Acordos, negociações e diálogo: como imobiliárias de Blumenau enfrentam inadimplência durante a pandemia
Acordos e renegociações ajudaram empresas a manter o pagamento
A crise econômica mundial causada pela pandemia da Covid-19 tem afetado todas as esferas econômicas. Para muitos, até mesmo pagar contas essenciais como energia elétrica, água e aluguel tem sido difícil.
Nas imobiliárias de Blumenau não foi diferente. Logo em março, quando a quarentena teve início em Santa Catarina, elas sentiram o impacto de inquilinos que perderam o emprego e buscaram renegociar seus alugueis.
Roberto Sergio Cunha, presidente do Secovi Blumenau e região, sindicato que representa empresas de comércio e serviços imobiliários, shopping centers e condomínios, acredita que o segredo esteja no diálogo.
Desde o início da pandemia, o sindicato orientou todo o mercado imobiliário da região a manter um bom relacionamento com os inquilinos. Atendendo os pedidos de cada um e resolvendo as questões individualmente.
“Buscamos unificar as informações, já que havia muitas fake news por aí. Muitas informações desencontradas. Nosso objetivo era tranquilizar o mercado imobiliário ao invés de apavorar”, comenta.
Representante da Quintal Imobiliária e Assessoria, Cunha revela que, em março, cerca de 20% dos clientes possuíam pendências. Entre elas, estavam pedidos de parcelamento, alteração do prazo, redução do valor do aluguel ou até isenção de pagamento.
“Procuramos uma saída com equilíbrio e razoabilidade. Analisamos caso a caso. As pessoas que tiveram problemas com atraso de salário ou desemprego repassaram para nós e resolvemos”, argumenta.
Na opinião dele, o resultado da tratativa foi satisfatório. Enquanto em março a taxa de inadimplência da imobiliária era de 7,14% e chegou a 23,91% em abril, em maio ela já caiu para 10,5% e, em junho, fechou em 1,64%.
Outras imobiliárias da cidade chegaram a atingir 15% de inadimplência, mas conseguiram reduzir o número com acordos, especialmente envolvendo locações comerciais. Porém, a taxa continua próxima ou acima dos 10% em muitas empresas.
Comércio e indústrias são os mais afetados
A maior parte dos problemas com alugueis em Blumenau não ocorreu nas residências, e sim nos comércios e indústrias da cidade. Cunha cita especialmente os ramos alimentício e têxtil como os principais afetados.
“Em uma empresa, a prioridade é o salário dos funcionários. Alguns fizemos acordo de pagarem apenas 50% do aluguel, outros pagarão quando voltarem a atender. Negociamos com cada um como possível”, afirma.
O presidente do sindicato argumenta que a prioridade é evitar ao máximo levar qualquer caso à justiça. Em abril, o dono de um imóvel em Blumenau teve o pedido de uma liminar de despejo negada pela Justiça.
“Tivemos inquilinos que ameaçaram recorrer à Justiça, mas eles desistiram e pagaram o aluguel. As leis continuam, apenas cedemos um pouco para tranquilizar o mercado. Ninguém foi obrigado a baixar o aluguel, mas voluntariamente fizemos isso e tem dado certo”, complementa.
Bolsonaro veta lei que proíbe despejos
Para garantir que ninguém fosse despejado durante a pandemia, um projeto de lei proibia o ato até 30 de outubro deste ano. Entretanto, Jair Bolsonaro vetou a medida quando sancionou a nova lei.
Ele considerou uma “proteção excessiva ao devedor em detrimento do credor” que incentivaria a inadimplência. Outro argumento foi que a proibição desconsiderava que o dono pode depender do aluguel para viver.
Outro veto do presidente foi o dispositivo que autorizava os síndicos de prédios a restringir ou proibir o uso de áreas comuns do edifício. Bolsonaro alegou que este poder não cabe ao síndico, e sim a decisões coletivas dos condôminos.
Apesar disso, Cunha afirma que não ficou sabendo de nenhuma situação de despejo em Blumenau. Mesmo quem, segundo ele, “se aproveitou da situação para atrasar o aluguel”, terá moradia garantia até outubro.
“O que vimos muito foi desocupação voluntária. Especialmente de pessoas que vieram de outros lugares. Quem perdeu o emprego aqui, acabou voltando para seu município ou estado de origem”, comenta.