Como acontece há mais de 50 anos, a Acaprena – a mais antiga ONG ambientalista de Santa Catarina – realizou, na última semana, outra visita a destinos de interesse ambiental, objetivando a conscientização ambiental das pessoas. O foco desta vez foi o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma Unidade de Conservação brasileira com mais de 240 mil hectares de área, localizada no ponto mais alto do Brasil Central, lugar de importantes nascentes da bacia do rio Tocantins, a 260 km ao norte de Brasília.

Em todo o trajeto, os aparelhos de TV do ônibus foram inúteis. Pra que olhar uma tela eletrônica quando de todas as janelas se pode apreciar as mais interessantes paisagens e cenas, sejam positivas ou negativas? Entre estas últimas, infelizmente, boa parte dos incêndios que desgraçadamente assolam grande parte do território nacional.

Adriana Baier/Arquivo pessoal

Felizmente o setor de visitação do Parque Nacional estava livre do fogo, que atingia outra parte distante dessa Unidade de Conservação. Assim, todos os 30 participantes puderam fazer uma imersão num ambiente absolutamente distinto da Floresta Ombrófila Densa onde vivemos, que é a paisagem única do Cerrado brasileiro.

Qualquer um, mesmo não sendo um bom observador, podia distinguir a grande variação paisagística dentro daquele mesmo bioma, como os campos limpos, os “campos sujos”, campos cerrados e Cerrado propriamente dito.

Nas baixadas úmidas e às margens de cursos d’água, as magníficas matas de galeria, mais densas e com árvores mais altas, formando as veredas, com destaque à palmeira buriti que tanto caracteriza este ambiente.

O grupo conheceu, enfim, uma vegetação de belas árvores retorcidas, muitas espécies com troncos cobertos de espessa camada tipo cortiça, adaptada ao fogo.

Claro, não ao fogo criminoso e intencional como se vê atualmente, mas, sim, ao fogo ocasional e natural provocado por descargas elétricas da atmosfera, infinitamente mais raros que as queimadas provocadas pelo atual Homo pseudosapiens, subespécie nacional piromaniacus, que tanto mal está causando ao planeta.

Como prêmio à exposição ao sol escaldante nas belas trilhas, muitas mantendo o traçado original dos catadores de cristais e garimpeiros, todos devidamente protegidos com chapéus e protetores solares, vinha o alívio de um refrescante banho em cachoeiras ou poços naturais de cristalinas águas, tudo devidamente organizado, planejado e sinalizado, em pontos específicos onde isso podia ser feito, visando conciliar o máximo de usufruto do viajante com o máximo de proteção ambiental.

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros faz parte das Unidades de Conservação da Natureza brasileira, felizmente, já com boa estrutura e bem implementado e com a maioria de sua área já devidamente indenizada e registrada em nome da União. Faz parte de um potencial de turismo de Natureza que o Brasil tem como poucos países no mundo e a torcida é que o programa de regularização de todas essas unidades continue avançando, ainda que lentamente, mas, hoje em dia, bem menos lentamente que antigamente.

O grupo também visitou outros recantos em São Jorge, em alto Paraíso de Goiás bem como no município de Cavalcante, repletos de história, sejam tristes, de um tempo de massacre de povos indígenas, sejam simplesmente históricos, como sinais de escavações feitas para catas de cristais ou de mineração de ouro, coisas de entre três séculos passados até meados do século XX.

Muitos proprietários exploram o potencial turístico regional e começam a proliferar as pousadas e outros meios de hospedagem, bem como desenvolve-se a gastronomia, serviços de guias, transportes etc. Destaques para o Kalunga, o maior quilombo do Brasil e para a RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Vale das Araras, vizinhos ao Parque Nacional, duas áreas também visitadas pelo grupo da Acaprena e que não se atém apenas à exploração do turismo de natureza, mas, também, contribuem para os esforços para preservá-la, condição sine qua non para sua conservação e futuro dessa modalidade turística.

No retorno, visita ao sítio arqueológico de Peirópolis, distrito de Uberaba – MG, para conhecer os museus e o local de ocorrência de fósseis, entre eles o do maior dinossauro conhecido do que hoje é território brasileiro, o Uberatitan ribeiroi.

Paraíso ocupado é paraíso perdido, diz-se dos lugares paradisíacos que todos procuram e acabam destruindo, se não houver controle. De fato, se não soubermos preservar nossos encantos naturais como eles são, estaremos matando a galinha dos ovos de ouro de uma atividade que cresce e gera renda e emprego e que, felizmente, tem potencial de ser bem-sucedida em nosso país.

É só querer, é só ser inteligente e fazer a coisa certa. A frase estampada em grandes letras na caixa d’água de um dos núcleos da comunidade Kalunga que o diga: “Graças a Deus o turismo está melhorando nossas vidas”.

Assustadoras colunas de fumaça de incêndios como esta no interior de São Paulo e destinos paradisíacos como este, na Comunidade quilombola Kalunga, em Goiás. Contrastes das paisagens vistas na excursão da Acaprena ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.