engenheiro ferroviário Gino Alberto de Lotto.
Na década seguinte, 1940 foi auge da extração madeireira na região e que passava pela cidade, no trem da EFSC. A cidade tinha novas lideranças e novos focos. Surgiu o negócio fundiário para ocupar o “vazio urbano junto a estação” e a retirada da favela da Beira. O Centro Histórico, não reconhecido formalmente tornou-se passagem de tráfego pesado de cebola, cimento e outras produções mais, do Alto Vale com destino a Blumenau e Itajaí.

Pesquisa no Cemitério de Rio do Sul – em aula da UNIDAVI.

Naturalmente aconteceu o “deslocamento” do eixo da centralidade da cidade, como ilustra o mapa. Quando comentávamos sobre este fenômeno em sala de aula, era muito interessante observar os rostos diante de uma nova leitura da história. Em uma dessa aulas, após ir a campo, visitar o Centro Histórico de Rio do Sul que não existe, uma acadêmica comentou que jamais imaginava que existisse a igreja luterana com uma arquitetura tão esplendorosa e com tanta história. Restou-nos somente sorrir. Outra acadêmico que desenvolveu trabalho nos cemitérios, sob nossa orientação, se surpreendeu com tantos nomes de famílias alemãs e com inscrições em alemão.

O maciço da foto acima, ao fundos, está sendo ocupado irregularmente, no seu topo. Em algum tempo, lembraremos sobre o que acontece na cidade de Gramado atualmente. As águas sempre encontram os caminhos mais curtos para chegar ao vale. O vale, em Rio do Sul atual, é desprovido de vegetação e altamente impermeabilizado.

Alameda Aristiliano Ramos, faz um binário com a Avenida Oscar Barcelos. a primeira é a antiga estrada colonial, parte da Serrastrasse e a segunda é parte do leito ferroviário da EFSC. Ambas sem arborização em toda sua extensão e asfaltadas, parte do vale de Rio do Sul.

E o deslocamentos da área central?
Venderam muitos lotes de alto padrão junto ao novo loteamento, conhecido Jardim América, a partir de aterramento de uma grande área de várzea. Retiram sub habitações do local, que se acordo com alguns e relato de Maristela Poleza, não condiziam com o novo uso valorizado de Rio do Sul e construíram a Universidade no local. Perfeito para fixar de vez a nova área espacial idealizada pela nova política e economia de Rio do Sul – e por que não dizer, a nova centralidade de Rio do Sul. É claro que não consideraram as enchentes, como se preocupou o grupo de técnicos que construíram as estradas no final do século XIX e início do século XX, na região.

A comunidade da Beira retira da região, junto ao nobre espaço do Jardim América projetado pelo Lotto, onde foi construída a UNIDAVI.

Esta ocupação aconteceu justamente no Jardim América, área central, parcelada e considerada de alto valor. O assentamento naquele local pode ser explicado pela ocupação de uma “beira” de terra excluída do projeto original do parcelamento. Com a problemática social instalada, políticos pronunciaram-se, solicitando medidas no sentido de erradicar tal situação que segundo eles, envergonhava a cidade. Na década de 70, a favela foi deslocada, não por estar à beira do rio e trazer perigo a seus habitantes, mas para ceder lugar à Universidade, de tão “nobre” que era considerado aquele espaço. A casa máxima do saber local, atestando também desconhecimento da condição ambiental, como a cidade que ocupou a várzea, instala-se na beira do rio. Maristela Poleza

Lugar “criado” para local o Jardim América, rentável negócios fundiários junto à nova estação ferroviária da EFSC. Como foi criado? Aterro da várzea do Rio Itajaí Açu, projeto de Gino Alberto de Lotto. No local onde estava a comunidade da Beira, está atual UNIDAVI, ás margens do Rio Itajaí Açu.
A nova centralidade – a partir do novíssimo Jardim América, loteamento alto padrão,  a partir do aterro da várzea, rendeu muito dinheiro aos sócios do investimento. Local valorizado pelas presenças da catedral, estação ferroviária  e construção de novas infraestruturas. Fonte: Maristela Poleza, Modificado.

O prefeito nomeado foi Eugênio Davet Schneider e o engenheiro Gino Alberto de Lotto tornou-se um grande colaborador, responsabilizando-se pelo primeiro Plano Regulador e mapa cadastral de Rio do Sul. Demonstrou, elaborando este mapa, preocupação com o crescimento ordenado tratando da setorização de espaços. Maristela Poleza

Chegaram novos negócios fundiários a partir da presença da estação ferroviária, que não por acaso foi construída nesse local e também não por acaso, houve a emancipação de Bella Alliança. Surgiu o projeto de um loteamento de alto padrão assinado pelo sócio e amigo de Ermembergo Pellizzetti, Gino Alberto de Lotto. Peluso deixou claro em sua publicação de 1942 ao analisar o local do traçado do Serrastrasse afastada dos rios e nos locais mais elevados.

A ocupação deste primeiro núcleo não se deu exatamente na confluência dos dois importantes rios, devido às enchentes já conhecidas na época. O “Picadão de Curitibanos, para fugir às inundações afastou-se do rio, conservando-se na parte mais alta do terreno adjacente”. (PELUSO, 1942).

Rio do Sul mantém em seus históricos, que se desenvolveu economicamente a partir da extração da madeira, observando os projetos de expansão de Lotto com a partir da especulação imobiliária, entende-se porque a situação de enchente piorou. Para se criar território para lotear próximo à estação ferroviária, foi necessário aterrar locais de várzea.

Após a emancipação do distrito, constituiu-se, em 1930, o município de Rio do Sul, que logo se tornou o centro dinâmico do Alto Vale, centralizando a extração madeireira. A localidade, desde o início, sofreu com as cheias da confluência de rios, que passam por grande maioria do território da cidade. Mas, as formas de ocupação e uso do solo a eles adjacente reforçou este fato, transformando as cheias em desastres ambientais. Marcos Aurélio Espíndola e Eunice Sueli Nodari

Há estudos sobre esta interferência na paisagem na Universidade Federal de Santa Catarina. Apresentamos estes estudos em sala de aula e não conseguimos encontrar para citar no presente artigo.
Desde o século XIX, e talvez, sempre, mas com características diferentes, de acordo com está a paisagem natural e construída. Tanto isto procede, que os responsáveis pela construção da Serrastrasse, pioneiros de Blumenau, se preocuparam com o seu traçado nessa região e também a escolha do local da construção das primeiras residências.

Esse mesmo cuidado, o ex-engenheiro da EFSC, que também foi construída acima da cota da enchente – Gino Alberto de Lotto e também Ermembergo Pellizzetti – líder político local após a emancipação, não tiveram quando promoveram aterros e planificações de grandes áreas, para criar loteamento, próximo à estação ferroviária de Rio do Sul – Jardim América.
Na década de 1980, ocorreu a maior enchente no local e em 2023, a segunda maior.

No intervalo de tempo entre estas duas enchentes, medidas foram tomadas e hábitos modificados. O que faziam os primeiros pioneiros alemães voltou a se repetir e terras mais altas receberam valorização mercadológica e as baixas, como os terrenos do valorizado Jardim América perderam valor, para o uso residencial unifamiliar.

O exemplo disso foi a ocupação de duas torres, construídas sobre uma das poucas obras, residências, de Hans Broos construídas na cidade. Fotografamos em etapas, e quando perceberam, demoliram a casa (que era o “rancho” de obras), cujo projeto foi assinado pelo renomado arquiteto, da noite para o dia. A tendência, verticalização nas encostas. E no topo dos morros, como vem acontecendo no alto do maciço visto na área central da cidade.

Obra de Hans Broos, “rancho” de obras de duas torres construídas no seu terreno em parte mais alta de Rio do Sul. Foi demolida.

No lugar da antiga Prefeitura, arquitetura neoclássica, construída na época de Bella Alliança, distrito de Blumenau, com uma arquitetura urbana da virada do século XIX o XX de Blumenau, as novas lideranças resolveram mudar radicalmente.

Construíram com uma nova arquitetura, retirando da paisagem um estilo que lembrasse essa parte da história no ícone administrativo da cidade nova. Foi contratando o arquiteto Hans Broos para fazer seu projeto que nunca teve a execução terminada. Está inacabado até o tempo presente.

O projeto “acabado” não representa uma obra do arquiteto Hans Broos, por estar desprovido de suas principais características – considerando as proporções de: largura, altura e profundidade a partir das proporções áureas, entre outras questões, como: brises e panos de vidro na fachada Sul.

De acordo com Maristela Poleza, em 1970 foi efetuado a primeira organização urbanística da cidade de Rio do Sul, através do primeiro Plano Diretor feito pelo arquiteto Jorge Wilhelm, que não residia na região e nem no Estado. Foi contratado para “projetar” a cidade, considerando algumas questões.

A “Federal”, como era chamada pela população, reforçou ainda mais a condição de Capital do Alto Vale à cidade de Rio do Sul. Houve um incremento no número de veículos circulando por Rio do Sul, em função do novo conforto oferecido. Com o modismo gerado pela construção de Brasília em alta no país, e sob o comando do renomado arquiteto Jorge Wilhelm, foi organizado o primeiro Plano Diretor da área urbana de Rio do Sul. Maristela Poleza.

De acordo com Maristela Poleza é a interpretação do Plano Diretor de 1970. Onde foi contemplado o Centro Histórico e local de Südarm? Estava consolidada a nova centralidade.

O primeiro Plano Diretor, compreensível após todos os fatos históricos até então, não contemplou o Centro Histórico e previu todos os equipamentos e usos necessários para compor a nova centralidade do município, contemplando até mesmo uma ilha fluvial existente, próxima à favela da Beira, para uso de um Hotel Municipal. Foram destacados os seguintes equipamentos na nova centralidade a partir do primeiro Plano Diretor de Rio do Sul: Prefeitura, Escolas, Museu, Teatro, Biblioteca, Igrejas, Centro de Compras, etc.

…plano foi apresentado para a cidade envolto num material cartográfico farto e recheado com propostas inovadoras para a época, oferecendo espaço para a tratativa do desenho de prancheta, seus elementos formadores, transformações e inter-relações. Desenvolvido sobre dados sócio-econômicos e premissas urbanísticas existentes, estabeleceu relações entre a cidade e a região. Não foi assimilado, nem aprovado. Rio do Sul cresceu à mercê de sua própria sorte, balizando-se na espontaneidade, e no bom senso de alguns. Maristela Poleza

Não foi implantado, mas definiu o papel e “a importância” do Centro Histórico de Rio do Sul para o novo espaço urbano, da nova Rio do Sul.

UNIDAVI – estudando a cidade de Rio do Sul.

Quando ainda estávamos trabalhando com os jovens acadêmicos na UNIDAVI, na disciplina de Ateliê Urbano, solicitamos uma reunião com a ACIRS para apresentar estas questões e a importância do “Centro Histórico”, espaço, como conjunto, não formalizado e poderia sê-lo, para manutenção, uso adequado, educação, história, cultura, memória e uma opção concreta para o turismo cultural.
O local não é lembrado como centro histórico, para ser visitado e também para ser cuidado, a partir de seu patrimônio histórico arquitetônico e a história na paisagem. Uma das equipes de pesquisadores apresentou seu trabalho para os representantes técnicos da ACIRS, em 14 de julho de 2020, para observarem seus levantamento e propostas para uso desse espaço importante para a história de Rio do Sul, que parte de sua história está “guardada” e outra parte, a do espaço da cidade, desprovida de identificação e com isso, sem atenção como conjunto.

Terminamos nossas pontuações, resumidamente e disponibilizamos como contribuição para que possam efetivar intervenções pontuais, na cidade que em 2023 passou pela sua segunda maior enchente da história, como também toda a região. A ocupação do solo não está implicada somente a questões de patrimônio, mas também, de paisagem natural e construída.
Seguem algumas imagens que complementam e “comunicam”, como registros da História.

A figura que conspirou

O Deputado está nas páginas do livro Blumenau 100 anos, como um dos homens da história de Blumenau. Não sabiam eles, a metade da missa. Trabalho de base, baseado em Fakenews e tomada de poder.

CENTENÁRIO de Blumenau. 1850.

Vista posterior à publicação, ao local:

Um registro para a História.

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Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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