Servidora da UFSC de Blumenau participa de escavação de vestígios da ditadura militar em São Paulo
Pesquisa iniciou com ajuda da servidora no mês de agosto
A servidora Maryah Elisa Morastoni Haertel, técnica de laboratório de Física da UFSC Blumenau, esteve em São Paulo para participar das escavações do prédio onde funcionava o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
O trabalho faz parte de uma pesquisa que envolve profissionais de diversas universidades brasileiras. Apesar de não ser o único, o de São Paulo foi o primeiro e um dos mais ativos centros de tortura, interrogatório, assassinato e desaparecimento do país.
Pesquisa Arqueologias do DOI-Codi do II Exército
A pesquisa Arqueologias do DOI-Codi do II Exército de São Paulo: leituras plurais da repressão e da resistência tem como objetivo implementar uma pesquisa arqueológica (histórica e forense) sobre as antigas instalações da unidade.
A partir dela, será possível produzir conhecimento dos mecanismos adotados pelo órgão e suas conexões com outros espaços de tortura, para que a sociedade possa compreender o papel do DOI-Codi durante a ditadura militar e o impacto das ações operadas no local sobre as vítimas e seus familiares.
O trabalho dos pesquisadores envolve diferentes frentes. Uma delas é a pesquisa de documentos e entrevistas com pessoas que vivenciaram experiências nesse ambiente durante o período estudado, inclusive vizinhos, já que o prédio fica em uma área residencial na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo.
Também estão sendo empregadas metodologias do campo da Arqueologia Forense para detecção de evidências para identificação de vestígios de tortura. Serão realizadas também, as etapas de genética forense (no caso de localização de evidência de sangue), arqueologia da arquitetura para compreensão dos espaços utilizados e escavação do subsolo do conjunto arquitetônico para busca de evidências das ações desenvolvidas nesses ambientes.
Possíveis vestígios
Maryah faz parte do núcleo de Arqueologia Forense, coordenado pela professora Claudia Plens, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Embora eu não seja arqueóloga, fui convidada para participar pela minha experiência com as tecnologias utilizadas para rastreamento de vestígios biológicos. Ou seja, eu utilizei diferentes técnicas em alguns locais do prédio para tentar rastrear vestígios de cunho biológico (saliva, sangue, urina, entre outros) que podem ter sido produzidos em centros de tortura e podem ainda ter ficado no prédio”, explica.
A principal atuação de Maryah foi no segundo andar do prédio, em salas que mostraram pouca modificação em relação ao piso original, e que foi possível chegar a ele retirando camadas do piso atual.
A pesquisadora conta que foi até São Paulo realizar esse trabalho sabendo que haveria uma mínima probabilidade de encontrar alguma coisa. “A verdade é que o prédio foi modificado e utilizado por outro instituto após seu período como DOI-Codi, além de ter ficado um tempo abandonado após seu tombamento histórico. Porém, eu acredito que é um trabalho que necessitava ser realizado”, relata.
Porém, durante a coleta de amostras, alguns pontos deram positivo. “Foram utilizadas luzes forenses e aplicação de luminol, porém um positivo apenas significa ser um local/material de interesse e que merece mais investigação. Esse procedimento foi exatamente o que foi realizado: colhemos amostras que passarão por uma análise laboratorial”, explica Maryah.
O luminol reage com substâncias metálicas, orgânicas ou não. No caso do sangue, o ferro das hemoglobinas é o que faz com que a solução emita luz. A análise do material coletado será a próxima etapa da pesquisa.
“Ainda estamos estabelecendo quais são as melhores técnicas a serem aplicadas. Além disso, essa coleta inicial foi realizada em espaços de sondagem, ou seja, aberturas pequenas no piso para entender o que havia por baixo. Com os resultados obtidos, estamos estudando a possibilidade de ampliar essas áreas e realizar novas coletas”, revela a pesquisadora.
Materialização dos relatos
Além dos vestígios que ainda serão analisados em laboratório, os pesquisadores encontraram também inscrições na parede após a decapagem das camadas de tinta do prédio, que aparenta ser de um calendário. Além disso, foram encontrados mais de 300 objetos antigos, como papéis de bala, solas de sapato, frascos de tinta para caneta e carimbo, fragmentos de louças, entre outros.
A ideia é que, ao final da pesquisa e entrega do relatório final, o local seja transformado em um memorial, com exposição das peças encontradas, a fim de preservar a memória e a verdade sobre o período da ditadura no Brasil.
Marco histórico
Na pesquisa realizada no DOI-Codi, é a primeira vez que a Arqueologia Forense é aplicada no Brasil. “Isso, por si só, já é um grande feito. Além disso, foram desenvolvidos métodos para que este estudo fosse viabilizado, para que fosse possível de ocorrer. Então há uma importância histórica considerando os achados e sua importância para contar a história da ditadura no Brasil, mas também na criação de métodos para a aplicação desses mesmo processos em outros locais de repressão”, pontua Maryah.
A pesquisa teve grande cobertura pela imprensa nacional. Duas equipes acompanharam o trabalho dos pesquisadores durante todo o período de escavações. Para auxiliar na divulgação dos resultados alcançados, também foi criado um perfil da pesquisa no Instagram (@arqueodoicodisp).
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