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Sem Mirelo, profissão de vendedor de picolés está praticamente extinta em Blumenau

Vendedores que percorriam bairros a pé desapareceram ao ponto de nem serem incluídos na lei dos ambulantes

Vendedores de picolé sempre fizeram parte do cotidiano dos bairros de Blumenau nas tardes de verão. Ao longo de décadas, ambulantes percorreram as áreas residenciais da cidade acompanhados de caixas de isopor, fazendo a alegria da criançada. Na região do Garcia, um deles se tornou personagem folclórico, querido por toda a comunidade.

Wilson Seiler, o Mirelo, vendeu picolés de porta em porta dos 10 aos 60 anos de idade. Virou símbolo desse tipo de comércio ambulante. Com a morte dele, em outubro passado, morreu também uma profissão. Não há mais vendedores de picolé à moda antiga no verão de Blumenau.

Os motivos para o desaparecimento são vários. Não há previsão legal para esse trabalho (que muitas vezes era desempenhado por adolescentes e até crianças), inclusive na área de Vigilância Sanitária. Quem segue no setor profissionalizou-se: usa automóvel para se deslocar.

Tiago Junkes, dono da página “Reino do Garcia” e um dos organizadores de uma homenagem Mirelo no fim do ano passado, diz que antigamente os fornecedores faziam competições com prêmios para as crianças que vendiam mais picolés. Na época, a prática não era ilegal. Mirelo foi uma dessas crianças, mas a diferença é que os pequenos concorrentes seguiram outros rumos. Ele permaneceu.

“Eu acredito que a prática de vender picolés na caixinha foi parando porque as pessoas vão se interessando por outras coisas, vão aderindo às tecnologias, à modernidade. O que é uma pena, porque deve ser gostoso ter contato com todo mundo do bairro, falar com a comunidade. O Mirelo acabava tendo uma qualidade de vida muito grande sentindo esse carinho e esse respeito”, afirma.

Fabrício Tomaz, um dos proprietários da sorveteria que fornecia picolés a Mirelo, diz que depois dele não vendeu mais picolés em caixinha para ninguém. Ambulantes estão procurando os refrescos para vender dentro de carros.

“A cultura do Mirelo morreu junto com ele”, lamenta.

Lei limita comércio ambulante

Segundo o coordenador de Alimentos e Produtos da Vigilância Sanitária de Blumenau, Fernando Dias, pela lei dos ambulantes ninguém sem a devida legalização poderia transitar na cidade vendendo qualquer tipo de produto. O caso dos “picolezeiros” é mais complicado, porque o produto não foi incluído na legislação e, portanto, está ilegal.

“Se eles (picolezeiros) vão poder vender, nós ainda não sabemos. Não estamos dizendo não totalmente a eles, mas estamos levantando a possibilidade de acrescentar a regulamentação do serviço na lei”, informa.

Dias afirma que o picolé não é um alimento que possa trazer riscos à saúde, se vendido de forma regularizada.

“O picolé produzido por uma indústria legalizada e, se mantido na temperatura correta, o risco à saúde é muito pequeno. Mas há o lado do vendedor clandestino, se nós não tivermos um controle sobre ele, ele pode vender um picolé que pode apresentar risco”, diz.

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