X
X

Buscar

Selecionada para fórum no Paquistão, estudante de Blumenau faz vaquinha para comprar passagens

Ela está vendendo brigadeiros na universidade e fazendo faxinas para conseguir a quantia, mas tempo é curto

Camila Ceruti dos Santos tem 19 anos e uma infinidade de desejos, como qualquer outra estudante da idade dela. Depois de conquistar uma vaga na universidade no começo deste ano, Camila termina 2019 com um sonho que depende da solidariedade de outras pessoas: ela foi selecionada para representar o Brasil em um evento no Paquistão, mas não tem condições de pagar as passagens.

Porém, diferente dos colegas de turma do curso de Medicina da Furb, a jovem vinda de escolas públicas de Blumenau recebe bolsa de 100%. A moradora do distrito do Garcia foi chamada em outubro para participar do fórum International Youth Summit Lahore, que reunirá estudantes, empreendedores, líderes e ativistas de todo o planeta que discutirão estratégias para alcançar os objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

O evento ocorre do dia 2 a 8 de dezembro e a meta de Camila é representar os estudantes de baixa renda.

“Quero entender quais as soluções criativas que outros países têm encontrado para quebrar barreiras na educação pública”, escreveu Camila na internet.

Todas as despesas serão pagas pelos organizadores do fórum, com exceção dos bilhetes de ida e volta ao Paquistão, visto e seguro viagem, algo em torno de R$ 6 mil. Ela está vendendo brigadeiros na universidade e trabalhando como faxineira para alcançar a quantia. O tempo é curto e, no ritmo que as coisas estão, não conseguirá o suficiente. Por isso, Camila criou uma vaquinha online. Clique aqui para doar.

“Como minha mãe sustenta a família sozinha com sua aposentadoria por invalidez de um salário mínimo e meio, estou aqui pedindo a ajuda de vocês para continuar essa jornada incrível”, pediu.

No perfil dela no Instagram é possível saber os dias em vende brigadeiros pelos blocos F e J. Ela também aceita encomendas.

Oportunidades

A blumenauense teve uma infância difícil, com casos de violência doméstica na família e abandono. Porém, optou por utilizar a experiência como motivação para ajudar o próximo. Criada pela mãe, desde cedo se envolve em projetos sociais da cidade.

Ainda no Ensino Médio, que cursou no Cedup, criou projetos envolvendo atenção aos idosos e combate às drogas. À época, após passar por uma seleção com mais de 17 mil jovens, foi uma dos 50 escolhidos para representar o Brasil em uma missão diplomática do programa Jovens Embaixadores, nos Estados Unidos. A viagem foi totalmente financiada pela Embaixada e Camila fez trabalho voluntário em solo estrangeiro.

Camila nos EUA

Já neste ano, foi mais uma vez selecionada para representar o país no Latin American Leadership Academy, no México, após um processo seletivo em toda a América Latina. Ela fez uma vaquinha e, com o dinheiro, conseguiu embarcar em mais uma oportunidade.

As chances de trocar experiências com outros estudantes pelo mundo surgem em meio a muita dedicação. Camila sempre gostou de estudar e, em tempos de vestibular, passava mais de 12 horas em frente aos livros. Não à toa foi aprovada em Medicina em primeira chamada.

“O sonho de fazer Medicina me envolveu desde que eu era pequena: queria mudar a vida das pessoas. Já na universidade, faço parte de projetos de extensão e busco dar o meu melhor pela comunidade”, conta Camila.

A universitária também lidera um projeto no qual leva palestras autorizadas pela Secretaria de Educação do Estado para escolas catarinenses. A intenção é incentivar e informar estudantes sobre as oportunidades que podem encontrar.

“Sempre pensei na quantidade de pessoas que desistem dos estudos porque se sentem insuficientes, desmotivados ou porque precisam trabalhar para sustento da família”, detalha.

No Paquistão, a blumenauense terá oportunidade de mostrar a diversos países os trabalhos que são feitos na Furb. Além disso, a experiência enriquecerá ainda mais os projetos que já administra. “Essa será minha terceira viagem internacional. Todo mundo acha que é impossível isso acontecer com estudantes do ensino público. Não é”, conclui.