Sérgio Moro pede demissão do governo em pronunciamento nesta sexta-feira
Anúncio oficial foi feito nesta manhã
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, anunciou sua demissão do cargo nesta sexta-feira, 24, em um pronunciamento oficial a jornalistas, às 11h. A decisão de Moro vem logo após Maurício Valeixo ser exonerado a pedido do cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
“Vou começar a empacotar as minhas coisas e vou providenciar o encaminhamento da minha demissão”, diz.
Nesta quinta-feira, 23, o jornal Folha de São Paulo publicou que o ministro teria pedido demissão após saber da troca da diretoria-geral da Polícia Federal, e que o presidente Jair Bolsonaro estaria tentando reverter a situação. No entanto, nenhuma confirmação oficial foi comunicada durante a quinta-feira.
No comunicado, que durou aproximadamente 40 minutos, Moro afirmou que o pedido de Valeixo sair não é verdadeiro. A escolha teria sido do presidente, que queria alguém com mais proximidade no cargo.
Moro também conta que soube da exoneração na madrugada, pelo Diário Oficial, sem um pedido formal para ele. “Eu fui surpreendido, foi ofensivo (…) Pra mim este ultimo ato é uma sinalização que o presidente me quer fora do cargo. Essa precipitação na desoneração não vejo outra justificativa”, revela.
Comunicado de Moro
Durante comunicado desta sexta-feira, Moro justificou que, durante juiz, a Operação Lava-Jato mudou o patamar da corrupção o país. Relembrou processos durante carreira e sobre a manutenção da autonomia da Polícia Federal, inclusive durante o governo do PT.
“Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos de investigação, é certo que o governo na época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção”, conta. “Mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que se pudesse realizar esse trabalho”, continua.
Ele também falou sobre o pedido para ser ministro, em 2018, a pedido de Bolsonaro. “O que foi conversado com o presidente, foi que teríamos o compromisso com o combate a corrupção, crime organizado e criminalidade violenta. Foi me prometido carta branca para nomear todos os assessores, inclusive desses órgãos, a própria Polícia Federal”, diz.
Moro falou que a única condição levantada por ele, para assumir cargo, após largar a magistratura e perder a previdência, era ter um amparo para a família dele, caso alguma coisa acontecesse contra ele.
No momento, Moro destacou que teve apoio em projetos, outros nem tanto. Mas a partir de 2019, ele relata sobre uma insistência do Bolsonaro na troca do comando da PF.
“Houve o desejo de trocar o superintendente do RJ primeiro. Eu não via motivo para essa demissão. Mas conversando com ele, ele queria já sair, mas houve uma substituição técnica. Eu não indico superintendentes na PF, o único que eu indiquei foi o Valeixo. Não é meu papel fazer indicação. E assim tem sido o ministério como um todo. Dando autonomia para que eles façam as melhores escolhas, técnicas”, afirma.
De acordo com Moro, a troca do diretor-geral deveria ser justificada, algum erro grave, contudo na avaliação do ex-ministro o trabalho estava sendo bem feito.
“O grande problema é que não é tanto quem colocar, mas por que colocar. E permitir que seja feita a interferência política no âmbito federal. O presidente disse várias vezes que queria alguém do contato dele, que pudesse fazer ligações, colher relatório. E não é o papel da PF prestar esse tipo de trabalho”, continua.
Daqui para frente
Ao final do comunicado, Moro completa: “Eu abandonei a magistratura. Infelizmente é um caminho sem volta, eu sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Foram 22 anos, e praticamente não tive descanso. Vou procurar um emprego, não enriqueci com o serviço público. Independe de onde eu esteja, sempre vou estar a disposição do país. Sempre respeitando o mandamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que é fazer a coisa certa sempre”, finaliza Moro.
Segundo informações do jornal Estadão, o ministro deixa o cargo por conta do presidente impor um nome para comandar a Polícia Federal. A interferência do Palácio do Planalto dá indícios de uma possível “orientação política nas investigações do órgão”, afirmou o jornal.
Ainda segundo o Estadão, outro motivo que levou Moro a renunciar ao cargo foi a postura do presidente com relação ao coronavírus. Bolsonaro tem contrariado orientações tanto do Ministério da Saúde quanto da Organização Mundial da Saúde.
A expectativa é de que Alexandre Ramagem seja anunciado como chefe da PF. Atualmente ele é diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).