As florestas e as enchentes em números – parte 2
Continuando nossa série de artigos sobre o equilíbrio do ciclo das águas, vamos agora tratar rapidamente dos solos florestais, um componente muito importante do impressionante do equilíbrio hídrico propiciado pelas nossas florestas.
O que aqui trazemos, ressalvados outros fatores, é válido tanto para as Florestas Ombrófilas Densas, nome técnico para as florestas que cobrem os vales desde a Serra até o litoral; como para as Florestas Ombrófilas Mistas ou matas com Araucárias do Planalto e do Oeste do Estado e também para as Florestas Estacionais Deciduais, que são as florestas que acompanham as partes baixas do vale do rio Uruguai e de seus afluentes, em suma, para praticamente todo o estado de Santa Catarina e para situações similares em outros estados e na imensa floresta amazônica.
Vale também, até certo ponto, inclusive, para as monoculturas florestais, desde que plantadas sob rigorosos critérios de manejo das árvores e de conservação dos solos e controle da erosão, principalmente erosão das estradas florestais de acesso aos plantios de árvores exóticas, como os Pinus e os Eucaliptus.
Os solos das florestas, principalmente as nativas e bem conservadas compõem talvez a parte mais importante da nossa gigantesca esponja natural que segura as águas das chuvas, como se vê na tabela abaixo em duas antigas pesquisas que fiz em duas áreas de florestas protegidas no Vale do Itajaí – morro Baú em Ilhota e morro Spitzkopf em Blumenau.
Nesses experimentos, comparamos a capacidade de infiltração de água no solo em ambientes de pastagens, plantação de Pinus sp, capoeira e mata primária.
Nas pastagens mais antigas, cujo solo, na época, já era pisoteado e compactado há muitas décadas pelo gado, a infiltração de água no solo foi quase zero nas duas áreas. Num pasto de carneiros no Baú a infiltração da água melhorou um pouquinho.
Já na plantação de Pinus o comportamento foi diferente nas duas áreas, sendo bem mais intensa num plantio que havia no morro Baú do que num plantio que havia no morro Spitzkopf.
As florestas tipo capoeira, que já se encontravam num estágio mais avançado de regeneração, apresentaram um significativo aumento médio de infiltração, ganhando da infiltração nos solos de todos os ambientes anteriores.
Os campeões imbatíveis de transferência de água das chuvas para os solos foram as florestas primárias nativas, nas quais é quase impossível que ocorra escoamento de água das chuvas pela superfície dos solos. E se não há escoamento superficial, não há erosão.
Claro que, mesmo nas florestas, pode ocorrer um escoamento de água subsuperficial, abaixo da superfície do solo, mas, de qualquer forma, não há dúvidas a respeito da grande capacidade que as florestas nativas têm de retenção de água das chuvas, minimizando significativamente o efeito das enchentes e enxurradas.
Segundo especialistas (informação pessoal do Engº Florestal Júlio Refosco, da Furb), 66 por cento do vale do Itajaí não tem aptidão para uso agrícola anual intensivo, tipo de uso que só pode ser feito em um terço da superfície do Vale, não sendo muito diferentes as realidades de vales como o de Itapocu, de Tijucas, de Biguaçu e outros.
Dito isso, podemos arriscar a dizer e repetimos que, se soubermos manter nossas florestas bem conservadas, incluindo as plantadas com fins econômicos, pelo seu efeito de gigantesca esponja, elas podem ser tão ou até mais importantes, na minimização dos efeitos das cheias periódicas que as barragens e outras obras construídas pelo homem. Em outras palavras – e peço desculpas por insistir em bater na mesma tecla, governos que não se atém apenas a obras estruturais, mas, investem na gestão da paisagem, esse governo está fazendo a coisa certa.
As florestas, portanto, não apenas contribuem para ajudar as obras do homem a reter água das chuvas (ou seria o vice-versa?), mas, no seu conjunto apresentam importantíssimas vantagens adicionais, como por exemplo: manter a biodiversidade, ajudar a proteger as encostas contra deslizamentos de solos, conservar os mananciais, a qualidade e quantidade das águas, contribuir para a harmonia paisagística e para o turismo de áreas abertas, contribuir para a boa formação de solos, amenização do clima e tantos outros benefícios.
Esses benefícios, no seu conjunto, têm sido chamados de serviços ecossistêmicos, serviços que, mensurados financeiramente, chegam a equivaler a muitos milhões de dólares por bacia hidrográfica. Levar tudo isso em consideração tem um nome: sabedoria.
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