Saiba como associação de Blumenau facilitou o acesso a alimentos orgânicos

CSA traz uma nova forma de adquirir alimentos e sustentar a agricultura familiar

Com que frequência você consome vegetais orgânicos? Muitas pessoas deixam de comprá-los por serem mais caros, difíceis de achar e, até mesmo, ter dificuldade de confiar na credibilidade dos supermercados. Na Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), essas barreiras são destruídas conectando quem compra diretamente com quem produz.

A CSA nasceu nos anos 1960, na Alemanha, mas só foi crescer na América nas décadas de 80 e 90. No Brasil, a associação começou em São Paulo, mas atualmente já alcança mais de 100 comunidades no país.

Há oito meses, os blumenauenses contam com a própria CSA, que sustenta um agricultor do Dona Emma, município vizinho de de Rio do Sul, e alimenta 46 famílias da cidade. Conectando o produtor e o consumidor, a associação consegue baixar significativamente o custo dos vegetais e trazer variedade semanalmente para quem integra o grupo.

Helouse Carneiro (esq.), que teve a ideia de trazer a CSA para Blumenau, registra as opções da semana. Foto: Alice Kienen

“A CSA nada mais é do que uma forma de financiar um agricultor. Você paga para que ele tenha a garantia daquele valor fixo no mês e consiga planejar melhor a agricultura dele. Plantar e colher somente o que as famílias precisam. Assim você gera menos desperdício e ele não precisa ficar tentando vender esse produto depois que ele colhe”, explica Luana Effting, que trouxe o projeto para Blumenau junto da também nutricionista Helouse Carneiro.

Em Blumenau, o grupo funciona de forma voluntária. Os integrantes participam também da distribuição dos alimentos, que acontece em três locais: no restaurante Âme e no Centro Flor & Ser, nas noites de terça-feira, e também em Gaspar, na Yummy Alimentos, nas quartas. Há também o plano de expandir a CSA para Indaial e Timbó.

Fernanda Rabello é arquiteta e mãe, mas há dois meses entrou para a CSA Blumenau e nesta terça-feira, 20, teve a primeira experiência como voluntária. Segundo ela, o interesse por alimentos orgânicos surgiu quando a filha dela entrou na fase da introdução alimentar.

“Antes eu procurava nos mercados e na feira, mas lá você compra sempre a mesma coisa. Aqui você tem acesso a produtos da época e de agricultura familiar. Além do orgânico em si, a variedade é sempre uma surpresa, então você acaba comendo coisas que não imaginava”, comenta.

Fernanda (esq.) se surpreendeu com a facilidade que foi organizar os alimentos e auxiliar os consumidores. Foto: Alice Kienen

Ela ainda ressalta que a preocupação com a alimentação foi um primeiro passo para renovar a relação dela com o consumo, que hoje em dia é mais sustentável. E essa iniciativa já começa na CSA, onde cada pessoa precisa trazer sua própria embalagem e os alimentos são amarrados com cipós.

“Vira uma bola de neve. Além de alimentos, você leva esse consumo consciente para cosméticos, roupas… Cria uma preocupação que não existia antes. É difícil fechar os olhos para as outras áreas”, relata Fernanda.

A secretária Ivanilde Schneider mora com a filha, Ana Clara, e entrou para a CSA logo no início deste ano. Segundo ela, além de ter acesso a orgânicos, a escolha traz uma economia no fim do mês, já que ela não acaba comprando supérfluos no mercado.

“Você sempre vai pegar algo que não tá na lista. E na CSA a gente acaba comendo produtos que não compraríamos. Minha filha tinha resistência com batata doce, e eu nunca comprava porque ela não ia comer, agora ela começou a curtir”, comemora Ivanilde.

Ivanilde abraçou o senso de comunidade da CSA. Foto: Alice Kienen

Segundo ela, a praticidade de buscar os orgânicos semanalmente mudou a rotina. Antes, ela ia ao mercado duas vezes na semana, hoje em dia só precisa ir a cada quinze dias para complementar o que falta.

“Os produtos são frescos e bem selecionados. O sabor é diferente. E a gente ainda acaba fazendo amizades e conhecendo novas pessoas que também curtem uma vida mais saudável”, conta.

Nem sempre Ivanilde e a filha consomem todos os produtos da semana. Quando sabe que terá alguma sobra, elas doam para uma família que não tem condições de arcar com orgânicos.

“Eu morava em sítio quando era jovem, então fazia parte da minha vida. É muito bom poder resgatar isso hoje em dia”, relata.

Opções de cestas

Há duas opções de cotas, uma com cerca de oito itens por R$ 135 mensais e outra com 12 por R$200. Elas sempre trazem folhas, temperos, raízes, legumes e frutas que variam conforme a estação. Entretanto, o preço permanece sempre o mesmo. Ainda há cotas opcionais, como de ovos, geleia e molho de tomate integral.

Luana Effting enfatiza que fazer parte da comunidade da CSA vai além de ter acesso a orgânicos semanalmente, mas sim criar uma nova relação com a comida e os outros integrantes.

“A gente recebe quiabo, por exemplo. Eu nunca tinha comido quiabo. Aí o pessoal coloca no grupo formas de preparação. Por isso é uma comunidade. Além da questão nutricional de consumir novos alimentos, também muda a forma de pensar a alimentação. É um resgate de várias coisas”, enfatiza.

Alice Kienen

A nutricionista destaca que os benefícios vão além da alimentação com orgânicos da época, que têm um valor nutricional mais elevado, mas também abrange o agricultor e o meio ambiente. Um exemplo é o mal que os agrotóxicos fazem à espécies como as abelhas, vitais para o funcionamento do nosso ecossistema.

“Você sabe quem produz e onde está sendo plantado seu alimento. Valoriza a profissão do agricultor e evita a evasão dos pequenos profissionais. Além disso, ajuda na biodiversidade e na preservação do meio ambiente”,

Para participar ou saber mais sobre a CSA, é só enviar um e-mail para csablumenau@gmail.com. Ou visitar a distribuição dos alimentos todas terça-feiras entre 17h e 19h no Âme Gastronomia Funcional.

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